sábado, 23 de maio de 2020

Arminianismo - A Mecânica Enferrujada da Salvação 2 (O conto arminiano do vigário [Os Pais da Igreja ensinaram a graça preveniente!!!])




Depois de mais uma leitura no livro de Silas Daniel, mais um embuste dele é desmascarado – Os Pais da Igreja não ensinaram o falso dogma da graça preveniente, como ele afirma em seu livro. Na p.39 de seu falacioso livro ‘Arminianismo, a Mecânica da Salvação’, ele apresenta o capítulo denominado “Graça preveniente na patrística pré-Agostinho”, com citações truncadas dos pais da Igreja, para confundir o leitor e atribuir esse falso dogma tridentino à lavra desses antigos escritores eclesiásticos. Examinemos seus argumentos:

1º Argumento: “Clemente, em sua Primeira Carta aos Coríntios, declara: “A cada criatura humana a graça procura manifestar a intenção salvífica de Deus em maneiras circunstancialmente adequadas àquele indivíduo, pois a graça de Deus que traz salvação se manifestou a todos os homens. Ela nos ensina a dizer ‘não’ à impiedade e às paixões mundanas e a vivermos vidas autocontroladas, retas e santas nesta presente era, enquanto esperamos pela abençoada esperança. A ninguém, nem mesmo ao infiel recalcitrante, Deus nega graça suficiente para salvação” (CLEMENTE, 1 Coríntios VII, 4)(Arminianismo, A Mecânica da Salvação, p.39)

Resposta: Esta citação não existe no 7º Capítulo da ‘Epístola de Clemente aos Coríntios’:

https://www.newadvent.org/fathers/1010.htm

A citação da Epístola aos Coríntios(7:4) nega o sinergismo, afirmando, aludindo ao sangue de Cristo

“Derramado pela nossa salvação, trouxe ao mundo a graça do arrependimento”.

2º Argumento: “Como destaca o teólogo e historiador Roger Olson, nos dois primeiros capítulos deste seu tratado, Tertuliano afirma que “a possibilidade de arrependimento que conduz à salvação é uma obra da graça de Deus. Ele se reporta à salvação como o ‘fruto do arrependimento’ semeado por Deus. Atribui a bênção da salvação integral e completamente à clemência de Deus, e as boas ações, inclusive o arrependimento, ele as atribui tanto à obra de Deus quanto à da pessoa humana. Apesar de no restante da obra Tertuliano parecer “ser bastante severo e até mesmo legalista, [ele] precisa ser lido à luz dos primeiros dois capítulos, em que o autor atribui claramente toda a bondade à misericórdia e à causação final de Deus”(Ibidem, p.39)

Resposta: (a)Note bem. O argumento do Silas Daniel, não está baseado no que o próprio Tertuliano diz, mas no que o falacioso arminiano Roger E. Olson diz deste pai africano. Pasmem. A fonte é o livro ‘Teologia Arminiana, Mitos e Realidades’. Quando consultamos este livro(Edição de 2013), a única citação que o Olson apresenta de Tertuliano, na realidade, foi feita, não para configurar alguma opinião explícita de Tertuliano, mas a opinião de John Wesley:

“De acordo com Thomas Olden, erudito em Wesley, o fundador do metodismo seguiu as visões de Tertuliano”(p.300).

Só que o assunto mencionado não é ‘graça preveniente’, mas ‘As visões de João Wesley e dos Teólogos Modernos do século XIX acerca da expiação’. Não há nenhuma citação das obras de Tertuliano nos moldes acima descritos. Tertuliano, em sua obra “Contra Marcião”(3:14), rejeita a graça preveniente, afirmando que a única graça que antecede a fé do homem é a graça da regeneração, graça essa operada monergisticamente por Deus:

“Sua mão direita, diz ele, deve levá-lo maravilhosamente por diante, até mesmo ao poder de sua graça espiritual, em que o conhecimento de Cristo é trazido. Suas flechas são agudas, os teus preceitos pairam sobre todos os lugares, suas ameaças também, e as persuasões do coração, penetrando e perfurando cada consciência“.

(b)A própria afirmação de que Wesley foi o 'fundador do Metodismo', feita pelo Roger Olson, é falsa e passível de crítica e refutação. George Whitefield(1714-1770), segundo o seu biógrafo Arnold A. Dallimore(1911-1998) era “o fundador dos metodistas”(George Whitefield, The Life and Times of The Great Evangelist of the Eighteenth-Century Revival, Volume I, p.44). Segundo o Rev. Paul Eugene Buyers, ministro metodista e lente da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista do Brasil, “George Whitefield foi o maior orador do seu tempo. Whitefield iniciou o movimento metodista. Em certo sentido, foi o João Batista que preparou o caminho para os Wesleys”(História do Metodismo, p.42).

3º Argumento: “Cipriano, por sua vez, defendeu a preveniência da graça em seu Testemunho a Quirino (I, 3, 4), dentre outros escritos”

Resposta: Não temos disponível a obra ‘Testemunho a Quirino’. A única obra de Cipriano, dirigida a Quirino, disponível para consulta, é o ‘Tratado 12'(1º Livro)(‘Três Livros de Testemunho Contra os Judeus’). Neste tratado, ele diz:

“E Noé, que, quando o mundo e os homens estavam perecendo por causa de transgressões, foi escolhido sozinho, para que nele a raça humana pudesse ser preservada”(VIII).

Aqui, a ideia de uma eleição particular e pessoal precede a preservação da raça humana, ao mesmo tempo que condiciona essa preservação a esta eleição particular e pessoal, e isso anula qualquer ideia de obras, que é o coração da graça preveniente, que trabalha com a cooperação entre o Criador e a criatura. Notem que o Silas Daniel cita a obra, mas não cita de imediato a frase desta obra, para comprovar o falso dogma da graça preveniente, mas quando a cita, o faz através da citação de Agostinho(A Predestinação dos Santos, III:7), onde Agostinho diz:

“Não pensava assim aquele piedoso e humilde Doutor – refiro-me ao bem aventurado Cipriano , que disse: ‘Não há razão para nos gloriarmos, quando nada é nosso’(A Quirino, 1, III, c.4). E para demonstrá-lo, apresentou como testemunha o Apóstolo, que diz: ‘Que é que possuis que não tenhas recebido? E, se o recebestes, por que haverias de te ensoberbecer como se não o tivesse recebido?’(1 Co 4:7). Servindo-me principalmente desse testemunho, convenci-me do erro, quando nele laborava, julgando que a fé, que nos leva a crer em Deus, não era um dom de Deus, mas se originava em nós por nossa iniciativa, e mediante ela implorávamos os dons de Deus para viver sóbria, justa e piedosamente neste mundo”.

As palavras de Agostinho, ao citar e interpretar Cipriano, nos mostram que a citação de Cipriano, não serve como base para o falso dogma tridentino da ‘graça preveniente’, pois ele nega, com base em Paulo e em Cipriano, que a fé pudesse surgir em nós por nossa própria iniciativa, e nos capacitasse para termos os dons de Deus, bem como para vivermos sóbria, justa e piedosamente neste mundo.

4º Argumento: “Ainda no terceiro século, Arnóbio de Sica, um dos primeiros apologistas da história do cristianismo, defendeu também uma graça preveniente universal, tendo como base textos como Apocalipse 22.17. Em sua contundente obra Contra os Pagãos – ou Contra as Nações (“Adversus Nationes”) –, escrita por volta do ano 295, ele afirma, por exemplo, o que se segue (grifos meus):Mas, meus adversários perguntam: ‘Se Cristo veio como o Salvador dos homens, como você diz, por que será que Ele, em sua benevolência uniforme, não livra a todos, sem exceção? Por que Ele não liberta a todos nós completamente?’. Eu replico: Não chama Ele igualmente a todos e não liberta igualmente a todos que aceitam Seu convite? Ou será que Ele afasta ou repele todos da bondade do Supremo, o qual dá a todos igualmente o poder de vir a Ele – a homens de alta posição, aos escravos mais vis, às mulheres e às crianças? Ele diz que a fonte da vida está aberta a todos, e ninguém está impedido ou é afastado por Ele de beber”.

Resposta: (a)A pergunta “o qual dá a todos igualmente o poder de vir a Ele – a homens de alta posição, aos escravos mais vis, às mulheres e às crianças?’, indica que as pessoas de todas as classes(‘homens de alta posição, aos escravos mais vis, às mulheres e às crianças’) são persuadidas pelo próprio Deus, à virem a Deus, e isso deve se referir a pregação do Evangelho(‘a fonte da vida’ - Jo 5:39), pois é através dela que todo tipo de pessoas, por sua persuasão, é salvificamente capacitado para ir até Deus(Jo 10:16). Ele deixa bem claro, na fala seguinte, quando diz que o ato que precede a nossa salvação, está somente em Cristo, e que nada no homem é visto como uma cooperação com esse processo salvífico:

“Pois, para trazer salvação e transmitir às almas o que deve ser concedido e deve ser acrescentado, Cristo só tinha dado o seu preço e lhe foi confiado por Deus Pai, as causas remotas e mais secretas sendo assim eliminados”(Contra os Pagãos, II:65).

Pois não está ao alcance de ninguém ver a mente de Deus, ou a maneira pela qual Ele organizou Seus planos. O homem, uma criatura cega, e sem conhecer a si mesmo, de maneira alguma pode aprender o que deve acontecer, quando ou qual é a sua natureza: o próprio Pai, o Governador e o Senhor de todos, unicamente sabe”(Ibidem, 74).

“Então, pode ser que Deus Todo Poderoso, o único Deus, enviou Cristo então, de fato, depois que a raça humana se tornando fraca demais, fraca demais, tornou-se como nós"(Ibidem, 75)

“Mas, quando superados, concordamos que existem essas coisas e expressamente permitimos que todos os assuntos humanos estejam cheios deles, eles perguntarão a seguir: Por que, então, o Deus Todo Poderoso não tira esses males, mas os sofre para existir e continuar sem cessar por todas as idades? Se aprendemos de Deus, o Governante Supremo, e resolvemos não vagar em um labirinto de conjecturas ímpias e loucas, devemos responder que não conhecemos essas coisas e nunca procuramos e nos esforçamos para saber coisas que poderiam ser apreendidas por nenhum poder que possuímos e que, mesmo pensando preferível, permanecemos na ignorância e na falta de conhecimento do que dizer que sem Deus nada é feito, para que se entenda que, por Sua vontade, Ele é ao mesmo tempo a fonte do mal e a ocasião de incontestáveis misérias. De onde, então, você dirá, vem todos esses males? Dos elementos, digamos os sábios, e de sua dissimilaridade; mas como é possível que coisas que não têm sentimento e julgamento sejam consideradas más ou criminosas; ou que ele não deveria ser perverso e criminoso, que, para obter algum resultado, levou o que mais tarde se tornou muito ruim e prejudicial - é para eles considerarem quem faz a afirmação”(Ibidem, 55).

“Foi por isso que Ele enviou almas, que, vivendo até então em tranquilidade, poderiam encontrar em seus corpos causas pelas quais se tornariam ferozes e selvagens, valorizassem ódio e inimizade, fizessem guerra uns sobre os outros, subjugar e derrubar estados; carregam-se e entregam-se ao jugo da escravidão; e, finalmente, ser colocado um no poder do outro, tendo mudado a condição em que eles nasceram? Foi por isso que Ele enviou almas, que, sendo esquecidas da verdade e esquecidas do que Deus era, deveriam suplicar às imagens que não podem se mover; tratadas como divindades sobre-humanas pedaços de madeira, latão e pedras; pedindo ajuda delas com o sangue de animais mortos; não fazendo de si mesmos: mais ainda, que alguns deles duvidem de sua própria existência ou neguem completamente que alguma coisa existe?”(Ibidem, 39).

Vocês colocam a salvação das vossas almas em vós mesmos, e estão certos de que por seus próprios esforços sozinhos vocês se tornarão deuses, mas nós, pelo contrário, estamos certos que não temos nenhuma esperança para nós mesmos a partir de nossa própria fraqueza, pois vemos que a nossa natureza não tem força, e é superada por suas próprias paixões em todos os conflitos para qualquer coisa. Vocês acham que, assim que você partirem, livres das amarras dos seus membros carnais, vocês vão encontrar asas com as quais vocês poderão subir ao céu e voar para as estrelas. Nós abandonamos tal presunção e não achamos que isto está em nosso poder para alcançar as moradas superiores, já que não temos certeza quanto a isto mesmo, se nós somos aptos a receber a vida e libertação da lei da morte. Vocês supõem que sem a ajuda de outras pessoas vocês podem voltar para o palácio do mestre como se fossem as suas próprias casas, sem impedimento de ninguém, mas nós, pelo contrário, nem temos qualquer expectativa de que isto possa ocorrer, a menos que, seja pela vontade do Senhor de todos, nem pensamos que tanto poder e permissão são indicados para qualquer homem”(Ibidem, 33).

Anteriormente, também, aniquilando qualquer idéia de uma graça que anteceda a salvação, exceto a regeneração, disse:

“E, portanto, Cristo, o divino - embora você não queira permitir - Cristo, o divino, repito, pois isso deve ser dito com frequência, para que os ouvidos dos incrédulos possam estourar e se despedaçar, falando na forma de homem por ordem de Deus”(Ibidem, 60).

Qual é a cooperação que os ouvidos dos incrédulos deram para serem estourados e despedaçados pelo próprio Cristo? Nenhuma. Então, é falso o dogma da graça preveniente.

5º Argumento: “Caio Mário Vitorino (300-370), por sua vez, sustentará, em seu Comentário à Epístola de Paulo aos Filipenses, II, 12, que a vontade de fazer o bem é uma obra de Deus, dependendo inteiramente da ação preveniente da graça divina”(Ibidem, p.40)

Resposta: (a)Cadê as citações de Caio Vitorino, para checarmos as fontes? (b)Por exemplo, em seu “Comentário de Efésios 2:8”, ele diz:

“Portanto, ele inclui as duas coisas, dizendonem de ti nem das obras’ - e depois acrescenta - ‘para que ninguém se glorie’”.

Nesse sentido, para Vitorino, não havendo nada no homem para ser introduzido na obtenção da salvação, não havia nenhuma outra graça que antecedesse a fé, exceto a própria salvação, que não vinha do homem. Isso anula o dogma da graça preveniente, que ensina hipoteticamente que Deus capacita homens irregenerados e sem fé, para responderem à graça de Deus, o que seria impossível, uma vez que mortos em delitos em pecados, não podem possuir nenhum tipo de capacidade ou poder de decisão.

6º Argumento: “Pouco tempo depois de Vitorino, encontraremos Gregório de Nazianzo defendendo a precedência da graça em passagens como a de seu Sermão 44 (Para o Pentecostes), em que afirma que rogará a Deus para conceder graça às pessoas para que elas possam crer e confessar a fé cristã. Diz ele: “Rogaremos a Deus que vos dê a voz pelo Espírito Santo”. O termo “voz”, no contexto dessa passagem, tem o sentido de “aceitar e confessar a fé”. Logo, deve-se ler aqui “Rogaremos a Deus que vos dê a capacidade de abraçar e confessar a fé pelo Espírito Santo”(Ibidem, p.41)

Resposta: A frase completa deste sermão(que não é o 44, mas o 41:8 [Sobre o Pentecoste, 8]), diz:

“Confesse, peço-lhe, a Trindade da divindade ou, se você quiser dizer o contrário, diga 'de uma natureza', e oraremos a Deus para que o Espírito Santo dê uma voz', isto é, pediremos a Deus que ele permita que você receba uma voz pela qual possa confessar o que você acredita'. Pois ele dará, tenho certeza: quem deu o que é primeiro também dará o que é o segundo”.

A expressão então, alude, em seu sentido completo a primeiro receber o Espírito Santo, e depois confessar isso(‘quem deu o que é primeiro também dará o que é o segundo’). Gregório está tratando de crentes(‘isto é, pediremos a Deus que ele permita que você receba uma voz pela qual possa confessar o que você acredita’), não de ímpios, que pudessem cooperar com Deus para salvá-los. Se Gregório está falando de crentes, está aludindo a pessoas que já são habitação do Espírito Santo(que é o autor da fé – Gl 5:22). O texto não fornece base para se crêr que o homem coopere com Deus em seu processo soteriológico. A expressão “quem deu o que é primeiro também dará o que é o segundo", mostra que Deus monergisticamente fez tudo – Deu o Espírito Santo e fez o crente confessar a sua fé.

7º Argumento: “Ambrósio (340-397), em sua Exposição do Evangelho de Lucas, Livros VI e IX, como lembrado por Agostinho em sua obra Da Graça de Cristo e o Pecado Original, Livro I, capítulos 47 a 51, é outro que defendeu a precedência da graça. Escreve o bispo de Milão nas referências supracitadas que “o poder do Senhor coopera em toda parte com os esforços humanos”,sendo que “nenhum homem pode realizar qualquer coisa sem o Senhor” e que “apressar-se a Deus, desejar ser dirigido por Ele e fazer sua própria vontade dependem de Deus, bem como unir-se tão intimamente ao Senhor ao ponto de tornar-se (como diz o apóstolo) ‘um espírito’ com Ele”. Ele ainda dirá, em sua obra Exortação à Virgindade, capítulo 43, que a graça não é dada como recompensa pelo mérito, mas “apenas de acordo com a vontade do Doador”; afirmará em Exposição do Evangelho de Lucas, I, 10, que a decisão de alguém vir para Cristo é preparada de antemão por Deus; e asseverará, em sua obra Sobre Caim e Abel, I, 45, que até mesmo cada pensamento santo que temos é um dom de Deus”(Ibidem, pp.41-42)

Resposta: A frase de Agostinho é citada com referência a cristãos, não a ímpios, como insinua o falso dogma tridentino da ‘graça preveniente’. Eis a frase na íntegra:

“Ouça Pelágio o venerável bispo, que diz e ensina no segundo livro da ‘Explicação do Evangelho segundo Lucas’(II, n.84) que o Senhor coopera também com nossas vontades. Ele afirma: ‘Vês assim que o poder do Senhor coopera com nossos esforços, de modo que ninguém pode edificar sem o Senhor, assim como guardar sem o Senhor e nada começar sem o Senhor. Por isso, conforme o Apóstolo: ‘Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer coisa, fazei tudo para a glória de Deus(1 Co 10:31). Percebeis que mesmo aquele adágio: ‘Nós começamos e Deus acaba’, Santo Ambrósio não teve em conta ao dizer estas palavras: ‘Nada começa sem Deus’”(A Graça de Cristo e o Pecado Original, 44:48).

Quanto as demais frases de Ambrósio em outras de suas obras(‘Exortação à Virgindade’[43]; ‘Exposição do Evangelho de Lucas’[I,10] e ‘Sobre Caim e Abel’[1,45]), em nenhuma de suas citações se configura o falso dogma tridentino da graça preveniente, mas afirma que todas as boas obras que apresentamos, não vieram de nossa própria vontade corrupta, em cooperação com a graça de Deus, mas apenas de Deus(‘de modo que ninguém pode edificar sem o Senhor’; ‘e nada começar sem o Senhor’; ‘Nada começa sem Deus’). A posição de Ambrósio, é que, no tocante aos cristãos, nenhuma obra começa pela vontade humana, mas pela divina, e que o Senhor nos ajuda, cooperando com o nosso trabalho, como diz Paulo:

“Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento”(1 Co 3:6).

8º Argumento: “Ambrosiaster (350-400?), por sua vez, defendendo a doutrina do pecado original e da precedência da graça de Deus, vai dizer: “Em Adão caí, em Adão fui expulso do paraíso, em Adão morri. Como a graça de Deus iria me restaurar, se Ele em mim não encontrasse Adão, justificado em Cristo, da mesma forma como naquele primeiro Adão eu estive sujeito à culpa e destinado à morte?” (Sobre a Morte de Seu Irmão, II, 6). E em seu Comentário sobre a Epístola aos Romanos, XI, 6, afirmará que a graça antecede e é concedida gratuitamente, e não como recompensa por algum mérito nosso”(Ibidem, p.42)

Resposta: (a)A citação acima não é da obra “Ambrosiaster”, mas da obra “Sobre a Morte de Sátiro”(II:6), escrita por Ambrósio de Milão(337-397). A citação mostra que a graça de Deus não restaura o homem, sem deixar de justificá-lo. Mas a frase, conforme escrita erroneamente pelo Silas Daniel, na fala de Ambrósio, erroneamente coloca primeiramente o homem como encontrado por Cristo justificado, quando a fala original diz que Ambrósio menciona que o homem é primeiro encontrado culpado em Adão, e somente depois, é justificado em Cristo:

“Eu estou caído em Adão, fui expulso do paraíso, em Adão, estou morto em Adão; como ele poderia me chamar de volta, a menos que ele tivesse me encontrado em Adão, culpado quando eu estava nele. Estou agora justificado em Cristo”(Da Morte de Sátiro, II:6)

9º Argumento: “Em sua Homilia aos Hebreus, por exemplo, Crisóstomo afirma claramente uma posição semipelagiana. Depois de afirmar que “tudo está sob o poder de Deus, mas de um modo que nosso livre-arbítrio não é perdido”, afirmação que soa arminiana, embora possamos dizer que tanto arminianos quanto semipelagianos concordariam em gênero, número e grau, encontramos o bispo de Constantinopla declarando: “Devemos primeiro escolher o bem e, então, Ele acrescenta o que lhe pertence. Ele não precede nosso querer, aquilo que nosso livre-arbítrio não suporta. Mas, quando nós escolhemos, Ele então nos proporciona muita ajuda. [...] Cabe a nós escolher de antemão e querer, mas cabe a Deus aperfeiçoar e concretizar”. Semipelagianismo mais cristalino do que este é praticamente impossível!”(Ibidem, p.42).

Resposta: (a)Interessante, que o Silas Daniel evita citar capítulo e verso da obra, dificultando o leitor de verificar as citações. A passagem aqui se encontra na “Homília 12 sobre a Epístola de Hebreus”. E a passagem é um comentário sobre a frase anterior, que diz:

Portanto sempre devemos precaver-nos, para que a qualquer momento caiamos dormindo. Por isso diz que aquele que guarda Israel não dorme nem tosqueneja, e que não tolerará o vosso pé ser deslocado(Sl 121:3); ele não disse, 'não será deslocado,' mas não vós sofrereis, etc. O sofrimento depende, então, de nós mesmos e não de qualquer outro. Pois se estaremos firmes e inabaláveis(1 Co 15:58), nós não seremos abalados”.

Posteriormente, ele, mostra que até em questões naturais ou ordinárias, não temos a capacidade de reagirmos ou agirmos bem, sem a ajuda da mão de Deus:

“Por isso causar mudanças rápidas que vem e inverte; e ainda não mesmo assim estão nos instruindo. Por esta causa há mortes contínuas e prematuras, mas não estamos dispostos, como se fôssemos imortais, como se nós nunca fossemos morrer. Vamos furtar, nos exaltamos, como se nunca fôssemos prestar contas. Nós construímos como se estivéssemos aqui sempre. E nem mesmo a palavra de Deus diariamente soa em nossos ouvidos, nem os próprios eventos instruem-nos. Nem num dai nem uma hora podem ser mencionados, em que não podemos ver continuamente os funerais. Mas tudo em vão: e nada atinge nossa dureza do coração, nem somos mesmo capazes de nos tornarmos melhor pelas calamidades dos outros; ou melhor, não estamos dispostos. Quando nós estamos aflitos, então nós somos subjugados, e ainda se Deus tira a mão, mais uma vez elevamos nossa mão: Ninguém considera o que é apropriado para o homem, ninguém despreza as coisas terrenas; ninguém olha para o céu, mas como porcos viram a cabeça para baixo, inclinando-se em direção ao seu ventre, chafurdando na lama; assim a grande a massa da humanidade se contamina com a sujeira mais insuportável, sem estar consciente disso”.

(b)Ademais, a citação feita pelo Silas Daniel, precisa ser citada na íntegra, porque Crisóstomo, na alegada frase, não está defendendo nem a graça preveniente, tampouco o dogma do livre arbítrio nos moldes arminianos, mas está afirmando que o fato de tudo estar governado pelo poder de Deus, não exime o homem de sua responsabilidade:

Por isso, precisamos de precaução, a fim de não cochilarmos: ‘Sim, não dorme, nem cochila o Guarda de Israel’; e ‘Não te deixará tropeçar’(Sl 121:3-4). Não diz: ‘Não tropeces, mas: Não dês. Dar está em nosso poder, não no de outrem. Se quisermos permanecer firmes, estáveis e imóveis, não nos abalaremos. Ele o sugeriu com estas palavras. Como? Nada está no poder de Deus? Tudo está no poder de Deus, mas não de forma que lese nosso livre arbítrio. Se, portanto, está no poder de Deus, por que se nos atribui a culpa? Por isso lhe foi dito: De sorte que não fique lesado nosso livre arbítrio. Está no nosso poder e no dEle. Devemos, pois, primeiro escolher o bem e quando estivermos escolhido introduz o que é seu. Não antecipa nossas vontades, a fim de não lesar o livre-arbítrio. Quando tivermos escolhido, dá-nos grande auxílio”(12ª Homília sobre Hebreus, 10).

Na mesma obra, diz:

“Em nosso caso, duas coisas são importantes: Uma, em verdade, que não nos orgulhemos das boas obras; em segundo lugar, que atribuamos a Deus a causa. Embora corras, empregues esforços, diz ele, não atribuas a ti o que foi corretamente feito; pois sem o auxílio do alto, tudo seria em vão”.

Não temos aqui nenhuma vírgula, jota ou til de semipelagianismo, pois esta heresia ensina que os homens ímpios podem dar o primeiro passo em direção a Deus, ou que ambos colaboram na operação da obra salvífica, o que é negado aqui. Por isso, em outros lugares desta mesma obra, Jerônimo deixa claro que o homem ímpio não tem capacidade, por si mesmo, para operar a fé e ir até Deus:

Deus nos tirou do Egito, das trevas, da idolatria”(27ª Homília sobre Hebreus).

“Que sentido tem isto? Ele nos incutiu a fé, deu-nos o início”(28ª Homília sobre Hebreus)

10º Argumento: “Entretanto, em contrapartida, em textos como o da sua Primeira Homilia sobre a Carta aos Romanos, Crisóstomo vai em sentido completamente oposto, afirmando claramente uma posição arminiana ao comentar o versículo 5 do primeiro capítulo da referida epístola paulina. Nesse trecho,ele fala da grande colheita de vidas para o Reino de Deus realizada pelos apóstolos pela graça divina e arremata: “Não foram os apóstolos que o realizaram, mas a graça preveniente. Com efeito, competia-lhes viajar e anunciar, mas persuadir era obra de Deus neles, conforme enuncia também Lucas: ‘Abriu-lhes o coração’(At 16.14). E ainda: ‘Aqueles aos quais fora dado ouvir a Palavra de Deus’ (At 4.4)”(Ibidem, p.41)

Resposta: (a)O texto original da ‘1ª Homília de Romanos’, de Crisóstomo, em inglês, não apresenta a palavra “preveniente”. O texto em inglês, no site newadvent’, diz:

“So it was not the Apostles that achieved it, but grace that paved the way before them”

https://www.newadvent.org/fathers/210201.htm

(b)At 16:14 não serve como base para o dogma da graça preveniente. O verbo grego “διανοίγω”(dianoigō), aqui traduzido como “abriu”, de acordo com o Léxico Grego do Novo Testamento de J. H. Thayer, significa literalmente “despertar em alguém a faculdade de compreender ou o desejo de aprender”, o que não pode ser usado como prova do dogma tridentino da graça preveniente, porque os réprobos são também descritos como tendo faculdade de compreender ou aprender, embora nunca cheguem ao conhecimento salvífico da verdade:

“Que aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade”(2 Tm 3:7).

Existe uma grande diferença entre ouvir a chamada externa do Evangelho, que tanto eleitos e réprobos ouvem(At 7:57; 16:13-15) e a chamada interna, da qual apenas os eleitos são alvo(Jo 10:16,27; Rm 8:30). A frase de Crisóstomo, quando cita At 4:4; 16:14, aponta tais textos, para dizer que “persuadir era obra de Deus”. Tal frase aponta para a chamada eficaz do Espírito, que chama salvíficamente os pecadores, operando-lhes a fé, que não pode ser operada mediante participação da criatura caída, pois o próprio Crisóstomo diz:

“E para tal a fé é necessária e nada disto podemos captar por meio de raciocínios”(1ª Homília sobre Romanos, 5).

Em outros lugares, ele destroça qualquer ideia de cooperação humana no processo da obtenção da salvação:

“Glorio-me, não por mim mesmo, nem por nossa diligência, mas pela graça de Deus… Observe o vigor com que discute para manifestar que tudo vem de Deus, e nada de si próprio. Quer fale, que faça algo, quer opere milagres, quem faz tudo é Deus, tudo o Espírito Santo”(29ª Homília sobre Romanos).


“Vê a gratidão do servo! Não atribui algo a si, mas ao Senhor...E para tal, a fé é necessária, e nada disso podemos captar por meio de raciocínios humanos”(1ª Homília sobre Romanos)


“A justiça de Deus, no entanto, que se origina da fé, toda ela depende da graça do alto, porque justifica por dom do Espírito, não por esforços humanos”(17ª Homília sobre Romanos).


“Isto é, os judeus ao menos tiveram as promessas, apesar de indignos; tu, contudo, não a tinhas, mas foi-te concedida a salvação só por bondade… Acerca dos gentios diz que somente por misericórdia alcançariam a salvação, e por isso é justo que deem mais glória a Deus”(27ª Homília sobre Romanos),


“O filho de um homem por natureza é homem, assim também nós. Como os demais, éramos filhos da ira, isto é, ninguém estava isento, mas todos fazíamos o que merecia a ira de Deus”(4ª Homília sobre Efésios).


“Junto de quem te sentas? Dele. E quem és? Morto, por natureza filho da ira. E o que praticastes de correto? Nada”(4ª Homília sobre Efésios)


Nem a fé vem de nós, pois se Cristo não viesse, se não nos chamasse, como teríamos podido crer? ‘E como poderiam crer naquele que não ouviram?’[Rm 10:4]. Por conseguinte, nem a fé é nossa”(4ª Homília sobre Efésios)


“E Paulo resolve o assunto por escrito. Assegurou que Deus nos salvou quando estávamos mortos pelos pecados e éramos filhos da ira; agora declara a quem nos igualou, e por isso disse: ‘Lembrai-vos’”(5ª Homília sobre Efésios).


“Foi, de fato, assim que Deus quis vos salvar. Na verdade, nós nada fazemos de bom, mas encontramos a salvaçãopor vontade de Deuse fomos chamados porque lhe aprouve, não porque fossemos dignos”(1ª Homília Sobre Coríntios).


“Assim sucede relativamente a alma, se quiser ver sem o Espírito Santo, tornar-se-á um obstáculo para si própria”(7ª Homília sobre 1 Coríntios)


Não se origina deles mesmos o que tem, mas de Deus que o outorgou”(8ª Homília sobre 1 Coríntios)


“Tendo se chamado de sábio, não assegura que isto deriva de si, mas havendo a si próprio atribuído a Deus, adota esta denominação: ‘Segundo a graça que Deus me deu’”(8ª Homília sobre 1 Coríntios)


“Nem assim te deves gloriar. Pois nada tens de ti; recebestes de DeusNão são tuas as boas obras, mas provém da graça de Deus”(12ª Homília sobre 1 Coríntios).



“Aqui, portanto, não é de maneira nenhuma a natureza, e sim a desobediência, a amizade com os demônios que mancham e o livre arbítrio que macula”(25ª Homília sobre 1 Coríntios)



Acaso, não dizemos que está morta a alma que o diabo invade, ferindo, traspassando, mordendo, dando pontapés, sem que ela, prostrada, perceba coisa alguma, nem fique pesarosa se lhe são raptadas as riquezas, e enquanto ele ataca, ela continua imóvel, e à guisa de um corpo inanimado nada sente? De fato, se não possuir intenso temor de Deus, forçosamente sucederá assim, e ela se tornará mais miserável do que os mortos. Pois a alma, como o corpo, não se decompõe em podridão, cinzas e pó, mas no que é mais fétido, em embriaguez, ira, avareza, amores desordenados e inoportunos desejos”(6ª Homília sobre 2 Coríntios).


Tudo vem de Deus. Nada de nós”(11ª Homília sobre 2 Coríntios)



Nem atribuímos algo a nós mesmos, mas todas as coisas a Deus”(22ª Homília sobre 2 Coríntios).


“Assim Caim arruinou-se, e antes dele o diabo, que levara o pai, Adão, à morte”(24ª Homília sobre 2 Coríntios)


“Assim, Deus tudo faz para nos conduzir ao Céu”(1ª Homília sobre 1 Timóteo)


“...De outro, não lhes assegura que as boas obras provém deles, mas devem ser atribuídas primariamente a Deus”(1ª Homília sobre Filipenses)


“’Segundo a sua vontade’, isto é, por seu amor, para o agrado de Deus, a fim de cumprir o seu desígnio, de se realizar a sua vontade. Nessa passagem, ele manifesta que é Deus quem tudo opera e estimula a confiança”(8ª Homília sobre Filipenses)


“Por que te tornas-te irmão? Com efeito, não é pelas obras, nem pelas palavras, nem pelas ações retas que te mostras fiel. De onde vem que te foram confiados, dize-me, grandes mistérios? Não é por Cristo?”(1ª Homília sobre Colossenses)


“Mas, visto que asseverar ter Cristo realizado tudo por sua morte é atribuir-lhe tudo por sua morte, a fim de que ninguém afirme: ‘De nada, portanto, precisamos’”(4ª Homília sobre Colossenses)


Deus nos tirou do Egito, das trevas, da idolatria”(27ª Homília sobre Hebreus).


“Que sentido tem isto? Ele nos incutiu a fé, deu-nos o início”(28ª Homília sobre Hebreus)


11º Argumento: “Em sua Homilia sobre São Mateus, LXXXII, 4, Crisóstomo assevera ainda: “Assim como nada jamais podemos fazer, a não ser ajudados pela graça de Deus, assim também não podemos alcançar o favor supremo, a menos que tenhamos de acrescentar [ao auxílio da graça] o que é nosso”. Ou seja: a graça precede; sem ela, nada podemos; porém, uma vez ela tendo agido”(Ibidem, p.43).

Resposta: A frase acima, não é encontrada, segundo a descrição do Silas Daniel, nessa homília de Crisóstomo:

https://www.newadvent.org/fathers/200182.htm

Vejam, que não podemos confiar em ‘traduções’ arminianas. Eis a frase como está no original em inglês:

“Por isso, aprendemos uma grande doutrina, segundo a qual a vontade de um homem não é suficiente, a menos que alguém receba o socorro de cima; e que novamente não obteremos nada pelo socorro do alto, se não houver uma complacência”.

12º Argumento: “Entretanto, veremos agora dois contemporâneos do bispo de Hipona que esposaram a graça preveniente mais ou menos na mesma época que ele, mas sem aderir ao monergismo que o bispo de Hipona defenderia posteriormente. O primeiro deles é um dos maiores nomes entre os Pais Latinos: Jerônimo de Estridão, mais conhecido como Jerônimo (347-420), que esposava a “absoluta corrupção universal do pecado”, a “predestinação condicional” com base na “presciência divina” e o ensino da graça preveniente, explicitando que é a graça divina que possibilita o livre-arbítrio do homem para as coisas espirituais. Escreve ele, por exemplo, ao tratar da heresia pelagiana em sua carta a Ctesífon, datada de 415: “É em vão me deturpar e tentar convencer o ignorante de que eu condeno o livre-arbítrio. Deixe quem condena a si mesmo ser condenado. Fomos criados dotados de livre-arbítrio, mas ainda não é isto o que nos distingue das bestas. Porque o livre-arbítrio humano, como eu disse, depende da ajuda de Deus e precisa de Sua ajuda momento a momento, uma coisa que você e os seus não preferem admitir. Sua posição é que uma vez que um homem tem o livre-arbítrio ele já não precisa da ajuda de Deus. É verdade que a liberdade da vontade traz consigo a liberdade de decisão. Ainda assim, o homem não age imediatamente em seu livre-arbítrio, mas requer a ajuda de Deus, e Deus mesmo não precisa de alguma ajuda”(JERÔNIMO, Cartas de São Jerônimo, CXXXIII)(Ibidem, pp.43-44).

Resposta: (a)As falácias do Silas Daniel só impressionam os que não conhecem a teologia patrística. Ele afirma que Jerônimo ensinou a predestinação condicional, mas não apresenta nenhuma prova documental. Pelo contrário, Jerônimo nega o dogma da predestinação condicional, afirmando:

"Paulo não diz, pois 'Ele nos elegeu antes da fundação do mundo quando éramos santos e imaculados', mas 'Ele nos elegeu para que sejamos santos e imaculados'. Isto é, nós que anteriormente não éramos santos e imaculados, para que o sejamos em seguida; o que se pode dizer também dos pecadores convertidos a uma vida melhor"(Apologia Contra os Livros de Rufino, I:22).

(b)Quanto a sua “Carta 133”, Jerônimo não está defendendo o livre arbítrio do ímpio, para questões espirituais, mas está falando da liberdade dos cristãos. Ele começa logo dizendo que o discípulo de Pelágio é um vaso feito para a perdição, o que já configura sua negação do livre arbítrio do ímpio em questões espirituais:

“O argumento que estou usando não é meu; é isso apresentado por um discípulo de Pelágio, ou melhor, aquele que é o professor e comandante de todo o seu exército. Esse homem, que é o oposto de Paulo, pois é um vaso de perdição, perambula por matas - não, como dizem seus partidários, de silogismos, mas de solecismos”(v.5).

Em seguida, a frase citada por Silas Daniel está truncada. Quando Jerônimo se declara ensinador do livre arbítrio, seu intuito é, não aludir a questão da salvação, mas a questão da refutação ao fatalismo, que tira do homem sua responsabilidade, como vemos no contexto da frase do verso 10, omitido pelo Silas Daniel, onde Jerônimo nega o livre arbítrio para a salvação, afirmando que um homem não tem capacidade própria para se libertar do pecado:

Você mesmo se vangloria que a justiça de um homem pode ser perfeita e igual à de Deus; no entanto, você confessa que é pecador. Responda-me isso, então; você deseja ou não se libertar do pecado? Se sim, por que, por seu princípio, você não realiza seu desejo? E se não, você não se mostra um desprezador dos mandamentos de Deus? Se você é um desprezador, então é um pecador. E se você é um pecador, então as Escrituras dizem: 'Para os ímpios, Deus diz: O que você fará para declarar meus estatutos, ou para que você levará minha aliança em sua boca? Vejo você odiar instruções e lançar minhas palavras para trás de ti'(Sl 50:16-17). Enquanto você não estiver disposto a fazer o que Deus ordena, por muito tempo você lançará as palavras para trás de você”.

13º Argumento: “Em sua obra Contra os Pelagianos, Livro 111, X, Jerônimo afirmaria também: “Mas, quando estamos preocupados com a graça e a misericórdia, o livre-arbítrio é, em parte, esvaziado; em parte, eu digo, porque em parte depende dele que queiramos e desejemos, e consintamos com o curso que escolhemos. Mas isso depende [principalmente] de Deus, se temos o poder em sua força e a sua ajuda para executarmos o que nós desejamos, e para o nosso trabalho e esforço darem resultado”(Ibidem, p.44).

Resposta: Aqui, Jerônimo mostra que num embate entre graça, misericórdia e livre arbítrio, este[o livre arbítrio] é “esvaziado”, mostrando que graça e misericórdia são negações do livre arbítrio em questões espirituais. Em seguida, quando fala no ‘livre arbítrio’ do homem, se refere ao trabalho do homem, não sobre a sua salvação, e ainda assim, este livre arbítrio em esferas materiais ou humanas, não é absoluto, já que depende da “força” e “ajuda” divinas, para ter êxito. Por isso, quando fala no livre arbítrio com relação a salvação, nega-o terminantemente(e com isso nega a graça preveniente, que mostra o homem corrupto e ímpio cooperando com Deus no processo salvífico):

“Quando ele diz, ‘ninguém pode vir a mim’, ele quebra a liberdade orgulhosa do livre arbítrio, pois se alguma vez ele viria a Cristo, a menos que seja feito o que se segue, ‘exceto se meu Pai celestial não o trouxer’, ele não pode desejar nada, e em vão ele se esforça"(Contra Pelagianos 1:3).

Não podemos confiar em arminianos. Suas táticas sempre versarão na tentativa de distorcer as citações das obras de antigos escritores cristãos falecidos, para transformá-los em arminianos e os adicionarem à sua galeria arminiana. Contudo, fica o alerta de Paulo:

"Mas os homens maus e enganadores irão de mal para pior, enganando e sendo enganados"(2 Tm 3:13).