quinta-feira, 23 de março de 2017

O Testemunho do Protestantismo dos séculos XVI-XVII favorece o uso do véu entre as igrejas de hoje?



Muitos dos defensores do moderno uso do véu nas igrejas, tem citado várias vozes proeminentes dentro da teologia reformada, desde Calvino, até George Gillespie, dentre outros. O fato é que, examinando muitos dos escritos desses homens, sobre esse assunto, muitas de suas considerações representam um grande embaraço para os defensores modernos da causa do uso do véu.

Da mesma forma, vários desses defensores tem afirmado que a prática do uso do véu existia entre igrejas reformadas como a Igreja da Escócia e Genebra, e eu, tendo resolvido fazer um estudo mais aprofundado no assunto, mediante incansáveis pesquisas, descobri, que realmente esse tipo de prática existia nessas igrejas, ainda que, o uso dessa prática, era feito, não como algo que fosse considerado explicitamente uma doutrina ou prática recomendada pelos apóstolos, mas meramente como um costume eclesiástico, muito menos como uma prática que prevaleceria na igreja até a vinda de nosso Senhor, mas como algo mutável e alterável, como uma tradição que posteriormente poderia ser abolida, substituída ou não ser observada pela igreja, sem que isso importe em pecado. Outrossim, certamente, o testemunho de autoridades das igrejas reformadas, em ambos os séculos, fornece grande evidência para nossas asserções:

- a. A Confissão de Fé de Augsburgo(1530) defende o uso de véu, não meramente como mandamento bíblico, mas esse tipo de prática é instituído visando a "ordem na igreja"

- c. A Confissão de Fé de Nassau[1578][Reformada]defendia que o uso da cobertura foi um acréscimo ao culto cristão reformado, e foi abolido.

- b. As Igrejas Reformadas da França(1579), defendiam que as pessoas deveriam, enquanto estão orando, ficar com as cabeças descobertas.

- c. As Notas da Bíblia de Genebra[1591], com relação ao texto de 1 Co 11, entendia que as leis que existiam em Corinto(1 Co 11:4 ), com base em todo o contexto de 1 Co 11, eram leis particulares [não universais] de beleza e retidão

- d. O Consenso de Bremen[1595][Reformado], ensinava que o uso do véu deveria ser abolido, e que não se deveria imitar nada do papismo, considerando isso uma prática corrente na igreja romana durante a Reforma.

- e. As Anotações Holandesas sobre toda a Bíblia, ou Todas as Sagradas Escrituras Canônicas do Antigo e do Novo Testamento(1637), ensina que os homens devem permanecer com a cabeça coberta, e as mulheres com a cabeça coberta, mas não de forma universal e vitalícia, pois se devia respeitar o costume de épocas e países

- f. Na Igreja da Escócia, os homens e as mulheres também cobriam ordinariamente suas cabeças durante o tempo em que um sermão estava sendo pregado. Entre os ministros da Igreja Escocesa, havia alguns entendimentos:

(1)Que o conceito antigo com referência a cabeça descoberta apontava para uma preeminência, e que esse conceito posteriormente foi, mediante a meros costumes, alterado e substituído pelo conceito de sujeição, exprimindo a crença que esses costumes ou tradições são introduzidos dentro do culto divino

(2)Que era prática comum da igreja,durante o culto, todos os membros da congregação serem vistos com as cabeças cobertas, como testemunha um de seus ministros da época, George Gillespie(1613-1648).

(3)Um panfleto eclesiástico escocês ("Uma Análise dos Três Panfletos Prelaticos",1703) indicava que durante mais de dois séculos, muitos membros da Igreja da Escócia descobriram suas cabeças durante o sermão, e que esses mesmos homens "ordinariamente" descobriam a cabeça quando a Ceia do Senhor estava sendo servida, tendo esse costume sobrevivido na Igreja Escocesa de Roterdã, na Holanda. Enquanto eles faziam isso, seus irmãos reformados na França e Holanda, no caso dos homens, ficavam com a cabeça coberta, e no casao das mulheres, com a cabeça descoberta, durante o sermão.

- g. O testemunho de teólogos reformados[puritanos], dos séculos XVI-XVII, como Herman Witsius[1636-1708], Daniel Cawdry(1588-1664), Thomas Goodwin[1600-1680], William Hubbard(1621-1704) e William Whitaker(1548 -1595)mostram que a defesa do uso do véu não era matéria de consenso entre os puritanos.

Evidentemente, nenhum desses testemunhos servem ou favorecem 100% os propósitos da causa dos defensores do moderno uso do véu, visto que todos esses grupos não seguiam a risco, seguindo literalmente a interpretação de Paulo, como também não interpretavam 1 Co 11:2-16 como algo geral ou universal, mas particular, ao ponto de não subscreverem 100% a visão desses texto com os óculos dos adeptos do uso do véu, e isso significa que eles, quando interpretam esses textos, aludiam ao costume cultural.

Estudemos e examinemos o que essas testemunhas tem a dizer...

I. João Calvino

1. Em primeiro lugar, o reformador entendia que o costume de Corinto implica no uso público do véu:

"Do primeiro gênero, temos exemplos em Paulo, que com a Santa Ceia do Senhor não se misturem festins profanos [1Co 11.20-22]; EM PÚBLICO AS MULHERES NÃO SE APRESENTEM, SENÃO VELADAS[1Co 11.5]. E TEMOS MUITOS OUTROS NO USO COTIDIANO, a saber, que oremos de joelhos dobrados e cabeças descobertas para que administremos os sacramentos do Senhor não irreverentemente, antes, com dignidade; que ao sepultar os mortos, nos portemos com o devido respeito; e outras coisas no mesmo teor"(Institutas, IV; 10:29).

Os defensores do moderno uso do véu mandam suas irmãs espirituais usarem véu dentro e fora da igreja?

. Ademais, Calvino defende que os cristãos orem de joelhos dobrados e com as cabeças descobertas. Todos os defensores do uso do véu, oram sempre de joelhos, e com as cabeças descobertas? Outra coisa, os puritanos oravam com a cabeça coberta por chapéis. Se Calvino estiver certo, e se os modernos defensores do uso do véu também estiverem certos, todos os antigos puritanos, que oravam cobertos, estavam administrando a Ceia do Senhor de forma irreverente?

Como é difícil, você defender uma crença a partir da opinião de outrem, que não os profetas e apóstolos!!!

2. Em segundo lugar, ao aludir questões ligadas a ordem e ao decoro (dentre elas o uso do véu), ele menciona duas coisas: (a)Que ritos desse tipo, deveriam ser variadamente acomodados com os costumes de cada nação e época; (b)Seria vantajoso para a igreja alterar e revogar as práticas tradicionais e estabelecer novas:

"Mas, porque na disciplina exterior e nas cerimônias NÃO QUIS PRESCREVER MINUCIOSAMENTE O QUE DEVEMOS SEGUIR (PORQUE ISTO PREVINE DEPENDER DA CONDIÇÃO DOS TEMPOS, NEM JULGARIA CONVIR A TODOS OS SÉCULOS UMA ÚNICA FORMA), impõe-se aqui acolher as regras gerais que deu, de modo que, em conformidade com essas regras, sejam aferidas todas as coisas que, para a ordem e o decoro, a necessidade da Igreja muito requer que sejam preceituadas. Enfim, porque Deus nada ensinou expresso nesta área, porquanto essas coisas não são necessárias à salvação E DEVEM ACOMODAR-SE VARIADAMENTE PARA A EDIFICAÇÃO DA IGREJA, SEGUNDO OS COSTUMES DE CADA POVO E DO TEMPO, CONVIRÁ, CONFORME O PROVEITO DA IGREJA O REQUERER, TANTO MUDAR E REVOGAR ORDENANÇAS COMUNS, COMO INSTITUIR NOVAS"(Instituas, IV; 10:30)

3. Para ele, o uso do véu era uma das cerimônias não perpétuas da igreja, comparável as genuflexões na oração, não deve ser considerado como se fosse o centro da religião para a mulher, nem como algo que seja tido como uma prática irrestrita em qualquer circunstância:

"Liberdade de consciência de que natureza, dirás, poderá haver em tão grande observância e cuidado? MAS, COM EFEITO SE EVIDENCIARÁ MUI CLARAMENTE QUE ELAS NÃO SÃO SANÇÕES FIXAS E PERPÉTUAS ÀS QUAIS FOMOS ADSTRITOS, mas rudimentos externos da fraqueza humana, dos quais, ainda que não necessitemos de todos, contudo usamos todos, porquanto somos uns aos outros mutuamente sujeitos para formentar entre nós a caridade. Isto se pode reconhecer nos exemplos postos previamente. E então? A RELIGIÃO ESTÁ PORVENTURA SITUADA NO VÉU DA MULHER, DE SORTE QUE SEJA CONTRA SEU DIREITO SAIR DE CABEÇA DESCOBERTA? Porventura a tal ponto é santo o decreto de Paulo quanto a seu silêncio, que não se possa violar sem sumo delito? Porventura há algum mistério na genuflexão, em sepultar-se um cadáver, que não se possa preterir sem sacrilégio. De modo algum, porque se, ao socorrer ao próximo, SEJA NECESSÁRIO À MULHER TAL PRESSA QUE NÃO LHE PERMITA COBRIR A CABEÇA, NADA TRANSGRIDE CASO SE APRESENTE DE CABEÇA DESCOBERTA. E igualmente há momentos em que não é menos conveniente que fale, e que em outros se cale. Nem há mal algum em que alguém, se não pode ajoelhar-se por algum impedimento, ore de pé. Finalmente, é muito melhor sepultar um morto nu do que não, por falta de sudário, esperar que o corpo se decomponha"(Instituas, IV; 10:31)

4. Segundo ele, a prática, considerada primariamente em Corinto, dizia respeito a atitude errada das mulheres de lá, dando um entendimento a algo completamente local, não universal:

"E daqui podemos aventurar-nos a uma conjectura provável de que AS MULHERES QUE POSSUÍAM UMA INVEJÁVEL CABELEIRA TINHAM O HÁBITO DE APARECER EM PÚBLICO COM A CABEÇA DESCOBERTA COM O FIM DE EXIBIR SUA BELEZA. Portanto, PAULO, INTENCIONALMENTE, REMEDIA TAL ERRO, EXPRESSANDO UM CONCEITO COMPLETAMENTE OPOSTO AO DELAS, a saber: que em vez de torná-las atraentes aos olhos dos homens, e despertar sua luxúria, só serviam de espetáculo indecoroso"(Comentário de 1 Co 11:6).

Calvino não fala que as mulheres da igreja universal tinham o costume de aparecer em público descobertas, para exibirem sua beleza, mas fala das corintianas.

II. As Notas da Bíblia de Genebra[1591]

As notas da Bíblia de Genebra fazem o mesmo ponto como Calvino fez acima. Comentando sobre 1 Coríntios 11: 4 ("Todo homem que ora ou profetiza, tendo a cabeça coberta desonra a sua cabeça") as notas (onde participaram Beza, o sucessor de Calvino, e outros reformadores), dizem:

"Com isso, ele conclui que se os homens oram ou pregam em assembleias públicas tendo suas cabeças cobertas (que era então um sinal de sujeição), eles próprios roubaram sua dignidade, contra a ordenança de Deus. PARECE QUE ESTA ERA UMA LEI POLÍTICA QUE SERVE APENAS PARA A CIRCUNSTÂNCIA DO TEMPO QUE PAULO VIVEU, porque nestes nossos dias um homem falando com a cabeça descoberta em uma congregação é um sinal de sujeição".

Sim, para os comentaristas da Bíblia de Genebra, as leis que Paulo prescreveu em 1 Co 11:2-16, eram restritas à sua época.

A Bíblia de Genebra foi usada nos reinos protestantes por um tempo muito longo, apenas para ser, eventualmente substituída pela King James Version em países de língua inglesa. Sua popularidade faz com que seja certo que esta nota foi lida por muitas pessoas dentro de Genebra e em outros lugares. Esta nota da Bíblia de Genebra não poderia fazer o argumento temporal/cultural em 1 Co 11 mais claro. Se os teólogos de Genebra realmente cressem que 1 Co 11 foi "não" deve ser interpretado com um pressuposto cultural, então porque é que esta nota nunca foi questionada, condenada, ou corrigida pelos posteriores doutores genebrinos e pela Assembleia; e por que esses comentários ainda continuaram incluídos dentro da bíblia mais amplamente utilizada pelas pessoas reformadas dentro de Genebra? Por que não houve tumulto em Genebra sobre uma tão flagrante interpretação cultural da instrução de Paulo em 1 Co 11, caso considerada errada?

Em nossa opinião, foi porque houve um acordo geral em Genebra sobre a maneira que 1 Coríntios 11 deve ser entendido e aplicado. Evidentemente, a Bíblia de Estudo de Genebra entende essa questão do cobrir-se com o véu, como uma tradição estritamente cultural, particular e local. Seu “Comentário de 1 Coríntios 11:2”, diz:

“O quinto tratado desta epístola a respeito da ordem correta das assembléias públicas, que contém três pontos, que é da decência dos vestuários de homens e mulheres, da ordem da Ceia do Senhor, e do uso correto dos dons espirituais. Mas vai prestes a repreender certas coisas, ele começa, no entanto, com um elogio geral deles, CHAMANDO ESSAS LEIS PARTICULARES DE BELEZA E RETIDÃO, QUE PERTENCEM A POLÍTICA ECLESIÁSTICA, TRADIÇÕES; QUE POSTERIORMENTE ELES CHAMARAM CANÔNES”.

Assim, as notas de Genebra por Beza e as palavras de Calvino são escritos que aludem a mesma perspectiva cultural.

Assim, tanto a Escócia e Genebra tiveram as mesmas práticas habituais (para os homens, pelo menos). Ambos eram o oposto da prática instituída por Paulo em Corinto. Em Corinto, o cobrir a cabeça por parte dos homens foi desonroso e exposto a sujeição. Em Genebra e na Escócia, era autoridade significante e honrosa.

III. Francis Turretin (1623-1687)

Turretin foi o renomado professor da Academia em Genebra e sucessor de Calvino, Beza, e Diodati. Turretin não só observa que o decoro cultural com relação ao ser coberto ou descoberto no culto público foi só por um tempo, mas também conclui que, desde que a razão para a prática cessou, assim como a prática em si.

"Embora certas ordenações dos Apóstolos (que se refere aos ritos e as circunstâncias de culto divino) foram variáveis E INSTITUÍDAS APENAS POR UM TEMPO (como a sanção de não comer sangue e de coisas estranguladas [At 15:20]; RELATIVO A CABEÇA DA MULHER SENDO COBERTA E A DO HOMEM COBERTA quando eles profetizam (1 Co 11: 4,5) porque não havia uma causa especial e razão para eles, E (esta cessação) A PRÓPRIA INSTITUIÇÃO DEVERIA CESSAR, TAMBÉM; ainda havia outros invariáveis e de perpétua observância na igreja, nenhum dos quais foram estabelecidos em qualquer ocasião especial para durar apenas por um tempo pelo qual eles pudessem ser prestados temporariamente (como a imposição das mãos no cenário, a de ministros e do distinção entre os ofícios de diácono e pastor"(Institutos de Teologia Elenctic, Volume 2, p. 95).

Turretin estava ensinando uma nova doutrina sobre o "cobrir a cabeça" ou era essencialmente a mesma doutrina que Calvino e que Beza (nas notas da Bíblia de Genebra) estabeleceram? Parece-nos que, se Turretin tivesse mudando radicalmente a doutrina sobre "o cobrir a cabeça" de Genebra, não teria havido alguma disputa e argumento de seus colegas pastores e congregações? Na verdade, com o melhor de nosso entendimento, não há nenhuma menção a isso em todo o registro histórico.

Qual era a posição uniforme de Genebra sobre o "cobrir a cabeça"? Calvino diz que essa prática pode ser alterada, as notas a Bíblia de Genebra dizem que pode ser alterada (pelo menos para os homens), e Turretin diz que a sua cessação para homens e mulheres no seu dia que deveria ser completa. Em cada um destes casos, é evidente que esses teólogos interpretaram a passagem em 1 Coríntios 11 dentro de um contexto cultural.

IV. As Igrejas da Europa

1. A Confissão de Fé de Augsburgo(1530), declara:

"Que se deve pensar, então, do domingo e de similares ordenanças e cerimônias eclesiásticas? A isso respondem os nossos que os bispos ou pastores podem fazer ordenações para que as coisas sejam feitas com ordem na igreja, não a fim de com elas alcançar a graça de Deus, também não a fim de por elas satisfazer pelo pecado ou obrigar as consciências a que as tenham na conta de cultos necessários e a julgar que pecam quando deixam de observá-las sem escândalo. Assim São Paulo ordenou em Coríntios que as mulheres velem a cabeça na congregação e que os pregadores não falem todos ao mesmo tempo na assembléia, mas ordenadamente, um após outro.

É conveniente que a assembléia cristã, por causa do amor e da paz, observe tais ordenações e obedeça aos bispos e pastores nestes casos, e as guarde até onde um não ofenda o outro, para que não haja desordem ou anarquia na igreja. Contudo, de maneira tal, que não se onerem as consciências, de forma a pensarem que são coisas necessárias para a salvação e haverem que pecam quando as violam sem ofensa para outros. ASSIM COMO NINGUÉM DIZ PECAR A MULHER QUE, SEM OFENSA PARA OUTROS, SE APRESENTA EM PÚBLICO COM A CABEÇA DESCOBERTA"(XVIII:53-54)

Esta confissão foi amplamente subscrita no início da Primeira Reforma. Na verdade, uma versão posterior deste Confissão(revista por Phillip Melancthon, mas não revista sobre este ponto) foi subscrita por João Calvino em Ratisbona em 1545. Se, como atesta essa Confissão, então voltamos a perguntar: que compreensão contextual esses irmãos e irmãs do passado tiveram de 1 Coríntios 11? Claramente, em uma cultura onde os homens não eram ordinariamente ofendidos por uma mulher saindo de casa com a cabeça descoberta, como a nossa própria cultura, este Confissão de Fé diz que não há pecado.

(2)A Confissão de Fé de Nassau[1578][Reformada], declara:

"Também na sua maioria abolidos e eliminados nas igrejas desta terra estão pequenos lenços e véus que antigamente se costumava manter para os comunicantes para que nada caia ou seja derramado”(‘As adições humanas à administração da Santa Ceia que são anuladas’)

(3)O Consenso de Bremen[1595][Reformado], declara:

"Portanto, não só não há necessidade de manter lenços ou véus para os comungantes, mas, além disso, não se deve, de forma alguma, preocupar-se com outros tipos semelhantes de cânones papistas”(‘Os pequenos lenços mantidos por alguns na administração da Ceia do Senhor’).

(4)As Igrejas Reformadas da França(1579)

No seu Sínodo Nacional, as Igrejas Reformadas da França abordaram especificamente a questão do "cobrir a cabeça" na adoração pública. No entanto, eles não exigiam que as mulheres estivessem cobertas e homens estivessem descobertos (como ensinado em 1 Co 11: 4, 5), mas sim no momento da oração, eles exigiam que todos (sem exceção) estivessem descobertos. Tal prática não demonstra alguma regra imutável, universal em relação ao "cobrir a cabeça". Ao contrário, a prática das Igrejas Reformadas da França indica que o ato de não descobrir as cabeças e não se ajoelhar, constituía orgulho e escândalo:

"XXX. Considerando que várias pessoas durante as orações públicas e familiares, QUE NEM DESCOBREM SUAS CABEÇAS, nem dobram os joelhos, expressando assim o grande orgulho de seu coração, E ESCANDALIZANDO DESSA MANEIRA O TEMOR DO SENHOR, os chefes de família são aconselhados e convocados para atentar para isso, de modo que durante o tempo de oração, cada um em suas igrejas e famílias, sem exceção, sejam elas grandes ou pequenos, nobres ou comuns, trate de testificar a humildade do seu coração, por essas marcas fora supracitados da humildade, a menos que eles sejam impedidos pela inevitável necessidade ou doença, casos que deixamos a direção de suas próprias e respectivas doenças"(Sinodo da Igreja Reformada da França, ed. John Quick, o Sínodo dos Figeac. Sínodo X. do décimo Sínodo Nacional das Igrejas Reformadas da França, realizada em Figeac, o segundo dia de agosto, e encerrado no oitavo dia do mesmo mês, no ano da graça de 1579, sendo o sexto ano do reinado de Henrique III, Rei da França e da Polônia).

Da mesma forma, a Disciplina das Igrejas Reformadas da França afirma:

"Aquela grande irreverência, que é encontrada em diversas pessoas, que em orações públicas e privadas NEM DESCOBREM AS CABEÇAS, nem dobram os joelhos, deve ser corrigida, de modo que é um assunto repugnante para a piedade, e transmite suspeita de orgulho, e escandalizam os que temem a Deus. por isso todos os Pastores devem ser aconselhados, como também pessoas idosas e chefes de famílias, com cuidado para supervisionar em tempo de oração todas as pessoas, sem exceção ou acepção, evidenciando por esses sinais exteriores a humilhação interna de seus corações, e de que prestaram respeito por eles a Deus, a menos que alguém seja impedido de fazê-lo por doença ou outra forma; o julgamento deve ser transferido para o testemunho de suas próprias e respectivas consciências"(Sínodo da Igreja Reformada da França, ed. John Quick, A Disciplina das Igrejas Reformadas da França, capítulo 10, Canon 1, p. xliii).

Como, então, as Igrejas Reformadas da França entenderam o "cobrir a cabeça"? Eles queriam que todas as pessoas, sem exceção, e todos em suas igrejas e famílias, sem exceção, orassem publicamente e em particular com a cabeça descoberta. Isso significa que homens, mulheres e crianças estavam orando em público e privado, com a cabeça descoberta, de modo a significar reverência em seu interior e humildade para com Deus. Isto não é o que se esperaria encontrar se tivessem interpretado 1 Co 11: 2-16 em um sentido universal e moral. Por favor, tenha em mente que estas citações são a posição de toda a Igreja Reformada Francesa conforme declarado em seu Livro de Disciplina (durante um longo período de tempo) e não apenas a opinião de um ou dois ministros.

(3)"As Anotações Holandesas sobre toda a Bíblia, ou Todas as Sagradas Escrituras Canônicas do Antigo e do Novo Testamento"(1637), recomendada pelo Sínodo de Dort (em 1618) para ser disponibilizada para os chefes de famílias (e estudantes da Escritura), em seu estudo da Palavra de Deus. Foi concluída em 1637 e foi publicado pela autoridade do Sínodo da Igreja Reformada da Holanda. Os comentários a seguir são feitas à 1 Coríntios 11:4 =

"Ou seja, porquanto a descobertura da cabeça era então um sinal de poder e domínio, como, pelo contrário, HOJE AQUELES QUE TEM PODER SOBRE OS OUTROS, IRÃO MANTER A CABEÇA COBERTA, E OS QUE ESTÃO SUBORDINADOS AOS OUTROS VÃO DESCOBRIR SUAS CABEÇAS DIANTE DELES. MAS EM TODAS ESTAS COISAS, DEVEMOS SEMPRE TER O RESPEITO AO USO DE DIVERSAS ÉPOCAS E PAÍSES, e o que é nobre e edificante nele".

Mais uma vez, esta não é a opinião de um ou dois ministros na Holanda, mas sim a posição de todo o sínodo. Aqui, novamente, consistente com os ministros da Escócia, Genebra, Alemanha e França, esses renomados ministros holandeses no melhor e mais puro momento da Reforma da Holanda, indicam que o sinal do “descobrir a cabeça” em seu tempo era diferente do de Corinto no tempo em que Paulo escreveu 1 Coríntios 11. Todas as pessoas na Holanda que estavam sob sujeição entenderam que o uso do véu era uma prática não seguida de forma ininterrrupta por eles. Obviamente, estes ministros concordaram que 1 Co 11:2-16 deve ser interpretado dentro de um contexto temporal, cultural e local.

Agora deve estar claro que esses teólogos que viveram na época da Primeira e Segunda Reformas não viam o "cobrir a cabeça" como uma prática inalterável, mas sim como um costume mutável no significado e na prática. O historiador David Hay Fleming, ilustra ainda mais a constante mudança prática do “cobrir as cabeças” entre as igrejas reformadas com relação a prática de Paulo em 1 Coríntios 11:

ATÉ O FIM DO SÉCULO XVIII MUITOS PRESBITERIANOS ESCOCESES DESCOBRIRAM SUAS CABEÇAS DURANTE O SERMÃO. [A nota cita a seguinte fonte: Uma Análise dos Três Panfletos Preláticos, 1703, p. 18]. O COSTUME SOBREVIVEU NA IGREJA DA ESCÓCIA, EM ROTERDÃ, PELO MENOS ATÉ O ÚLTIMO QUARTEL DO SÉCULO XIX. Em um momento em que os ministros da Escócia poderiam ter mantido seus chapéus enquanto pregavam, COMO OS PREGADORES FRANCESES E HOLANDESES FIZERAM(A Reforma na Escócia, [1910], pp. 301, 302).

Compreendemos o contexto cultural de 1 Coríntios 11: 2-16, tornou-se cada vez mais claro de que esta é uma chave interpretativa que não deveria ser omitida em uma compreensão adequada dessa passagem. Nós demonstramos claramente que durante a Ceia do Senhor da Igreja da Escócia foi praticada (e aprovada) um uso cultural do “cobrir a cabeça” dentro de culto. Nós demonstramos que isto é consistente com os nossos padrões de fé, em especial, com a Confissão de Fé Westminster(1:6), que classifica o “cobrir a cabeça” como uma circunstância de culto que é alterável. Nós não encontramos nenhuma evidência para sugerir que o “cobrir a cabeça” foi necessário na Escócia como uma prática obrigatória e inalterável com base na lei da natureza. Consequentemente, nós não encontramos um caso em que um homem foi disciplinado por cobrir a cabeça ou uma mulher censurada por descobrir a cabeça, nem nós encontramos mencionado, muito menos exigido, em “O Diretório Para o Culto Público de Deus”(1546), que era um documento litúrgico da Igreja da Escócia. . Além disso, nós fornecemos provas irrefutáveis que demonstram que as igrejas reformadas em Genebra, Alemanha, França e Holanda, durante os seus tempos mais puros de Reforma, entenderam majoritariamente que o cobrir e descobrir a cabeça em 1 Coríntios 11: 2-16 era algo cultural. Isso demonstra o julgamento dos melhores teólogos nos mais puros tempos da igreja reformada.

V. Sobre a prática do ”cobrir a cabeça” na Escócia (1560-1638)

Estudiosos do assunto demonstram que os homens (pelo menos, e, provavelmente, as mulheres também) cobriam ordinariamente suas cabeças durante o tempo em que um sermão estava sendo pregado e que esses mesmos homens "ordinariamente" descobriram a cabeça quando a Ceia do Senhor estava sendo servida. Demonstrando que esta seria a prática comum dentro da Igreja da Escócia, servirá para provar que aquelas Assembleias gerais e todos os tribunais inferiores não entendiam Paulo ensinando que os homens sempre permaneciam descobertos em um culto público. E, portanto, segue-se que se os nossos irmãos escoceses ordinariamente permitiram que os homens estivessem cobertos durante os sermões e descobertos durante a celebração da Ceia do Senhor, então eles interpretaram a cobertura e o descobrimento da cabeça em 1 Coríntios 11: 2-16 como um costume cultural dentro de Corinto no tempo em que Paulo escreveu.

Falando sobre o assunto de diferentes sinais serem distinguidos (a saber, costumes naturais), George Gillespie(1613-1648), ministro da Igreja da Escócia, afirma o seguinte a respeito de um exemplo de um símbolo habitual:

“Símbolos habituais; e assim a cabeça descoberta, QUE EM TEMPOS ANTIGOS ERA UM SINAL DE PROEMINÊNCIA, TEM, ATRAVÉS DE COSTUME, SE TORNADO UM SINAL DE SUJEIÇÃO”(Disputa Contra as Cerimônias Papistas Inglesas ,p. 247).

“Em segundo lugar, OS SINAIS HABITUAIS SÃO IGUALMENTE INTRODUZIDOS NO SERVIÇO DIVINO; portanto um homem entrando em uma de nossas igrejas no tempo do culto público, SE ELE VÊ OS OUVINTES COBERTOS, ELE SABE POR ESSE SINAL HABITUAL que o sermão foi iniciado”(Disputa Contra Cerimônias Papistas Inglesas, p. 248) .

Entendemos acima que Na Igreja da Escócia "habitualmente" (isto é, de acordo com seu costume cultural) as pessoas não cobriam suas cabeças até que a pregação começasse. Observamos também que o sinal de descobrir a cabeça, de acordo com Gillespie, mudou radicalmente o seu significado ao longo do tempo na Escócia. No tempo da época de Paulo, era um sinal de superioridade, e agora na época de Gillespie, o costume tinha alterado o seu significado para dizer exatamente o oposto (ou seja, a sujeição). Isso por si só é uma prova de que os ministros da Escócia não consideraram o “cobrir a cabeça” como um sinal inalterável (pois se fosse inalterável, então por que eles aceitam o significado alterado do sinal?).E que eles necessariamente compreenderam as declarações de Paulo em 1 Coríntios 11: 2-16 dentro de um contexto cultural.

Além disso, aprendemos com aquilo que é citado abaixo que a Igreja escocesa propositadamente removeu o “cobrir a cabeça” quando recebia o sacramento da Ceia do Senhor. Samuel Rutherford, ministro escocês, prova que a Igreja da Escócia ordinariamente removeu o “cobrir a cabeça” na recepção da Ceia do Senhor, quando afirma:

“Embora, portanto, RECEBENDO A CEIA DO SENHOR DESCOBERTO, ninguém pode concluir a partir dali a adoração dos Elementos, concluindo propriamente, como fazemos ao nos ajoelharmos, como veremos aqui para toda a adoração corporal ou expressão do nosso afeto aos meios de graças (embora estes meios sejam instrumentos) não é adoração adequadamente tanto de Deus, ou destes meios, é lícito a tremer com a palavra, e como Josias, chorar antes de ler o livro da Lei” (O Direito Divino de Governo da Igreja, pp. 89-90).

Em sua “Disputa Contra Cerimônias Papistas Inglesas”, George Gillespie responde a uma objeção levantada por um bispo anglicano. Embora a objeção é direcionada principalmente para a questão de reverência e adoração dos sacramentos, usamos a seguinte citação como uma segunda testemunha para provar que a Igreja da Escócia normalmente praticou a remoção do “cobrir a cabeça” na celebração da Ceia do Senhor. Gillespie afirma:

“Aqueles que falam mais claramente de que o Bispo Lindsey, tornou-se aqui nosso opositor, que a reverência é devido ao sacramento, e que nós mesmos fazemos reverência QUANDO NOS SENTAMOS DESCOBERTOS NA RECEPÇÃO DO MESMO”(Disputa Contra Cerimônias Papistas Inglesas, p.217).

Em sua resposta, Gillespie não nega que eles descobriram suas cabeças na recepção do sacramento. Ao contrário, ele explica porque foi feito, e como isso, de modo algum se destinava a ser uma adoração dos elementos do pão e vinho, mas em vez disso apenas uma reverência aos mesmos. Para todos aqueles que possam estar interessados em ler sua extensa explicação, observe as páginas 218 e 219 de sua obra “Disputa Contra Cerimônias Papistas Inglesas:”.

"Nós atualmente não deseja entrar nos méritos ou deméritos sobre o descobrir a cabeça na recepção do sacramento da ceia do Senhor, como uma questão separada da que pretendemos analisar por esta prática escocesa. O que nós desejamos salientar é a maneira pela qual esta igreja entendeu toda a questão do 'cobrir a cabeça' à luz do que é ensinado em 1 Co 11:2-16. Na Escócia, durante os seus melhores e mais puros dias, é igualmente certo que os homens (pelo menos, e provavelmente também as mulheres) habitualmente usavam uma cobertura na cabeça durante o tempo que os sermões eram pregados e que era uma prática aceita pela Assembléia Geral da Igreja da Escócia. Nem se discute que esta prática era contrária à vontade da Assembleia Geral, como temos registros de todos os atos da Assembléia Geral a partir desse momento, e sem censura ou controvérsia é mencionado em relação a esta prática. O mesmo é verdadeiro para a prática da remoção do 'cobrir a cabeça' ao receber o sacramento da Ceia do Senhor. Destas conclusões estando certas, devemos fazer a seguinte pergunta: Uma vez que Paulo em 1 Coríntios 11: 4 afirma que: 'Todo homem que ora ou profetiza, tendo a cabeça coberta desonra a sua cabeça', e novamente no versículo 7: 'Porque uma homem, na verdade, não deve cobrir a cabeça' - 'pressuposto contextual' - Qual foi a compreensão que a Assembléia Geral da Igreja da Escócia aplicou ao texto de 1 Co 11, a fim de permitir que os homens usassem 'cobertura sobre a cabeça' durante o sermão, e, em seguida, removê-la como um ato de reverência durante o sacramento da Ceia do Senhor? Uma interpretação universal, inalterável do 'cobrir a cabeça' em 1 Coríntios 11, ou, uma interpretação cultural mutável? Vendo que tanto o sermão e o sacramento são atos de culto administrados no momento do culto público, não é claramente concebível que a Igreja da Escócia compreendeu o 'cobrir a cabeça' como um sinal sagrado significativo que era inalterável?".

Conclui-se incontestavelmente como demonstrado pela sua própria prática que a Assembléia Geral entendeu e interpretou 1 Coríntios 11: 4, 7, com o pressuposto de que Paulo estava falando do ponto de vista cultural.

Cuidadosamente, note que Samuel Rutherford(1600-1661) ministro presbiteriano escocês, interpreta o “cobrir a cabeça” de 1 Co 11 como um sinal nacional ou cultural, em vez de um sinal universal:

DESCOBRIR A CABEÇA, PARECE SER UM POUCO MAIS ANTIGO, NESSE TEMPO, DAS EPÍSTOLAS DE PAULO AOS CORÍNTIOS. O erudito Salmasius pensa isso COMO UM SÍMBOLO NACIONAL DE HONRA, DE MANEIRA ALGUMA RECEBIDO UNIVERSALMENTE, mas certamente não é adoração. EMBORA, PORTANTO, RECEBENDO A CEIA DO SENHOR DESCOBERTO, nenhum homem pode concluir a partir dali a adoração dos Elementos, como veremos aqui para toda a adoração corporal ou expressão do nosso afeto aos meios de graças (embora estes meios sejam instrumentos) não é adoração adequadamente tanto de Deus, ou destes meios, e é lícito tremer com a palavra, e como Josias, chorar antes de ler o livro da lei, e enquanto os mártires beijam a fogueira como o instrumento pelo qual glorificavam a Deus, ao morrerem pela verdade: todas estas coisas sendo ‘Ojectam quo’ e meios pelos quais eles transmitiam sua adoração ao Deus verdadeiro, e expressões naturais e legais de sua afeição a Deus: VISTO QUE DESCOBRIR A CABEÇA, É UMA ESPÉCIE DE VENERAÇÃO OU REVERÊNCIA, não adoração; e Paulo dar a entender tanto quando diz: 1 Cor 11: 4. "Todo homem orando e profetizando com a cabeça coberta desonra a sua cabeça". Mas isto não significa que ele desonra a Deus. OS JUDEUS ATÉ HOJE, COMO ANTIGAMENTE, EM SUA PRÁTICA NÃO DESCOBREM A CABEÇA EM SINAL DE HONRA. Mas, pelo contrário, o cobrir era um sinal de honra. Se, pois, os judeus, sendo uma Igreja visível, recebiam a Ceia do Senhor, e oravam, e profetizavam com as cabeças cobertas, OS HOMENS NÃO JULGAM ISSO NENHUMA DESONRA SOBRE A SUA CABEÇA, OU NENHUM DESRESPEITO AS ORDENANÇAS DE DEUS. ENTRETANTO PAULO TEVE EM CONTA O COSTUME NACIONAL EM CORINTO, fazendo isso para honrá-lo”(O Direito Divino de Governo da Igreja, pp. 89-90).

Rutherford está ensinando publicamente que:

(1)O costume de descobrir a cabeça era mais antigo do que as epístolas de Paulo

(2)Paulo teve em conta o costume nacional de Corinto para recomendar que os homens se descobrissem no culto

(3)Paulo teve em conta o costume nacional, quando recomenda que os homens se descubram no culto

(4)Não é considerado uma desonra o homem orar com a cabeça coberta

(5)Não constitui desrespeito as ordenanças de Deus o homem orar com a cabeça coberta

(c)Este ministro não foi disciplinado, nem deposto por ensinar esta verdade para a igreja como um todo, mas sim foi considerado um das mais brilhantes luzes da Segunda Reforma. Se isto era uma falsa doutrina (como alguns supõem), então por que Rutherford não foi disciplinado nem corrigido pelo seu erro público? Certamente alguns membros da Assembléia Geral leriam essas declarações públicas. Em nossa opinião, Rutherford não foi disciplinado, porque a Igreja da Escócia concordou com ele. Eles (os doutores da Igreja Escocesa) também entenderam que Paulo(em 1 Co 11) estava falando de um contexto cultural.

Isso também é consistente com a Confissão de Fé Westminster (1:6), que afirma:

“Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a glória dele e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser lógica e claramente deduzido dela. À Escritura nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens; reconhecemos, entretanto, ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na palavra, e que há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum às ações e sociedades humanas, as quais tem de ser ordenadas pela luz e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da Palavra, que sempre devem ser observadas”

Um dos textos de prova utilizados para essa seção da Confissão é:

"Julgai entre vós mesmos: é decente que a mulher ore a Deus descoberta? Ou não vos ensina a mesma natureza que é desonra para o homem ter cabelo crescido?”(1 Co 11:13,14)

Pelo uso deste texto de prova, é certo que não só a Assembléia de Westminster colocou o “cobrir a cabeça” dentro do reino do que é circunstancial ao culto (e, portanto, alterável), em oposição ao que é uma ação significativamente sagrada e inalterável, mas também que a Igreja da Escócia (que judicialmente ratificou e concordou em defender esta Confissão[CFW] viu o “cobrir a cabeça” como uma prática circunstancial com relação ao culto.

Vale a pena lembrar que a Confissão de Fé de Westminster[1643-1649], símbolo de fé de todos os presbiterianos, não menciona o uso do véu como parte do culto público, sob um ponto de vista eclesiástico universal:

. "O culto religioso deve ser prestado a Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo - e só a ele; não deve ser prestado nem aos anjos, nem aos santos, nem a qualquer outra criatura; nem, depois da queda, deve ser prestado a Deus pela mediação de qualquer outro senão Cristo. A oração com ações de graças, sendo uma parte especial do culto religioso, é por Deus exigida de todos os homens; e, para que seja aceita, deve ser feita em o nome do Filho, pelo auxílio do seu Espírito, segundo a sua vontade, e isto com inteligência, reverência, humildade, fervor, fé, amor e perseverança. Se for vocal, deve ser proferida em uma língua conhecida dos circunstantes. A oração deve ser feita por coisas lícitas e por todas as classes de homens que existem atualmente ou que existirão no futuro; mas não pelos mortos, nem por aqueles que se saiba terem cometido o pecado para a morte. A leitura das Escrituras com o temor divino, a sã pregação da palavra e a consciente atenção a ela em obediência a Deus, com inteligência, fé e reverência; o cantar salmos com graças no coração, bem como a devida administração e digna recepção dos sacramentos instituídos por Cristo - são partes do ordinário culto de Deus, além dos juramentos religiosos; votos, jejuns solenes e ações de graças em ocasiões especiais, tudo o que, em seus vários tempos e ocasiões próprias, deve ser usado de um modo santo e religioso"(21:2-4).

. Como já dissemos, quando a CFW cita um texto que alude ao uso do véu('Julgai entre vós mesmos: é próprio que a mulher ore a Deus sem trazer o véu?' - 1 Co 11:13-14), se refere a "algumas circunstâncias... que são peculiares às sociedades e costumes humanos", restringindo-o a grupos humanos específicos:

. Assim, a própria CFW reconhece ser o uso do véu um preceito de ordem particular. Isso é embaraçante para os modernos defensores do uso do véu, dentro do meio presbiteriano.

. Além disso, o fato de que “O DIRETÓRIO PARA A PÚBLICA ADORAÇÃO A DEUS”(1646), da Igreja da Escócia, nem sequer menciona o “cobrir a cabeça” no culto público, e esse fato não deve escapar à nossa atenção. A principal preocupação do Diretório é estabelecer o que Deus requer no culto. Se os autores e defensores deste Diretório tivessem considerado o “cobrir a cabeça” no culto público como sendo um importante sinal sagrado obrigatório e inalterável, então, em seguida, a sua omissão não seria um erro muito grave? Questões de muito menos importância relativa estão incluídos neste Diretório cuidadosamente escrito. Nós, portanto, concluirmos que a omissão de qualquer direção relativa ao “cobrir a cabeça” pode razoavelmente ser oferecido como prova de que a Assembléia não exigiu autoritariamente esta prática em todas as circunstâncias de culto público, nem em todos os momentos de todas as nações.

. Finalmente, diante do conhecimento desses atos da Assembléia Geral da Igreja da Escócia[1560-1649] inclusive, todos os registros da Comissão à Assembléia Geral, e todos os registros presbiterais e de sessão disponíveis ao conhecimento dos estudiosos no assunto, nós não encontramos um caso em que um homem foi censurado para cobrir a cabeça em adoração, nem um caso em que uma mulher foi disciplinada por descobrir a cabeça em adoração (embora saibamos que os homens cobriam suas cabeças e as mulheres descobriram suas cabeças em determinados pontos no culto público). Embora este seja um argumento a partir do silêncio, consideramos esse fato notável e inexplicável, se, de fato, os homens devessem a todo o momento estar descobertos em adoração e as mulheres devem estar sempre cobertas no culto.

Isso não deixa nenhuma dúvida em nossas mentes que estes tribunais da Igreja na Escócia consistentemente interpretaram o “descobrir-se” dos homens e o "cobrir-se" das mulheres em 1 Coríntios 11 com o pressuposto contextual que Paulo estava se dirigindo a prática cultural em Corinto. Para que nós, censurássemos a prática e a interpretação da Assembléia Geral, e acusá-la de erro grave, seria necessário que ela estivesse errada nesse ponto, e isso só seria possível se ela tivesse mudado seu pensamento, adotando uma inovação, ao afirmar que os eventos de 1 Co 11:2-16 não ocorreram mediante o costume e a cultura daquela nação. Mas, sinceramente não temos uma evidência explícita nesse sentido. O grande problema, para os defensores do moderno uso do véu está nas palavras de Paulo em 1 Co 11:14-16, onde lemos:

"Ou não vos ensina a mesma natureza que é desonra para o homem ter cabelo crescido? Mas ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso, porque o cabelo lhe foi dado em lugar de véu. Mas, se alguém quiser ser contencioso, nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus"(ACF).

Paulo está falando no costume dos homens terem cabelos longos, isto é, terem a cabeça coberta. Quando ele diz "nós não temos tal costume", está aluindo aos judeus. Quando ele diz "nem as igrejas de Deus", está aludindo aos cristãos de sua época. De formas que, ele está aludindo a um costume judeu, incorporado às igrejas cristãs da época, que proibia que um homem estivesse com a cabeça coberta (isto é, com cabelos longos, ou com o uso de qualquer outra cobertura [chapéus, gorros, etc])
. Dessa forma, se os modernos defensores do uso do véu querem ser coerentes com o texto grego, terão que condenar os reformadores, puritanos, policiais militares, cozinheiros, garis, operários da construção civil, oravam enquanto tinham cabelos longos ou chapéis sobre a cabeça. Há algum tratado dos modernos defensores do uso do véu, condenando os reformadores, puritanos, policiais militares, cozinheiros, garis, operários da construção civil por orarem com a cabeça coberta? Não!

VI. Um exame da prática nas sessões de disciplina da Igreja da Escócia

Citaremos em particular “O Registo dos Ministros, Presbíteros e Diáconos da Congregação Cristã de St. Andrews, compreendendo os Anais da Sessão da Igreja, e do Tribunal do Superintendente de Fife, Fothrik e Strathhearn, 1559-1600”.

Embora haja vários casos, nos limitaremos a citar apenas dois casos de instâncias destes tratados de julgamentos eclesiásticos a fim de confirmar que estes juízes eclesiásticos escoceses necessariamente interpretaram a passagem em 1 Coríntios 11 a partir de uma perspectiva cultural. O primeiro exemplo da Sessão de St. Andrews agora segue:

Março 1581: O dia que, o jovem Thomas Reif, confessou ter cometido adultério com Margaret Cluny, é chamado para comparecer mediante o próximo domingo para vir com a referida Margaret, vestido de saco, CABEÇA DESCOBERTA e pés descalços e estando a porta da igreja da segunda para o terceira campanhia ao sermão antes do meio dia, e, posteriormente, para comparecer no assento dos adúlteros arrependidos dentro da igreja, e sentar-se nele até que o sermão seja terminado, e assim por diante para continuar cada domingo até a igreja ficar satisfeita”(O Registo dos Ministros, Presbíteros e Diáconos da Congregação Cristã de St. Andrews, compreendendo os Anais da Sessão da Igreja, e do Tribunal do Superintendente de Fife, Fothrik e Strathhearn, 1559-1560, pp. 475-476).

Note aqui que a Sessão ordenou que um homem e uma mulher a se sentassem com a cabeça descoberta em cima do banquinho do arrependido (que era um banquinho colocado dentro da visão clara da congregação durante o culto). Isto é importante por duas razões. O castigo não deveria ser que o homem fosse conduzido, e se sentasse, juntamente com a mulher, ele com a cabeça descoberta, e ela, descoberta, se de fato a Sessão cresse que 1 Co 11: 4 ensina que uma mulher devesse sempre ter a cabeça coberta durante o culto público? Além disso, se a Sessão cria que, de acordo com 1 Co 11: 5, 6, 10, uma mulher deve necessariamente cobrir a cabeça durante o culto público, ou seria julgada indecente e em violação do sétimo mandamento, então por que, em punir seu adultério, eles iriam pedir-lhe para mostrar-se indecente diante de Deus e do homem (e os anjos) durante um culto público? Esta seria castigar o adultério ordenando que ela seja indecente!? Claramente, essa Sessão eclesiástica entendia que Paulo em 1 Co 11 estava falando dentro de um contexto cultural.

Apenas no caso de alguém querer levantar a objeção de que, no exemplo acima, a mulher não foi ordenada para ter a cabeça descoberta durante a oração, mas apenas durante o sermão (como se isso fosse eliminá-los da dificuldade óbvia), iremos fornecer ainda um mais exemplo detalhado:

Janeiro 1584: O dia que, comparece Jhone Paterson, comerciante em St. Andrews, que confessa que ele teve relações carnais adúlteras com Issobell Gray, sendo ele casado com Jonet Trymlay, sua esposa (ele então admite sua culpa, mas nega parte da declaração de Issobell). A Sessão, em relação a sua confissão, a uma só voz ordena o referido Jhone Paterson, e também a mencionada Issobell em relação a sua confissão, para começarem, para que no próximo domingo alcançarem, sua humilhação para a referida infração; a saber que os dois juntos compareçam vestidos de saco, CABEÇAS DESCOBERTAS, e pés descalços na igreja da referida cidade, na segunda campainha para sermão antes do meio dia, e ficarem lá na terceira campanhia até o sermão ter cessado; e, posteriormente, para se apresentarem juntos no maior assento dos penitentes, e sentarem-se, como disse, até o sermão e orações serem terminados, e assim por diante para continuar a cada domingo até que a igreja seja satisfeita”(O Registo dos Ministros, Presbíteros e Diáconos da Congregação Cristã de St. Andrews, compreendendo os Anais da Sessão da Igreja, e do Tribunal do Superintendente de Fife, Fothrik e Strathhearn, 1559-1600, p. 551).

Decisões similares e exemplos também podem ser encontradas no mesmo registro, logo nas páginas 441, 572, 705, 731, 767, 785, 793, 866, 877, 886 e 921. Note aqui, que no exemplo acima citado por esta sessão eclesiástica na Escócia, descobrimos que um homem e uma mulher são ordenados a se sentarem no banco do penitente com uma cabeça descoberta "até que o sermão e orações terminem". Novamente, se uma mulher não deve estar no culto público com a cabeça descoberta durante a oração sem ser acusada de falta de modéstia, então por que a Sessão ordenou que ela permanecesse no assento do penitente até que as orações terminassem? Possivelmente podemos imputar a este ato da Sessão da Igreja da Escócia a contradição de ter uma mulher se arrependido de adultério, e nesse arrependimento, cometer atos de pecaminosa imodéstia?

De fato, entendemos que a Sessão Eclesiástica da Igreja Escocesa de St. Andrews entendeu 1 Co 11:2-16 no sentido cultural no contexto, e, portanto, a sua censura dessas duas pessoas não contradiz este texto. De acordo com as normas culturais na Escócia naquela época, as mulheres usavam uma cobertura em público e na adoração. Assim, naquela época estar a mulher com a cabeça descoberta era culturalmente vergonhoso para ela. Os homens, também habitualmente usavam chapéus durante o tempo do sermão. Assim, o homem estar com a cabeça descoberta também era uma humilhação pública. O “descobrir a cabeça” tanto do homem quanto a mulher não foi interpretado como um pecado contra a luz da natureza, o que importaria em envolver a Sessão em dirigir as pessoas ao pecado como um ato de arrependimento?. O “descobrir a cabeça” do homem e a mulher era uma humilhação cultural, e, por isso, um ato significativo da disciplina do seu pecado. Esta explicação inocentaria a sessão de dirigir esse casal adúltero a pecar contra a luz da natureza e exemplifica o ponto que o 'cobrir a cabeça' para eles era uma questão cultural.

Os defensores do moderno uso do véu alegam que a prática do uso do véu existiu nas igrejas reformadas da Escócia e Genebra. Depois de inúmeras pesquisas, reconhecemos que há evidencias disso. Contudo, mesmo em ambas as igrejas, a prática deve ser considerada meramente como uma ‘tradição’ da igreja, não algo que devesse ser considerado lá como uma doutrina bíblica, ou artigo de fé, pois se assim o fosse, esta prática constaria nos símbolos de fé dessas igrejas(Confissão e Catecismo de Genebra/ Confissão de Fé Escocesa). Ademais, como já provamos com inúmeras evidencias, mesmo nelas, a prática era tida como meramente cultural, nunca seguida literalmente conforme a visão dada pelos defensores do moderno uso do véu sobre 1 Co 11.

(VI)O testemunho de outros teólogos reformados[puritanos], dos séculos XVI-XVII, desfavorável ao uso do véu.

(i)Herman Witsius[1636-1708), teólogo da Igreja Reformada Holandesa, aludindo a questão do uso da cobertura, disse:

Paulo, ao escrever aos coríntios que eram gregos, dá preferência a esse costume(1 Co 11:4) Ao fazer isso, ele não pretendia estabelecer uma lei universal que devesse ser observada em todos os lugares. Ele apenas se acomodou a um costume da vida civil observado, então, por aqueles a quem escrevia. Acho que isso é admiravelmente explicado por Altingius em um discurso já citado. Os gregos, já dissemos, costumavam realizar seus ritos sagrados com a cabeça descoberta, na adoração de seus ídolos. Aqueles que perpetraram atos desonrosos tinham o hábito de esconder a cabeça jogando sobre eles roupas velhas e esfarrapadas. Aqueles, também, que estavam engajados em qualquer ocupação honrosa, costumavam manter suas cabeças descobertas. Daí se originou a expressão proverbial, γυμνή χεφαγή, com a cabeça nua,aplicado a quem fez qualquer coisa abertamente e sem vergonha. Agora, como nada é mais nobre do que a religião, eles pensaram que seus serviços deveriam ser observados com a cabeça descoberta. Em um período subsequente, no entanto, quando os gregos, em número considerável, abandonaram a idolatria e passaram para a fé cristã, eles pareciam ter se afastado da prática de expor a cabeça, seja em imitação dos judeus, seja de uma aversão ao antigo costume. A partir dessa mudança em seus serviços externos, alguns de seus vizinhos gregos podem imaginar que tratavam a Deidade com desprezo profano, em conseqüência de sua abstenção de toda expressão de reverência em suas novas práticas religiosas. Paulo, portanto, exorta que, orando ou profetizando, eles devem atender às regras de conduta que eram habituais entre os gentios, e que, depois de se tornarem cristãos, não devem oferecer aos estranhos a aparência de estarem mais envergonhados de sua nova religião do que tinham estado de seu antigo culto idólatra . Essa é a opinião de Altinguis[1 Co 11:4].

A esta observação pode ser adicionada uma de Ludovicus Capellus. Tanto entre os gregos quanto entre os romanos, diz ele, todas as pessoas respeitáveis apareciam em público sem qualquer cobertura na cabeça, e não estavam acostumadas a cobrir a cabeça, exceto quando eram compelidas pelo luto, por doença, por qualquer motivo necessário, ou quando quebrada por maciez efeminada. Paulo, portanto, não queria que os coríntios assistissem aos serviços religiosos com a cabeça coberta, de acordo com o costume de pessoas supersticiosas ou idólatras. Tal prática argumentaria uma ambição pervertida e certamente desnecessária de seguir os costumes judaicos, ou trairia δεισιδαιμονίαή, um pavor infeliz e servil da Divindade, e não aquela liberdade aberta e ousadia que os cristãos deveriam cultivar e professar para com Deus. Ou, enfim, ele não aceitaria uma aproximação,nas assembléias cristãs, para a efeminação de algumas pessoas daquela idade, que declararam que eram incapazes de suportar qualquer severidade do tempo.

Não se deve supor que a mesma regra, que ele deu aos coríntios a respeito de seus costumes, teria sido invariavelmente dada aos judeus que moravam em seu próprio país, ou aos egípcios ou árabes, que seguiam um costume diferente. Os costumes da vida civil variam infinitamente de acordo com o lugar e a época. Conseqüentemente, o que, em um lugar e tempo, é suficientemente apropriado, seria, em outro lugar e tempo, altamente impróprio. No entanto, a regra apostólica está em vigor, desde aquela época, entre quase todos os cristãos. Será porque manter a cabeça descoberta é universalmente considerado por eles como um símbolo de reverência? Acho que dificilmente. Isto se espalhou amplamente no Norte, através das nações da França e Alemanha. Mas entre os judeus, os gregos, a Itália antiga e todo o Oriente, o costume é totalmente desconhecido. Parece, portanto, pertencer à liberdade do Novo Testamento. 'Com a cabeça descoberta', diz Tertuliano, 'porque não temos vergonha'”(Sagradas Dissertações sobre a Oração do Senhor, pp.87-90).

(ii)Daniel Cawdry(1588-1664), um dos membros da Assembléia de Westminster, em sua obra “A Vindicação das Chaves do Reino dos Céus”, disse:

“E enquanto você diz: 'O apóstolo em 1 Co 14:40 não ordena, nem permite que a igreja ordene coisas como decentes, cuja falta ou cujo contrário não seja indecente, nem tais ordens, cuja falta ou contrário seria desordem'. Eu respondo que para os homens orarem ou profetizarem com a cabeça coberta, ou com cabelos longos, e as mulheres descobertas, eram coisas em sua própria natureza indiferentes (a menos que você torne necessário, como um dever moral, que os homens orem ou profetizem descobertos, ao contrário das mulheres; o que nenhum intérprete desse texto faz) e ainda assim o apóstolo ordena aos coríntios que o façam, logo, o Sínodo pode fazê-lo também”(Puritan Publications, 9 de julho de 2007, p.97)

Thomas Goodwin[1600-1680], ministro congregacional e puritano, em uma carta a John Goodwin[1594-1665](teólogo anglicano) sobre "A Natureza do Pacto da Igreja Independente"(Collected Works, Vol. 11, p. 540), diz:

"Por último, não há dúvida de que muitas vezes a diversificação das circunstâncias e aspectos das coisas no mundo, e o curso da providência de Deus, não têm apenas o poder legítimo de dissolver a força obrigatória e a autoridade de muitos exemplos, mas de suspender nossa obediência a muitas regras, preceitos e exortações. Como, por exemplo, aquele tipo de saudação entre os homens, citados em Gn 27:26, 1 Sm 20:41, e freqüentemente em outros lugares, sendo geralmente deixados fora de uso. Essas injunções de Paulo[Rm 16:16, 1 Co 16:20], e em outros lugares: 'Saudai uns aos outros com um ósculo santo', não imponha nenhum laço literal sobre os santos nestes dias, como quando eles foram escritos; nem eu concebo (nem, suponho, você) que os presbíteros da igreja estão agora obrigados a ungir os enfermos com óleo, porque isso é ordenado[Tg 5:14]. Nem eu concebo que as igrejas francesas estejam sob qualquer culpa de pecado, por permitir que seus professores tenham suas cabeças cobertas em seu ministério público, não obstante a regra ou direção de Paulo: ‘Todo homem que ora ou profetiza, tendo alguma coisa sobre a sua cabeça, desonra a sua cabeça’[1 Co 11:4]; porque aquele costume típico entre os gregos, sobre o qual Paulo construiu esta regra ou afirmação, é totalmente abandonado por sua nação, e o contrário geralmente é praticado entre eles. Embora eu não ache que esta Escritura deva ser restrita apenas aos professores, mas também a toda a assembléia de homens presentes, que todos aqui devem orar ou profetizar em um sentido passivo (como as mulheres também, v.5), isto é, participar dessas ordenanças com os professores. Outras instâncias semelhantes podem ser fornecidas.E, sem dúvida, a regra que Cameron dá (que era um homem de tanto erudito, agudeza de espírito e felicidade ao abrir as Escrituras, quanto qualquer uma das igrejas reformadas na França, sim, posso dizer, em qualquer parte do mundo, desfrutaram dos últimos tempos) é a mais verdadeira. Há muitas coisas ordenadas nas epístolas de Paulo das quais não há uso nos dias de hoje

(iii)William Hubbard(1621-1704), ministro congregacional e historiador, ministro puritano contratado pelo governo de Massachusetts para escrever um relato da colônia até aquele ponto, em sua obra “História Geral da Nova Inglaterra”, diz, sendo contrário a defesa do uso do véu, feita pelo puritano e batista calvinista Roger Wiliams:

“Sr. Williams havia começado e então (estando no cargo) ele procedeu com mais vigor, para desabafar muitas opiniões perigosas; como entre muitos outros, estes que se seguem foram alguns; por ter obtido um grande interesse nos corações e afeições de todos os tipos de seus ouvintes, por sua grande pretensão de santidade, zelo e pureza, ele havia assim fermentado fortemente o povo de Salém com muitas noções estranhas, em parte também confirmando o povo em alguns que eles haviam absorvido do Sr. Skelton.

Primeiro, que era dever de todo o sexo feminino cobrir-se com véus quando iam para fora, especialmente quando apareciam nas assembléias públicas; como se quisesse ler para eles uma palestra de Tertuliano, ‘De Velandis Virginibus’, etc, pela grosseria da visão de ver todas as mulheres na congregação veladas, ao contrário do costume da nação inglesa, provavelmente teria atraído os olhos dos restantes sobre eles, especialmente os estranhos, muito mais do que se eles tivessem se vestido à moda de seus vizinhos. Mas, em referência a este tipo de fantasia, é observável que o reverendo Sr. Cotton, aproveitando a ocasião para passar um dia dos Lordes em Salem, ele, em seu exercício na parte da manhã, por sua doutrina, tão esclarecida com referência mulheres no local, que as revelou, assim como elas apareceram à tarde sem seus véus, sendo convencidas de que elas não precisavam desta maneira colocar véus por conta de que o uso dessa cobertura seja mencionado nas Escrituras; isto é, não porque eram virgens, o que as casadas não podiam alegar; muito menos prostitutas como Tamar; nem ainda por qualquer motivo semelhante ao que é mencionado de Rute em sua viuvez - cujo discurso deixou tanta luz em seus entendimentos, que elas, que antes achavam uma vergonha serem vistas em público sem véu, ficaram envergonhadas em serem para sempre cobertas com eles”(p.204)

(iv)William Whitaker(1548-1595), ministro anglicano e puritano, diz:

"Permitimos que nem todas as coisas foram escritas imediatamente; mas dizemos que depois, quando todos os livros sagrados foram publicados, todas as coisas estavam abundantemente contidas neles. Se, então, este lugar for entendido de doutrina, dizemos que agora está totalmente escrito, embora não o fosse então; se de cerimônias indiferentes, está ainda mais longe de nos tocar. Pois estes podem ser alterados, desde que apenas a razão e o fim sejam preservados; nem são necessários, como é evidente do lugar diante de nós. Pois o apóstolo fala daquela modéstia que as mulheres devem observar na congregação, e da decência também que é exigida dos homens quando eles freqüentam reuniões religiosas e assembléias. Ele requer que os homens orem com mulheres descobertas, mulheres com cabeças cobertas: injunções essas que não são de uma obrigação perpétua; pois estas coisas não são agora observadas nem mesmo pelos próprios papistas; de modo a deixar claro que todas as igrejas não estão vinculadas às mesmas cerimônias”(Uma Disputa Sobre as Sagradas Escrituras, p.549).


(VII). A posição dos reformados dos séculos XVI-XVII serve como parâmetro para nossos dias?

Sobre isso, penso que se as igrejas reformadas de ambos os séculos endossaram a prática do uso do véu, eu não sou obrigado a defender sua prática e crença, porque não é bíblica. Nem se todas elas defendessem (nem todas endossaram tal prática. Ex: as francesas) e endossassem tal prática, eu seria obrigado a endossar o seu parecer. Por exemplo, todas elas tinham a crença de que a heresia deveria ser punida com a morte. Defenderei isso, só porque elas o defenderam? Porque se o argumento da maioria devesse prevalecer, então seria obrigado a crer na regeneração batismal, porque todos os pais da igreja o defenderam? Assim repudio qualquer doutor da igreja, quando sua opinião não tem respaldo bíblico.

A Confissão de Fé de Westminster(1643-1649), diz:

AS IGREJAS MAIS PURAS DEBAIXO DO CÉU ESTÃO SUJEITAS À MISTURA E AO ERRO; algumas têm degenerado ao ponto de não serem mais igrejas de Cristo, mas sinagogas de Satanás; NÃO, OBSTANTE, HAVERÁ SEMPRE SOBRE A TERRA UMA IGREJA PARA ADORAR A DEUS SEGUNDO A VONTADE DELE”(XXV:5)

Faço minhas as palavras do reformador Guido de Bress(1522-15787)

“Cremos que esta Sagrada Escritura contém perfeitamente a vontade de Deus e suficientemente ensina tudo o que o homem deve crer para ser salvo. Nela, Deus descreveu, por extenso, toda a maneira de servi-Lo. por isso, não e lícito aos homens, mesmo que fossem apóstolos ‘ou um anjo vindo do céu’, conforme diz o apóstolo Paulo (Gl 1:8), ensinarem outra doutrina, senão aquela da Sagrada Escritura. É proibido ‘acrescentar algo a Palavra de Deus ou tirar algo dela’(Dt 12:32; Ap 22:18,19). Assim se mostra claramente que sua doutrina é perfeitíssima e, em todos os sentidos, completa. Não se pode igualar escritos de homens, por mais santos que fossem os autores, às Escrituras divinas. NEM SE PODE IGUALAR À VERDADE DE DEUS COSTUMES, OPINIÕES DA MAIORIA, INSTITUIÇÕES ANTIGAS, SUCESSÃO DE TEMPOS OU DE PESSOAS, OU CONCÍLIOS, DECRETOS OU RESOLUÇÕES. POIS A VERDADE ESTÁ ACIMA DE TUDO E DE TODOS e todos os homens são mentirosos (Sl 116:11) e ‘mais leves que a vaidade’(Sl 62:9).Por isso, rejeitamos, de todo o coração, tudo que não está de acordo com esta regra infalível, conforme os apóstolos nos ensinaram: ‘Provai os espíritos se procedem de Deus’ (l Jo 4:1), e: ‘Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa’(2 Jo 10)”(Confissão de Fé Belga, [1561], VII).

A prática do uso do véu, mesmo ocorrido em algumas igrejas dos séculos XVI-XVII, foi um erro de seu tempo, de sua época, e a nós, cabe rejeitar qualquer ensino que esteja despido de biblicidade, não importando o nome de quem o apadrinhe, diante da majestade das Escrituras.

Sola Deo Gloria!

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