sábado, 23 de abril de 2022

"Graça Comum", não era uma doutrina defendida pelos reformados dos séculos XVI-XVII?

A doutrina da "graça comum" tem sido negada em muitos arraiais reformados, mas, por ignorância, ou por má fé, pois é amparada pelas Escrituras.

A 'graça comum' pode ser não-moral ou moral, no que tange aos seus resultados]. A graça comum não-moral refere-se às bençãos gerais de Deus, tais como a criação, preservação e conservação da vida(Sl 104:30; At 17:24-28; Gn 4:1); a chuva[Mt 5:45], o sol[Mt 5:45], o alimento[At 14:16-17], o vestuário[Gn 3:21; Mt 6:30], a moradia[Gn 17:20], a inteligência para criar objetos{Ex 35:30-35], etc as quais, até certo ponto, são simultaneamente dadas tanto aos eleitos como as réprobos, tanto a irregenerados como a regenerados.

A graça comum moral refere-se aos resultados morais produzidos pela persuasão moral(uma operação geral do Espírito Santo); que, através dos governos, leis, opinião pública e consciência[Rm 1:32; 2:14-15], restringe o pecado e produz certo grau de decência, ordem, justiça, moral, ciência, saúde(Jo 19:10-11; Rm 13:1-6). Outra graça comum moral é a influência do Evangelho (a pregação da Palavra)(chamamento externo)(Mt 13:19-24; 22:14; At 7:51-54; 16:13-15; 26:24-29], fazer parte da igreja visível (ser um crente nominal)[Jo 6:70-71; 13:10-11; 17:12; Jd 5,12; Ap 2:2; 3:9], gozar do convívio e testemunho dos eleitos perante as pessoas[1 Jo 2:18-19; At 1:24-25; 5:1-10; 2 Tm 1:15; 4:14-15; Ap 3:9], ter fé intelectual, nominal ou temporal em Cristo[Lc 8:13; Jo 2:23-25; 8:30-47; 2 Tm 2:17-18; 1 Tm 1:19-20; 4:1], receber graças por meio da oração dos justos(Ex 8:38-32], etc. Considere alguns exemplos bíblicos:

- O ímpio Cão(Gn 9:22-27 comp. com Sl 105:23,27; 106:22) teve sua vida física preservada por Deus no Dilúvio(Gn 7:7; 9:18). Em outra ocasião, o Senhor deixa bem claro, que a vida dos ímpios só é preservada porque os justos ainda vivem entre eles(Gn 18:23-33).

- O Faraó, réprobo levantado por Deus para ser visivelmente vaso de sua ira(Rm 9:17), contudo, recebeu graças de Deus, devido as orações de Moisés e Aarão(Ex 8:28-32).

- O padeiro e o copeiro mor do Faraó, embora tendo ofendido ao seu líder maior, foram preservados com vida, na prisão(Gn 40:1-3). Esses homens ímpíos tiveram 'revelações divinas', através de seus sonhos(Gn 40:5-21).

- O irregenerado rei Nabucodonozor terve uma revelação divina['um sonho'](Dn 2:1-12), que só foi intepretado por Daniel(Dn 2:26-49], e que após essa revelação, o irregenerado rei 'adorou' a Deus(Dn 2:36).

- O irregenerado rei Nabucodonozor, que havia erigido uma estátua em homanagem a si mesmo, exigindo que todos os homens a adorassem, sob pena de serem lançados na fornalha de fogo, tomando conhecimento de que Sadraque, Mesaque e Abednego não a adoraram(Dn 3:1-15), ao ouvir da boca desses três homens que eles jamais adorariam a sua imagem, mesmo que isso lhes custasse as próprias vidas(Dn 6:16-18), ordenando que que se aquecessem sete mais o fogo da fornalha, e igualmente ordenando que eles fossem lançados na fornalha de fogo(Dn 3:19-23), teve uma visão de um anjo junto a eles dentro da fornaçha de fogo(Dn 3:24-26)

- O ainda irregenerado rei Nabudonozor teve uma outra revelação divina - um outro sonho[Dn 4:4-18] que foi novamente interpretado por Daniel(Dn 4:18-27), sendo que este rei, ainda ouviu uma voz do céu, dizendo-lhe que ele ficaria fora do trono por um certo tempo(Dn 4:31-33) e na mesma hora cumpriram-se todas as palavras que Deus falou a Daniel, e a própria palavra que Deus depois falou diretamente ao rei, tendo Nabudonozor sido retirado de seu reino(Dn 4:33), o que levou o rei a reconhecer a soberania de Deus e a grandeza de seu poder(Dn 4:34-37)

- O irregenerado rei Belsazar teve uma visão por parte de Deus(Dn 5:5-10), e Daniel intepretou a sua visão(Dn 5:13-28)e o rei ímpio foi morto em sua incredulidade(Dn 5:30-31)

- O irregenerado rei Dario, que havia emito um decreto proibindo que todos os homens de seu reino não orassem a ninguém, exceto a ele, sob a pena de ser lançado na cova dos leões(Dn 6:1-19), decreto que o fiel profeta Daniel não cumpriu(Dn 6:10), sendo ele denunciado ao rei(Dn 6:11-13), e pressionado pelo seus súditos para fazer valer a força de seu decreto, exigiram que Daniel fosse lançado na cova dos leões(Dn 6:14-16), mesmo crendo que o Deus de Daniel o livraria(Dn 6:15-17), de formas passsou a noite inteira sem dormir até ao amanhecer, foi com pressa à cova dos leões perguntar a Daniel se o Deus dele o tinha livrado da boca dos leões(Dn 6:19-23)

- O irregenerado 'profeta' Balaão, "que amou o preço da injustiça"(2 Pe 2:15), que "ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, para que comessem dos sacrifícios da idolatria, e fornicassem"(Ap 2:14), teve seus olhos abertos pelo Senhor e "viu o anjo do Senhor"(Nm 22:31), e conversou com esse anjo(Nm 22:32-35), de formas que posteriormente "o Senhor pôs a palavra na boca de Balaão"(Nm 23:5) e, posteriormente, "encontrando-se o Senhor com Balaão, pôs uma palavra na sua boca"(Nm 23:16), e este réprobo profetizou sobre a vinda do Messias(Nm 24:15-19)

- O irregenerado Ismael, que, pela circuncisão[Gn 17:25], era membro do povo de Deus, zombava da grande alegria de Abraão e Sara, pelo nascimento de Isaque(Fn 21:8-10), foi mandado embora da companhia de Abraão e dos outros israelitas(Gn 21:10-16), e teve não só sua oração ouvida por Deus(Gn 21:17:21), mas a promessa da preservação de sua descendência(Gn 21:13)

- Judas Iscariotes; que embora jamais tivesse sido lavado internamente por Cristo(Jo 13:10,11); que embora fosse de antemão destinado a perdição(Jo 17:12; Mc 14:21; Mt 26:24); e que embora fosse um ladrão e hipócrita(Jo 12:4-6); e que embora fosse “um diabo”(Jo 7:70), contudo, ele recebeu poder de Deus para pregar o Evangelho, expulsar demônios e curar enfermos(Mc 6:7,12-13). Judas recebeu esse poder temporário para que parecesse uma “ovelha”, embora tal poder temporário jamais seria uma prova de que seu portador fosse aprovado por Deus (ou fosse filho de Deus), por muitos filhos do diabo (ou crentes nominais) o receberam!(Mt 7:22-23):

- O ímpio Caifás, que planejou a morte de Jesus(Mt 26:3,5,57), e que julgou a Jesus(Jo 18:24-28) e que ameaçou aos apóstolos(At 4:6-21), é o mesmo indivíduo que usado por Deus, profetizou(Jo 11:49-51). Deus, incompreensivelmente, pra realizar seus propósitos, usa quem Ele quiser, qualquer criatura, humana ou não (Nm 22:28-30; Sl 78:49).

- O ímpio Saulo ouviu a voz do Senhor Jesus, enquanto se preparava para perseguir os cristãos(At 9:1-5)

- o ímpio Simão mago, que queria comprar o dom da imposição de mãos e conceção do derramamento do Espírito Santo(At 8:18-23), foi dotado de 'fé' e de adesão a membresia da Igreja(At 8:13)

- O irregenerado Cornélio, antes de crer, orava a Deus(At 10:2); teve uma visão de um anjo de Deus(At 10:3), e teve suas orações como alvo da atenção de Deus(At 10:3-4)

- Dos dez leprosos purificados por Jesus, apenas um, de fato, creu, e voltou para glorificar a Deus, agradecer a Jesus e adorá-lo(Lc 17:12-19)

- Jesus curou o homem paralítico, sem este demonstrar nenhuma fé nele, mas por causa da fé daqueles que o trouxeram a Ele, para que o curasse(Mt 9:2; Mc 2:5; Lc 5:20)

- Paulo ordena que oremos "pelos reis, e por todos os que estão em eminência"(1 Tm 2:2), para que possamos ter "uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade"(1 Tm 2:2).

- A esposa de Pilatos disse-lhe: "Não entres na questão desse justo, porque num sonho muito sofri por causa dele"(Mt 27:19)

Apesar da graça comum produzir todas essas operações inferiores do Espírito, não opera a regeneração, que só é administrada pela "graça especial" do Espírito.

Assim, temos toda essa gama de exemplos da graça comum de Deus na vida dos eleitos e réprobos, de regenerados e irregenerados, todos atestando a biblicidade dessa doutrina. Assim também entenderam os comentaristas das Escrituras, como se segue:

"Ele cita dois exemplos da bondade divina para conosco, que não são apenas bem conhecidos por nós, mas comuns a todos: e essa mesma participação nos excita mais poderosamente a agir de maneira semelhante uns para com os outros, embora, por uma sinédoque, ele inclui um grande número de outros favores”(João Calvino[1508-1564], Reformador de Genebra, Com de Mt 5:45)

“Observe, primeiro, que a luz do sol e a chuva são grandes bênçãos para o mundo, e elas vêm de Deus. É o seu sol que brilha,e a chuva é enviada por ele. Eles não vêm naturalmente, ou por acaso, mas de Deus. Em segundo lugar, as misericórdias comuns devem ser valorizadas como exemplos e provas da bondade de Deus, que nelas se mostra um benfeitor generoso para o mundo da humanidade, que seria muito miserável sem esses favores e é totalmente indigno do menor deles. Em terceiro lugar, esses dons da providência comum são dispensados indiferentemente ao bom e ao mau, ao justo e ao injusto; de modo que não podemos conhecer o amor e o ódio pelo que está diante de nós, mas pelo que está dentro de nós;não pelo brilho do sol em nossas cabeças, mas pelo nascer do Sol da Justiça em nossos corações. Em quarto lugar, o pior dos homens participa dos confortos desta vida em comum com os outros, embora os abusem e lutem contra Deus com suas próprias armas; que é um exemplo surpreendente da paciência e generosidade de Deus. Foi apenas uma vez que Deus proibiu que seu sol brilhasse sobre os egípcios, quando os israelitas tinham luz em suas habitações; Deus poderia fazer tal distinção todos os dias. Em quinto lugar, os dons da generosidade de Deus para os homens ímpios que estão em rebelião contra ele, nos ensinam a fazer o bem àqueles que nos odeiam; especialmente considerando que, embora haja em nós uma mente carnal que é inimizade com Deus, ainda assim compartilhamos de sua generosidade”(Matthew Henry[1662-1714], Ministro Presbiteriano, Com de Mt 5:45)

Como seu Pai celestial tem um amor comum, que ele estende a toda a humanidade, suprindo suas necessidades, com a luz e o calor do sol e com a chuva; bem como um amor e favor especial, que ele exerce apenas para aqueles que são bons e membros de Cristo; assim você deve ter: embora você não seja obrigado a receber seus inimigos em seu seio, ainda assim você deve amá-los em sua ordem. E como seu Pai celestial, embora ele um dia tenha uma satisfação dos pecadores, pelo mal feito à sua majestade, a menos que se arrependam; ainda assim, amontoar brasas de fogo sobre suas cabeças lhes dá coisas boas da providência comum, para que ele não os deixe sem testemunho, sim, e lhes oferece os meios externos de graça para suas almas: assim, embora você seja obrigado a buscar alguma satisfação para a honra e glória de Deus de pecadores flagrantes, e embora você possa em um curso ordenado buscar uma satisfação moderada pelo mal feito a si mesmo, ainda assim você deve amá-los com um amor consistente com essas coisas; para que vocês imitem seu Pai celestial e se aprovem para serem seus filhos”(Matthew Poole[1624-1679], Ministro Congregacional, Com de Mt 5:45)

“Deus ama todos os homens independentemente de qualquer consideração ao caráter, portanto Ele dá a todos os homens todas as boas dádivas que eles podem receber à parte do caráter, e se os homens maus não recebem Suas melhores dádivas, não é porque Ele retém, mas porque eles não podem tomar”(Alexander Maclaren[1826-1910], Ministro Batista, Com de Mt 5:45)

“Assim fazendo mostramos nossa semelhança com Deus nosso Pai (uma relação que brota de nossa relação com Cristo) que faz seu sol , etc, cujo amor de benevolência é universal e não medido pelo deserto das pessoas sobre as quais Ele derrama Seus favores providenciais”(Philip Schaff[1819-1893], Ministro Presbiteriano, Com de Mt 5:45)

“Deus em suas ordenanças, para alguns graça salvadora, para outros graça comum, e com isso eles se contentam”(John Trapp[1601-1669], Ministro Anglicano, Com de Ef 4:8)

Pode-se dizer que os homens são participantes do Espírito Santo, a quem ele dá sabedoria e prudência nas coisas naturais e civis; o conhecimento das coisas divinas e evangélicas, de forma externa; o poder de operar milagres, de profetizar, de falar em línguas e de interpretar línguas; pois os dons extraordinários do Espírito Santo parecem principalmente projetados, dos quais alguns, nos primeiros tempos do Evangelho, eram participantes, que não tinham participação na graça especial[Mt 7:22]”(John Gill[1697-1771], Ministro Batista, Com de Hb 6:4)

Participantes do Espírito Santo, De seus dons e operações comuns e inferiores”(John Trapp[1601-1669], Ministro Anglicano, Com de Hb 6:6)

“Com cristãos que são cristãos apenas nominalmente. Há conhecimento, alegria, iluminação, privilégios e poder, mas não há vida espiritual. Essas são pessoas (1)que têm lágrimas como Esaú[Hb 12:17]; [2]que estão dispostas a morrer a morte dos justos como Balaão[Nm 23:10]que querem pessoas tementes a Deus orando por eles, como Faraó[Êx 8:8] e Simão, o mago[At 8:24]; [4]Que profetizam como Caifás[Jo 11:49; 1 Ts]; [5]Que gostam de ouvir a Palavra de Deus como Herodes[Mc 6:20], e que ainda não são nada mais do que o bronze que soa o címbalo retinindo”(Ger de Koning, Com de Hb 6:4)

“[1]Eles foram iluminados. Alguns dos antigos entendem isso de serem batizados; mas deve ser entendido como conhecimento nocional e iluminação comum, dos quais as pessoas podem ter muito, e ainda assim não chegar ao céu. Balaão era o homem cujos olhos foram abertos[Nm 24:3], e ainda assim com os olhos abertos ele desceu para a escuridão total. [2]Eles provaram do dom celestial, sentindo algo da eficácia do Espírito Santo em suas operações sobre suas almas, levando-os a provar algo de religião, e ainda assim serem como pessoas no mercado, que provam o que não avaliaram o preço, e assim, mas experimentam e abandonam. As pessoas podem provar a religião e parecem gostar dela, se puderem tê-la em termos mais fáceis do que negar a si mesmos, tomar sua cruz e seguir a Cristo. [3]Eles foram feitos participantes do Espírito Santo, isto é, de seus dons extraordinários e milagrosos; eles podem ter expulsado demônios em nome de Cristo e feito muitas outras obras poderosas. Tais dons na era apostólica às vezes eram concedidos àqueles que não tinham a verdadeira graça salvadora. [4]Eles provaram da boa palavra de Deus; eles poderiam ter algum gosto pelas doutrinas do evangelho, poderiam ouvir a palavra com prazer, poderiam se lembrar muito dela e falar bem dela, e ainda assim nunca serem moldados na forma e molde dela, nem habitar ricamente nelas. [5]Eles provaram dos poderes do mundo vindouro; eles poderiam ter tido fortes impressões sobre o céu e medo de ir para o inferno. Finalmente esses hipócritas podem ser e, afinal, tornar-se apóstatas”(Matthew Henry[1662-1714], Ministro Presbiteriano, Com de Hb 6:5)

“Isto é especialmente verdade em vista do fato de que tanto Jesus quanto Paulo falaram de pessoas cujas vidas externas pareciam demonstrar dons e atividades do Espírito Santo, quando elas não eram de fato sinceras[Mt 7:15,22-23; 24:24; 1 Co 12:3; 13:1-3; 1 Jo 4:1-3]. Judas, sem dúvida, realizou milagres e expulsou espíritos malignos, embora Jesus soubesse a verdade sobre ele desde o início. E os outros o veriam como participante do Espírito Santo, o que em certo sentido ele era”(Peter Pett, Ministro Batista[Calvinista], Com de Hb 6:4-6)

“Todos podem, em certo sentido, ser feitos participantes do Espírito Santo, que são trazidos sob a pregação do Evangelho e participam das ordenanças e meios da graça. Aqueles cujas carcaças caíram no deserto, bem como os fiéis, que o Senhor trouxe a Canaã eram todos igualmente participantes do Maná, e bebiam da Rocha, e tinham as ordenanças carnais do santuário mundano[Hn 9:1]. Mas, ninguém, exceto a semente escolhida, olhou para Cristo em tudo. Não, além disso, houve alguns em todas as épocas da Igreja, que se pode dizer que foram feitos participantes do Espírito Santo, em seus dons externos de operar milagres; e que ainda, nunca foram participantes do Espírito Santo, em sua graça regeneradora interior. Os magos da corte do Faraó, até certo ponto, tinham permissão para exercer poder; e Judas no colégio dos apóstolos, sem dúvida, tinha a mesma faculdade, em atos externos com eles[Lc 9:1]. Mas em meio a estes, não havia obra interior de Deus o Espírito em nenhum deles”(Robert Hawker[1753-1827], Ministro Anglicano, Com de Hb 6:4-6)

“Há uma esperança que Deus não honrará; há uma santidade que é farisaísmo ou engano; há uma iluminação tão universal quanto o conhecimento do Evangelho[Jo 1:9]; há poderes milagrosos compartilhados aparentemente por Judas, e certamente por homens que Cristo nunca conheceu como seu Senhor[Mt 7:22]”(Philip Schaff[1819-1893], Ministro Presbiteriano, Com de Hb 6:4-7)

Apesar da biblicidade desse ensino, alguns teólogos reformados o tem negado. Homer C. Hoeksema, um teólogo reformado, falando sobre o tema, traz uma informação, aludindo particularmente aos Cânones de Dort, afirmando:

Este é o único lugar [Canônes Dort, capítulos 3 e 4, Erro 5] em nossas confissões reformadas onde ocorre o termograça comum’, e neste singular lugar ele é encontrado na boca dos arminianos”(A Voz de Nosso Pai - Uma Exposição dos Cânones de Dort [Em inglês], p.590)

A posição de Hoeksema conta apenas um dos lados da moeda. Isto porque, primeiro, os Cânones de Dort ensinam a graça comum[III-IV, 9]; segundo, porque tal ensino foi encontrado em alguns reformadores e em confissões reformadas dos séculos XVI-XVII, antes de serem usadas pelos arminianos.

De formas que aquilo que as Escrituras apresentam sobre a 'graça comum', entendida assim pelos comentaristas das Escrituras, foi também assim entendida pela Igreja Pós- Apóstólica, como se segue:

(I)Os Pais da Igreja:

(a)As Constituições Apostólicas[300 d.C], dizem:

(a)“Se algum bispo obtiver essa dignidade por dinheiro, ou mesmo um presbítero ou diácono, seja privado dele e da pessoa que o ordenou; e que ele seja totalmente cortado da comunhão, como Simão Mago foi por mim, Pedro”(Livro 8; Seção 5; 47:30)

“E se você deseja saber como este assunto estava entre nós, Judas era um de nós, e tomou parte semelhante do ministério que tínhamos; e Simão, o Mago, recebeu o selo do Senhor. No entanto, tanto um como o outro provaram-se ser perversos, o primeiro se enforcou, e o último, enquanto voava no ar de uma maneira não natural, foi lançado contra a terra. Além disso, Noé e seus filhos com ele estavam na arca; mas Cão, que sozinho foi considerado mau, recebeu punição em seu filho”(II; 3:14)

(b)Atanásio[263-373], diz:

“Pois é Deus, meus amados, mesmo o Deus que primeiro estabeleceu a festa para nós, que garante a celebração dela ano após ano. Ele causou a morte de Seu Filho para a salvação e nos deu esta razão para a festa santa, da qual todos os anos dá testemunho, tantas vezes quanto nesta época a festa é proclamada. Isso também nos conduz da cruz através deste mundo para o que está diante de nós, e Deus produz ainda agora a partir dele a alegria da gloriosa salvação, trazendo-nos à mesma assembléia e em todos os lugares unindo-nos em espírito; designando-nos orações comuns, e uma graça comum procedente da festa. Pois esta é a maravilha de Sua benignidade, que Ele deve reunir no mesmo lugar aqueles que estão à distância; e faça com que aqueles que parecem estar longe no corpo, estejam juntos em unidade de espírito”(Epistola 5, v.2)

(c)Cirilo de Jerusalém[313-386), diz:

"Até Simão, o mago, certa vez foi à pia: ele foi batizado, mas não foi iluminado; e, embora mergulhasse seu corpo na água, não iluminou seu coração com o Espírito: seu corpo desceu e subiu, mas sua alma não foi sepultada com Cristo, nem ressuscitou com ele”(Procatequese[Prólogo], 2)

“Acautela-te para que nunca, como Simão, venhas aos administradores do Batismo em hipocrisia, enquanto o teu coração não procura a verdade. É nosso para protestar, mas é seu para se proteger”(Leitura Catequética XVII[‘Continuação do Discurso sobre o Espírito Santo’], 35)

“Pois os hereges, que são os mais profanos em todas as coisas, também aguçaram a língua contra o Espírito Santo e ousaram proferir coisas ímpias; como Irineu, o intérprete, escreveu em suas injunções contra as heresias. Pois alguns deles ousaram dizer que eles próprios eram o Espírito Santo – dos quais o primeiro foi Simão, o feiticeiro mencionado nos Atos dos Apóstolos; pois quando ele foi expulso, ele ousou ensinar tais doutrinas”(Leitura Catequética, 16:6)

“A quem Pedro e João desceram, e com oração e imposição de mãos, comunicaram a comunhão do Espírito Santo, do qual somente Simão, o mago, foi declarado estranho, e isso com justiça”(Leitura Catequética, 17:25)

Mas talvez haja entre vocês algum hipócrita, um homem para agradar, e alguém que finge piedade, mas não acredita de coração; tendo a hipocrisia de Simão Mago; aquele que aqui não veio para receber a graça, mas para espiar o que é dado; aprenda também de João: E agora também está posto o machado à raiz das árvores; bom fruto é cortado e lançado no fogo[Mt 3:10] . O Juiz é inexorável; afaste sua hipocrisia”(Leitura Catequética, 3:7)

(C)Sulpício Severo[363-425], diz:

"Quão grande bem-aventurança, entre os dons celestiais, pertence à santa virgindade, além dos testemunhos das Escrituras, aprendemos também da prática da Igreja, pela qual somos ensinados que um mérito peculiar pertence àqueles que se dedicaram a ela por especial consagração. Pois enquanto toda a multidão dos crentes recebe os mesmos dons da graça e todos se regozijam nas mesmas bênçãos dos sacramentos, aqueles que são virgens possuem algo acima dos outros, pois, da santa e imaculada companhia da Igreja, eles são escolhidos pelo Espírito Santo e apresentados pelo bispo no altar de Deus, como se fossem sacrifícios mais santos e puros, pelos méritos de sua dedicação voluntária. Este é verdadeiramente um sacrifício digno de Deus, pois é a oferta de um ser tão precioso, e ninguém o agradará mais do que o sacrifício de sua própria imagem. Pois penso que o apóstolo se referiu especialmente a um sacrifício desse tipo, quando disse: Agora, irmãos, rogo-vos, pela misericórdia de Deus, que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradáve[Rm 12:1] a Deus. A virgindade, portanto, possui tanto o que os outros têm quanto o que os outros não têm; enquanto obtém graça comum e especial, e se regozija (por assim dizer) em seu próprio privilégio peculiar de consagração. Pois a autoridade eclesiástica nos permite denominar virgens também as noivas de Cristo; enquanto, à maneira das noivas, vela aqueles a quem consagra ao Senhor, exibindo abertamente aqueles que muito especialmente estão prestes a possuir o casamento espiritual que fugiram da comunhão carnal. E aqueles estão dignamente unidos, de maneira espiritual, a Deus, de acordo com a analogia do casamento, que, por amor a ele, não desprezaram as alianças humanas. No caso deles, esse dito do apóstolo encontra seu cumprimento mais completo possível, Aquele que se une ao Senhor, 1 Coríntios 6:17, é um espírito”(Epístolas Duvidosas, 1)

(d)Agostinho]354-430], diz:

“O povo de Israel estava em unidade, mas não fez milagres: os magos de Faraó estavam desunidos, e ainda assim fizeram as mesmas obras de Moisés[Êx 7:12]. O povo de Israel, como eu disse, não fez milagres. Quem foi salvo com Deus - aqueles que fizeram, ou aqueles que não fizeram, milagres? O apóstolo Pedro ressuscitou um morto: Simão, o mago, fez muitas coisas: havia alguns cristãos que não eram capazes de fazer o que Pedro fez ou o que Simão fez; e onde eles se regozijaram?”(Tratado 13 sobre o Evangelho de João, 17).

É verdade que os ímpios podem participar dos sacramentos visíveis da piedade, como lemos que Simão Mago recebeu o santo batismo. Tais são aqueles de quem o apóstolo diz que ‘eles têm a forma de piedade, mas negam o poder dela’[2 Tm 3:5]”(Contra Fausto, 19:12).

Este Simão Mago estava lá. Por suas artes mágicas, ele enganou tanto o povo, que eles o imaginaram como o poder de Deus. Impressionado, no entanto, pelos sinais que foram feitos por Felipe, ele também creu; mas de que maneira ele cria, os eventos que se seguiram depois provaram. E Simão também foi batizado. Os apóstolos, que estavam em Jerusalém, ouviram isso. Pedro e João foram enviados aos de Samaria; encontraram muitos batizados; e como nenhum deles ainda havia recebido o Espírito Santo – da mesma maneira que Ele desceu naquele tempo, para que aqueles sobre quem o Espírito Santo descesse falassem em línguas, para um sinal manifesto de que as nações creriam – eles colocaram suas mãos sobre eles, orando por eles, e eles receberam o Espírito Santo. Este Simãoque não era uma pomba, mas um corvo na Igreja, porque buscava as suas próprias coisas, não as coisas que são de Jesus Cristo; de onde ele amou o poder que estava nos cristãos mais do que a justiça – Simão, eu digo, viu que o Espírito Santo foi dado pela imposição das mãos dos apóstolos (não que foi dado por eles, mas dado em resposta às suas orações), e disse-lhes: ‘Quanto dinheiro quereis que eu vos dê, para que também pela imposição das minhas mãos seja dado o Espírito Santo? E disse-lhe Pedro: O teu dinheiro pereça contigo, porque pensaste que o dom de Deus devia ser comprado com dinheiro’. A quem disse ele: O teu dinheiro perece contigo? Sem dúvida, para alguém que foi batizado. Batismo ele já tinha; mas não se apegou às entranhas da pomba. Entenda que ele não o fez; preste atenção às próprias palavras do apóstolo Pedro, pois ele continua: ‘Você não tem parte nem sorte nesta fé: pois vejo que você está em fel de amargura’[At 8:5-23]. A pomba não tem fel; Simão tinha, e por isso foi separado das entranhas da pomba. O que o batismo lhe beneficiou? Portanto, não se gabe de seu batismo, como se isso fosse suficiente para sua salvação. Não fique com raiva, guarde seu fel, venha para a pomba. Aqui vai te beneficiar, o que sem não só não te beneficiou, mas até te prejudicou”(Tratado 6 sobre o Evangelho de João, 18)

“Já que, então, o sacramento é uma coisa, que até Simão Mago poderia ter[At 8:13] e a operação do Espírito é outra coisa, que é freqüentemente encontrada em homens iníquos, pois Saul tinha o dom de profecia; e essa operação do mesmo Espírito é uma terceira coisa, que somente os bons podem ter, pois ‘o fim do mandamento é a caridade de um coração puro, e de uma boa consciência, e de fé não fingida’”(Do Batismo, 3:16)

Homens bons batizaram homens maus, como Simão, o feiticeiro, foi batizado por Filipe, um homem santo[At 8:13]”(Tratado 11 sobre o Evangelho de João, 9)

“Pois o centurião Cornélio, antes do batismo, era melhor do que Simão, que havia sido batizado. Pois Cornélio, mesmo antes de seu batismo, estava cheio do Espírito Santo[At 10:44]. Simão, mesmo depois do batismo, foi inchado com um espírito imundo”(Do Batismo, 4:21)

“Assim, novamente, quando ouvirmos: 'aquele que crer e for batizado será salvo'; é claro que não entendemos isso de alguém que acredita da maneira que os demônios acreditam e tremem; nem daqueles que recebem o batismo como Simão, o mago, que embora pudesse ser batizado, não poderia ser salvo”('Sermão 21 sobre o Novo Testamento', 16)

“E aqueles que são batizados com Seu batismo não são batizados por alguém que está morto. E se acontecer que certos ministros, sendo obreiros fraudulentos, buscando o que é seu, e não o que é de Jesus Cristo, não anunciando o evangelho com pureza, e pregando a Cristo por contenda e inveja, serão chamados mortos por causa da sua injustiça, no entanto, o sacramento do Deus vivo não morre mesmo naquele que está morto. Pois estava morto aquele Simão que foi batizado por Filipe em Samaria, que desejava comprar o dom de Deus por dinheiro; mas o batismo que ele havia vivido nele ainda operava sua punição”('Resposta a Petiliano, o Donatista', 2:15)

“O que você tem a dizer sobre isso? Você objeta que não temos batismo: o mesmo trigo verdadeiro do Senhor lhe responde, que a forma do sacramento, mesmo dentro da Igreja, não serve para alguns, como não fez bem a Simão Mago quando foi batizado, muito mais falha para lucrar aqueles que estão sem. No entanto, que o batismo permanece neles quando eles partem, é provado disso, que não é restaurado para eles quando eles retornam. Nunca, portanto, exceto pela maior falta de vergonha, você será capaz de clamar contra aquele trigo, ou chamá-los de falsos profetas vestidos com roupas de ovelhas, enquanto por dentro são lobos devoradores; pois ou eles não conhecem os ímpios na unidade da Igreja Católica, ou por causa da unidade suportam aqueles que conhecem”('Contra Petiliano, o Danoatista', 1:23)

(II)Os Reformadores

(1)João Calvino[1509-1564], o reformador de Genebra, dá diversas declarações sobre a 'graça comum', apesar de não usar propriamente esse termmo, como se segue:

“Por essa razão, Paulo, onde advertiu [At 17.27] que Deus pode ser conhecido até dos cegos que tateiam, em seguida acrescenta que ele não deve ser buscado como se estivesse longe, pois na verdade, dentro de cada um, todos sentem, indubitavelmente, a celeste graça, da qual obtêm alento”(Institutas, I; 5:3)

“Quão peculiar, porém, é esse poder à Escritura, transparece claramente disto: que dos escritos humanos, por maior que seja a arte com que são burilados, nenhum sequer nos consegue impressionar de igual modo. Basta ler a Demóstenes ou a Cícero; a Platão ou a Aristóteles, ou a quaisquer outros desse plantel: em grau admirável, reconheço-o, são atraentes, deleitosos, comoventes, arrebatadores. Contudo, se te transportares dali para esta sagrada leitura, queiras ou não, tão vividamente te afetará, a tal ponto te penetrará o coração, de tal modo se te fixará na medula, que, ante a força de tal emoção, aquela impressividade dos retóricos e filósofos quase que se desvanece totalmente, de sorte que é fácil perceber que as Sagradas Escrituras, que em tão ampla escala superam a todos os dotes e graças da indústria humana, respiram algo de divino”(Institutas, I, 8:1).

“Contudo, eis a solução mais certa e mais fácil para esta questão: esses não são dotes comuns da natureza, mas graças especiais de Deus, que ele dispensa, variadamente e em medida certa, a homens de outra sorte profanos. Por cuja razão, em linguagem comum, não nos arreceamos de dizer ser este bem-nascido, ser aquele de natureza depravada. Entretanto, nem deixamos de incluir a um e ao outro sob a condição universal de depravação humana, mas apontamos que, por graça especial, o Senhor tem conferido a um, da qual não dignou prover ao outro. Querendo colocar Saul à frente do reino, Deus formou como que um novo homem [1Sm 10.6]; e esta é a razão por que Platão, aludindo à fábula homérica, diz que os filhos dos reis são nascidos assinalados de certa marca singular, já que Deus, querendo prover ao interesse do gênero humano, freqüentemente dota de natureza heróica aos que destina ao mando, e desta oficina tem provindo tudo quanto as histórias celebram dos grandes chefes. O mesmo se deve pensar também dos que não são homens públicos.

Na medida em que alguns se destacam em agudeza, e alguns em julgamento, enquanto outros têm maior prontidão em aprender alguma arte peculiar, Deus, por essa variedade, recomenda seu favor para conosco, para que ninguém ouse arrogar para si mesmo o que flui de sua mera liberalidade. Pois de onde é que um é mais excelente do que outro, mas que em uma natureza comum a graça de Deus é especialmente exibida ao passar por muitos e, assim, proclamando que não está obrigada a ninguém”(Institutas, II; 3:4)

“Contudo, aqui nos deve ocorrer que, por entre esta corrupção de nossa natureza, algum lugar há para a graça de Deus, não aquela que a expurgue, mas aquela que a coíba interiormente. Ora, se o Senhor permitisse à mente de cada um esbaldar-se de rédeas soltas em todos os desejos, sem dúvida ninguém haveria que, de fato, não propiciasse confirmação de que, mui verdadeiramente, em si concorreriam todas aquelas coisas más pelas quais Paulo condena toda a natureza [Rm 3.12]... Daqui, uns são contidos pelo senso de vergonha, outros, pelo temor das leis, para que não se lancem a muitas espécies de torpezas, se bem que, em larga medida, não dissimulam sua impureza; outros, porque julguem ser de vantagem uma forma honesta de viver, a ela, de certa maneira, aspiram; outros se alteiam acima da condição vulgar para que, mercê de sua própria importância, contenham os demais na linha da deferência apropriada. E assim, mediante sua providência, Deus nos refreia a perversidade da natureza para que não irrompa em ação; entretanto, não a purifica interiormente”(Institutas, II; 3:3)

Sei que a alguns parece duro de aceitar quando se atribui fé aos réprobos, visto que Paulo a declara ser fruto da eleição; essa dificuldade, no entanto, se soluciona facilmente, porquanto, ainda que os réprobos não sejam iluminados à fé, nem sintam verdadeiramente a eficácia do evangelho, a não ser aqueles que foram preordenados para a salvação, contudo a experiência mostra que os réprobos são às vezes afetados por sentimento quase semelhante ao dos eleitos, de sorte que, em seu próprio julgamento, de fato não diferem em coisa alguma dos eleitos. Daí, nada há de absurdo que pelo Apóstolo lhes seja atribuído o deguste dos dons celestiais[Hb 6:4-6], e uma fé temporária por Cristo[Lc 8.13]. Não que percebam solidamente o poder da graça espiritual e a segura luz da fé, mas porque o Senhor, para que os torne ainda mais convictos e inescusáveis, se lhes insinua na mente, até onde possam degustar a bondade sem o Espírito de adoção. Se, pois, alguém objeta que aos fiéis não se deixa coisa alguma com que estejam seguros e nutram a certeza de sua adoção, respondo que, embora seja grande a semelhança e afinidade entre os eleitos de Deus e os que são dotados por algum tempo de fé transitória, contudo somente nos eleitos viceja aquela confiança que Paulo celebra, de modo que clamem em alta voz: Abba, Pai [Rm 8.15; Gl 4.6]. Portanto, assim como somente aos eleitos Deus regenera para sempre com uma semente incorruptível[1Pe 1.23], de sorte que jamais pereça a semente de vida implantada em seu coração, assim também neles sela solidamente a graça de sua adoção, para que ela seja estável e confirmada. Entretanto, isto de modo algum impede que essa operação inferior do Espírito tenha seu curso até mesmo nos réprobos. Não obstante isto, os fiéis são ensinados a examinar-se a si próprios cuidadosa e humildemente, para que a confiança da carne não se insinue sorrateira em lugar da certeza da fé.

Os réprobos acreditam que Deus lhes é propício, na medida em que aceitam o dom da reconciliação, embora confusamente e sem o devido discernimento; não que eles sejam participantes da mesma fé ou regeneração com os filhos de Deus; mas porque, sob uma cobertura de hipocrisia, eles parecem ter um princípio de fé em comum com eles. Nem nego que Deus ilumine suas mentes a esse ponto, que eles reconheçam sua graça; mas essa convicção ele distingue do testemunho peculiar que ele dá aos seus eleitos a esse respeito, de que os réprobos nunca atingem o resultado completo ou a fruição. Quando ele se mostra propício a eles, não é como se ele realmente os tivesse resgatado da morte e os tivesse sob sua proteção. Ele apenas lhes dá uma manifestação de sua misericórdia presente. Somente nos eleitos ele implanta a raiz viva da fé, para que perseverem até o fim. Assim, descartamos a objeção de que, se Deus realmente exibe sua graça, ela deve durar para sempre. Não há nada de inconsistente nisso com o fato de ele iluminar alguns com um presente senso de graça, que depois se mostra evanescente”(Institutas, III; 2:11)

“Contudo nego que os réprobos avancem até o ponto de penetrar essa secreta revelação que a Escritura reivindica só para os eleitos. Nego, porém, que eles ou apreendam a vontade de Deus, como é imutável, ou com real constância lhe abracem a verdade; por isso é que se detêm em um sentimento evanescente, como uma árvore, plantada não bastante funda para produzir raízes vivas, seca-se no decurso do tempo, ainda que por alguns anos simule não só flores e folhas, mas até mesmo frutos. Enfim, assim como pela quedado primeiro homem pôde-se apagar de sua mente e de sua alma a imagem de Deus, assim também não é de admirar se a alguns réprobos Deus ilumine com os raios de sua graça, os quais, mais tarde, permite que se extingam. Tampouco coisa alguma impede que Deus a uns tinja levemente de conhecimento de seu evangelho, a outros infunda profundamente. Isto, contudo, deve se manter: por mais exígua e débil que a fé seja nos eleitos, entretanto, uma vez que o Espírito de Deus lhes é o seguro penhor e selo de sua adoção [Ef 1.14], jamais se pode apagar de seus corações o que ele neles gravou. Quanto à iluminação dos réprobos, finalmente se dissipa e perece, sem que possamos dizer por isso que o Espírito engana a alguém, pelo fato de que não vivifica a semente que jaz em seu coração, de sorte que permaneça sempre incorruptível como nos eleitos”(Institutas, III; 2:12)

“A experiência, porém, assim ensina que Deus quer que aqueles que a si convida se arrependam, mas que não toca o coração de todos. Entretanto, não se deve dizer que por isso ele age enganosamente, porquanto, visto que só pela voz externa torna inescusáveis os que a ouvem, contudo, não obedecem, é verdadeiramente considerada testemunho da graça de Deus, mediante o qual ele reconcilia os homens consigo”(Institutas, III; 24:15)

“No mesmo sentido, acrescenta-se que eles foram criados por Deus: o que não acontece. Refere-se à criação geral, mas apenas ao privilégio de adoção, pelo qual eles se tornaram a nova obra de Deus e em que outra forma foi comunicada a eles; nesse sentido também Ele é chamado seu Autor, ou Criador. Em outros lugares, também, quando o Profeta diz: ‘Sabei que o Senhor é Deus: foi ele que nos fez, e não nós mesmos’[Sl 100:3] ele, sem dúvida, amplia essa prerrogativa especial, pela qual Deus distinguiu os filhos de Abraão acima de todas as outras raças. Pois, como a queda de Adão trouxe desgraça a toda a sua posteridade, Deus restaura aqueles que Ele separa como seus, para que sua condição seja melhor do que a de todas as outras nações. Ao mesmo tempo, deve-se observar que essa graça de renovação é apagada em muitos que depois a profanaram”(Com sobre Dt 32:6)

“Se muitos deles perecem de fome e sede; se muitos são devorados por animais selvagens; se muitos morrem de frio, isso nada mais é do que os muitos sinais do juízo de Deus, que Ele designa para nossa ponderação. Disso inferimos que a mesma coisa sucederia a todos os homens, não fosse a vontade de Deus para salvar uma porção deles. Assim, se interpondo como juiz entre eles, Deus preserva alguns com o intuito de revelar neles sua misericórdia e derramar seus juízos sobre outros, a fim de proclamar sua justiça”(Com do Sl 107:6)

"Este versículo prova mais claramente o que eu já disse que o sonho fez com que o rei sentisse Deus como seu autor"(Com de Dn 2:2)

"Cristo novamente convoca os hipócritas ao seu tribunal, como mostramos há pouco de Lucas. Enquanto eles ocupam um lugar em sua Igreja, eles se lisonjeiam e enganam os outros. Ele, portanto, declara que está chegando o dia em que limpará seu celeiro e separará o joio e a palha do trigo puro. Profetizar em nome de Cristo é cumprir o ofício de mestre por sua autoridade e, por assim dizer, sob sua direção. A profecia está aqui, eu acho, tomada em um sentido amplo, como no décimo quarto capítulo da Epístola aos Coríntios. Ele poderia simplesmente ter usado a palavra pregar, mas propositadamente empregou a denominação mais honrosa, a fim de mostrar mais claramente que uma profissão externa não é nada, qualquer que seja seu brilho aos olhos dos homens. Fazer obras maravilhosas em nome de Cristo nada mais é do que realizar milagres por seu poder, autoridade, ordem e direção: pois, embora a palavra ὁμολογήσω, poderes, às vezes esteja confinada a uma classe de milagres, ainda neste e em muitos outras passagens denota todo tipo de milagres"(Com de Mt 7:22)

"Nem a maldade de Caifás impediu que sua língua fosse o órgão do Espírito Santo, pois Deus olhou para o sacerdócio que ele havia instituído, e não na pessoa do homem. E esta foi a razão pela qual olhei, para que uma voz proferida de um lugar elevado pudesse ser ouvida mais distintamente e ter maior reverência e autoridade. Da mesma maneira, Deus pretendia abençoar seu povo pela boca de Balaão, a quem ele havia concedido o espírito de profecia. Mas é altamente ridículo nos papistas inferir disso que devemos considerar como um oráculo tudo o que o sumo sacerdote romano possa achar adequado pronunciar. Primeiro, admitindo o que é falso, que todo homem que é sumo sacerdote também é profeta, ainda assim eles estarão sob a necessidade de provar que o sumo sacerdote romano é designado por ordem de Deus; pois o sacerdócio foi abolido pela vinda de um homem, que é Cristo, e em nenhum lugar lemos que depois foi ordenado por Deus que qualquer homem deveria ser o governante de toda a Igreja. Concedendo-lhes, em segundo lugar, que o poder e o título de sumo sacerdote foram transmitidos ao Bispo de Roma, devemos ver que vantagem foi para os sacerdotes que aceitaram a previsão de Caifás. Para concordar com sua opinião, eles conspiram para matar Cristo. Mas longe de nós está aquele tipo de obediência que nos leva a um horrível apostolado ao negar o Filho de Deus. Com a mesma voz Caifás blasfema e também profetiza. Aqueles que seguem sua sugestão desprezam a profecia e adotam a blasfêmia. Devemos nos proteger contra a mesma coisa que acontece conosco, se ouvirmos Caifás de Roma; caso contrário, a comparação seria defeituosa. Além disso, pergunto: Devemos concluir que, porque Caifás uma vez profetizou, cada palavra proferida pelo sumo sacerdote é sempre uma profecia? Mas logo depois Caifás condenou como blasfêmia [Mt 26:65] o artigo mais importante da nossa fé. Portanto, concluímos que o que o evangelista agora relata foi uma ocorrência extraordinária e que seria tolice apresentá-lo como exemplo"(Com de Jo 11:51)

“Minha resposta é a seguinte: Deus certamente confere seu Espírito de regeneração somente aos eleitos, e que eles se distinguem dos réprobos no fato de que são transformados à imagem de Deus, e recebem o penhor do Espírito na esperança de uma herança por vir, e pelo mesmo Espírito o Evangelho é selado em seus corações. Em tudo isso, porém, não vejo razão por que Deus não toque os réprobos com o sabor de sua graça, ou não ilumine suas mentes com alguns lampejos de sua luz, ou não afete com algum senso de sua benevolência, ou em alguma medida não grave sua Palavra em seus corações”(Com de Hb 6:5)

“O Espírito da graça, portanto, é assim corretamente chamado, uma vez que é através dele que Cristo, com seus benefícios, se tornam nossos. Tratar com desprezo Aquele através de quem somos dotados com tão grandes bênçãos, é, o mais perverso de todos os crimes. Aprendamos desse fato que todos aqueles que voluntariamente fazem sua graça vã, depois de desfrutarem seu favor, estão expondo o Espírito de Deus ao desprezo. Portanto, não surpreende que Deus se vingue de uma blasfêmia desse gênero, de forma tão severa; e não é de estranhar que Ele se mostre implacável para com aqueles que pisam sob a planta de seus pés a Cristo, o Mediador, o único que intercede por nós; e não é de se estranhar que ele obstrua o caminho da salvação àqueles que rejeitam o Espírito Santo, como seu único e verdadeiro Guia”(Com de Hb 10:29).

“Há filhos de Deus que ainda não aparecem para nós, mas agora o fazem para Deus; e há aqueles que, por causa de alguma graça arrogada ou temporal, são chamados assim por nós, mas não são assim para Deus"(Acerca da Eterna Predestinação de Deus, p. 66)

Embora João Calvino[1509-1564] não tenha usado o termo 'graça comum', há sérios indícios desse ensino em suas obras. como já provamos acima, e voltamos a chamar a atenção do leitor para isso:

"Acrescenta-se ainda que os réprobos nunca percebem um senso da graça senão confuso, de sorte que apreendem antes uma sombra em vez da substância; é por isso que o Espírito, propriamente falando, sela a remissão dos pecados somente nos eleitos, de modo que a apliquem para seu proveito mediante fé especial. Não obstante, com razão se diz que os réprobos crêem que Deus lhes é propício, porquanto aceitam o dom da reconciliação, ainda que confusamente, e não de forma bem distinta. Não que sejam participantes com os filhos de Deus da mesma fé ou regeneração, mas, porque, sob a capa da hipocrisia, eles parecem ter um princípio comum de fé"(Institutas, III; 2:11)

Aqui realmente Calvino, está se referindo a uma fé meramente intelectual ou nominal, desde que diz:

"Daí, nada há de absurdo que pelo Apóstolo lhes seja atribuído o deguste dos dons celestiais [Hb 6:4-6], e uma fé temporária por Cristo[Lc 8.13]"(Ibidem, III; 2:11, &2)

A "graça comum' é chamada por Calvino, de 'operação comum do Espírito', como se segue:

"Entretanto, isto de modo algum impede que essa operação comum do Espírito tenha seu curso até mesmo nos réprobos"(Ibidem, III; 2:11, &2)

(2)John Knox(1515-1572), o reformador da Escócia, disse:

"Depois destas misericórdias comuns, eu digo, das quais os réprobos são frequentemente participantes, ele abre o tesouro de suas ricas misericórdias, que são guardadas em Cristo Jesus para seus eleitos. O Espírito Santo faz uma clara diferença entre as graças e misericórdias que são comuns a todos, e aquela misericórdia soberana que é imutavelmente reservada aos filhos escolhidos”(Sobre Predestinação, p.87)

(3)Ulrico Zuínglio(1483-1531], Reformador de Zurique, diz:

“Mais uma vez, a ‘Igreja’ é tomada em um sentido geral para todos os que são classificados como cristãos, ou seja, aqueles que se alistaram sob Seu nome, um grande número dos quais reconhece Cristo publicamente pela confissão ou participação nos sacramentos, e ainda no coração recuam dEle ou são ignorantes sobre Ele. A esta Igreja, cremos, pertencem todos aqueles que confessam o nome de Cristo. Assim Judas pertencia à Igreja de Cristo e todos aqueles que se afastaram de Cristo. Pois pelos apóstolos Judas era considerado como pertencente à Igreja de Cristo não menos do que Pedro e João, embora de modo algum fosse o caso. Cristo sabia quem era dele e quem era do diabo. Esta igreja, portanto, é visível, embora não se reúna neste mundo. Consiste em todos os que confessam a Cristo, embora entre eles haja muitos réprobos. Cristo o retratou na encantadora alegoria das dez virgens, algumas das quais eram sábias e outras tolas [Mt 25]. Esta igreja também é às vezes chamada de eleita, embora não seja como a primeira sem mancha”(Fidei Ratio [1530], V)

Porque Simão, o impostor, Ananias, Judas, e ninguém sabe quem, foram batizados quando declararam sua adesão a Cristo, embora não tivessem fé”(Ibidem, VI)

“E, uma vez que existem na Igreja essas duas chagas, a incredulidade e a fraqueza da fé (pois há alguns que absolutamente não crêem, aqueles, a saber, que na Ceia comem e bebem julgamento para si mesmos, como Judas e Simão, o mago”(Exposição da Fé[1531] IX [Sobre Deus e Adoração], ‘Fé e Obras’)

(4)Heinrich Bullinger(1504-1575), reformador suiço, diz:

“Novamente, o que é aquele que não sabe que a graça de Deus, que de outra forma é indivisa, é dividida e distinguida de acordo com as diversas operações que ela opera? Pois há em Deus uma certa (por assim dizer) graça geral, pela qual ele criou todos os homens mortais, e pela qual ele faz chover sobre justos e injustos: mas esta graça não justifica; pois se assim fosse, então os ímpios e injustos deveriam ser justificados. Novamente, há aquela graça singular, pela qual ele, por amor de seu unigênito Cristo, nos adota para ser seus filhos: ele não adota, quero dizer, todos, mas somente os crentes, cujos pecados ele não considera, mas lhes imputa a justiça de seu Filho unigênito, nosso Salvador. Esta é a graça que por si só nos justifica de fato”(‘As Décadas', 3ª Década, Sermão IX, Volume 1, p.330)

(5)William Farel(1489-1565), reformador suiço, diz:

“Fazendo o que lhes foi ensinado pelos santíssimos profetas e apóstolos, na verdade pela boca de Jesus, e que retêm e compreendem o que aprenderam, que realizar todo poder e milagre, tendo toda aparência de santidade, tudo servindo para nada. Veja Esaú chorando por este irmão, recebendo-o amigavelmente, que nasceu de um mesmo ventre(Gn 33:4). Veja Judas, o apóstolo, pregando o que aprendeu de Jesus, realizando todo tipo de milagres, mas tudo isso não é nada. E, no entanto, aqueles que profetizaram e fizeram milagres, que não estão entre os eleitos, serão rejeitados[Mt 7:22-23], em quem o mundo tem sido grandemente abusado, não tendo conhecimento da ordenança do Deus inestimável, julgando alguém como santo por causa de milagres e outras coisas, ‘até o tempo em que nosso vem o Senhor’[1 Co 4:5]”(Sumário, Cap 42)

(6)Jerome Zanchius[1516-1590], outro reformador, nos disse:

“Embora aquela Graça de Deus, pela qual sua benevolência é simplesmente entendida, alcance toda criatura, na medida em que a ama e preserva; sendo como o Apóstolo diz, ‘o Salvador de todos’: de modo que ninguém pode reclamar por falta desta graça: mas aquela Graça pela qual as Escrituras, que um homem é justificado, pertence somente aos eleitos…”('Vida Eterna: Ou O Verdadeiro Conhecimento do Senhor')

(III)A posição das Confissões de Fé Reformadas:

(1)O Sínodo de Berna[1532] diz:

“Mesmo entre os respeitáveis pagãos não eram experimentados os mesmos vícios, como adultério, prostituição, lenocínio, embriaguez, coqueteria, blasfêmia, palavrões e, em particular, servir a príncipes estrangeiros e contratar-se para fazer a guerra, e assim fazer viúvas e órfãos. Estes são contra toda razão e justiça, e mesmo entre os pagãos réprobos nunca foram considerados honrosas”(XXXII, ‘Dízimos e juros, e como devem ser pagos e recebidos’).

(2)A Confissão de Fé Valdense de Merindol[1543], diz:

“Mas os incrédulos cometerão obras más, juntamente com hipócritas que se gabam apenas de uma fé morta, sobre os quais o santo Paulo disse: De fato, com seus boca, eles confessam que conhecem a Deus, mas o negam por suas obras, visto que são abomináveis, incrédulos e réprobos quanto a toda boa obra[Tt 1:16]”(‘Sobre as Boas Obras’).

(3)O Consenso Tigurinus[1549], diz:

“Pois além do fato de que nada se recebe nos sacramentos senão pela fé, também é necessário sustentar que a graça de Deus certamente não está tão ligada a eles que quem tem o sinal recebe a coisa em si. Pois os sinais são administrados tanto aos réprobos como aos eleitos, mas a realidade só atinge o último”(XVII)

(4)O Consensus Genevensis(1552), diz:

“Mas uma vez que a Escritura ensina que os réprobos também são instrumentos da ira de Deus, por alguns dos quais Ele instrui os fiéis à paciência, e a outros dos quais, como Seus inimigos, Ele inflige os castigos que merecem”

“Pois o apóstolo não diz simplesmente ‘quem são os chamados’ [pois isso às vezes é aplicável aos réprobos a quem Deus chama, ou convida, juntamente com Seus próprios filhos, ao arrependimento e à fé], mas ele diz, em toda a plenitude da explicação , ‘Quem são os chamados de acordo com o Seu propósito’; cujo propósito deve, por sua própria natureza e efeito, ser firme e ratificador”(Ibidem)

“Pois se alguém disser que o fato de Faraó ser ‘levantadosignificava que ele foi elevado do alto ao cume da honra real, isso de fato é uma parte, mas não a totalidade, da questão”(Ibidem)

“E certamente a expressão ‘levantado’ compreende, não menos distintamente do que sumariamente, o que ele tocou tanto em relação aos eleitos quanto aos réprobos, visto que ele está reivindicando para Deus o direito e o poder de ter misericórdia de quem Ele quiser, e de endurecer a quem Ele quiser, de acordo com Seu próprio prazer e propósito”(Ibidem)

“Certamente nada está aqui ouvi falar da tagarelice absurda de Pighius - que a graça é a mesma para todos, mas que a bondade de Deus é mais brilhantemente ilustrada por Ele suportar os vasos da ira enquanto Ele permite que eles cheguem ao seu próprio fim”(Ibidem)

“Assim sendo, nós não negamos que às vezes há no réprobo muitas coisas que são encontradas também nos filhos de Deus; mas quão brilhantemente eles podem brilhar com a aparência de justiça, é certo que eles nunca procederam do espírito de adoção. Tais pessoas reprovadas, assim aparentemente justas, nunca poderiam verdadeiramente invocar a Deus como seu Pai”(Ibidem).

“Que as virtudes que brilham nos réprobos são louváveis em si mesmas, eu de modo algum nego. E é isso que a Escritura quer dizer quando diz que Saul, e outros do mesmo caráter, ‘fez o que era reto’. Mas quando Deus olha para o coração, a fonte da qual todas as obras fluxo, uma obra que é, em sentido geral, boa em si mesma, pode, no entanto, ser uma ‘abominação aos olhos de Deus’. De fato, este primeiro princípio de toda piedade é totalmente desconhecido para Pighius: ‘que não há nada tão puro que a impureza do homem não desfiladeiro’. Não é de admirar, portanto, que nosso oponente, olhando para as obras de Saul, enquanto vestindo sua máscara externa, elogia sua inocência e virtudes. Quando Pighius afirma que Saul em um caso agradou a Deus, eu concedo isso, e faço deste caso uma exceção minha observação geral. Deus, de fato, o honrou tanto em seu ofício como rei, que a casa de Israel, como encontramos nas Escrituras, nunca o censurou, como também testifica Ezequiel. Então Judas foi escolhido para o ofício apostólico. Será que Pighius concluirá que Judas foi, portanto, contados entre os filhos de Deus? Mas meu oponente calunia todo meu testemunho de tudo isso, fazendo-me falar o tempo todo das ações isoladas da vida consideradas abstratamente; ao passo que estou falando do curso e do teor contínuos da vida”(Ibidem)

“Mas por que tipo de argumentos esse leviano estúpido tentará nos persuadir de que somos tão inexperientes nas Escrituras como ainda não saber que Saul, que era realmente um réprobo, ainda foi escolhido ou eleito para ser rei? E que Judas, que era um dos doze, a quem Cristo declara que Ele mesmo havia escolhido, foi chamado por Cristo de diabo? Por que não este sujeito vaidoso aponta algumas passagens da Escritura como tendo sido malignas e impiedosamente apresentado por nós em apoio ao nosso testemunho, o que tornará nossos erros manifesto?”(Ibidem)

“Mas, embora o caso seja assim, de forma alguma altera a fato de que os réprobos estão misturados com os eleitos no mundo”(Ibidem)

“Quando, porém, Cristo ordena a Seus discípulos: ‘Regozijai-vos porque os seus nomes foram escritos no céu’, Ele fala disso como um eterna bênção, da qual eles nunca devem ser privados. Numa palavra, Cristo une e harmoniza ambos os significados, a respeito dos nomes escritos no livro da vida, quando Ele diz: 'Toda planta que Meu Pai Celestial não plantou será arrancada'. Pelo qual Ele claramente sugere que os réprobos também às vezes criam raízes, na aparência, e ainda não são plantados pela mão de Deus”(Ibidem).

“Minha resposta é que a exortação do profeta [Ezequiel] é dirigida tanto aos eleitos como aos réprobos – aos primeiros, aqueles dentre eles que, por algum tempo, sacudiram o jugo e desenfreadamente fora do caminho, poderiam, sendo assim avisados, retornar a uma mente sã; aos últimos, que deitados estupefatos em suas iniqüidades, eles poderiam, por tais apelos penetrantes, serem incitados em uma sensação de sua condição terrível”(Ibidem)

“Nós, no entanto, nunca representamos os réprobos como sendo deixados destituídos do Espírito de Deus, em Seus apelos às suas consciências resistentes, a ponto de imputar a culpa de suas iniqüidades a Deus.”(Ibidem)

“Pois a doutrina e a pregação do Evangelho pertencem a todos os homens e são para o benefício de todos homens; e para esses fins eles são confiados a nós, para serem declarados abertamente por nós, mesmo até os réprobos, que por sua obstinação deplorável, bloquearão nosso caminho e fecharão a porta”(Ibidem)

“Como fica o caso, então, com o réprobo Judas, de quem Cristo declara que ele não era um dos eleitos, mas ‘tinha um demônio’, embora tivesse ouvido as palavras de seu Divino Mestre e desfrutado de Sua comunhão doméstica? Mas Cristo imediatamente e distintamente acrescenta: ‘Não falo de todos vocês: eu sei quem escolhi’[Jo 13:18]”(Ibidem)

“Por, em primeiro lugar, o apóstolo Paulo ensina claramente que a geração de Abraão consistiu, tanto de indivíduos eleitos como réprobos, misturados ocasionalmente”(Ibidem)

(5)A Confissão de Fé Escocesa[1560], diz:

“Por meio desta santíssima fraternidade, tudo o que perdemos em Adão nos é de novo restituído, e por isso não tememos chamar a Deus nosso Pai, não tanto por nos ter ele criado - o que temos em comum com os próprios réprobos – como por nos ter dado o seu Filho unigênito para ser nosso irmão, e por nos ter concedido graça para reconhecê-lo e abraçá-lo como nosso único Mediador, como ficou dito acima”(VIII, ‘Eleição’)

“Reconhecemos e confessamos que o joio pode ser semeado com o bom trigo, e joio e palha crescem em grande abundância no trigal, isto é, que réprobos podem unir-se às congregações dos escolhidos e comungar com eles nos benefícios externos da Palavra e dos sacramentos. Mas, como eles só confessam a Deus por um pouco com seus lábios e não com seus corações, desviam-se e não continuam até o fim. Portanto, não participam dos frutos da morte, ressurreição e ascensão de Cristo”(Ibidem, XXV)

(6)A Confissão de Fé Belga[1560], diz:

"O ímpio recebe, sim, o sacramento, para sua condenação, mas não a verdade do sacramento, como Judas e Simão, o Mago: ambos receberam o sacramento, mas não a Cristo que por este é figurado. Porque somente os crentes participam dEle"(XXXV)

(7)A Confissão de Fé Católica Húngara[1562], diz:

“Porque Deus, como um juiz, executa os castigos com eficácia; Ele realiza Seu ofício em dar a recompensa ou o salário do pecado, não permissivamente, mas em verdade por decretando e executando [Seu decreto] (Ex 7:8; Dt 2; Sl 10; Jr 50]. No endurecimento e entregando os homens a uma mente reprovada, Ele efetivamente pune pecados por pecados, paga o salário de se desviar do caminho [portanto, Ele realmente faz o que diz em Rm 1; 2 Ts 2; Ef 2; 2 Cr 17; 1 Re 17:22]”(‘Sobre Endurecimento, Cegueira; Como se diz que Deus engana e pune o pecado com pecado’).

“Pela fé, os eleitos se revestem de Cristo nos sinais ou sacramentos ou na própria coisa, na aplicação em si espiritualmente na promessa. Os réprobos, não tendo fé, o revestiram apenas externamente no sacramento, ou seja, eles recebem os sinais”(Ibidem, ‘A Diferença entre os Sacramentos’).

“O corpo de Cristo só pode ser recebido por fé, e os ímpios não têm fé. Os Pais também ensinam que os réprobos recebem apenas sacramento, sem o objeto (realidade) do sacramento, ou seja, sem o corpo e a nova aliança”(Ibidem)

(8)A Confissão de Fé de Tarcal[1562] e de Torda[1563], diz:

“Como, eu digo, alguns sustentam contra tal monstros que a fé e o Espírito Santo estão ausentes pelo pecado, ou deve ser entendido referir-se àquele grau de fé que até mesmo os réprobos podem alcançar [ao qual não apenas aqueles dentro da igreja podem alcançar, mas também pode experimentar as boas dádivas de Deus, mas nunca digerir ou verdadeiramente participar deles, porque isso é um privilégio dos eleitos]; ou devemos considerar que, como diz respeito aos seus efeitos e frutos, por um tempo a fé é de alguma forma abandonada, mas que sua semente e embriões permanecem, que crescerão com o tempo]1 Jo 2:29; Mt 13:30; Jo 15:2; At 8:13; Hb 6:4–5; Rm 8]”(Parte IV[Sobre o Espírito Santo] XX)

(9)A Segunda Confissão Helvética[1566], diz:

“No entanto, como não julgamos o valor dos sacramentos pela dignidade ou indignidade dos ministros, assim também não os avaliamos pela condição daqueles que os recebem. Pois, sabemos que o valor dos sacramentos depende da fé e da veracidade e exclusiva bondade de Deus. Assim como a Palavra de Deus permanece a verdadeira Palavra de Deus que, em sendo pregada, não são meras palavras repetidas, mas ao mesmo tempo, as coisas significadas ou anunciadas em palavras são oferecidas por Deus, embora os ímpios e incrédulos as ouçam e compreendam, contudo não aproveitam as coisas significadas, porque não as recebem pela verdadeira fé, assim os sacramentos, que pela Palavra consistem de sinais e de coisas significadas, continuam sendo sacramentos verdadeiros e invioláveis, significando não somente coisas sagradas mas, pelo oferecimento de Deus, as próprias coisas significadas, embora os incrédulos não percebam as coisas oferecidas. Neste caso, a culpa não é de Deus que as dá e as oferece, mas dos homens que as recebem sem fé e de modo ilegítimo, cuja incredulidade, porém, não invalida a fidelidade de Deus[Rm 3:3]”(XIX).

(10)O Consenso de Bremen[1595], diz:

"Do mesmo caráter é a opinião daqueles que alegam que somente em razão de um evento futuro os eleitos são ditos tais, tendo Deus visto que eles seriam melhores que os outros, como quando se fala de prata, ouro ou algum outro objeto. como escolha porque é bastante puro e puro (Georg Muller, sermão em Wittenberg). Ou de fato que com Deus não há eleição particular ou especial. E afinal, no que diz respeito aos homens, se eles acreditarem e se apropriarem de uma graça comum de Deus, pode-se dizer que a distinção entre crentes e incrédulos poderia ser chamada de eleição particular ou especial; e que muitos que dessa maneira podem ser considerados eleitos caem na incredulidade e em outros pecados pelos quais serão eternamente condenados e perdidos. E que, por esta razão, não há com Deus número certo de eleitos, mas, depois que alguém crê ou não crê e persevera na fé ou não persevera, está assim com Deus entre o número dos eleitos ou cai de volta desse número"('Predestinação Eterna ou Ordenação dos Eleitos e Reprovados', VII)

(11)A Confissão de Fé de La Rochelle[1571], diz:

“No entanto, não negamos que entre os fiéis haja hipócritas e réprobos, cuja maldade não pode, no entanto, privar a igreja de sua título legítimo”(V. ‘A Igreja: Sua Natureza’, 27)

(12)Os Canones de Dort[1618-1619], dizem:

Muitos são chamados através do ministério do Evangelho mas não vêm nem são convertidos. Não é a culpa do Evangelho, nem do Cristo que é oferecido pelo Evangelho, nem de Deus que chama através do Evangelho e inclusive confere vários dons a eles. Mas é sua própria culpa. Alguns deles não aceitam a Palavra da vida por descuido. Outros de fato a recebem, mas não em seus corações, e por isso, quando desaparece a alegria de sua fé temporária, viram as costas à Palavra. Ainda outros sufocam a semente da Palavra com os espinhos dos cuidados e prazeres deste mundo, e não produzem nenhum fruto. Isto é o que o Salvador ensina na parábola do semeador[Mt 13]”(III-IV, 9)

(13)A Confissão de Fé de Westminster[1643-1649], diz:

"Ainda que os ignorantes e os ímpios recebam os elementos visíveis deste sacramento, não recebem a coisa por eles significada, mas, pela sua indigna participação, tornam-se réus do corpo e do sangue do Senhor para a sua própria condenação; portanto eles como são indignos de gozar comunhão com o Senhor, são também indignos da sua mesa, e não podem, sem grande pecado contra Cristo, participar destes santos mistérios nem a eles ser admitidos, enquanto permanecerem nesse estado"(29:4).

(14)O Catecismo Maior de Westminster[1647], registra:

"P.60. Poderão ser salvos por viver segundo a luz da natureza aqueles que nunca ouviram o Evangelho e por conseguinte não conhecem a Jesus Cristo, nem nEle crêem? R. Aqueles que nunca ouviram o Evangelho e não conhecem a Jesus Cristo, nem nEle crêem, não poderão se salvar, por mais diligentes que sejam em conformar as suas vidas à luz da natureza, ou às leis da religião que professam; nem há salvação em nenhum outro, senão em Cristo, que é o único Salvador do seu corpo, a Igreja".

(15)A Declaração de Fé e Ordem de Savoy(1658), diz:

"Esta fé, embora de diferentes graus, podendo ser fraca ou forte, é, [como também toda e qualquer graça salvífica] por menor que seja, de uma qualidade ou natureza diferente da fé e graça comum de crentes temporários"(14:3)

(16)A Formula Consensus Helvética[1675], diz:

“Portanto, pela vontade de Deus, somente os eleitos acreditam no chamado externo que é oferecido universalmente, enquanto o réprobos são endurecidos”(XVIII)

(17)A Confissão de Fé Batista de 1677, diz:

"Esta fé, embora seja diferente em graus, e pode ser fraca ou forte [Hb 5:13–14; Mt 6:30; Rm 4:19-20], ainda que seja no menor grau diferente no tipo ou natureza dela, como todas as outras graça salvadora, da fé e graça comum[2 Pe 1:1]; e, portanto, embora possa ser muitas vezes assaltado e enfraquecido, ainda assim obtém a vitória[Ef 6:16; 1 Jo 5:4-5], crescendo em muitos para alcançar um plena certeza por meio de Cristo [Hb 6:11-12; Cl 2:2], que é tanto o Autor como o Consumador da nossa fé [Hb 12:2]"(13:3)

(18)A Confissão de Fé Batista de 1689, diz:

"Esta fé pode ter graduações diferentes, ser mais forte ou mais fraca. No entanto, assim como as demais graças salvadoras, e mesmo se for pequeníssima, ela é de um tipo e de uma natureza diferentes daquela fé e graça comum que os seguidores professos possuem. Por isso, mesmo que seja muitas vezes atacada e enfraquecida, a fé salvadora sempre alcança a vitória. Ela existe em muitas pessoas, crescendo para a plena certeza da esperança, mediante Cristo, que é o autor e também o consumador da nossa fé"(14:3).

(IV)Outras considerações

Ninguém fez mais para desenvolver a doutrina da graça comum do que o teólogo reformado holandês Abraham Kuyper[1837-1920]. A maior conquista de Kuyper ao articular a doutrina foi sua obra de três volumes de sua obra "De Gemeene Gratie'.

Kuyper, esquecendo que algumas confissões reformadas enfatizaram esse ensino, lamenta “o triste fato de que a 'graça comum', depois de ter sido tão definitivamente confessada por Calvino... no entanto, tanto nas confissões reformadas quanto na dogmática reformada é praticamente negligenciada[depois de Calvino]”(Raymond C. Van Leeuwen, “Introdução do Tradutor”. Esta introdução é um prefácio à tradução de Van Leeuwen do discurso reitoral de Bavinck. A tradução aparece sob o título “Graça Comum”, Calvin Theological Journal, Volume. XXIV, 01/01/1989,. p. 35) Herman Bavinck [1854-1921] foi amigo e colaborador de Kuyper, bem como seu sucessor como professor de teologia na Universidade Livre de Amsterdã. Bavinck era um defensor tão zeloso da doutrina da "Graça Comum" quanto seu colega.

Bavinck traçou as raízes da graça comum ao reformador de Genebra. Ele era da opinião de que a doutrina da "graça comum", que não encontrava lugar no sistema católico romano, “foi descoberta na Reforma, notadamente por Calvino”(Raymond C. Van Leeuwen, 'Introdução do Tradutor'. Esta introdução é um prefácio à tradução de Van Leeuwen do discurso reitoral de Bavinck. A tradução aparece sob o título “Graça Comum”, Calvin Theological Journal, Volume 24, 01/01/1989, p.35)

(V)E diversas outras autoridades do mundo reformado[Séculos XVI-XXI], deram opinião favorável a doutrina da 'graça comum', como se segue

(1)William Perkins[1558-1602], Ministro Congregacional, diz:

“E isso para a eficácia e grandeza da morte de Cristo: Agora, quanto à graça: digo que isso é diversamente distinto. Em primeiro lugar, é restringindo ou renovando. A graça restritiva é aquela pela qual a corrupção inata do coração não é totalmente diminuída e removida, mas em alguns mais contida, em alguns menos, que não irrompe violentamente em ação: e é dada apenas como testemunho para o homem, e para preservar a sociedade: e porque este tipo de graça é geral, isto é, pertence a todo e qualquer homem, entre os quais alguns excedem outros nos dons das virtudes civis: e não há homem, em quem Deus não mais ou menos restringir sua corrupção natural. Agora, a graça renovadora ou cristã (como os escritores antigos costumam chamá-la) é aquela pela qual um homem tem poder dado para crer e se arrepender, tanto em relação à vontade quanto ao poder: e é universal em relação aos que crêem.

Em segundo lugar, a graça ou é natural ou sobrenatural: como o próprio Agostinho ensina. A graça natural é aquela que é concedida ao homem junto com a natureza: e esta é da natureza perfeita ou corrupta. Perfeito, como a imagem de Deus, ou justiça concedida a Adão em sua criação. Esta graça pertence geralmente a todos porque todos nós estávamos em Adão: e quem quer que ele tenha recebido o que foi bom, ele o recebeu tanto para si quanto para sua posteridade. A graça na natureza corrompida é uma iluminação natural (da qual João fala: ‘Ele ilumina todo homem que vem ao mundo'[Jo 1:9]), sim e todo dom natural. E esses dons verdadeiramente por aquela ordem que Deus fez na natureza, são devidos e pertencentes à natureza. Mas aquela Graça que é sobrenatural, não é devida à natureza, especialmente à natureza corrompida, mas é concedida por graça especial e, portanto, é especial. Isso os escritores antigos afirmam. Agostinho diz: 'A natureza é comum a todos, mas não a graça', e ele reconhece uma dupla graça: a saber, aquela graça comum da natureza, pela qual nos tornamos homens; e a graça cristã, pela qual em Cristo nascemos de novo homens”(‘Um Tratado Cristão e Simples da Maneira e Ordem da Predestinação, e das Grandezas da Graça de Deus’).

(2)Henry Finch[+ 1625 d.C], Ministro Anglicano, diz:

"As graças comuns são dons ou um gosto da doçura1 de Cristo. Dons são conhecimentos ou faculdades. Conhecimento é o entendimento da palavra de Deus[1 Tm 3:15] necessário em certa medida para todo professor [Jo 1:18]. As graças comuns são Dons ou um gosto da doçura1 de Cristo. Dons são conhecimentos ou faculdades. Conhecimento é o entendimento da palavra de Deus [1. Tim. 3:15.] necessário em certa medida para todo professor[Jo 1:18]"('A Sagrada Doutrina da Divindade, Recolhida da Palavra de Deus')

(3)William Sclater[1575-1626], Ministro Anglicano, diz:

"Essa regra imperfeita de vida concedida aos gentios é comumente chamada de lei da natureza. Não por isso nasce conosco, ou se propaga de Adão; que não apenas enfraqueceu, mas até mesmo perdeu totalmente a imagem de Deus, uma parte principal da qual consistia no conhecimento, Col. 2, mas porque esse conhecimento é concedido a todos por uma influência geral da graça de Deus, que é de fato tão comum quanto a natureza: e, portanto, chamado de lei da natureza"('Uma Chave para a Chave das Escrituras, ou Uma Exposição com Notas sobre a Epístola aos Romanos').

(4)Johannes Wollebius [1586-1629], teólogo reformado, diz:

Embora as paixões dos réprobos sejam restringidas por Deus com um freio, eles não são curados”(Johannes Wollebius [1586-1629] , Teólogo Reformado, ‘Compêndio de Teologia Cristã’).

(5)Thomas Taylor (1576–1632), Ministro Anglicano, diz:

“Em uma palavra, enquanto todas as outras coisas são comuns a todos, os Céus, a Terra, as Criaturas, sim o ministério da Palavra, Sacramentos, oração e muitas graças comuns realizadas por eles; somente este é o direito especial dos crentes, incomunicáveis com os hipócritas, de ter a Palavra de Deus eternamente fixada em seus corações”(Thomas Taylor (1576–1632), Ministro Anglicano, ‘A Parábola da Semente e do Semeador’)

(6)John Davenant[1572-1641],Teólogo Anglicano, diz:

“Nenhum lado afirma um decreto absoluto pela força do qual pessoas não eleitas são rejeitadas da graça: pois os anjos não eleitos e muitos milhões de homens não predestinados tiveram uma grande medida de graça concedida a eles. A reprovação não é uma negação da graça suficiente, mas uma negação da graça especial, como Deus sabe que infalivelmente os levaria à glória”(‘O Amor de Deus pela humanidade’)

(7)Thomas Shepard[1605-1649], Teólogo Anglicano e Puritano, diz:

"O Senhor envia o Espírito em graças comuns, e o mundo não recebe isso também em dons proféticos e miraculosos, e não recebe isso; mas este Espírito que Deus derrama sobre o sedento, este Espírito com o qual Deus enche o vazio, eles não podem receber isto. Oh, que você deve recebê-lo, quando como eles não sabem disso”('A Parábola das Dez Virgens Aberta e Aplicada'[Sermão sobre Mt 25:1-14])

(8)James Durham[1622-1658], teólogo convenanter, disse:

“Doutrina Dois. Podemos considerar os sofrimentos e a morte de Cristo nos frutos dele, seja no que diz respeito a graças comuns, e misericórdias, dons comuns e meios de graça, que não são especiais e salvíficos, mas comuns aos crentes com outros, sendo concedidos a professos na Igreja visível; ou como são peculiares e salvadores, como fé, justificação, adoção, etc. Agora, quando dizemos que os sofrimentos e a morte de Cristo são um preço pelos pecados de seu povo, não excluímos os réprobos simplesmente de favores e misericórdias temporais e comuns que vêm por sua morte; eles podem ter, e realmente têm, dons e obras comuns do Espírito, os meios da graça, que são, de certa forma, efeitos e frutos da mesma aliança. Mas dizemos que os réprobos não participam da misericórdia salvadora e que a morte de Cristo é uma satisfação apenas para os eleitos, e que nenhum outro obtém perdão do pecado, fé, arrependimento etc. por ela, mas somente eles; não se destinava a nenhum outro. E isso nós esclarecemos e confirmamos a partir desses fundamentos e argumentos a seguir, aos quais vamos sugerir em breve”('Cristo Crucificado': 'A Medula do Evangelho', em 72 Sermões sobre Isaías 53 [Dallas, TX: Naphtali Press, 2001], pp.343-344)

(9)Robert Harris(1581-1658), um dos autores da Confissão de Fé de Westminster[1643-1649], disse:

"Existem dois tipos de graça. Primeiro, graças comuns, que até os réprobos podem ter. Em segundo lugar, especais, como acompanhando a salvação, como o apóstolo diz, próprias apenas aos próprios filhos de Deus. A questão não é se temos o primeiro tipo de graça, pois essa não sela o amor especial de Deus à alma de um homem, mas deve ser somente a graça salvadora que pode fazer isso por nós"('19º Sermão' [sobre Mt 5:9]; The Works of Robert Harris [Londres: Impresso por R.Y. para J. Bartlet em Cheape-side in the Gold-smiths-row at the signe of Gilt-Cup, 1635], p.421).

(10)George Swinnock (1627-1673), Ministro Congregaciional, diz:

“Como Abraão deu presentes aos filhos de suas concubinas, e os despediu, mas ele deu tudo o que tinha a Isaque, assim Deus dá graças comuns de riquezas, ou amigos, ou fé, a homens ímpios, que é tudo o que eles desejam, e os manda embora, e eles ficam bem contentes; mas ele dá graça, glória, seu Espírito, seu Filho, ele mesmo, tudo o que ele tem, para seus Isaacs, para os filhos da promessa[Gn 25:5-6]. Ele dá a terra nas mãos dos ímpios[Jó 9:24]; toda a sua porção jaz em pó, lixo e madeira; tudo o que valem são algumas espigas de milho, que recolhem aqui e ali no campo deste mundo. Mas ele dá o céu aos corações dos piedosos; sua porção consiste em ouro, prata e diamantes, o tesouro peculiar dos reis, no amor de Deus, no sangue de Cristo e nos prazeres à sua mão direita para sempre. Outros, como escravos, têm um pouco de carne, bebida e salário; mas os santos, como filhos, são congregação dos primogênitos, e têm a herança. Oh, a grande diferença entre a porção do pródigo e do piedoso! O primeiro tem algo dado a ele por Deus, como Penina teve por Elcana, embora finalmente pareça ser pouco melhor do que nada, quando ele dá ao último, como Elcana deu a Ana, uma porção boa e digna, porque ele os ama[1 Sm 1:4:5]”('O Desvanecimento da Carne')

"Um homem pode ter habilidades naturais escolhidas, raras realizações adquiridas, sim, dons comuns do Espírito de Deus, e ainda assim, por falta dessa piedade prática, ser condenado. Que palavras amáveis saem da boca de bálsamo! Ele fala como um santo, sim, como um anjo. Quantas vezes ouvi suas profecias com grande admiração e afeto! Sua língua derreteu meu coração, e ainda assim ele não fez boas obras, apesar de todas as suas muitas palavras boas; e sua falta de piedade prática o arruinou. Que dons especiais tinham aqueles que pregaram em nome de Cristo, e em seu nome expulsaram demônios, e em seu nome fizeram muitas obras maravilhosas, e ainda foram lançados aos demônios por serem obreiros da iniqüidade, como os que são vazios desta piedade prática[Mt 7:21-23]"(Ibidem, 'A Última Sentença do Pecador').

(11)John Corbett[1620-1680], Ministro Congregacional, disse:

“Pois há uma graça comum, não apenas como dada em maior grau aos eleitos, mas como dada a todos os homens. E há uma graça especial, na qual Deus livremente favorece um mais do que outro, e ainda pode estar abaixo do que é peculiar a um estado de salvação”(‘Um esforço humilde de alguma explicação clara e breve dos decretos e operações de Deus, sobre as ações livres dos homens: mais especialmente das operações da graça divina’).

(12)Samuel Clarke[1599-1682], teólogo congregacional reformado, diz:

“Os réprobos têm esta vantagem por Cristo, que desfrutam de todas as misericórdias que possuem. Pois todos sendo perdidos pelo pecado de Adão, por Cristo (que é o herdeiro de todas as coisas) eles vêm legalmente para desfrutar das misericórdias que têm. Pois é Cristo que sustenta o mundo. De fato, eles não têm um uso santificado do que desfrutam; pois para o impuro todas as coisas são impuras[Tt 1:15], mas fora isso eles têm um direito legal diante de Deus e do homem para o que eles desfrutam,[Sl 115:8]. É pela morte de Cristo que muitos ímpios são participantes dos dons comuns do Espírito de Deus. É o Espírito de Cristo que dá vários dons aos homens[1 Co 14]. Cristo é a videira, e assim não apenas as uvas, mas também as folhas vêm de sua seiva e suco”('Medula da Teologia': 'Ou a Medula da Divindade'[Londres: Impresso por Thomas Ratcliff, Thomas Underhill, do Blue Anchor and Bible in Pauls Church -Yard, 1659], p.284)

(13)John Owen[1616-1683], Teólogo Congregacional e Puritano, disse:

“(i) E isso é mais uma prova de que esse hábito ou princípio gracioso de santidade é especificamente distinto de todos os outros hábitos da mente, sejam intelectuais ou morais, conatos ou adquiridos, como também de toda essa graça comum e os efeitos dela. quaisquer pessoas não realmente santificadas podem se tornar participantes. (ii) Tudo o que ensinamos antes sobre a purificação de nossas mentes e consciências pelo sangue de Cristo é peculiar à santidade do evangelho e a distingue essencialmente de toda graça comum ou virtudes morais. E eles apenas enganam a si mesmos que descansam em uma multidão de deveres, podem ser animados com muito zelo e iniciados com uma profissão da mais rígida mortificação, cujos corações e consciências não são assim purgados pelo sangue de Cristo.(iii) Todas as ações graciosas de nossas mentes e almas, sejam internas apenas, em fé, amor ou deleite, ou se elas se destinam a deveres externos exigidos no evangelho, sendo operadas em nós pela eficácia imediata do Espírito da graça, diferem em sua espécie, em sua essência e substância dos próprios atos, de tudo o que não é tão forjado ou efetuado em nós; pois tudo o que pode ser feito por qualquer pessoa, em qualquer ato de graça comum ou no cumprimento de qualquer dever de obediência, sendo deduzido do poder das faculdades naturais dos homens, excitado por convicções, conforme dirigido e imposto por razões e exortações, ou auxiliado por auxílios comuns, de qualquer natureza, são naturais quanto à sua espécie, e não têm outra substância ou ser senão o que é”(‘Uma Exposição do Arminianismo’).

(14)William Jenkyn[1613–1685], Ministro Presbiteriano, disse:

“Agora, esses efeitos da misericórdia são comuns ou especiais. Comum, como são concedidos a todos os homens e criaturas[Sl 147:9; Lc 5:36, etc]. Especial, concedido aos eleitos, que são os vasos da misericórdia, e que só têm os efeitos internos da misericórdia, prevenindo e seguindo a graça; o exterior, justificando e glorificando a misericórdia concedida a eles”(‘Uma Exposição a Epístola de Judas’)

(15)Richard Baxter[1615–1691], teólogo congregacional reformado e puritano, diz:

“Arminiano: “Mas a morte de Cristo efetuou algo para eles; a saber, a nova aliança e a graça comum, embora não afete sua salvação.

Baxter: Quem nega isso? Não o Sínodo de Dort”('Teologia Católica'[Londres: Impresso por Robert White, Nevill Simmons a the Princes Arms in St. Pauls Church-yard, 1675], Volume 2, p. 55)

(16)Edward Polhill[1622-1694], Ministro Puritano, disse:

“Quando, portanto, é dito que eles resistiram ao Espírito Santo, o significado não é que eles resistiram a ele quanto às suas operações internas, mas que resistiram a ele quanto ao ministério externo. Isso aparece pelo contexto, pois eles resistiram a ele como seus pais fizeram[v. 51], e como foi isso? O próximo versículo nos diz: ‘qual dos profetas não perseguiram vossos pais’[v. 52]? Sua resistência do Espírito foi em perseguição aos profetas. Mas você dirá: ‘eles também não poderiam resistir a ele quanto às suas operações internas?’. Eu respondo: tanto não aparece no texto; mas, no entanto, as operações internas do Espírito são duplas; algumas são para a produção de graças comuns, alguns para a produção de graças salvadoras, como o novo coração e novo espírito. Agora, se o Espírito Santo pode ser resistido quanto às primeiras operações, ainda assim não pode quanto às últimas; pois neles tira o coração de pedra, o princípio resistente, e dá um coração de carne capaz de impressões divinas"(‘Uma Visão de Algumas Verdades Divinas’)

(17)Thomas Beverley[1621-1702], teólogo congregacional, diz:

“Os fins de Deus constituir este homem como uma cabeça comum, mesmo seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, são: [1]. Para que ele possa ter na natureza humana uma adoção de muitos filhos para glória neste grande Filho de Deus e Filho do Homem[Hb 2:10]. [2]Há uma redundância de benefício, graça comum, outras vantagens sobre todas as partes da natureza humana em preservar tanto dos restos de conformidade com a Lei da Justiça no mundo, que apenas condenaria como no inferno, e não guiaria qualquer coisa boa, mas transformar o mundo em um inferno, se não fosse por Cristo, em quem também muita paciência e generosidade é concedida aos homens em bênçãos externas, tentando seu retorno a Deus pelo arrependimento[Rm 2:4; 2 Pe 3:9] na esperança de sua misericórdia, à qual essa paciência e generosidade dão tão grandes encorajamentos”('Uma Breve Visão do Estado da Humanidade no Primeiro Adão e no Segundo Adão'[Londres: s.n., 1690]), pp.38-40])

(18)(William Burkitt(1650-1703), ministro anglicano, disse:

“Aqui nosso santo Senhor descobre a triste e deplorável condição de tais mestres, que, fingindo relação com Cristo, ainda não lhe dão frutos; ele chama ali galhos murchos, aptos apenas para o fogo. Aprenda, portanto, que aqueles que têm uma longa permanência na vinha de Deus e se contentam com uma profissão murcha, correm grande perigo de ter a explosão de Deus adicionada à sua esterilidade. Todas as suas partes, dons e graças comuns murcharão, e suas belas flores de profissão cairão, e no grande dia os anjos reunirão esses ramos infrutíferos e os lançarão no fogo do inferno”(Com. de João 15:6)

(19)Willemus Brakel[1635-1711], teólogo reformado holandês, disse:

A graça é comum ou especial. Deus concede graça comum a todos os homens, concedendo-lhes benefícios temporais. ‘No entanto, ele não se deixou sem testemunho, fazendo o bem e nos dando chuva do céu’[At 14:17]. A esta graça também pertence todo o bem que Deus concede a todos os que são chamados, dando-lhes a Palavra – o meio para arrependimento e salvação. ‘Porque a graça de Deus, que traz salvação, se manifestou a todos os homens’[Tt 2:11]. Além disso, Deus geralmente dá iluminação, fé histórica, convicções e persuasões internas para quase se tornar um cristão[Hb 6:4-6]"(‘O Serviço Razoável do Cristão’).

(20)Robert Traill[1642-1716], ministro prsbiteriano, diz:

". A graça é considerada como é nos vasos que a recebem, nos homens que dela participam. E aqui será necessário distinguir. A graça de Deus, conforme recebida, está sob uma distinção muito notável de graça comum e graça salvadora, ou especial. Um pouco foi sugerido da mesma distinção, entre misericórdia salvadora comum e especial. Mas desta distinção, quanto à graça recebida, eu falaria mais detalhadamente... Primeiro, a graça comum é assim chamada, não porque seja comum e usual (pois em tempos ruins é bastante rara), mas porque não é salvadora. É mais provável que, em tempos tão felizes (dos quais não podemos agora nos orgulhar, mas apenas esperar), quando a graça salvadora é concedida a muitos, a graça comum também é dispensada com mais frequência. Que existe uma graça comum, é tão certo, como é que existe uma criatura [se assim posso chamá-la] como um hipócrita na igreja, ou no mundo. Pois um hipócrita nada mais é do que um pecador não renovado, pintado com uma graça mais ou menos comum. E para os homens que vêem apenas o lado de fora dos outros, ele pode parecer um verdadeiro cristão.... Há uma graça esclarecedora comum, uma iluminação comum[Hb 6:4. e 10:26]. O apóstolo supõe que há uma iluminação e um conhecimento da verdade que pode estar onde uma apostasia fatal pode seguir. O Senhor pode dar a luz de sua palavra; e, dentro e por essa luz, pode lançar-se em alguns raios claros da verdade do evangelho sobre aqueles que não são levados adiante.... Existe uma graça despertadora comum. O Senhor às vezes alarma a consciência dos ímpios e pode suscitar um grande senso de pecado em quem nunca é perdoado... A graça do despertar é apenas a graça comum. A lei fere muitas consciências que o evangelho não cura, porque não é aplicada. ... Há uma graça restritiva comum; um ato da graça e sabedoria de Deus, que ele frequentemente apresenta ao governar este mundo perverso. Com que rapidez esta terra se tornaria um inferno, não fosse por essa graça restritiva? ... A graça comum nunca altera o estado da pessoa de um homem, mas o deixa onde o encontrou. Isso nunca o tira, nem pode tirá-lo do antigo estoque de Adão caído; ele ainda jaz naquele poço; e nunca é por isso traduzido em Cristo e enxertado nele, como uma nova cabeça. Mas a graça salvadora, quando vem, faz tudo, Ef. ii. 4,-18"(The Works of the Late Reverend Robert Traill, Volume 1, p.150)

(21)Benedict Pictet[1655-1724], teólogo Reformado. diz:

"Devemos também examinar, como proposto, a diferença entre fé temporária e verdadeira. Ora, não é a duração que sempre os distingue; pois aqueles que têm o primeiro muitas vezes morrem nesta fé, que ainda não os salva e, portanto, em relação a essas pessoas, a fé não pode ser estritamente dita ‘por um tempo’. A primeira diferença consiste em sua origem; De fato, pode-se dizer que Deus produz ambos; mas a verdadeira fé procede da eleição e, portanto, é chamada de ‘a fé dos eleitos de Deus’; ao passo que a fé temporária depende da graça comum, que concede algumas bênçãos espirituais até mesmo aos não eleitos"('Teologia Cristã').

(22)Edmund Calamy[1671-1732], ministro congregacional, diz:

"A Escritura parece clara quanto a ambos; e onde está a inconsistência? Por que devemos negar a graça geral para exaltar o que é especial? Ou negar e deprimir a graça especial, para avançar a que é geral? A honra da graça e misericórdia especiais de Deus não é suficientemente assegurada pelo nosso reconhecimento de que é isso que leva qualquer um da raça caída de Adão a querer e correr, e assim faz a diferença entre eles e o resto do mundo, que vive e morrer em sua incredulidade e impenitência? e isso não é muito consistente com o fato de que Deus amou tanto o mundo em geral; como que 'deu seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna'? E, por outro lado, a graça geral não é suficientemente assegurada por mantermos o amor de Deus pelo mundo e por desejar a salvação de todos os homens, com a condição de que eles se voltem para ele? E isso não é consistente com o fato de que uma excitação divina especial sozinha pode levar qualquer um que esteja em estado de corrupção a querer e seguir os caminhos de Deus? E que ele tira o coração de pedra e dá um coração de carne a todos que se tornam seu verdadeiro povo? E por que, então, deveríamos lançar essas verdades umas contra as outras que são bastante consistentes e concordam bem entre si? Tomemos cuidado com os extremos: e fiquemos atentos, pelo menos por medo de um erro, cairemos em outro”('Graça Divina Exalatada, ou Livre Graça e Sua Glória')

(23)Experience Mayhew (1673–1758), ministro anglicano, diz:

"Eu constantemente sustento que há uma diferença específica entre a graça comum e aquela que é especial; mas não tenho razão para opor-me a ambas, como os contrários se opõem. Quer por graça comum pretendamos aquelas influências graciosas do Espírito Santo de Deus, com as quais os não regenerados às vezes são favorecidos, ou os bons efeitos produzidos neles por essas operações graciosas, não estou, de minha parte, disposto a permitir que sejam pecado"('Graca defendida em um apelo por uma verdade importante; Ou seja, que a oferta de salvação feita aos pecadores no Evangelho compreende nele uma Oferta da Graça dada na Regeneração')

(24)Samuel Davies[1723-1761], ministro presbiteriano, diz:

"Não pode Deus tirar com justiça sua graça comum e negar assistência futura a um pecador obstinado, que abusou dela, como privá-lo de saúde ou vida?"('A culpa e a condenação dos ouvintes impenitentes').

(25)Herman Venema(1697-1787), ministro presbiteriano, diz:

"A Predestinação Especial, ou a parte especial do decreto de predestinação, para a qual devemos agora dirigir nossa atenção, consideramos inseparavelmente ligada ao decreto geral. Por este decreto especial entendemos a livre, imutável e eterna determinação da vontade de Deus de dar a alguns daqueles a quem a oferta de misericórdia deveria ser feita aquela graça peculiar e eficaz que está ligada à fé e à salvação, e em o exercício da justiça para retê-lo dos outros por causa do abuso de sua graça comum, e por causa desse abuso, condená-los como incrédulos à destruição"(Institutas da Religião, p.314)

(26)Charles Hodge(1797-1878), teólogo presbiteriano, diz:

"Portanto, por graça comum entende-se a influência do Espírito que em maior ou menor medida é concedida a todos os que ouvem a verdade"(Teologia Sistemática, p.972)

(27)Heinrich Heppe(1820-1879), teólogo reformado, diz:

Deve-se reconhecer também que, amparado pela graça comum de Deus, o homem caído é capaz de produzir uma moralidade ordinária e de fazer o bem nas coisas externas e naturais, ou pelo menos exercitar-se nelas. Mas mesmo a bondade que o homem faz nas coisas externas, naturais e ordinárias não é verdadeiramente boa e agradável a Deus. Ele nunca o realiza inteiramente pelo motivo certo, ou seja, nunca por amor e obediência somente a Deus, Ele sempre admite a influência conjunta de sua concupiscência. Como resultado, é verdade, as boas obras naturais e ordinárias são recompensadas por Deus com benefícios temporais. Mas na verdade eles são pecaminosos e condenáveis. E nas coisas espirituais o homem não pode fazer absolutamente nada de bom, pois seu olho espiritual está velado do conhecimento de Deus que traz bênção e sua vontade só pode fazer e alcançar o que é contrário ao beneplácito de Deus"(Reformed Dogmatics,p.363)

(28)Johannes VanderKemp[1747-1811], teólogo reformado, diz:

"Finalmente, distinguimos que a providência de Deus é aquela pela qual ele mostra favor, de uma boa vontade comum a todas as suas criaturas; sim, tanto para os ímpios como para os piedosos: ‘Deus faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos’[Mt 5:45]... Porque, quando eles [os rébrobos] desfrutam de qualquer dispensação favorável da providência, eles se esquecem de Deus, eles o abandonam e lutam contra ele... Deus permite que ocorram ao pecador ocasiões que são boas em si mesmas, mas das quais o pecador abusa por sua pecaminosidade, como os sacrifícios de Abel a Caim, os sonhos de José a seus irmãos, o pedido de Moisés a Faraó, que ele deixaria ir Israel, como também a palavra de graça aos réprobos[Rm 2:4,5; 2 Co 2:15,16] (b)Deus também retém sua graça restritiva, após o que o pecador se entregar ao pecado, como 'quando o Senhor abandonou Ezequias, seu coração se exalpu'[2 Cr 23:31]"('O cristão, inteiramente propriedade de Cristo, na vida e na morte, exibido em cinquenta e três sermões sobre o catecismo de Heidelberg').

(29)John Brown[1784-1858], ministro presbiteriano, diz:

“Se Cristo não tivesse morrido, poderiam os homens, mesmo aqueles que finalmente perecerão, terem possuído neste mundo as bênçãos de vários tipos?”('Uma Exposição da Oração Intercessória de Nosso Senhor'[Edimburgo: William Oliphant and Co.,1866], 103-104)

(30)Archibald A. Hodge[1823-1886], teólogo presbiteriano, comentando o 5º capítulo da Confissão de Fé de Westminster, diz:

"Como 'graça comum', essa influência espiritual se estende a todos os homens sem exceção, ainda que em vários graus de poder, restringindo a corrupção de sua natureza e impregnando seus corações e consciências como as verdades reveladas na luz da natureza ou da revelação; e e ela é ou exercida ou judicialmente retida por Deus em seu soberano beneplácito"(Confissão de Fé de Westminster Comentada, p.144)

(31)(Robert L. Dabney[1820-1898], Ministro Presbiteriano, diz:

“Pois a obra de Cristo realmente trouxe para eles grandes benefícios temporários, que sua culpa os teria tornado indignos de desfrutar – um prolongamento da condenação justa, do bem social, material, das operações comuns do Espírito Santo e uma oferta de salvação de Deus, que é ‘sério’('Os Cinco Pontos do Calvinismo'[Virginia: Sprinkle Publications, 1992], pp. 62-63)

(32)Herman Bavinck[1854-1921], Teólogo Reformado Holandês, diz:

A graça comum é de fato subserviente à graça especial, e junto com a salvação Deus também concede aos eleitos muitas outras bênçãos naturais[Mt 6:33; Rm 8:28, 32; 1 Tm 4:8; 2 Pe 1:3]... Também como o Cristo, ele dá aos incrédulos muitos benefícios: o chamado do evangelho, a advertência ao arrependimento, a fé temporária, uma vida virtuosa, uma variedade de dons e poderes, ofícios e ministérios dentro da igreja, como, por exemplo, até mesmo o ofício de apóstolo no caso de Judas. ‘Sem Jesus Cristo o mundo não existiria, pois necessariamente ou seria destruído ou seria um inferno’[Pascal]. Mesmo pendurado na cruz, ele ainda ora por perdão pelo terrível pecado cometido pelos judeus naquele exato momento...”('Reformed Dogmatics'[Grand Rapids: Backer Academic, 2004], Volume 3, p.470)

(33)Louis Berkhof[1873-1957], teólogo reformado, diz:

"Deve-se ter em mente, porém, que a expressão gratia communis, embora designando geralmente uma graça que é comum à humanidade toda, é empregada para indicar uma graça que é comum aos eleitos e aos que vivem sob o Evangelho, que inclui bençãos com o o chamamento externo do Evangelho, que é feito igualmente a ambos os grupos, e aquela iluminação interna e aqueles dons do Espírito a respeito dos quais lemos em Hb 6:4-6"(Teologia Sistemática, p.403)

(34)Robert .C. Sproul[1939-2017], saudoso teólogo reformado, disse:

“Como um aparte, deixe-me dizer que, embora nem todos sejam salvos pela cruz, a obra de Cristo produz benefícios concretos universais ou quase universais. Através da morte de Cristo, nasceu a igreja, que levou à pregação do evangelho, e onde quer que o evangelho seja pregado, há um aumento de virtude e justiça na sociedade. Há um derramamento da influência da igreja, que traz benefícios a todos os homens. Além disso, pessoas de todo o mundo se beneficiaram do compromisso da igreja com hospitais, orfanatos, escolas e assim por diante”(‘A Verdade da Cruz’ [Orlando, Flórida: Reformation Trust, 2007], p.144)

(35)Wayne Gruden, teólogo batista, diz:

"Graça comum é a graça de Deus pela qual ele dá às pessoas inumeráveis bençãos que não fazem parte da salvação. A palavra comum aqui significa alguma coisa comum a todas as pessoas, não restrita aos crentes ou aos eleitos"(Teologia Sistemática, Atual e Exaustiva, p.549)

(36)Paulo Anglada(1954-2019), teólogo presbiteriano, disse:

"Estas duas manifestações da graça de Deus são essencialmente diferentes. A graça especial é espiritual, no sentido salvífico; a graça comum é natual [nenhuma quantidade dela pode salvar]. A graça especial é para os eleitos; a graça comum é para todos. A graça especial é uma ação sobrenatural do Espírito Santo; a graça comum é Sua ação ordinária. A graça especial é regeneradora, isto é, cria uma nova natureza no homem que se torna có-participante da natureza divina de Cristo; enquanto a graça comum não altera a natureza humana que continua depravada. A graça especial é justificadora, livra da culpa do pecado, reconciliando o homem com Deus; a graça comum não altera o estado legal do homem, que continua culpado, por maior que seja a proporção de benção que receba. A graça especial é santificadora, livra do domínio do pecado; a graça comum pode apenas restringir a influência dom pecado.

Finalmente, outra caracterísitca distintiva e essencial da graça especial de Deus é que ela é eficaz, irresistível. A graça especial é irresistivelmente aplicada, produzindo o que foi dito acima; enquanto que a graça comum jamais produzirá quaisquer desses resultados. A graça especial não se restringe à persuasão moral; ela inclui também, a operação eficaz do Espírito Santo"(Calvinismo, As Antigas Doutrinas da Graça, p.73)