terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

"Calvinismo Explicado"? - Uma Resenha

Muitos de meus leitores e amigos tem me inquirido e perguntado sobre o que eu penso sobre o livro "O Calvinismo Explicado", do Francisco Tourinho. Numa resposta a esta indagação, resolví escrever este artigo. O objetivo aqui deste artigo, é, na posição de leitor do livro, fazer uma avaliação de alguns pontos, que eu, não considero convergirem com as Escrituras, com a fé reformada e com a História. Não se trata aqui de um ataque pessoal ou ridicularização do autor, a quem respeitamos tanto como 'teólogo' e 'escritor'. É ponto pacífico que, escrevendo alguém um livro, seja objeto de questionamentos e análise, como propõe o próprio autor, ao declarar:

"E, sem parafrasear, dizemos de todo o coração a todos os leitores que todo aquele que ler estas explanações, quando tiver certeza do que afirmo, caminhe lado a lado comigo; quando duvidar como eu, investigue comigo; quando reconhecer que foi seu erro, venha ter comigo; se o erro for meu, chame a minha atenção"(O Calvinismo Explicado, 2a Edição, 2020, pp.21-22).

(1)A 'alma' do livro.

Para chegarmos a esse entendimento, há várias coisas a considerar:

(i)O titulo do livro.

Pasmem, vocês. O nome do livro é "O Calvinismo Explicado". Nos chama a atenção a afirmação de Spurgeon, dizendo que "o calvinismo é o evangelho e nada mais"(Uma Defesa do Calvinismo). Ouros escritores de linha reformada, dizem o mesmo, comos e segue:

"As doutrinas da graça (Depravação Total, Eleição Incondicional, Expiação Limitada, Graça Irresistível e Perseverança dos Santos) são o tecido e a textura do evangelho bíblico tão estimado por muitos santos ao longo dos séculos"(John Piper, Tulip, A Busca da Glória de Deus na Salvação[Minneapolis, Minn.: Bethlehem Batist Church], 2000, contra capa)

"...para mim a verdade do evangelho e a fé Reformada são sinônimos"(H. Hanko, H.C. Hoeksema e J. Van Baren; Os Cinco Pontos do Calvinismo, [Grand Rapids, Mich, Reformed Free Publishing Associantion], 1976, p.45)

"O Calvinismo é o Evangelho. Suas notáveis doutrinas são simplesmente as verdades que compõem o Evangelho"(Professor David J. Engelsma, A Defense of Calvinism as the Gospel (South Holland: The Evangelism Committee, Protestant Reformed Church). Retirado de WWW.prca.org/pamphlets/pamphlet_31.html em 11 de maio de 2004)

"O Calvinismo é o Evangelho e ensinar o Calvinismo é de fato pregar o Evangelho. É questionável se a dogmática teológica não Calvinista é realmente Cristã"(Arthur C. Custance, A Soberania da Graça[Phillipsburg, N.J.: Presbyterian and Reformed Publishing Company], 1979, p.302)

"...a Fé Reformada... sem nenhuma dúvida é o ensino da razão e da Bíblia"(Loraine Boettner, A Doutrina Reformada da Predestinação, p.3)

"...sustentamos que uma exposição completa e detalhada do sistema Cristão pode ser dada somente com base na verdade apresentada pelo sistema Calvinista"(Ibidem, p.301)

"A Bíblia revela um esquema de redenção que é Calvinista do princípio ao fim, e todas as doutrinas são ensinadas com tão inescapável clareza que a questão é aceita por todos aqueles que aceitam a Bíblia como a Palavra de Deus"(Ibidem, pp.301-302).

"Como Calvinistas nós alegremente reconhecemos como nossos irmãos Cristãos quaisquer [pessoas] que confiem em Cristo para a sua salvação, independentemente do quão inconsistentes suas demais crenças possam ser. Nós acreditamos, contudo, que o Calvinismo é o único sistema... inteiramente verdadeiro"(Ibidem, pp.248-249)

"Um homem cego, surdo e mudo pode, é verdade, saber algo a respeito do mundo ao seu redor através dos sentidos remanescentes, mas... um conhecimento será muito imperfeito e provavelmente inacurado. Num sentido similar, um Cristão que nunca conheceu ou que nunca aceitou a ensinamentos mais profundos da Bíblia, os quais o Calvinismo incorpora, pode ser um Cristão, mas ele será um Cristão imperfeito; e deveria ser tarefa daqueles que conhecem toda a verdade tentar guia-lo até o único depósito que contém as riquezas completas do verdadeiro Cristianismo"(F. E. Hamilton, citado por Boetener, Ibidem, p.249).

"...o Calvinismo ó o próprio Cristianismo... nada mais nada menos do que a esperança para o mundo"(B. B. Warfiel, Retirado de um artigo do The Founders Journal, 'O que devemos pensar sobre Evangelismo e Calvinismo', de Ernest Reisinger, Questão 19/20)

"Um homem cego, surdo e mudo pode, é verdade, saber algo a respeito do mundo ao seu redor através dos sentidos remanescentes, mas... um conhecimento será muito imperfeito e provavelmente inacurado. Num sentido similar, um Cristão que nunca conheceu ou que nunca aceitou a ensinamentos mais profundos da Bíblia, os quais o Calvinismo incorpora, pode ser um Cristão, mas ele será um Cristão imperfeito; e deveria ser tarefa daqueles que conhecem toda a verdade tentar guia-lo até o único depósito que contém as riquezas completas do verdadeiro Cristianismo"(F. E. Hamilton, citado por Boetener, p.349) "...não somos todos Calvinistas enquanto trilhamos o caminho para o céu, mas seremos todos Calvinistas quando chegarmos lá"(Ibdem, p.249)

"Eu não pergunto se vocês creem em tudo isso [no Calvinismo]. É possível que vocês não possam. Mas, eu creio que vocês crerão antes de entrar no céu"(C.H. Spurgeon, Spurgeon at His Best[Spurgeon no Seu Melhor], Ed. Tom Carter [Grand Rapids, Mich.: Baker Book House, 1988], p.27)

Se tomarmos e levarmos em consideração todas estas afirmações [as que definem o Calvinismo como 'Evangelho') como absolutamente verdadeiras, ortodoxas e reformadas, o título do livro se torna inviável, para não dizermos pretencioso, diante de Paulo que falou "do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo"(Ef 3:8 ACF), dizendo ainda: "Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!"(Rm 11:33 ACF). Nesse sentido, como podemos explicar aquilo que é 'inexcrutável','insondável' e 'incompreensível'? Quanta pretensão do autor, não?

(ii)Os alicerces do livro:

"O livro também tem um forte caráter confessional. Todas as nossas teses terão uma tripla base: Escritura, Confissões e opiniões de teólogos confessionais(tradição)e a razão(defesa aurgumentativa da tese diante das adversárias). Há uma forte rejeição de doutrinas que consideramos opostas aos ensinamentos de um calvinismo confessional, logo, é razoável dizer que o livro terá um caráter apologético forte em defesa de uma ortodoxia"(Ibidem, p.20).

(iii)A dificuldade do livro.

O autor chega a reconhecer a dificuldade de compreensão que o livro pode apresentar ao leitor:

"A obra foi escrita para ser entendida, embora tenhamos feito o esforço para sermos o mais didático possível, podem existir partes difíceis de entender, caso isso aconteça, não esmoreçam, abandonar a preguiça intelectual e se debruçar sobre as páginas para aprender aquilo que porventura tiverem dificuldade é o que diferencia os medíocres dos notáveis. O mundo nada deve aos medíocres. Quem não paga o preço pelo conhecimento, um dia pagará o preço pela ignorância. Teologia também é uma descrição e uma explicação da realidade, e a realidade não é fácil de entender, quem disser que Teologia é fácil está mentindo, e tem assunto que não tem outra forma de ser aprendido a não ser pela labuta"(Ibidem, p.21).

Veja. Segundo o autor, diante das "partes difíceis de entender", aqueles que "esmorecem"('perdem o ânimo; perdem o entusiasmo'), perdendo o entusiasmo pela leitura do livro, são "preguiçosos" e "medíocres". A concepção que ele apresenta sobre esses leitores, não é nada animadora e alentadora. Nem mesmo Filipe, diante da dificuldade de interpretação e entendimento do eunuco etíope (que desistiu de sozinho continuar a tentar entender as Escrituras) chegou a concebê-lo nesses termos:

"E levantou-se, e foi; e eis que um homem etíope, eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente de todos os seus tesouros, e tinha ido a Jerusalém para adoração, Regressava e, assentado no seu carro, lia o profeta Isaías. E disse o Espírito a Filipe: Chega-te, e ajunta-te a esse carro. E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías, e disse: Entendes tu o que lês? E ele disse: Como poderei entender, se alguém não me ensinar? E rogou a Filipe que subisse e com ele se assentasse. E o lugar da Escritura que lia era este: Foi levado como a ovelha para o matadouro; e, como está mudo o cordeiro diante do que o tosquia, Assim não abriu a sua boca. Na sua humilhação foi tirado o seu julgamento; E quem contará a sua geração? Porque a sua vida é tirada da terra. E, respondendo o eunuco a Filipe, disse: Rogo-te, de quem diz isto o profeta? De si mesmo, ou de algum outro? Então Filipe, abrindo a sua boca, e começando nesta Escritura, lhe anunciou a Jesus"(At 8:27-35).

Sim. Assim como Paulo, nem mesmo Pedro chegou a conceber pessoas que não entendiam alguns pontos de difícil compreensão das epístolas de Paulo, como preguiçosos" e "medíocres":

"E tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor; como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada. Falando disto, como em todas as suas epístolas, entre as quais há pontos difíceis de entender, que os indoutos e inconstantes torcem, e igualmente as outras Escrituras, para sua própria perdição. Vós, portanto, amados, sabendo isto de antemão, guardai-vos de que, pelo engano dos homens abomináveis, sejais juntamente arrebatados, e descaiais da vossa firmeza; Antes crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo"(2 Pe 3:15-18 ACF)

A arrogância do autor, em pejorativar aqueles que se enfadaram da leitura de seu livro, nos parece atestar a incapacidade de repassar inteligivelmente seu pensamento aos seus leitores. O autor nos parece inapto, na tentativa de conquistar a atenção do autor, com uma linguagem compreensível e cativante para os mesmos. Também nos parece que o autor fala, como se não tivesse tanta confiança na força de seus argumentos.

(iv)Tolerância aos que discordam desse livro.

O autor reconhece que seu livro não é objeto de fé e concordância de todos os seus leitores:

"Estou aberto ao diálogo com os irmãos que não estiverem satisfeitos com as respostas aqui dadas a qualquer um dos dilemas que me propus resolver. Que Deus abençoe aos irmãos!"(Ibidem, p.371)

(v)A Escolástica [teólogos católicos romanos] é o Intérprete do pensamento teológico do Calvinismo.

É isso que o autor deixa ímplícito ou talvez explícito, quando diz:

"Esclarecer sobre a relação entre calvinismo e escolasticismo é de suma importância para a leitura dessa obra. Faremos aqui um uso frequente do escolasticismo calvinista, e esperamos que isso não seja motivo de escândalo. Que o período pós-reforma foi considerado um período escolástico para os calvinistas e até mesmo para os luteranos, é um fato tão público e notório que sequer precisa de referências. A tradição escolástica dentro do calvinismo é muito forte, embora percebida de forma mais leve em João Calvino, foi em Beza, seu sucessor, que a relação entre Calvinismo, Aristóteles e o escolasticismo se tornou de fato amigável. Beza foi acusado de escolasticismo pelos luteranos; isso foi uma crítica, não foi um elogio; mas isso revela como o método escolástico é definitivamente uma forma característica do calvinismo pós-reforma"(Ibidem, p.23)

Com base nestas declarações, entende-se que:

- Para você entender o que seja 'O Calvinismo Explicado', ou a explicação do Calvinismo, você tem que encaixar a Escolástica dentro ou ao lado do Calvinismo.

- Somente depois da Reforma é que pode-se crer que houve uma 'relação amigável' entre Calvinismo, Aristóteles e a Escolástica

- A tradição escolástica foi percebida de forma mais leve em João Calvino.

A primeira e a terceira consideração são questionáveis, se considerarmos que Calvino rejeitou Tomás de Aquino em pontos cruciais da fé cristã:

"Não faço caso da sutileza de Tomás de Aquino, o qual diz que, ainda que a presciência dos méritos não possa ser chamada a causa da predestinação no que se refere a Deus, que predestina, contudo, pode ser assim chamada no que diz respeito a nós, como quando afirma que Deus predestinou a seus eleitos para que, com seus méritos, alcancem a glória; porque determinou dar-lhes sua graça para que, com ela, mereçam a glória. Quando, pois, o Senhor não quer que contemplemos nada na eleição, senão sua mera bondade, se alguém aqui deseje visualizar algo mais, será por mera afetação. Porque, caso queira porfiar em sutileza, não falta com que repulsemos o próprio minúsculo sofisma de Tomás. Ele pretende provar que a glória é, de certa maneira, predestinada para os eleitos por seus méritos, porque Deus os predestina à glória pela qual mereçam a glória"(Institutas, III; 3:9).

Em outro lugar, condenando a idéia escolástica de que 'a certeza da fé é uma conjectura moral', diz:

"Daqui se pode ajuizar quão pernicioso seja esse dogma escolástico de que não podemos estatuir de outro modo quanto à graça de Deus para conosco do que por uma conjetura moral, segundo cada um não se reputa indigno dela"(Institutas, III; 3:38).

E em um outro lugar, condenando a ideia escolástica de que a fé seja mero consentimento humano, diz:

"Conseqüentemente, de nenhum efeito é a Palavra sem a iluminação do Espírito Santo. Donde também se faz claro que a fé é muito superior ao entendimento humano. E não basta que o entendimento seja iluminado pelo Espírito de Deus; é preciso também que o coração seja corroborado e confirmado por seu poder. Nisto extraviam-se totalmente os escolásticos, os quais na consideração da fé miram somente o assentimento puro e simples, resultante do conhecimento, preterindo a confiança e a certeza do coração. Portanto, de uma e outra maneira singular, a fé é um dom de Deus, não só que nela é expurgada a mente do homem para degustar a verdade de Deus, mas também que nela o coração é firmado. Ora, tampouco é o Espírito meramente o iniciador da fé, mas ele a faz crescer passo a passo, até que ela nos conduza inteiramente ao reino celeste. 'Guarda o precioso depósito”, diz Paulo, 'mediante o Espírito Santo, que habita em nós'[2Tm 1.14"(Institutas, III; 2:34).

Da mesma forma, a outra consideração [no que tange a Beza] - da 'relação amigável' entre Calvinismo, Aristotelismo e a Escolástica, principalmente se o nome de Tomás de Aquino seja invocado, parece não ter nenhum sentido, pela própria declaraçao de Calvino, que diz:

"Entretanto, por ora não vou tratar desse atoleiro de suínos. Ataco antes esses que, entregues a sutilezas contraditórias, de maneira oblíqua, invocariam deliberadamente esse insípido parecer de Aristóteles, tanto para anular a imortalidade da alma, quanto para arrebatar seu direito a Deus"(Institutas, I; 5:5).

"Quão peculiar, porém, é esse poder à Escritura, transparece claramente disto: que dos escritos humanos, por maior que seja a arte com que são burilados, nenhum sequer nos consegue impressionar de igual modo. Basta ler a Demóstenes ou a Cícero; a Platão ou a Aristóteles, ou a quaisquer outros desse plantel: em grau admirável, reconheço-o, são atraentes, deleitosos, comoventes, arrebatadores. Contudo, se te transportares dali para esta sagrada leitura, queiras ou não, tão vividamente te afetará, a tal ponto te penetrará o coração, de tal modo se te fixará na medula, que, ante a força de tal emoção, aquela impressividade dos retóricos e filósofos quase que se desvanece totalmente, de sorte que é fácil perceber que as Sagradas Escrituras, que em tão ampla escala superam a todos os dotes e graças da indústria humana, respiram algo de divino"(Ibidem, 8:1).

Da mesma forma, a outra consideração [no que tange a Beza] - da 'relação amigável' entre Calvinismo, Aristotelismo e a Escolástica, principalmente se o nome de Tomás de Aquino é invocado, parecendo não ter nenhum sentido, de acordo com Jeffrey Mallinson, Professor Assistente de História e Religião, que declara:

"Alguns estudiosos estão convencidos de que Tomás de Aquino influenciou fortemente Beza. Embora nossas listas não possam confirmar se isso era extenso, os catálogos da biblioteca de Genebra parecem fornecer tal evidência. Aparentemente, os escritos de Tomás e tomistas estão entre as poucas fontes medievais retidas na biblioteca durante a carreira de Beza. Além disso, Beza aprovou uma impressão de Genebra (1574) da Suma Teológica, destinada à biblioteca de Lyon. Assim, não há como contestar as conjecturas de Beza, thomassiennes, notadas por Ganoczy. Mas isso indica uma afinidade intelectual entre Beza e Tomás de Aquino? A presença de obras doDoutor Angélicoe tomistas contemporâneos, como Caetano[1493-1534], foi retida apenas como exemplos da oposição. Talvez Beza considerasse os tomistas a única escola romanista com influência suficiente para merecer refutação. Em qualquer caso, devemos buscar evidências que corroborem antes de enfatizar demais a importância de Tomás"(Fé, Razão e Revelação em Teodoro Beza [Em inglês], p.46).

Outro fator que nos leva a entendermos que o autor quer nos repassar sua crença romanista de que Escolástica [teólogos católicos romanos] é o Intérprete do pensamento teológico do Calvinismo, é a sua outra deçlaração:

"Muito pelo contrário, o fato de tanto reformados, como luteranos e católicos usarem o escolasticismo, possibilitou que a teologia fosse mais ecumênica, de forma que a cristandade, mesmo divida, pudesse debater teologia usando uma linguagem acadêmica comum"(Ibidem, p.30)

Assim, deduz-se que:

- O Escolasticismo promove "uma teologia mais ecumênica".🤢

- Protestantes [luteranos e reformados] e católicos são "cristãos"🤢

- A Escolástica é a mãe do pensamento teológico dos protestantes e católicos🤢

- O ensino do livre exame das Escrituras, defendido pelos Reformadores, era o mal de alzheimer deles [delírio, aminésia], se eles apenas endossaram toda a interpretação escolastica das Escrituras e da teologia.🤢

- Protestantes não devem praticar "proselitismo", evangelizando e batizando seus "irmãos" católicos romanos.🤢

A afirmação do autor é contrária a fé reformada, pelos seguintes motivos:

- Primeiro, porque o pensamento de Tomás de Aquino, por exemplo, não era bem visto por Calvino, como já demonstramos na citação anterior acima. Segundo, porque outros líderes reformados contemporâneos de Calvino, também rejeitaram Aquino, como se segue:

- Úlrico Zuínglio(1483-1531), diz:

"E isso eu quero entender assim: - A visão de Tomás de Aquino sobre a predestinação, se eu apenas me lembrar de sua doutrina corretamente, foi isto: - 'Deus, vendo todas as coisas antes de tomarem lugar, predestinou o destino do homem no momento em que por Sua sabedoria Ele viu como ele seria'. Essa opinião me agradou uma vez, quando cultivava a escolástica, mas quando abandonei o que eu tinha aderido pela pureza dos oráculos divinos, desagradou-me muito. Pois São Tomás acredita que a disposição de Deus em relação a nós, segue nossa própria disposição. Depois que ele viu por Sua sabedoria como seríamos, isto é, como seríamos, agiríamos e decidiríamos, então e somente então, Ele pronunciou sua decisão a respeito de nós. O que é isso além do que fazer da decisão de Deus decisão e disposição igual ao julgamento e decisão de um juiz humano? Ele não pronuncia o julgamento até que ele tenha ouvido o caso, porque ele não pode ver antes disso qual é o direito e errado do assunto em questão"(The Latin Works and the Correspondence of Huldreich Zwingli: together with selections from his German Works['As Obras Latinas e a Correspondência de Úlrico Zuínglio: Junto com Seleções de Suas Obras Alemãs'], 'Sobre a Providência', p.185)

- Zacarias Ursinus(1534-1583), em sua obra "Comentário do Catecismo de Heidelberg", diz:

"Tomás de Aquino atribui uma certa preparação ao livre-arbítrio do homem, mas não para a conversão. Ele fala, porém, desta preparação, como se ela contribuísse para a graça da conversão, que ela faz com a ajuda graciosa de Deus, movendo-nos interiormente"(Questão 90, 'Exposição'['IV: Quais São as Causas da Conversão?]',The Commentary of Dr. Zacharias Ursinus on the Heidelberg, 1888, p.474).

Terceiro, Calvino não considerava católicos romanos como 'cristãos' verdadeiros, por não considerar a igreja romana uma igreja verdadeira:

"Quanto ao segundo ponto supra-referido, porém, contendemos mais ainda. Ora, se se considera a Igreja ao ponto de termos que reverenciá-la, reconhecer sua autoridade, receber suas advertências, submeter-nos a seu juízo e nos conformar com ela em tudo e por tudo, não podemos conceder o título de Igreja aos papistas, segundo esta consideração, porque não nos é necessário tributar-lhes sujeição e obediência. Entretanto, de bom grado lhe concedemos o que concederam os profetas aos judeus e israelitas de seu tempo, quando ali as coisas estavam ou em igual estado ou até melhor. Contudo vemos que proclamam continuamente como sendo para si profanas as assembléias, às quais não é mais lícito anuir do que a Deus regenerar[Is1:13]. E, certamente, se essas assembléias foram igrejas, então segue-se que da Igreja de Deus foram alheados em Israel Elias, Miquéias entre outros; na Judéia, porém, Isaías, Jeremias, Oséias e os demais dessa estirpe, a quem os sacerdotes e o povo de seu tempo odiavam e execravam como se fossem piores que quaisquer incircuncios. Se essas foram igrejas, então a Igreja não é 'a coluna da verdade'[1 Tm 3:15], mas a coluna da mentira; não o tabernáculo do Deus vivo, mas um receptáculo de ídolos. Portanto, os profetas tinham necessariamente de abstrair-se do consenso desses ajuntamentos, que outra coisa não eram senão ímpio conluio contra Deus"(Institutas, IV; 2:10)

Porque, as confissãoes de fé das igrejas reformadas do século XVII repudiam a igreja romana como um corpo, do qual, Cristo não é o Cabeça, como diz a Confissão de Fé de Westminster[1643-1649]:

"Não há outro Cabeça da Igreja senão o Senhor Jesus Cristo; em sentido algum pode ser o Papa de Roma o cabeça dela, mas ele é aquele anticristo, aquele homem do pecado e filho da perdição que se exalta na Igreja contra Cristo e contra tudo o que se chama Deus"(25:6).

Outras confissões acompanham a CFW:

"Não há outro cabeça da Igreja senão o Senhor Jesus Cristo: nem pode o Papa de Roma, em qualquer sentido é a cabeça dela; senão que ele é aquele Anticristo, aquele homem do pecado e filho da perdição que se exalta na Igreja contra Cristo e contra tudo o que se chama Deus, a quem o Senhor destruirá com o esplendor de Sua vinda"(Declaração de Fé e Ordem de Savoy[1655], 26:4)

"O Senhor Jesus Cristo é o Cabeça da Igreja. Por determinação do Pai, de uma maneira suprema e soberana, nEle está investido o poder de chamar, instituir, ordenar e governar a Igreja. O papa de Roma não pode, em qualquer sentido, ser o cabeça da Igreja; ele é o anticristo, o homem da iniquidade e filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra Cristo e contra tudo que se chama Deus, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, como se fosse o próprio Deus. O Senhor Jesus o matará com o sopro da sua boca"(Confissão de Fé Batista de 1689, 26:4)

Como católicos romanos são cristãos, se o seu cabeça não é Cristo, mas o papa de Roma?

(2)Afirmações inconsistentes do Francisco Tourinho:

(a)"Deve-se negar que o escolasticismo é um retorno ou resquício de Roma, ou que é um sincretismo pernicioso entre filosofia pagã e cristianismoo"(O Calvinismo Explicado, p.30)

Perry Miller[1905-1963], historiador norte-americano e Thomas H. Johnson, docente da Lawrenceville School, em sua obra "The Puritans"(Os Puritanos), defendem que o escolasticismo é sim uma volta a Roma:

"A força combinada da revolta protestante contra o papado e do protesto humanista contra as barbáries da Idade das Trevas inspiraram uma rejeição generalizada da autoridade e método da escolástica. Protestantes e humanistas substituíram esta fidelidade àquela estrutura magnífica que os escolásticos medievais haviam erguido como um monumento ao casamento da razão e da fé, o protestante porque o sistema foi identificado em sua mente com o catolicismo, e porque se tornou decadente, torto e enorme, e a crítica humanista era a mais pertinente. A bela símbolometria da filosofia escolástica, como existe no obra de Tomás, havia sido destruída pelas pequenas luzes do século XV, aos olhos de homens inteligentes, a escolástica em 1500 havia se tornado um jogo inútil de cores rebuscadas rachaduras lógicas, o processo dedutivo enlouquecido, uma construção de silogismos por causa de silogismos, e um claboiado de truques falando bobagem por meio de uma série de manobras intelectuais. Ministros puritanos e anglicanos eram um em sua condenação dos escolásticos. John Donne disse que, a fim de definir ignorância, 'as escolas fizeram tantas divisões, e subdivisões e redivisões e as pós-divisões da ignorância, que lá vai tanto aprender a entender a ignorância'. John Cotton fulminou contra 'a sutileza e os sofismas dos escolásticos, suprimindo a leitura das Escrituras e misturando filosofia com divindade, para que eles também pudessem estudar um ponto de Aristóteles como sua divindade, e fizeram como bom uso de um como do outro. Pensamos que devemos lembrar que muito disso foi condicionado; como todo protestantismo, por sua hostilidade ativa a um método de pensamento que, tendo prevalecido por vários séculos, agora se acreditava estar prostituído pelas ambições do papado, e tornou-se a fonte de todas as travessuras e 'superstições' na Igreja de Roma"(pp.25-26).

Eles ainda disparam:

"No entanto, para os homens naquele período, purificar inteiramente suas mentes da escolástica era quase impossível, pois em muitos campos lá não existia mais nada a que recorrer. Na medida em que a escolástica era uma defesa da Igreja de Roma, os Puritanos poderiam colocá-la de lado e apontar a Bíblia"(Ibidem, p.26).

Ronald Frost, em seu artigo "The Divided House of English Reformed Theology"(A Casa Dividida da Teologia Reformada Inglesa), diz, aludindo aos Puritanos:

"A divisão surgiu de percepções conflitantes de graça. Perkins e Ames descreveram uma teologia moralista baseada em uma visão da graça desenvolvida por Tomás de Aquino. Sibbes (com Thomas Goodwin, John Cotton, John Preston e Philip Nye), em contraste, confiaram em um modelo afetivo de graça tirado de Agostinho e sustentado por Lutero e Calvino, que definiram a graça em oposição explícita a Tomás de Aquino".

Assim, fica claro, que Tomás de Aquino foi repelido pelo espírito majoritário da Reforma e do Puritanismo. Isso é fato inconteste.

Mesmos os católicos romanos, inimigos da Reforma, reconhecem isso:

"Os líderes da revolta do século dezesseis honraram São Tomás, atacando-o"(The Catholic Encyclopedia, Volume XIV, p.673)

Que o endossamento literal da posição do Tomismo pode levar os protestantes de volta a Roma, afirmam as próprias autoridades romanistas:

"Theobald Thamer, um discípulo de Melancthon, abjurou sua heresia depois de ler a 'Suma', que pretendia refutar. O calvinista Duperron foi convertido da mesma maneira, tornando-se posteriormente arcebispo de Sens e cardeal"(The Catholic Encyclopedia, Volume XIV, p.673).

Assim, as evidências históricas desaconselham a paixão avassaladora por Tomás de Aquino.

(b)"Assim, no calvinismo, digo em sua forma confessional, encontraremos elementos fortes do escolasticismo, mesmo que essa verdade seja difícil de engolir para os adeptos de um calvinismo mais recente que demonizaram o escolasticismo, principalmente na abordagem tomista, por causa de sua epistemologia"(O Calvinismo Explicado, p.32)

O que o autor chama de 'elementos fortes do escolasticismo' são usos de terminologias que Aquino usou, encontradas em símbolos de fé, como a Confissão de Fé de Westminster:

"Se lermos a Confissão de Fé de Westminster, por exemplo, encontraremos termos como causa primária, causa secundária, causa contingente, causa necessária, causa livre, substância, natureza, pessoa, contingência, necessidade, espírito puríssimo, que são termos que dificilmente seriam explicados sem a filosofia escolástica"(Ibidem, p.35).

O argumento acima é inconsistente. Encontramos, por exemplo, o termo "natureza", nas Escrituras(Gl 2:15; 4:8; Tg 3:7; Rm 11:24; 1 Co 11:14; Rm 1:26; 2:27; 2 Pe 2:12; Ef 2:3; Tg 3:6; 2 Pe 1:4). Os apóstolos recorreram a Aristóteles ou a Tomás de Aquino, quando fizeram uso do termo "natureza"? O termo pessoa" também é encontrado nas Escrituras(Rm 2:11; Tg 2:9; At 10:34; Tg 2:1; Cl 3:25; 2 Pe 3:11; At 1:15; 2 Pe 2:5; 1 Pe 1:17; Ap 3:4; 2 Co 1:11; Jo 18:31; Jd 16; Lc 20:21; Lc 12:1; Ef 6:9; Hb 1:3). Jesus, Lucas e os apóstolos recorreram a Aristóteles ou a Tomás de Aquino, quando fizeram uso do termo 'pessoa'? Jesus e os apóstolos também fizeram uso do termo "necessidade"(Mc 2:25; 1 Co 12:21; At 4:35; 1 Co 7:26; Fl 4:11; 1 Ts 3:7; 2 Co 9:7; 2 Co 11:9; 2 Co 11:4; Ef 4:28; 1 Co 12:24; 1 Co 7:37; Fl 4:12; Jd 3; 1 Ts 1:8; Hb 7:11; 1 Jo 2:27). Jesus, Lucas e os apóstolos recorreram a Aristóteles ou a Tomás de Aquino, quando fizeram uso do termo 'necessidade'? Deus, por meio de Moisés, faz uso do termo substância"(Gn 7:4). A Igreja Primitiva também fez uso de vários desses termos. Por exemplo, o termo "causa primária" é usado por Ireneu(130-300)(Contra Heresias, IV; 38:3), por Alexandre de Lycopolis[+ 300 d.C] também(Dos Maniqueus, 6) e por Agostinho também[354-430](A Trindade, III:3). Teodoreto de Ciro(393-457) usou o termo "contigência"(Epístola 14). O Concílio de Sárdica(344 d.C) também usou o termo contingência"(6º Canon). João Damasceno(675-749) também usou o termo "contingência"(Uma Exposição da Fé Ortodoxa, I:13). Assim, cai por terra o argumento que faz dos símbolos confessionais papagaios absolutos da Escolástica[teólogos católicos romanos].

(c)"Não nos enganemos, Calvino não era menos escolástico que seus contemporâneos... A academia de Genebra era a maior academia de calvinismo do mundo, o que mostra irrefutavelmente como a teologia calvinista tradicional tem laços estreitos com o aristotelismo e, consequentemente com o escolasticismo"(O Calvinismo Explicado, pp.32,36)

Já mostramos lá bem acima, com fartas citações, que o próprio Calvino não tem Arístoteles ou Tomás de Aquino como os expoentes de todo pensamento reformado. Aliás, Alister McGrath, um dos biógrafos de Calvino, desfaz este mito do Tourinho, afirmando:

"Certamente é fato que as Institutas de 1559 tem sido, frequentemente, comparadas à Suma Teológica de Tomás de Aquino - com suas 512 questões, 2.669 artigos e mais 10.000 críticas e réplicas - em termos de sua abrangência e influência. Contudo, isso significa confundir, evidentemente, o volume literário e a influência histórica com a afinidade teológica. Como indica um estudo do desenvolvimento das Institutas, originalmente Calvino concebeu a obra em termos modestos, sem quaisquer pretensões de uma abrangência metodológica. A reorganização do material entre uma edição e outra, no período de 1536 a 1559, reflete uma preocupação pedagógica, e não metodológica; o interesse de Calvino é humanista, em vez de escolástico - ou seja, o de auxiliar seus leitores, e não de impor um método a seu próprio pensamento"(Alister McGrath, A Vida de João Calvino, pp.174-175)

Richard A. Muller, é outro teólogo a negar fundamento para a afirmação do autor deste livro, afirmando:

"Devemos, portanto, ser muito cuidadosos com o que identificamos como escolástico: o uso positivo de Calvino da causalidade quádrupla aristotélica não indica necessariamente que Calvino era escolástico ou se baseava em aspectos do escolasticismo - embora indique uma reflexão positiva na teologia de Calvino do mundo do pensamento de muitos dos escolásticos medievais e um grau significativo de continuidade entre o mundo do pensamento dos reformadores do século XVI e o dos escolásticos medievais"(O Calvino Incomodado: Estudos na Fundação de uma Tradição Teológica [Em inglês], p.45).

(d)"Calvino, apesar de ser um platônico, não era menos escolástico por isso. Em verdade, a declaração de Vicente Temudo Lessa, sobre o reformador, é surpreendente: 'Aplicado à teologia, deleitava-se em Scotus, Boaventura, e, especialmente em Aquino. Não viesse a ser um reformador, como aconteceu, certamente seria um ardente discípulo do Doctor Angelicus. Não foi debalde que o apelidaram de Aquino da reforma protestante'"(O Calvinismo Explicado, p.32).

Isso [a fala do Vicente Temudo] não significa nem que Calvino era escolástico ou tomista, mas que Calvino detinha profundo conhecimento da teologia escolástica, bem como do pensamento de Aquino, bem como também o fato dele[Calvino], como Tomás de Aquino, ter sido o pai de um pensamento teológico que vem conquistado adeptos permanentemente. Por isso, o historiador protestante George Park Fisher(1827-1909) disse:

"Ele [Calvino] era dotado de um maravilhoso poder de compreensão, embora a imaginação e afirmações fossem sem rodeios. Seu espírito sistemático o habilitou a ser o fundador de uma escola de pensamento duradoura. Nessa característica, ele pode ser comparado a Tomás de Aquino. Ele foi apropriadamente denominado o Aristóteles da Reforma. Ele era um homem perfeitamente honesto"(A Reforma [Em inglês], p.238)

Hugh Y, Reyburn, biógrafo de Calvino, também confirma a mesma opinião de Fisher, afirmando:

"As características das Institutas estão na superfície. Este é um dos maiores livros de teologia já escritos. O único outro com o qual pode ser comparado é a 'Suma' de Tomás de Aquino. O estilo é fluente e claro. O conhecimento profundo dos escolásticos, da literatura patrística e das Escrituras é evidente em todas as páginas, e não menos manifesto é o desejo de Calvino de enfrentar todas as objeções razoáveis às suas conclusões e apresentar o ensino exato da Palavra de Deus em todos os assuntos ele pega na mão. A lógica é uma cadeia em que existem poucos elos fracos, e se em algum momento isso o levar a uma conclusão da qual ele recue, ele não deixará de afirmar a conclusão, e aderir a ela"(João Calvino, Sua Vida, Cartas e Obra [Em inglês], 1914, pp.38-39).

Os biógrafos de Calvino, Philip Vollmer[1860-1929], teólogo presbiteriano; James Isaac[1850-1924], téologo da Igreja Reformada e; William Henry Robets[1844-1920], teólogo batista, dizem:

"Ele deve ser considerado um dos maiores e melhores homens que Deus criou na história do Cristianismo. Ele foi chamado por juízes competentes de diferentes credos e escolas: 'o teólogo por excelência', 'o Aristóteles da Reforma', 'o Tomás de Aquino da Igreja Reformada', 'o Licurgo de uma democracia cristã', 'o papa de Genebra'. Ele foi comparado como governante da igreja a Gregório VII e Inocêncio III. Até o cético Renan, que discorda totalmente de sua teologia, o chama de 'o homem mais cristão de sua época'. Essa combinação de preeminência teórica e prática não tem paralelo na história. Ele pode ser chamado de Elias cristão"(João Calvino, Teólogo, Pregador, Educador, Estadista [Em inglês], p.129)

A afirmação do autor, concernente a visão do historiador Vicente Themudo Lessa, é feita fora do contexto. Eis a citação com cortes:

"Calvino, apesar de ser um platônico, não era menos escolástico por isso. Em verdade, a declaração de Vicente Temudo Lessa, sobre o reformador, é surpreendente: Aplicado à teologia, deleitava-se em Scotus, Boaventura, e, especialmente em Aquino. Não viesse a ser um reformador, como aconteceu, certamente seria um ardente discípulo do Doctor Angelicus. Não foi debalde que o apelidaram de Aquino da reforma protestante"(p.32)

A citação parcial corresponde a p.54 do livro "João Calvino, Sua Vida e Obra", de Vicente Themudo Lessa, onde a referência é, não ao Calvino reformador, mas ao Calvino seminarista católico romano:

"Religioso por vocação, sua presença na celebração da missa e de outros atos religiosos era sempre notada, observando jejuns e preceitos, venerando os santos e aderindo a todo o ensino da Igreja"(João Calvino, Sua Vida e Obra, p.53)

"...nem Montaigu nem a Soborna haviam visto um seminarista tão piedoso"(Ibidem, p.54)

"Mas na época em que o jovem Calvino se aplicava ao estudo em Paris[1524-1527], a semente da Reforma começava a ser lançada na França com as lutas consequentes como era de supor"(Ibidem, p.55)

"Calvino foi obediente aos seus superiores. Seguindo os passos do diretor espiritual, recorreu àa intercessão dos santos para que abrandassem a ira do Eterno que caía sobre ele. Voltou às páginas de Aquino e Scottus. Procurou distrair-se com os seus colegas. tudo, porém, em vão. sua alma debatia-se em lutas espirituais. Recorreu às Escrituras, seguindo o conselho de Olivétan. Descobriu nelas Cristo como o Salvador e sua alma sentiu paz. A mesma Bíblia, que apaziguava a consciência de Lutero e de Zuínglio, foi para Calvino a mensagem da paz. Pelo mesmo caminho os três grandes reformadores chegaram aos pés da cruz, conhecendo que o resgate da alma não provinha do mérito imperfeito de nossas obras, mas do sangue da expiação realizada por Cristo

Uma coisa, porém, o embaraçava. Vacilava em fugir da comunhão da Igreja tradicional. E assim permaneceu nela por algum tempo, ainda até que o desenrolar das circunstâncias determinasse o rompimento final"(Ibidem, pp.64-65)

O que é fato, é que mesmo dentre romanistas e protestantes, o entendimento é que o endossamento do Aristotelismo e da Escolástica, representa um abadono do caráter primitivo da Reforma, como reconhecem Matthew Levering [Teólogo Católico Romano] e Marcus Plested [Teólogo Protestante], afirmando:

"Nas últimas décadas, a relação da escolástica medieval com a teologia reformada sofreu uma revisão significativa. Em estudos mais antigos do século XX, as primeiras polêmicas de Martinho Lutero contra Aristóteles e Tomás de Aquino foram consideradas representativas dos reformadores de primeira e segunda geração. De acordo com essa narrativa, João Calvino, o humanista, seguiu Lutero em sua hostilidade à filosofia aristotélica e à Escolástica Tomista. Depois de Calvino, a ortodoxia reformada abandonou o ímpeto bíblico original de Lutero e Calvino, ao retornar à filosofia aristotélica tomista sob a influência dos reformadores italianos Pedro Mártir Vermigly e Jerônimo Zanchi. Estudos recentes discordam dessa narrativa de descontinuidade acentuada, bem como da elevação de Calvino como o único padrão pelo qual mede-se a mudança dentro de uma tradição reformada variada"(O Manual de Oxford em Referência a Aceitação de Aquino [em inglês], 2021, p.121).

(e)"William Ames era um tomista, e foi o autor mais citado na história do calvinismo, para se ter uma ideia, ele foi citado mais que Lutero e Calvino juntos"(O Calvinismo Explicado, p.37)

William Ames[1576-1633], puritano, autor dos livros "Medula Teológica" e "Consciência com o poder e seus invólucros"(1639), tem sido citado pelos modernos tomistas, como um dos puritanos que mais se baseou em Tomás de Aquino. Contudo, isso não significa que ele recorresse a Aquino em todos os assuntos. David VanDrunen, teólogo reformado, em seu livro "Aquinas Among the Protestants"(Aquino Entre os Protestantes) nega que tenha havido uma total dependência de Ames no pensamento de Aquino, que em muitos casos, descambava para o pelagianismo:

"Embora geralmente ele não cite Aquino especificamente, Ames sem dúvida recorreu à Suma Teológica como uma fonte para esses assuntos; mas é importante não exagerar a dependência de Ames de Tomás de Aquino, pois ele sentiu a necessidade de filtrar os elementos aristotélicos que encontrou na Suma.A questão da relação entre vontade e intelecto e crítica na História do pensamento ocidental, e a influência da tradição voluntarista de Scottus e Ockham deve ser levada em consideração. Ames reconheceu algo do aspecto complementar da vontade e do intelecto, visto que eles se relacionavam com a bondade ou a verdade, respectivamente. Perceber essa função complementar, que Burgersdijck e Heereboord também notaram, poderia muito bem ter sido o resultado de uma leitura bastante cuidadosa da Suma, mas Ames também resistiu à posição intelectualista (muitas vezes associada a Tomás de Aquino) uma vez que implica em tendências para o Pelagianismo"(p.271)

(f)"Algo interessante e digno de nota, que ilustra muito bem como se deu a formação da doutrina calvinista após a morte de Calvino, foi que Beza, quando ainda reitor da Academia de Genebra, recusa a um candidato a professor chamado Ramus (fundador do Ramismo) como titular dessa academia, justamente porque o candidato não era aristotélico (escolástico). Vejam como Beza o responde: 'O primeiro obstáculo é que no momento não há vaga na Academia, e nossos recursos são tão pequenos que não podemos aumentar o número de professores... O segundo obstáculo jaz em nossa determinação de seguir a posição de Aristóteles, sem desviar uma linha, quer Lógica, quer nas demais áreas de nossos estudos"(O Calvinismo Explicado, p.36)

A afirmação, feita de um livro arminiano, com uma citação já truncada [cortada pelas reticências] deste mesmo livro arminiano, nos avisa que algo está errado. A 'resposta' de Beza, que aparece aqui, cortada entre reticências, é parte de uma carta, onde ele diz a Pedro Ramus:

"Muitos homens eruditos têm, você bem sabe, visto com desagrado, suas críticas contra Aristóteles. Você tem toda a liberdade de me culpar por compartilhar seus pontos de vista. Quanto a mim, sigo minhas opiniões, e não vejo como isso pode de alguma forma perturbar nossa afeição mútua, a menos que talvez você acredite que não pode haver amizade exceto entre aqueles que, em todos os assuntos, são exatamente de uma opinião"(The Ecletic Review, Julho de 1856, p.273).

Conforme as palavras de Beza, em sua carta, para justificar sua defesa do método aristotélico, ele se ampara, primeiro, nas 'suas opiniões'; segundo, na opinião de 'muitos homens eruditos'. Não há nenhuma menção dos profetas, apóstolos ou mesmo de Calvino, que, contrário ao método aristotélico, já estava morto. A posição de Beza é uma posição de um calvinismo póstumo a Calvino.

(3)Erros e absurdos do autor do livro

(a)"Arminianos não são pelagianos"

"Essa graça (preveniente) é uma ajuda somente, não é eficaz, portanto não pode efetivamente mover a vontade para que o homem responda positivamente, pois o mesmo pode responder negativamente ainda depois da capacitação recebida por tal graça,assim o homem alcança a salvação se fizer um bom ou mau uso desse auxílio; logo, mesmo que arminianos não sejam pelagianos ou semi-pelagianos, ainda assim a salvação é, em parte, pelos méritos humanos, pois depende do bom ou mau uso que se faz de uma capacitação que se recebe"(Calvinismo Explicado, p.174)

Enquanto o Tourinho nega que arminianos não sejam pelagianos, Dort diz que eles são:

“Depois da queda, o homem corrompido gerou filhos corrompidos. Então a corrupção, de acordo com o justo julgamento de Deus, passou de Adão até todos os seus descendentes, com exceção de Cristo somente. Não passou por imitação, como os antigos pelagianos afirmavam, mas por procriação da natureza corrompida”(Cânones de Dort; Capítulos III-IV; &2)

“Erro 7 - Esta graça pela qual somos convertidos a Deus é apenas um apelo gentil. Ou (como alguns explicam): Esta maneira de agir, que consiste em aconselhar é a mais nobre maneira de converter o homem E está mais em harmônia com a natureza do homem. Não há razão porque tal graça persuasiva não seja suficiente para tornar espiritual o homem natural. em verdade, Deus não produz o consentimento da vontade a não ser através do apelo moral. O poder da operação divina supera a ação de Satanás, Deus prometendo bens eternos e Satanás bens temporais.

Refutação – Isto é Pelagianismo por completo, contrário a toda a Escritura que conhece além deste apelo moral, outra operação, muito mais poderosa e divina: a ação do Espírito Santo na conversão do homem: ‘Dar-vos-ei coração novo, e porei dentro em vós espírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne’(Ez 36:26)”(Cânones de Dort, Capítulos III-IV; Rejeição de Erros, Refutação)

“Outros que são chamados pelo ministério do Evangelho vêm e são convertidos. Isto não pode ser atribuído ao homem, como se ele se distinguisse por sua livre vontade de outros que receberam a mesma e suficiente graça para fé e salvação, como a heresia orgulhosa de Pelágio afirma. Mas isto deve ser atribuído a Deus: como Ele os escolheu em Cristo desde a eternidade, assim Ele os chamou efetivamente no tempo. Ele lhes dá fé e arrependimento; Ele os livra do poder das trevas e os transfere para o reino de seu Filho. Tudo isto Ele faz a fim de que eles proclamem as grandes virtudes daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz, e se gloriem não em si mesmos mas no Senhor, como é o testemunho geral dos escritos apostólicos(Col 1:13; 1 Pe 2:9; 1 Cor 1:31)”(Cânones de Dort, Capítulos III-IV, & 10)

“Erro 3 – Por sua satisfação, Cristo não mereceu para ninguém a salvação segura nem a fé pela qual esta satisfação é efetivamente aplicada. Ele obteve apenas para o Pai a possibilidade ou vontade perfeita, para tratar de novo com o homem e para prescrever novas condições conforme sua vontade, depende da livre vontade do homem para preencher estas condições. Portanto, poderia acontecer que ninguém ou todos os homens preenchessem tais condições.

Refutação - Aqueles que ensinam este erro desprezam a morte de Cristo e não reconhecem de maneira nenhuma o seu mais importante resultado ou benefício. Eles evocam do inferno o erro pelagiano”(Cânones de Dort, Capítulo II, Rejeição de Erros; 3º Erro, Refutação).

“Erro 6 - Deus, por sua parte, quer dar a todas as pessoas igualmente os benefícios conquistados pela morte de Cristo. Entretanto algumas obtêm o perdão de pecados e a vida eterna, e outras não. Esta distinção depende de sua própria livre vontade que se junta a graça que é oferecida sem distinção. Mas não depende do dom especial da misericórdia que opera tão poderosamente nestas pessoas, que elas, diferente de outras, se apropriam desta graça.

Refutação - Os que ensinam assim abusam da distinção entre aquisição e apropriação da salvação para implantar esta opinião nas mentes de pessoas imprudentes e sem experiência. Enquanto eles simulam apresentar esta distinção da maneira correta, procuram induzir na mente do povo o perigoso veneno dos erros pelagianos”(Cânones de Dort, Capítulo 2; Rejeição de Erros, 6º Erro, Refutação)

“Erro 9 – Graça e livre vontade são as causas parciais que operam juntas no início da conversão. Pela ordem destas causas a graça não precede à operação da vontade do homem. Deus não ajuda efetivamente a vontade do homem para a sua conversão, enquanto a própria vontade do homem não se move e decide se converter.

Refutação - A Igreja Antiga há muito já condenou esta doutrina dos pelagianos, de acordo com a palavra do apóstolo: ‘Assim, pois, não depende de quem quer, ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia"’(Rom 9:16). Também: ‘Pois quem é que te faz sobressair? e que tens tu que não tenhas recebido?...’(1 Cor 4:7)? E ainda: ‘...porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade’(Fp 2:13)”(Cânones de Dort, Capítulos III-IV; Rejeição de Erros, 9º Erro, Refutação)

Erro 2 – Deus de fato provê os crentes de suficientes forças para perseverar, e está pronto para preservar tais forças nele, se este cumprir seu dever; mas ainda que todas estas coisas tenham sido estabelecidas, que são necessárias para perseverar na fé e que Deus usa para preservar a fé, ainda assim dependerá da vontade humana se perseverar ou não.

Refutação – Esta ideia é abertamente pelagiana. Enquanto deseja libertar o homem, o faz usurpador da honra de Deus. Combate o consenso geral da doutrina evangélica que retira do homem todo motivo de orgulho e atribui todo louvor por este benefício somente à graça de Deus. É também contrário ao apóstolo que declara: ‘...o qual também vos confirmará até ao fim, para serdes irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo’(1 Cor 1:8).

“Erro 4 – Eleição para a fé depende das seguintes condições prévias: o homem deve fazer uso adequado da luz da natureza, e deve ser piedoso, humilde, submisso e qualificado para a vida eterna.

Refutação – Assim parece que a eleição depende destas coisas. Isto tem o sabor do ensino de Pelágio e está em conflito com o ensino do apóstolo Paulo em Efésios 2:3-9: ‘...entre os quais também todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como também os demais. Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo -- pela graça sois salvos, e juntamente com ele nos ressuscitou e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; para mostrar nos séculos vindouros a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie’”.(Cânones de Dort, Capítulo 1; Rejeição de Erros, Refutação)

"Erro 4 - A nova aliança da graça, que Deus o Pai, mediante a morte de Cristo, estabeleceu com o homem, não consiste nisso que nós estamos justificados diante de Deus e salvos pela fé se ela aceita o mérito de Cristo. Ela consiste no fato de que Deus revogou a exigência de perfeita obediência à lei e considera agora a própria fé e a obediência de fé, ainda que imperfeitas, como a perfeita obediência à lei. Ele acha, em sua graça, que elas sejam dignas da recompensa da vida eterna.

Refutação - Os que ensinam isto contradizem a Escritura: "...sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé..."(Rom 3:24, 25). Eles introduzem, junto com o ímpio Socino, uma nova e estranha justificação do homem diante de Deus, contrária ao consenso da Igreja inteira"(Cânones de Dort, Capítulo II; Rejeição de Erros, Refutação)

Outros teólogos reformados modernos tem sustentado a mesma opinião dos antigos. Joel R. Beeke, ‎Martin I. Klauber; Herman J. Selderhuis, Christopher B. Brown; Günter Frank; Bruce Gordon; Barbara Mahlmann-Bauer; Tarald Rasmussen; Violet Soen; Zsombor Tóth; David W. Hall; W. Robert Godfrey; , Greg A. Salazar; R. Scott Clark; Michael Horton; Donald Sinnema; David B. McWilliams; Charles K. Telfer; Dolf te Velde; Joel E. Kim; Matthew Scott Harding, afirmam:

"Os calvinistas ingleses descreveram as posições de seus oponentes como uma ameaça tripla à Igreja Inglesa um renascimento da antiga heresia pelagiana, uma réplica do arminianismo holandês para a Igreja inglesa e uma doutrina pastoralmente perigosa[‘desesperada’] que minaria a segurança"(O Sínodo de Dort, Perspectivas Históricas, Teológicas e Experienciais, p.78)

William H. Gray[1825-1908], ministro presbiteriano escocês, disse:

"Pela graça de Deus, fomos capacitados, em certa medida, a dar um testemunho fiel contra a heresia arminiana; e encontramos um forte incentivo para a ação nas palavras do apóstolo Paulo ao Galácia: ‘Eu não [diz ele] anulo a graça de Deus; porque se a justiça vem pela Lei, então Cristo está morto em vão’”(Christian Doctrinal Advocate and Spiritual Monitor[Advogado Doutrinário Cristão e Monitor Espiritual], 1842, p.81).

Chirsthopher Nees(1621-1705), ministro congregacional e puritano, disse:

"O Arminianismo, aquela heresia imunda, que pode ser considerada a raiz e o cerne de todas as falsas doutrinas heréticas, é, aqui, completamente despojada de sua cobertura enganosa; e (por assim dizer) anatomicamente dissecada, aberta, e exposta”(Um Antídoto Contra o Arminianismo, Prefácio)

Jonathan Edwards[1703-1758], como o seu colega Johw Owen, também mantinha a visão de Dort. Kenneth P. Minkema, Adriaan Cornelis Neele, escreveram um livro chamado "The Jonathan Edwards Encyclopedia", onde afirmam:

"Edwards afirmou que durante a Reforma, Satanás continuou a atacar a Igreja engendrando outras doutrinas falsas, como o Socinianismo e o Arminianismo"(p.287).

Vejam a contradição. O Tourinho nega que os arminianos sejam pelagianos. Dort e os teólogos reformados dizem que eles são pelagianos. E o pior. O Tourinho reconhece que os arminianos apresentam uma soteriologia baseada nas obras do homem:

"Embora os arminianos atribuam tudo à graça de Deus, ao mesmo tempo afirmam a necessidade da cooperação humana, tornando-se logicamente impossível que não haja mérito humano, mesmo que a salvação não seja por boas obras de caridade, por exemplo, mas é um mérito por participação efetiva para a conclusão do ato, sem o qual ele não poderia ser feito"(O Calvinismo Explicado, p.174)

Como arminianos defendendo sinergismo e méritos humanos na salvação do homem, não são pelagianos, Tourinho? E os símbolos confessionais reformados são claros quando dizem que aquelas organizações religiosas que ensinam a "confiança na retidão das obras que pertencem a nós"(Confissão de Fé da Congregação de Glastonbury[1551])(4ª Parte, 'Concernente a Igreja')(Reformed Confessions of The 16º and 17º Centuries In English Translation, Volume 1, pp.660-661), são "assembléias falsamente chamadas de igrejas"(Confissão de Fé da Congregação de Glastonbury[1551])(4ª Parte, 'Concernente a Igreja')(Reformed Confessions of The 16º and 17º Centuries In English Translation, Volume 1, pp.660-661).

. Aliás, o próprio Agostinho[354-430], disse:

"Portanto, nossos irmãos, que conosco em nome da fé católica atacam a peste do erro pelagiano, não devem a tal ponto favorecer a opinião pelagiana, na qual eles concebem que a graça de Deus é dada de acordo com nossos méritos"(Da Predestinação dos Santos, I:29)

Portanto, a opinião do Tourinho, em querer 'despelagianizar' os arminianos, é refutada por Agostinho e por símbolos confessionais reformados, principalmente por Dort. O autor dá um tiro no próprio pé.

(b)"Adão era perfeito, mas não absolutamente perfeito"(Calvinismo Explicado, p.243)

Quando Deus alude ao estado do homém recém criado, ele alude a um estado de total perfeição:

"Eis aqui, o que tão-somente achei: que Deus fez ao homem reto, porém eles buscaram muitas astúcias"(Ec 7:29)

O substantivo hebraico "יָשָׁר"(yāšār), aqui traduzido por "reto", de acordo com "The Analytical Hebrew and Chaldee Lexicon, Consisting of an Alphabetical Arrangement of Every Word and Inflection Contained in the Old Testament Scriptures", de Benjamin Davidson, significa literalmente "integridade"(p.360), substantivo que, segundo o Dicionário Aurélio Escolar da Língua Portuguesa[1ª Edição, 1988], denota "qualidade de íntegro"[p.365]. sendo que o mesmo Aurélio define "íntegro" como "1.Inteiro, completo. 2. Perfeito, exato"(Ibidem), de formas que o ser humano não só fora criado 'perfeito', mas 'completamente' ou 'inteiramente' perfeito, nada lhe faltando para dotá-lo como criatura humana absolutamente perfeita. William Holladay reza "יָשָׁר"(yāšār), por "reto, esticado[oposto a torto, curvo), nivelado"(p.209), e o antônimo de "torto" é "perfeito, preciso"(Michaelis Online) e me parece que os comentaristas se ativeram a essa percepção, diante de Ec 7:29, como se segue:

“Deus criou nossos primeiros pais, Adão e Eva, retos, Hebraico. Certo, sem qualquer imperfeição ou corrupção, conforme sua natureza e vontade, que é a regra do direito, segundo sua própria semelhança, entendimento e santo, em todo o bem”(Matthew Poole[1624–1679], Ministro Congregacional Puritano, Com de Ec 7:29)

“Uma alusão definitiva ao estado original do homem: no qual estava isento de vaidade”(Albert Barnes[1798-1870], Ministro Presbiteriano, Com de Ec 7:29)

“'Deus fez os homens retos' - Moralmente bons”(Mark Dunagan, Pastor da The Fifth Street Church of Christ in Beaverton, Oregon, Com de Ec 7:29)

“(Adão)Era perfeito em sua espécie e completamente agradável à santa, justa e boa lei de Deus; não tinha defeitos”(John Gill]1697-1771], Ministro Batista Calvinista e Puritano, Com de Ec 7:29)

“Mas as Escrituras Sagradas nos informam que toda a criação, como originalmente formada, era perfeita; mas o pecado, entrando no mundo, efetuou uma mudança tanto natural quanto moral: para que o homem que olha as Sagradas Escrituras possa resolver todas as dificuldades de uma vez, dizendo: 'Eis que descobri que Deus fez homem reto, mas eles procuraram muitas invenções' e, assim, reduziram o mundo, e tudo o mais, ao estado de desorganização em que agora aparece”(Charles Simeon[1759-1873], Ministro Anglicano, Com de Ec 7:29)

“Reto: sem qualquer imperfeição ou corrupção, conforme a sua natureza e vontade, à sua própria semelhança”(John Wesley[1703-1791], Có-fundador do Metodismo, Com de Ec 7:29)

“Pois não se deve supor que o autor negue assim a natureza humana perfeita à mulher”(Karl Fredreich Keil [1807-1888], Franz Delitzsch[1813-1890], Ministros Luteranos, Com de Ec 7:29)

“Eis que só descobri que Deus fez o homem reto, bom, em perfeita justiça e santidade”( Paul E. Kretzmann, Ministro Luterano, Com de Ec 7:29)

“Adão, o primeiro homem, assim como os caldeus. Deus o criou, e ele o fez na posição vertical, como alguém que deveria ser feito como uma criatura racional; ele era, em todos os aspectos, alguém como uma criatura racional deveria ser, na posição vertical, sem qualquer irregularidade de modo que não pudesse encontrar falhas nele”(Matthew Henry[1662-1714], Ministro Presbiteriano, Com de Ec 7:29)

Essa retidão perfeita, essa integridade moral do homem em seu estado primitivo, é apenas um fato esplêndido do passado, uma triste lembrança do que antes era, mas agora não é mais”(Joseph Exell, William Jones, George Barlow, W. Frank Scott, Com de Ec 7:29)

“Deus fez nossos primeiros pais, Adão e Eva, retos - hebraico, retos: Sem qualquer imperfeição ou corrupção”(Joseph Benson]1749-1821], Ministro Metodista, Com de Ec 7:29)

Mas, há outro texto que desmonta os argumentos do autor:

"Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti"(Ez 28:15)

O adjetivo hebraico "תָּמִים"(tamim), aqui traduzido por "perfeito", de acordo com o "The Brown-Driver-Briggs and English Lexicon”, significa literalmente "são, completo, intacto, íntegro"(p.1071), denotando também o sentido de algo ou alguém que é “completo, inteiro, total"(p.1071). Nesse sentido, fica claro, que o homem, em sua composição original, como um ser criado, era "perfeito" de modo "completo, inteiro e total", sendo que o adjetivo hebraico também tem o sentido de "íntegro", substantivo que o Dicionário Aurélio Escolar da Língua Portuguesa[1ª Edição, 1988], define como "1.Inteiro, completo. 2. Perfeito, exato"(p.365), de formas que o ser humano não só fora criado 'perfeito', mas 'completamente' ou'inteiramente' perfeito. Se "perfeito" significa "completo", "inteiro", total" e você diz "Adão era perfeito, mas não absolutamente perfeito", é como você dizer: "Adão era completo, mas não absolutamente completo". E a frase fica sem nenhum sentido, porque não tem como algo ser "completo", sem ser totalmente completo. O Michaelis Online vai rezar completo" por "A que nada falta, Que está perfeito... O que se exprime na sua totalidade".

Quando o autor diz que Adão não era 'absolutamente ['Totalmente, Completamente' -Michaelis Online'] perfeito, está negando estas passagens das Escrituras, e cria um problema com a frase de Paulo, que chama Jesus de 'O último Adão'(1 Co 15:45). Essa crença que vem a negar a absoluta perfeição do homem criado por Deus, vem não só negar os postulados bíblicos, mas também osm postulados da Igreja Pós-Apostólica, como se segue:

"Por que, então, Ele não deveria restaurar Adão ali pelo menos como um monógamo, que não pode apresentá-lo em tão completa perfeição como quando foi dispensado dali?”(Tertuliano[160-230], Sobre a Monogamia, 5)

“...assim também da parte que pertence à alma, os elementos de racionalidade, desejo, raiva e todos os poderes da alma ainda não são visíveis; no entanto, afirmamos que eles têm seu lugar nele, e que as energias da alma também crescem com o sujeito de maneira semelhante à formação e perfeição do corpo”(Gregório de Nissa[335-394], Sobre a Criação do Homem, 29:6)

A natureza não criou nada imperfeito no homem, nem ordenou que fosse tirado como se fosse supérfluo, mas para que aqueles que cortam uma parte de seu corpo percebam que os pecados devem ser cortados muito mais, e os membros que levados a ofensas fossem reprimidos, ainda que estivessem unidos por uma certa unidade do corpo”(Ambrósio de Milão(337-397), Epístola 74:4)

“No Paraíso, então, o homem vivia como desejava, desde que desejasse o que Deus havia ordenado. Ele vivia no desfrute de Deus, e era bom pela bondade de Deus; ele vivia sem necessidade, e tinha em seu poder viver eternamente. Ele tinha comida para não ter fome, bebida para não ter sede, a árvore da vida para que a velhice não o desperdiçasse. Não havia em seu corpo nenhuma corrupção, nem semente de corrupção, que pudesse produzir nele qualquer sensação desagradável"(Agostinho[354-430], A Cidade de Deus, 14:26)

"E assim você [Nestorio] vê que cuidadosamente sustentou e transmitiu contra nosso pensamento a respéito do Senhor Jesus Cristo como de alguma forma maior ou melhor do que Adão: uma vez que você os comparou pelo mesmo padrão, de modo que você pensaria que diminuiu algo da perfeição de Adão, se você acrescentasse algo mais a Cristo”(João Cassiano[350-435], Da Encarnação, 7:6)

"Portanto, nosso antepassado Adão também é visto como tendo atingido o ser sábio não no tempo, como nós, mas imediatamente desde os primeiros primórdios de seu ser ele parece perfeito em entendimento, preservando em si mesmo a iluminação dada por Deus à sua natureza ainda imperturbável. e puro, e mantendo a dignidade de sua natureza inalterada”(Cirilo de Alexandria[+ 444 d.C], Comentário do Evangelho de João, I:9)

“Neste dia, Deus criou um homemisto é, Adão – à imagem de Deus. Ele o criou e o fez a mais perfeita das criaturas e o aperfeiçoou, pondo nele uma particular superioridade de inteligência, palavra e alma, dotando de razão, inteligente e falante, em que havia a semelhança com Deus”(Agápio[+ 942 d.C], História Universal)

Essa crença que vem a negar a absoluta perfeição do homem criado por Deus, vem não só negar os postulados bíblicos, mas também os postulados da Igreja Pós-Apostólica e dos teólogos escolásticos, como se segue:

"Enfim, para que no homem se manifestem sua bondade e sua benevolência, Deus o fez sem qualquer mácula e qualquer culpa, e livre de toda pena e miséria. Mas como o primeiro princípio é, ao mesmo tempo, ótimo e justíssimo; porque é ótimo, só podia criar o homem bom e, consequentemente, inocente e reto; porque é justíssimo, não devia infligir-lhe pena, pois não cometera nenhum pecado. Por isso, formou para aquela alma racional um tal corpo que a ela sempre estivesse submisso, de forma a não haver nele nenhuma luta de rebelião, nenhuma inclinação a luxúria, nenhuma perda de vigor, nenhuma corrupção de morte; que fosse tão conforme à lama, que – assim como a alma era inocente..."(Boaventura[1217-1274] 'Brevilóquio', II; 6:10)

"Assim como Cristo, enquanto Verbo Incriado, formou de modo perfeitíssimo todas as coisas”(Ibidem, IV; 10:2)

"Assim, antes da queda, o homem teve perfeitos seus dons naturais, revestidos, além disso, pela graça divina”(Ibidem, 6:11)

"Quanto ao 2º, deve-se dizer que essa costela pertencia à perfeição de Adão, não enquanto um indivíduo, mas enquanto o princípio da espécie daquele que gera e que se libera por uma operação natural acompanhada de prazer”(Tomás de Aquino[1224-1275], Suma Teológica, II; Quest.93, Art.3, Resp. Objec.2)

“É necessária vossa graça, e grande graça, para vencer a natureza, propensa sempre ao mal desde a infância. Porque, viciada pelo primeiro homem, Adão, e corrompida pelo pecado, transmite a todos os homens a pena desta mancha, de sorte que a mesma natureza, por vós criada boa e reta, agora deve ser considerada como enferma e enfraquecida pela corrupção, visto que seus movimentos, abandonados a si mesmos, a arrastam ao mal e às coisas baixas. Porque a módica força que lhe ficou é como uma centelha oculta debaixo da cinza. Esta centelha é a razão natural, que, embora envolta em densas trevas, discerne ainda o bem do mal, a verdade do erro, mas não é capaz de fazer tudo que aprova, já que não possui a plena luz da verdade, nem a primitiva pureza de seus afetos”(Tomás de Kempis[1380-1471], ‘Imitação de Cristo’, 55:2).

Assim, essa crença que vem a negar a absoluta perfeição do homem criado por Deus, vem não só negar os postulados bíblicos, mas também os postulados da Igreja Pós-Apostólica, dos teólogos escolásticos,e também os postulados reformados, como se segue:

"Depois de haver feito as outras criaturas, Deus criou o homem, macho e fêmea, com almas racionais e imortais, e dotou-as de inteligência, retidão e perfeita santidade, segundo a sua própria imagem, tendo a lei de Deus escrita em seus corações, e o poder de cumpri-la, mas com a possibilidade de transgredi-la, sendo deixados à liberdade da sua própria vontade, que era mutável"(Confissão de Fé de Westminster [1643-1649], IV:2)

"Depois de ter feito todas as demais criaturas, Deus criou o ser humano, homem e mulher, dotados de uma alma racional e imortal. E os adequou perfeitamente para a vida para Deus, para a qual foram criados, tendo sido feitos segundo a imagem de Deus, em conhecimento, retidão e verdadeira santidade, possuindo a lei de Deus inscrita em seus corações, e o poder para cumpri-la"(Confissão de Fé Batista de 1689, IV:2)

"O homem assim dotado e amado pelo Criador era perfeitamente feliz, mas tentado por um espírito rebelde (chamado por Deus, Satanás), desobedeceu ao seu Criador; destruiu a harmonia em que estivera com Deus, perdeu a semelhança divina; tornou-se corrupto e miserável, deste modo vieram sobre ela a ruína e a morte"(Os 28 Artigos da Breve Exposição das Doutrinas Fundamentais do Cristianismo[1874], 7º Artigo)

Assim, se entende que os postulados bíblicos e reformados, nos apresentam Adão como portador de uma retidão e perfeita santidade". Ele era absolutamente perfeito, mas não infalivelmente ou infinitamente perfeito, visto que a liberdade de sua vontade não era imutável, como a de Deus. Adão e Eva seriam perfeitos, enquanto estivessem em Deis e lhe fossem obedientes. Seu estado permanente de perfeição estava condicionado a um pacto de obras(Gn 2:17; Ec 7:20). Já Deus, é imutavelmente perfeito, por natureza.

A comparação que ele faz entre Deus e Adão é totalmente desproporcional e sem nenhum sentido. Adão, como homem, era semelhante ao Senhor Jesus. Em sua natureza humana, era menor que Deus e os anjos(Sl 8:4-5; 2 Pe 2:10-11 comp. com Hb 2:9). Embora o primeiro e o "último Adão"(1 Co 15:45), fossem no que tange a sua natureza humana, menores que Deus Pai, isso não fê-los não serem em sua natureza humana, completa, absoluta e perfeitamente humanos. Nada lhes faltou, no que tange a perfeição de sua natureza humana. Eram seres humanos, enquanto seres humanos, absolutamente [completamente, totalmente] perfeitos[Ec 7:29; Ez 28:15; Hb 7:28]. A posição de inferioridade na natureza não lhes tira nenhum 1% de sua absoluta, completa, inteira e total perfeição humana. O argumento que ele usa pra sua assertiva, é inconsistente:

"Aqui nós podemos desenvolver um raciocínio, e começaremos a nos questionar qual o significado de perfeição na primeira declaração. Essa perfeição não pode ser perfeição absoluta, pois Deus também é perfeito, e se Adão fosse perfeito de forma absoluta, então ele seria igual a Deus, o que é absurdo,; portanto, diremos aqui que Adão era perfeito, mas não era absolutamente perfeito, já que com relação a Deus ele era imperfeito, mas em relação ao nosso estado atual, ele era perfeito"(O Calvinismo Explicado, p.243).

Dizer que Adão era totalmente e completamente perfeito, não iguala-o a Deus, assim como os anjos eleitos que permaneceram na sua perfeição e retidão, sendo portanto,'absolutamente'[totalmente, completamente] perfeitos, mas não iguais a Deus. A figura do arcanjo Miguel, representa bem isso(Jd 9). A diferença na 'perfeição' angélica e na 'divina' está na 'posição'['obediência'], no caso dos anjos[Ez 28:15; Jo 8:44]; enquanto que Deus é perfeito por natureza(1 Jo 1:5; Hb 6:18; Tt 1:2; Tg 1:13). Adão e os anjos eram e seriam perfeitos enquanto estivessem na verdade, isto é, em Deus(Gn 2:17; Ec 7:29; Jo 8:44). Sob esse aspceto, não se pode negar que Adão e Eva, e mesmo os anjos, antes da queda, eram completamente perfeitos.O que o autor não consegue entender é que Adão e os anjos eram 'totalmente perfeitos', mas não infinita e imutavelmente perfeitos, pois a continuidade de sua perfeição dependia de sua obediência, enquanto estivessem em Deus, em obediência[Gn 2:17; Ec 7:20; Ez 28:15].

Se é verdade que Adão não era completamente e totalmente perfeito, e se Cristo era o ‘último Adão”(1 Co 15:45), então segue-se que Cristo como homem não era completamente, nem totalmente perfeito. Não sendo completamente, nem totalmente perfeito, era parcialmente perfeito, e parcialmente ou completamente imperfeito, e se era parcialmente ou completamente imperfeito, como poderia “salvar perfeitamente os que por Ele se chegam a Deus”?(Hb 7:25), e Paulo diz que Jesus em sua natureza humana era "perfeito para sempre"(Hb 7:28 ACF).

Jesus ser descrito como ‘separado dos pecadores’, não significa apenas não ter que oferecer todos os dias sacrifício pelos pecados e oferecer um só sacrifício pelos pecados deles, mas significa também ser impecável. Esse é o sentido primário dessa expressão, pois a palavra grega “κεχωρισμένος”, aqui traduzida por “separado”, de acordo com a “Chave Linguística do Novo Testamento Grego” de Fritz Rienecker e Cleon Rogers, significa uma “separação devida a suas qualidades perfeitas; isto é, Ele está separadoestá numa classe distinta da dos pecadores”. O sentido aqui, trata de Cristo como uma pessoa divina-humana, portadora de “perfeição” em suas naturezas, essência ou atributos. Sua própria oração sacerdotal trata dele como essa pessoa divina humana que não só orava pelos seus, mas também que os salvaria(Jo 17:2,5,23) Por isso, que Paulo, dizendo de Cristo, como Deus Homem, afirma que Ele não necessitava de oferecer “cada dia sacrifícios, primeiramente por seus próprios pecados e depois pelos di povo”(Hb 7:27 ACF). Aqui, Paulo fala da completude que há em ambas as suas naturezas, inclusive a humana, como entenderam os comentaristas das Escrituras, como se segue:

“Dos defeitos dos homens, ele tira sua conclusão quanto à fraqueza do sacerdócio, como se tivesse dito: ‘Uma vez que a lei não faz verdadeiros sacerdotes, o defeito deve ser remediado por algum outro meio; e é remediado pela palavra do juramento; pois Cristo foi feito sacerdote, não sendo da ordem comum dos homens, mas o Filho de Deus, sujeito a nenhum defeito, mas adornado e dotado da mais alta perfeição”(João Calvino[1509-1564], Com de Hb 7:28)

“O grande Sumo Sacerdote da profissão cristã é o único sacerdote perfeito[Hb 7:11,19]. Os sacerdotes judeus eram todos homens imperfeitos e pecadores. Os sacrifícios que ofereciam eram imperfeitos e não davam paz à consciência. Havia necessidade de algum sistema melhor, e todos ansiavam por isso. Mas no Senhor Jesus, e em sua obra, há perfeição absoluta. O que ele fez foi completo e seu ofício não necessita de mudanças”(Albert Barnes[1798-1870], Ministro Presbiteriano, Com de Hb 7:28)

“Os sacerdotes judeus precisam dessas ofertas e sacrifícios repetidos, porque são homens falíveis e pecadores: mas a palavra do juramento[ainda se referindo a Sl 110:4] que existia desde a lei ; pois Davi, que menciona isso, viveu quase 500 anos após a promulgação da lei e, consequentemente, esse juramento, constituindo outro sacerdócio, revoga a lei; e por isso o Filho é consagrado, τετελειωμενον, é aperfeiçoado, para sempre. Sendo um sumo sacerdote sem mácula, imaculadamente santo, em tudo perfeito, imortal e eterno, Ele é um sacerdoteειςτον αιωνα, para a eternidade”(Adam Clark[1760-1832], Ministro Metodista, Com de Hb 7:28)

“Não pretendo aqui seguir as notas de nosso excelente expositor, em cujos trabalhos entramos, mas tomei a liberdade de defender essa noção do erudito Dr. Goodwin das exceções que sei que foram feitas a ela; e prefiro fazê-lo porque, se for válido, nos dá mais evidências de como era necessário que o Mediador fosse Deus, uma vez que nenhuma criatura possui por si mesma aquela impecabilidade que a colocará acima de todas as necessidades possíveis, de favor e misericórdia para si mesma”(Matthew Henry[1662-1714], Ministro Presbiteriano, Com de Hb 7:28)

“Ou ‘aperfeiçoado’ ouperfeito’; Ele é perfeito em sua obediência e sofrimentos, em seu sacrifício, e como está agora no céu, em completa glória; a lei fez homens sacerdotes que não continuaram, mas Cristo é um sacerdote para sempre e absolutamente perfeito”(John Gill[1697-1771], Ministro Batista, Com de Hb 7:28)

“As várias vantagens que Cristo Jesus desfrutou em comparação com os homens que ocuparam cargos no Antigo Testamento, como sacerdotes na antiga dispensação, forçam esta conclusão: Pois tal era o Sumo Sacerdote que nos tornou santos, inocentes, incontaminados, separados dos pecadores , e feito mais alto que os céus. Jesus foi o único que atendeu plenamente às necessidades da humanidade. O sacerdócio do Antigo Testamento era imperfeito, insatisfatório em muitos aspectos, não podia assegurar aos homens a certeza da salvação, da reconciliação com Deus. Mas todas as imperfeições estão ausentes no caso de nosso grande Sumo Sacerdote. Ele possui perfeita santidade pessoal, nem pecado herdado nem real sendo encontrado Nele”(Paul E Kretzmann, Ministro Luterano, Com De Hb 7:28)

“1. O caráter do Sacerdócio de Jesus Cristo, em sua dependência da natureza da pessoa do Senhor.—O único e único sumo sacerdócio de Jesus Cristo, corresponde perfeitamente às necessidades da raça humana e ao revelado propósito e vontade de Deus.—A fraqueza dos homens e a perfeição eterna do Filho.— Cristo ao mesmo tempo sacerdote e vítima.—As causas do sacrifício de Jesus Cristo são: [a]O pecado do mundo; [b]O propósito de Deus; [c]A amorosa obediência do Filho.— Os efeitos da oferta de Jesus Cristo por si mesmo: [a]Na perfeição de sua própria pessoa; b . na relação do mundo com Deus; c. sobre o caráter do sacerdócio exercido pelo homem. — Em que consiste a preeminência do sumo sacerdócio de Jesus Cristo?”(Johann P. Lange[1802-1884], Teólogo Calvinista, Com de Hb 7:28)

“Faz o Filho, que é consagrado para sempre; Deus, o Filho encarnado, o homem Cristo, companheiro de Deus, o glorioso Filho unigênito e seio do Pai[Zc 13:7; Jo 1:14; 1 Tm 2:5], é feito por esta palavra ratificada o único Sumo Sacerdote Eterno, que não é apenas completa e perfeitamente santo, em oposição às fraquezas dos sacerdotes araônicos, mas sempre capaz e apto para sua obra, bem-sucedido nisto. Quem, portanto, não deixaria esse sacerdócio abolido e se apegaria a isso que deve permanecer para sempre?”(Matthew Poole[1624-1679], Ministro Congregacional, Com de Hb 7:28)

“Quem, tendo terminado todo o seu processo, empreendido e realizado para efetuar a obra de nossa redenção, sendo sem mácula e perfeitamente livre de toda a fraqueza natural e moral, e investido de toda autoridade e poder no céu e na terra, permanece um sacerdote para sempre”(Joseph Benson[1749-1821], Ministro Metodista, Com de Hb 7:28)

“Para elucidar isso, continuarei a mostrar, por que “somente esse se tornou nosso Sumo Sacerdote” - Se o Senhor Jesus tivesse sido um ser imperfeito, como os demais sacerdotes da antiguidade, [1]Ele precisaria de uma oferenda para si mesmo... Não possuindo a menor imperfeição para expiá-la, ele poderia expiar por nós e interceder junto a Deus por nós]”(Charles Simeon[1759-1836], Ministro Anglicano, Com de Hb 7:28)

A própria narrativa de Jo 1:14 atesta para a perfeição absoluta da natureza humana do Senhor Jesus Cristo, quando lemos:

“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”(ACF)

O adjetivo grego “πλήρης”(plērēs), aqui traduzido por “cheio”, de acordo com o “Thayer’s Greek English Lexicon of the New Testament”, significa “completo; faltando nada, perfeito”(p.517). O “Dicionário Grego-Português do Novo Testamento Grego” reza “πλήρης”(plērēs) por “indeclinável”(p.921), e o "Dicionário Aurélio Escolar da Língua Portuguesa"(1ª Edição, 1988) reza "indeclinável" por "impossível declinar, desviar-se, afastar-se"(p.352). Assim, o sentido de "cheio" em Jo 1:14 é a de alguém que, em matéria de "graça" e "verdade", é "perfeito", "não lhe faltando nada", e que, no que tange a esta pessoa, é impossível desviar-se ou afastar-se desta perfeição em matéria de graça e verdade, o que aponta para não só a perfeição absoluta da natureza humana de Jesus Cristo, mas também para a sua impecabilidade, como defendem os comentaristas das Escrituras, como se segue:

"O Verbo Eterno, o Verbo que sempre existiu, o Verbo que é Deus, tornou-se carne. Ele se tornou assim pela união de duas naturezas perfeitas e distintas em uma Pessoa. Sua pessoa, porém, não pode ser dividida. E quando Ele se fez carne, tomou a forma de criatura, Ele não deixou de ser o verdadeiro Deus; Ele se esvaziou de Sua glória exterior, mas não de Sua Deidade. Ele se tornou verdadeiramente homem, mas Ele era santo, sem pecado; não somente Ele não pecou, mas Ele não podia pecar”(Arno C. Gaebelein [1861-1945], Ministro Metodista, Com de Jo 1:14)

“O encarnado é um só Cristo, perfeito homem e perfeito Deus”(Daniel D. Whedon[1808-1885], Ministro Metodista, Com de Jo 1:14)

Com razão, a Igreja se apegou firmemente à perfeição (perfectio) das naturezas divina e humana em Cristo no sentido atanasiano. Nenhuma mudança e nenhum defeito da natureza de um lado ou de outro pode ser justificada em bases exegéticas”(Heinrich A. W. Meyer[1800-1873], Ministro Luterano, Com de Jo 1:14).

“Nosso divino Senhor tomou sobre si a natureza humana. Ele se tornou um homem real, mas um homem perfeito e sem pecado”(Henry Mahan[1947-1998], Ministro Batista, Com de Jo 1:14)

“Aprenda, portanto, que Jesus Cristo realmente assumiu a verdadeira e perfeita natureza do homem, em uma união pessoal com sua natureza divina, e ainda permanece verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, em uma pessoa, para sempre”(William Burkitt [1650-1703], Ministro Anglicano, Com de Jo 1:14)

“Ele se tornou um homem como qualquer um dos filhos de Adão, com uma natureza sujeita a tudo que a humanidade caída está sujeita, exceto o pecado... Em primeiro lugar, lembremo-nos cuidadosamente que quando ‘o Verbo se fez carne’, Ele se tornou assim pela união de duas naturezas perfeitas e distintas em uma Pessoa. A maneira dessa união não podemos explicar, mas o fato em que devemos acreditar firmemente. ‘Cristo’, diz o Credo Atanasiano, ‘é Deus e Homem; Deus da substância do Pai, gerado antes do mundo, e homem da substância de Sua mãe, nascido no mundo; perfeito Deus e perfeito homem. Quem, embora Ele seja Deus e homem, ainda assim Ele não é dois, mas um Cristo; um não pela conversão da divindade em carne, mas pela tomada da humanidade em Deus’. Essas palavras são muito importantes. O Verbo não se fez carne mudando uma natureza em outra, ou deixando de lado uma natureza e assumindo outra. Em todos os nossos pensamentos sobre Cristo, cuidemos para não dividir Sua Pessoa, e que mantenhamos firmemente que Ele tem duas naturezas distintas e perfeitas. Vale lembrar a antiga linha latina sobre o assunto, citada por Gomaro. Ela representa ‘o Verbo feito carne’, dizendo: ‘Eu sou o que eu era, isso é Deus: - eu não era o que sou, isso é homem: - agora sou chamado ambos, que é tanto Deus quanto homem"(J. C. Ryle[1816-1900], Ministro Anglicano, Com de Jo 1:14)

“O significado claro dessas palavras é que nosso Divino Salvador assumiu a natureza humana. Ele se tornou um Homem real, mas um homem perfeito e sem pecado. Como Homem Ele era ‘santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores’[Hb 7:26]. Esta união das duas naturezas na Pessoa de Cristo é um dos mistérios da nossa fé”(Arthur W. Pink[1886-1952], Ministro Batista, Com de Jo 1:14)

A Igreja Pós-Apostólica [Pais da Igreja] sem nenhuma exceção, não abriu mão da crença na perfeição absoluta da natureza humana de Jesus Cristo, dizendo:

"Nós - que fomos criados recentemente pelo único ser melhor e bom, por aquele também que tem o dom da imortalidade, tendo sido formados à sua semelhança (predestinados, segundo a presciência do Pai, que nós, que ainda não tínhamos existência, pudesse vir a existir), e fez as primícias da criação – receberam, nos tempos conhecidos de antemão, [as bênçãos da salvação] segundo o ministério do Verbo, que é perfeito em todas as coisas, como o poderoso Verbo, e mesmo homem, que, redimindo-nos pelo seu próprio sangue de modo conforme à razão, se deu a si mesmo como redenção por aqueles que foram levados ao cativeiro’(Ireneu[130-200], Contra Heresias, V; 1:1)

"Pois ele era o primogênito da Virgem, um homem justo e santo, temente a Deus, bom, agradável a Deus, perfeito em todos os sentidos, e livrando do inferno todos os que o seguem; porque ele mesmo foi o primogênito do morto, o Príncipe e Autor da vida para Deus"(Ibidem, Demonstração da Pregação Apostólica, 39).

“E não há ninguém que veja a Deus, exceto apenas o Filho Único e perfeito homem que sozinho declara a vontade do Pai”(Hipólito[169-215], Contra Noeto, 5).

"E assim como a pérola vem das duas naturezas, a saber, relâmpago e água, os sinais ocultos do mar; assim também nosso Senhor Jesus Cristo procede, sem fusão e sem mutação, da pura, casta, imaculada e santa Virgem Maria; perfeito em divindade e perfeito em humanidade, em todas as coisas iguais ao Pai, e em todas as coisas consubstanciais a nós, exceto o pecado”(Gregório Taumaturgo[213-270], Primeira Homília [‘Sobre a Anunciação à Santa Virgem Maria’])

"O Senhor contigo e de ti, que em Sua Divindade e Sua humanidade é perfeito, em quem habita toda a plenitude da Divindade”(Ibidem, Homília Sobre a Santa Mãe de Deus, 25)

“Se alguém afirma que o corpo de Cristo é vazio de alma e entendimento, e se recusa a reconhecer que Ele é homem perfeito, um e o mesmo em todas as coisas (conosco), seja anátema”(Ibidem, Doze Tópicos Sobre a Fé. XI)

“Esvaziando-se da forma de Deus e assumindo a forma de servo, e nascendo o Filho de Deus como Filho do Homem, sem se desfazer de seu ser nem de seu poder, o Deus Verbo se fez perfeito homem vivo. Porém, de que modo poderia o Filho de Deus nascer como Filho do Homem ou como assumiria a forma de servo permanecendo na forma de Deus [pois é poderoso o Verbo e Deus para assumir a carne no seio da Virgem e dar alma à carne] se o homem Jesus não tivesse nascido como homem perfeito para a redenção de nossa alma e de nosso corpo, e se não tivesse assumido o corpo para que, ao ser concebido pela Virgem, este corpo o fizesse existir na forma de servo?”(Hilário de Poitiers[300-368], Tratado sobre a Santíssima Trindade, 10:15)

“Também Jesus Cristo, por seu poder, é homem composto de carne e alma e é Deus. Tem em si completa e perfeita humanidade, e completa e perfeita divindade”(Ibidem, 10:19)

“Pois Cristo tinha de fato um corpo, mas único, como convinha à sua origem. Ele não veio à existência através das paixões inerentes à concepção humana: Ele veio à forma de nosso corpo por um ato de Seu próprio poder. Ele carregou nossa humanidade coletiva na forma de um servo, mas Ele estava livre dos pecados e imperfeições do corpo humano: para que pudéssemos estar Nele, porque Ele nasceu da Virgem, e ainda assim nossas imperfeições não podem estar Nele, porque Ele é a fonte de Sua própria humanidade, nascido como homem, mas não nascido sob os defeitos da concepção humana”(Ibidem, 10:25)

“Não foi achado em forma de homem, mas em forma de homem; nem a sua carne era carne de pecado, mas semelhança da carne de pecado. Assim, a forma da carne implica a verdade de Seu nascimento, e a semelhança da carne do pecado O remove das imperfeições da fraqueza humana. Assim, o Homem Jesus Cristo como homem nasceu verdadeiramente, pois Cristo não tinha pecado em Sua natureza: pois, em Seu lado humano, Ele nasceu, e não podia deixar de ser um homem; em Seu lado divino, Ele nunca poderia deixar de ser Cristo. Desde então, Jesus Cristo era homem, Ele se submeteu como homem a um nascimento humano: mas como Cristo Ele estava livre da fraqueza de nossa raça degenerada”(Ibidem, 10:25)

“Ele foi concebido do Espírito Santo e nascido da Virgem, que desempenhou o ofício de seu sexo, mas não recebeu a semente de Sua concepção do homem. Ela deu à luz um corpo, mas um concebido do Espírito Santo; um corpo possuindo realidade inerente, mas sem nenhuma fraqueza em sua natureza”(Ibidem, 10:35)

“Jesus Cristo é homem. Não começou a ser Deus quando se fez homem nem deixou de ser Deus ao fazer-se homem, nem, depois de ser homem, em Deus, nem deixou de ser perfeito homem e perfeito Deus”(Ibidem, 9:6)

"Seu Filho se tornou um Remédio, que mostrou misericórdia aos pecadores. Bendito seja Aquele que habitou no ventre, e nele forjou um templo perfeito, para que nele habitasse, um trono para que nele estivesse, uma veste para que nele se vestisse e uma arma para que pudesse conquistar isto"(Efrém, o Sírio[306-373], 'Hinos sobra a Natividade [Hino 2]).

“Pois não separamos a humanidade da Divindade, mas estabelecemos como dogma a Unidade e a Identidade da Pessoa, que outrora não era Homem, mas Deus, e o Filho Único antes de todas as eras, não misturado com corpo ou qualquer coisa corpórea; mas quem nestes últimos dias assumiu a humanidade também para nossa salvação; passível em Sua Carne, impassível em Sua Divindade; circunscrito no corpo, incircunscrito no Espírito; ao mesmo tempo terrena e celestial, tangível e intangível, compreensível e incompreensível; que por Uma e Mesma Pessoa, que era Homem perfeito e também Deus, toda a humanidade caída pelo pecado pudesse ser criada de novo”(Gregório Naziazeno[330-390], Epístola 101)

“Bem, pois, o apóstolo repetiu a mesma palavra, dizendo do Senhor Jesus, que sendo em forma de Deus não considerou usurpação ser igual a Deus; mas se fez sem reputação e assumiu a forma de servo. Qual é o significado na forma de Deus, mas na plenitude da Divindade, na expressão da perfeição divina? Estando, portanto, na plenitude da Divindade, Ele se esvaziou dela, e recebeu a plenitude da natureza humana e perfeição: como nada estava faltando para Ele como Deus, assim também não havia nada faltando para Sua perfeição como homem, que em qualquer forma Ele pode ser perfeito”(Ambrósio de Milão[337-397], Epístola a Sabino[46:6]).

“Finalmente, tendo cumprido seus sofrimentos, e sendo ele mesmo perfeito, deu saúde a todos, carregou o pecado de todos”(Ibidem, Epístola 63)

"Pois confessadamente em relação à natureza do corpo ou da natureza humana perfeita no que diz respeito a si mesma, o Verbo de Deus Pai foi feito semelhante a nós e em tudo semelhante, exceto o pecado”(Cirilo de Alexandria[+ 444 d.C], Cinco Livros Contra Nestório, III)

“E esse verdadeiramente Filho foi Aquele que é ungido em que Ele foi feito carne, isto é, perfeito homem”(Ibidem, ‘Que Cristo é Um’)

“O Verbo de Deus Pai foi chamado Homem, embora por Natureza Deus, pois Ele participou de sangue e carne como nós. Pois assim Ele foi visto pelos que estavam na terra, e não deixando de ser o que Ele era, mas assumindo a natureza humana como nós, perfeita em si mesma; mas também na natureza humana Ele permaneceu Deus e Senhor de tudo, por natureza e em verdade gerado de Deus Pai”(Ibidem, Scholia Sobre a Encarnação do Unigênito, 4).

“Portanto, a união do Verbo com a natureza humana não pode ser comparada à nossa condição. Pois como o corpo é de outra natureza que a alma, ainda assim um homem é produzido e dito ser de ambos; assim também da Perfeita Pessoa de Deus, o Verbo, e da humanidade perfeita em seu próprio modo, é Um Cristo, o Mesmo Deus e Homem no Mesmo”(Ibidem, 8)

“Mas [como já dissemos] Cristo não é como os outros santos, um homem vestido de Deus, mas sim Deus em verdade e possui glória mais alta que todo o mundo, porque, sendo a Palavra de Deus por natureza, Deus se fez carne ou perfeito homem; pois acreditamos que o Corpo que estava unido a Ele é animado e dotado de razão, e totalmente verdadeira é a união”(Ibidem, 26)

“Mas o Verbo, sendo Deus, foi feito perfeito homem, tomando um corpo dotado de alma e mente, e unindo-o a Si mesmo em verdade, como Ele sabe (pois pensamentos desse tipo são totalmente inatingíveis por nossa mente), foi chamado filho do homem”(Ibidem, 27)

"...e assim percorrendo toda a genealogia em ordem, ele nunca usa essa expressão, segundo a carne, visto que ela não servia para aqueles que eram meros homens; e assim, sendo o divino Verbo de Deus encarnado não apenas homem, mas também Deus desde a eternidade, o apóstolo, tendo mencionado Davi, necessariamente acrescenta segundo a carne, claramente para nos ensinar como ele era de fato o Filho de Deus, e como ainda feito para ser de Davi; 4. E declarado Filho de Deus com poder, segundo o espírito de santidade, pela ressurreição dentre os mortos de Jesus Cristo nosso Senhor. Antes de sua cruz e paixão, não apenas para os outros judeus, mas até para os próprios apóstolos, nosso Senhor Cristo não parecia ser Deus; pois eles foram enganados por sua humanidade perfeita, quando o viram comendo e bebendo, dormindo e ficando cansado; nem mesmo seus milagres poderiam trazê-los a essa convicção; e assim, por exemplo, quando eles viram o milagre no mar de Tiberíades [Mt 8:27], eles gritaram: ‘Que tipo de homem é este, que até os ventos e o mar lhe obedecem!"(Teodoreto de Ciro[393-457], Comentário de Romanos, Capítulo I)

“Confessamos que nosso Senhor Jesus Cristo, perfeito Deus e perfeito homem, de alma e corpo racionais, foi gerado do Pai antes dos séculos, no tocante à Divindade; e nos últimos dias para nós homens e nossa salvação (nasceu) da Virgem Maria; que o mesmo Senhor é de uma substância com o Pai no que diz respeito à Divindade, e de uma substância conosco no que diz respeito à humanidade”(Ibidemn, Epístola 151)

“Mas de nada adianta dizer que nosso Senhor, o Filho da bem-aventurada Virgem Maria, foi homem verdadeiro e perfeito, se não se crê que seja homem da linhagem que lhe é atribuída no Evangelho”(Leão, o Grande[390-461], Epístola 31,2)

“Portanto, no final de [Seu] batismo, Jesus havia alcançado até o limite da justiça da lei, mas desde aquele tempo até a Cruz Ele permaneceu no limite da perfeição espiritual na perfeita bondade que Ele mesmo trouxe à criação”(Filoxeno de Hierápolis[440-523], Treze Discursos Ascéticos, VIII)

“...então Deus o Verbo foi ao encontro da origem e raiz do nascimento. Deus, o Verbo, então se tornou perfeito homem”(Zacarias de Mitilene[465-536], Crônica Siríaca, V)

“Todo aquele que disser a respeito do corpo de Cristo que era sem alma e sem mente, e não confessar que sua humanidade é perfeita, sendo ele o mesmo, conforme está escrito, seja anátema”(Ibidem, Crônica Siríaca, 4:12)

“Mas, novamente, com respeito à dispensação de nosso Redentor na carne, cremos que Deus, o Verbo, permanecendo imutável, tornou-se carne, com o objetivo de revivificar a humanidade. E Ele, sendo o verdadeiro Filho de Deus pela geração eterna, tornou-se homem pelo nascimento da Virgem. E Ele, que é Deus perfeito em sua divindade da mesma natureza com o Pai, e também perfeito homem da mesma natureza corporal com a humanidade pelo nascimento da Virgem, é um e o mesmo”(Ibidem, 4:12)

“Mas visto que nossa palavra de fato testifica que Ele é perfeito em humanidade e em natureza, dizendo que Ele se fez carne, portanto, deixem eles cessar com essas objeções, e não se apoiem em uma cana quebrada”(Ibidem, 4:12)

“A carta anterior, com as citações anexadas, nós escrevemos aqui. Ao lê-lo e considerá-lo, os amantes da doutrina encontrarão nele uma refutação suficiente da noção de Nestório, que sustenta que há duas Naturezas na unidade de Cristo; e também do ensinamento de Eutiques, que não confessa que Deus o Verbo se fez perfeito homem, e permaneceu imutável Deus o Verbo, Uma Pessoa que se fez carne”(Ibidem, 4:12)

“E depois disso esperei por eles mais quatro anos, sem expô-los pelo nome. E eles ainda perseveraram em sua desobediência, e não mostraram nenhum sinal de arrependimento, e não receberam a doutrina dos santos Pais nem de mim. e eles se associaram com alguns hereges que abertamente negam que nosso Senhor tomou um corpo humano e que se tornou perfeito homem. E eles se infiltram nas casas, e avidamente se apoderam do lucro, que eles têm como seu deus, enquanto peregrinam na cidade real. E eu escrevi para que eles se afastassem disso, mas eles não o fizeram. E eles continuaram a enganar as pessoas simples e a circular boatos a meu respeito, com o objetivo de me causar grande dano. E ficando angustiado e triste por eles, fui compelido a escomungá-los por seus nomes para que não fizessem muitos tropeçar e errar"(Ibidem, 4:12)

“Quando o significado das cartas encíclicas do rei se tornou conhecido, certos monges com opiniões semelhantes às de Eutiques, que por acaso estava na Cidade Real, vieram em conjunto a Timóteo, supondo que ele fosse de sua maneira de pensar, e disputaram com ele sobre os termos da Encíclica; porque anatematizou todos os que afirmavam que Cristo estava encarnado em aparência. Mas quando ele lhes disse: ‘Qual é então a sua opinião a respeito da Encarnação?’ então eles lhe trouxeram a ilustração do anel de sinete que, após a impressão, não deixa parte de sua substância sobre a cera ou o barro. E tendo descoberto seus sentimentos, ele os advertiu e instruiu, que as Escrituras nos ensinam que Cristo foi feito em todos os pontos como nós, e tomou nossa natureza perfeitamente, mas sem a inclinação do pecado. E embora Ele tenha nascido sobrenaturalmente sem cópula, todavia Ele se tornou Homem perfeito, tendo sido concebido da Virgem Maria, e dela nascido pelo Espírito Santo. E sendo encarnado Ele ainda permaneceu o mesmo e sem mudança em Sua Divindade”(Ibidem, V:4)

“Assim, rei vitorioso, agora também declaramos a liberdade de nossa fé, embora no deserto, quando recebemos seu decreto das mãos de Teódoto, o duque, escrevemos e declaramos o que pensamos, e Vossas Majestades nos deu uma mensagem da verdade livre de aflição, por ter sido graciosamente movido e nos convocado à sua presença. E, uma vez que fomos julgados dignos das misericórdias de Deus, informamos nesta súplica suas ortodoxias que, pela graça de Deus, temos de nossos a primeira infância recebeu a fé dos apóstolos, e fomos criados nela e com ela, e pensamos e cremos como nossos trezentos e dezoito santos pais inspirados por Deus, que mostraram a fé da vida e da salvação, que foi confirmado por nossos cento e cinquenta santos pais que uma vez aqui se reuniram e ratificados pelos piedosos bispos que se reuniram em Éfeso e rejeitaram o ímpio Nestório. E desta meodo está enraizada em nossos corações, e somente esta mesma doutrina reconhecemos como regra na fé, e além dela não recebemos nenhuma outra; porque é perfeita em todos os pontos, e não envelhece nem precisa de renovação. Ora, reconhecemos uma venerável e santa Trindade de uma natureza, poder e honra, que se dá a conhecer em três pessoas; porque adoramos o Pai e seu único Filho, Deus, o Verbo, que dele foi gerado eternamente, além de todos os tempos, e está sempre com Ele sem variação, e 'o Espírito Santo, que procede do Pai, e é da natureza do Pai e do Filho'. Uma das pessoas desta Santíssima Trindade, isto é, Deus o Verbo, nós dizemos que pela vontade do Pai nos últimos dias para a salvação dos homens se fez carne do Espírito Santo e da Santa Virgem Maria Mãe de Deus em um corpo dotado de uma alma racional e intelectual, passível segundo nossa natureza, e se fez homem, e não foi mudado daquilo que Ele era. E assim confessamos que, enquanto na Deidade Ele era da natureza do Pai, Ele também era da nossa natureza na humanidade. Portanto, Aquele que é o Verbo perfeito, o Filho invariável de Deus, tornou-se homem perfeito, e nada nos deixou deficiente em relação à nossa salvação, como disse o insensato Apolinário, dizendo que a Humanização de Deus Verbo não foi perfeita, e nos priva, segundo sua opinião, de coisas que são de primeira importância em nossa salvação. Pois, se nosso intelecto não estava unido a Ele, como ele absurdamente diz, então não somos salvos e, em matéria de salvação, ficamos aquém do que é da maior consequência para nós. Mas essas coisas não são como ele disse; porque o Deus perfeito por nossa causa tornou-se homem perfeito sem variação, e Deus o Verbo não deixou nada faltando na Humanização, como dissemos, nem foi um fantasma Dela, como supõe o ímpio Mani, e o errante Eutiques”(Ibidem, 9:15)

“Se, portanto, de acordo com nossos santos Pais, a quem as vossas tranqüilidades seguiram, Deus o Verbo, que antes era simples e não composto, se encarnou da Virgem, a Maria Mãe de Deus, e uniu a si mesmo pessoalmente possuidor de alma e carne intelectual e a fez sua e se uniu a ela por composição na dispensação, é manifesto que, segundo nossos pais, devemos confessar uma natureza de Deus o Verbo, que se fez carne e se tornou perfeitamente homem. antes simples, não se reconhece ter se tornado composto em um corpo, se Ele é novamente dividido após a união ao ser chamado de duas naturezas, não é dividido em duas naturezas porque uma alma foi unida por composição com um corpo para formar a natureza e pessoa de um homem, assim também Deus o Verbo, que foi pessoalmente unido e unido por composição com carne possuidora de alma, não é dividido em uma ou em duas naturezas por causa de Sua união e composição com um corpo”(Ibidem, 9:15)

“E eles são rápidos e se recusam a aceitar o que Leão escreveu no Tomo em oposição a essas coisas, ele e as de suas opiniões; e eles produziram citações dele, e de Nestório e Teodoro e Diodoro e Teodoreto e do Sínodo de Calcedônia, que falam de duas naturezas após a Encarnação de Deus, o Verbo, e duas pessoas; e eles forneceram uma refutação copiosa deles com provas tiradas dos padres que em vários momentos tiveram opiniões contrárias a estas e ensinaram uma natureza e pessoa na Igreja, dizendo que Deus, o Verbo, foi na verdade humanizado sem mudança e se tornou perfeito homem, e o mesmo permaneceu Deus perfeito, além de coisas que eu deixo de registrar aqui por causa de sua extensão, e porque eles foram encontrados em todos os lugares em obras contra os Difisitas”(Ibidem, 9:15)

“Nesta primeira saudação espiritual e cheia de amor comunico-me com você, ó santo, pois, enquanto me regozijo na união e também em conjunto com você e nos laços espirituais de acordo com as leis da Igreja, declaro que apegar-se à única definição de fé, aquela que foi estabelecida pelos trezentos e dezoito santos padres que se reuniram em Nicéia sob a direção do Espírito Santo, e a isso eu oro para que eu possa me apegar até o fim; essa definição foi ratificado pelo Sínodo de cento e cinquenta santos pais que se reuniram nesta cidade real contra os ímpios combatentes contra o Espírito; e não apenas isso, mas também pelo santo Sínodo que se reuniu em Éfeso contra o ímpio Nestório, cujos líderes foram os arcebispos, memoráveis pela piedade e amor a Deus, Celestino dos Romanos e Cirilo de Alexandria, que em seus doze capítulos derrubou Nestório, o adorador de homens. A estes capítulos concordo com todos os seus escritos e abraçá-los como uma lei sagrada, enquanto juntamente com estes ensinamentos sagrados de Cirilo eu recebo também a fórmula de. Zenão unindo as Igrejas, que visa a consumação da religião pela anulação do Sínodo de Calcedônia e do ímpio Tomo de Leão. Confesso que Deus Verbo, que foi gerado antes dos séculos de Deus Pai, o Filho unigênito, conatural e coeterno com o Pai, por quem todas as coisas foram feitas e por quem todas as coisas foram estabelecidas, a Luz da Luz, o invariável imagem e vontade invisível do Pai, nos últimos dias se encarnou e se tornou perfeitamente homem do Espírito Santo e da santa Mãe de Deus e sempre virgem Maria, e uniu-se a Si pessoalmente carne de nossa natureza, tendo uma alma racional e intelectual, e sem variação e confusão e pecado tomou nossa semelhança com Ele. Pois Ele permaneceu imutável como Deus, e mesmo assumindo nossos atributos Ele não diminuiu ao mesmo tempo Suas próprias propriedades divinas; e o que foi derivado de nós Ele fez Seu por dispensação por uma junção que consiste em uma união natural. Pois aquele que foi gerado sem tempo e sem corpo de Deus Pai, o mesmo se submeteu a um segundo nascimento em um corpo; e, depois que Ele se encarnou de uma maneira inefável de uma mãe virgem, aquela que O gerou também continuou virgem mesmo após o nascimento. Por isso também confessamos verdadeiramente que ela é a Mãe de Deus, e que Aquele que nasceu dela na carne é Deus perfeito e homem perfeito, o mesmo de duas naturezas, um Filho, um Senhor, um Cristo e uma natureza do encarnado, o Verbo, e Ele se tornou perfeitamente homem, enquanto cada uma das naturezas permaneceu sem confusão em sua esfera de manifestação, as naturezas que se combinaram para formar uma unidade indivisível”(Ibidem, 9:21)

“E, quando, além destas coisas, contemplo também o tumulto que aumenta nas santas Igrejas e do lado daqueles que não crêem corretamente, porque consideram a religião como um meio de lucro por um tempo, e falam maldade no alto contra o Cabeça, e divida Deus o Verbo, que se encarnou sem variação e se tornou perfeitamente homem"(Ibidem, 9:25)

“Abraçando, portanto, a união convosco e a unanimidade fraterna em Cristo e nas leis da Igreja, declaramos por esta epístola sinodal que nos apegamos à única definição de fé, a de nossos trezentos e dezoito santos pais em Nicéia, que também os cento e cinquenta que aqui se reuniram contra os combatentes contra o Espírito ratificando, e ao santo Sínodo que se reuniu em Éfeso com o consentimento de Celestino e na presença de Cirilo, que nos doze capítulos demoliu a doutrina de Nestório. Concordo e abraço o resto de seus escritos e recebo a fórmula de Zenão unindo as Igrejas, que visava a anulação do Sínodo de Calcedônia e do Tomo de Leão. E confesso que Deus o Verbo, o único Filho, que foi gerado do Pai na eternidade, por quem todas as coisas foram feitas, Luz da Luz, imagem viva do Pai e participante de sua natureza, nos últimos tempos se encarnou pelo Espírito Santo e de Maria Virgem, e se tornou homem perfeitamente sem variação e confusão, em tudo como nós, exceto no pecado; e Ele permaneceu Deus imutável, e, quando Ele assumiu nossos atributos, Ele não foi diminuído em Sua Divindade; e aquilo que foi derivado de nós Ele fez Seu por dispensação por uma união natural. Pois Aquele que foi gerado sem tempo e sem corpo de Deus Pai, o mesmo sofreu um segundo nascimento na carne, visto que de maneira inefável Ele se encarnou de uma mãe virgem; e, depois que ela o deu à luz, ela continuou em sua virgindade; e nós justamente confessamos que ela é a Mãe de Deus, e que Aquele que nasceu dela na carne é perfeito Deus e perfeito homem, o mesmo de duas naturezas um Filho, um Senhor e um Cristo, e uma natureza de Deus o Verbo que se encarnou”(Ibidem, 9:25)

"Mas como ele continuou Deus na humanidade; da mesma maneira, embora possuidor de supremacia divina, ele não é menos homem; sendo ambos em um, Deus e homem ao mesmo tempo, um Emanuel. Além disso, embora confessando que ele é ao mesmo tempo perfeito na divindade e perfeito na humanidade”(Evágrio Escolástico[536-590], História Eclesiástica, IV)

“E assim o acusaram de ser um nestoriano; mas sua acusação era falsa. Pelo contrário, ele era um homem muito bom e nunca deixou de mostrar favor aos ortodoxos e aos que criam na natureza única de Cristo, perfeito Deus e homem de uma essência, a Palavra que se fez carne”(João de Nikiu[+ 690], A Crônica, 18)

“E Deus sendo perfeito torna-se homem perfeito, e traz à perfeição a mais nova de todas as coisas novas”(João Damasceno[676-749], Uma Exposição da Fé Ortodoxa, III:1)

“Por ser por natureza perfeito Deus, Ele naturalmente se tornou igualmente homem perfeito: e não mudou Sua natureza nem fez da dispensação um espetáculo vazio, mas tornou-se, sem confusão, mudança ou divisão, um em subsistência com a carne, que foi concebida da Virgem Santa, e animada de razão e pensamento, e havia encontrado existência nEle, enquanto Ele não mudou a natureza de Sua divindade na essência da carne, nem a essência da carne na natureza de Sua divindade, e não fez uma natureza composta a partir de Sua natureza divina e da natureza humana que Ele assumiu”(Ibidem, III:2)

“Pois Cristo, de fato, é alguém, perfeito tanto em divindade quanto em humanidade”(Ibidem,III: 5)

“Não o proclamamos apenas como Deus, privando-o de nossa humanidade, nem apenas como homem, despojando-o de sua divindade, nem como duas pessoas distintas, mas como um e o mesmo, ao mesmo tempo Deus e homem, Deus perfeito e homem perfeito, totalmente Deus e totalmente homem, o mesmo sendo totalmente Deus, embora também fosse carne e totalmente homem, embora também fosse Deus altíssimo. E por Deus perfeito e homem perfeito queremos enfatizar a plenitude e infalibilidade das naturezas: enquanto por totalmente Deus e totalmente homem queremos enfatizar a singularidade e individualidade da subsistência”(Ibidem, III:7)

“Confessando, então, o mesmo Jesus Cristo, nosso Senhor, ser Deus e perfeito homem, sustentamos que o mesmo tem todos os atributos do Pai, exceto o de ser gerado, e todos os atributos do primeiro Adão, exceto apenas seu pecado, sendo esses atributos o corpo e a alma inteligente e racional; e ainda que Ele tem, correspondendo às duas naturezas, os dois conjuntos de qualidades naturais pertencentes às duas naturezas: duas volições naturais, uma divina e uma humana, duas energias naturais, uma divina e uma humana, duas vontades naturais, um divino e um humano, e dois tipos de sabedoria e conhecimento, um divino e um humano”(Ibidem, 3:13)

“No mesmo ano, algumas pessoas foram a Alexandria e disseram na frente de Dióscoro sobre seu bispo que, quando ele deu sermões, ele não disse que Maria havia dado à luz a Deus, mas que ela era mãe de um homem e que ela deu à luz um homem perfeito, que se assemelhava a Deus, de acordo com as doutrinas de Nestório”(Agapius [+ 942 d.C], História Universal)

E os teólogos escolásticos também acompanham os pais da Igreja, confirmando a doutrina da perfeição absoluta de nosso Senhor Jesus Cristo, como se segue:

"Mas em qualquer maneira como se diz que essas duas naturezas perfeitas... é necessário que a mesmo pessoa será perfeito Deus e perfeito homem, que fará esta satisfação; uma vez que ele não pode fazê-lo a menos que ele seja verdadeiro Deus, nem deveria, a menos que ele seja verdadeiro homem”(Anselmo de Cantuária[1033-1109], ‘Cur Deus Homo’, II:7).

“Por isso, teve sabedoria enquanto Deus e enquanto homem, como bem-aventurado e como peregrino, como iluminado pela graça e como perfeitamente constituído pela natureza”(Boaventura[1217-1274], ‘Brevilóquio’, IV; 6:1)

“Logo, como em Cristo existiu a virtude em um grau perfeitíssimo, segue-se que nele não houve inclinação ao pecado, também porque essa deficiência não se ordena à satisfação, mas, antes, inclina ao contrário da satisfação”(Tomás de Aquino]1224-1275], Suma Teológica, VIII; Quest.15, Art.2)

E os símbolos confessionais reformados são uníssonos nisso, como se segue:

"Assim, Deus e o homem são um em Cristo, o Filho de Deus desde a eternidade e o Filho do homem desde o tempo designado; uma pessoa, um Cristo; perfeito Deus e perfeito homem; não porque uma natureza se torna a outra, ou porque as naturezas estão fundidas, mas porque cada uma permanece seu eu peculiar; e ainda, a unidade desta pessoa não é quebrada por esta retenção das peculiaridades”(Zuínglio, A Razão da Fé[1530])

“Por isso Adão, o autor de nossa miséria, foi feito à semelhança de Deus, que, no entanto, ele poderia ser terreno, como mostrou sua fraqueza; mas, pelo contrário, o segundo Adão, Jesus Cristo, por meio de quem somos libertados, deve ser um homem verdadeiro e perfeito e, ainda assim, o Senhor do céu, ou seja, o Deus verdadeiro, em quem residia corporalmente toda a plenitude da Divindade”(Confissão de Fé de Teodoro de Beza[1560], XX)

“Além disso, Cristo não é apenas Deus perfeito, mas homem perfeito, feito de uma mulher (Gálatas 4: 4), feito da semente de Davi[Rm 1:3]; saindo dos lombos de Davi (Atos 2:30), de Jessé e Judá (Atos 13:23)”(Confissão de Fé Batista de Londres [1646], XVI)

“Pois a fé certa é acreditar e confessar que nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, é Deus e homem. Ele é Deus, gerado antes dos mundos da substância do Pai, e ele é homem, nascido no mundo da substância de sua mãe. Deus perfeito, homem perfeito, de alma racional e carne humana subsistindo, igual ao Pai de acordo com a divindade, porém menor do que o Pai de acordo com a humanidade. Embora ele seja Deus e homem, ele não é então dois, mas um só Cristo”(Catecismo da Igreja de Genebra[1537], XX)

“A fim de mostrar Sua bondade incompreensível, Deus ainda não desejou tornar Sua graça apenas igual ao nosso pecado, mas desejou que fosse superado. Por isso Adão, o autor de nossa miséria, foi feito à semelhança de Deus, que, no entanto, ele poderia ser terreno, como mostrou sua fraqueza; mas, pelo contrário, o segundo Adão, Jesus Cristo, por meio de quem somos libertados, deve ser um homem verdadeiro e perfeito e ainda o Senhor do céu, isto é, Deus verdadeiro, em quem residia corporalmente toda a plenitude da Divindade”(A Confissão de Tarcal [1562] e Torda[1563], XX)

“Ele é Deus, gerado antes dos mundos da substância do Pai, e ele é o homem, nascido no mundo da substância de sua mãe. Deus perfeito, homem perfeito, de alma racional e carne humana subsistindo, igual ao Pai segundo a divindade, porém menor que o Pai segundo a humanidade. Embora ele seja Deus e homem, ele não é então dois, mas um só Cristo”(Confissão Rhaetiana[1552]).

“Portanto, era necessário que aquele que se levantasse novamente tivesse vitória sobre o diabo, pecado, o mundo e morte junto com a ira de Deus, deve não apenas ser homem perfeito, mas também verdadeiro Deus. Finalmente, para melhor declarar Sua bondade incompreensível[Rm 5: 15-21]”(Confissão de Fé de Teodoro de Beza[156], ‘De Jesus Cristo, o Único Filho de Deus’, O Terceiro Ponto, XX)

“P. Quem é nosso Redentor e quem nos redimiu? R. Jesus Cristo, que nos redimiu com Sua morte. P. Que tipo de pessoa Ele é? R. Perfeito Deus e perfeito homem”(Catecismo de John Craig[1581], 'A Segunda Parte de Nossa Crença’)

"Cristo é um, perfeito Deus e perfeito homem, a quem adoramos com o Pai e o Espírito, em uma adoração junto com Sua imaculada carne”[O Consenso de Bremen[1595], V, ‘Os distintos graus de majestade e glória de Cristo’).

Detalhe, isso contraria a CFW, que diz que a alma de Adão foi dotada de “perfeita santidade”(4:2), e que o último Adão tinha “as duas naturezas, inteiras, perfeitas e distintas”(8:2). Veja que a posição da CFW é que Cristo era inteiramente perfeito, enquanto homem e enquanto Deus. A posição do Tourinho, portanto, contraria diversas outras confissões reformadas, como se segue:

"O homem, que é a imagem mais perfeita de Deus na terra e tem o título de honra entre todas as criaturas visíveis, é feito de alma e corpo, dos quais o corpo é mortal, a alma imortal"(Primeira Confissão Helvética[1536],7).

"Confessamos e reconhecemos que nosso Deus criou o homem, isto é, nosso primeiro pai, Adão, segundo sua própria imagem e semelhança, e lhe deu sabedoria, domínio, justiça, livre arbítrio e consciência de si mesmo, de modo que em toda a natureza do homem não se podia encontrar nenhuma imperfeição. Dessa perfeição e dignidade caíram o homem e a mulher; a mulher, enganada pela serpente e o homem dando ouvido à voz da mulher, ambos conspirando contra a soberana majestade de Deus, que, com palavras claras, os havia previamente ameaçado de morte, se ousassem comer da árvore proibida"(Confissão de Fé Escocesa[1560], 2)

"De fato, devemos ser tão perfeitos em todas as coisas quanto Adão antes de violar o mandamento de Deus; na verdade, tão celestiais quanto os Anjos de Deus[Rm 7; Mt 5; Dt 10; Ef 4; Cl 3]"(Grande Catecismo de Emden da Igreja dos Estrangeiros, Londres[1551], Resp. Perg. Nº 72)

"Quando falamos do primeiro homem em nossa discussão da doutrina da predestinação, meu ensino é que devemos sempre considerar o caso solene como este: que ele, tendo sido criado perfeitamente justo, caiu por sua própria vontade e voluntariamente , e que, por essa queda, ele trouxe destruição eterna sobre si mesmo e toda a sua raça futura. Pois devemos sempre ter em mente que Adão, por sua própria vontade e acordo, privou-se daquela justiça perfeita que havia recebido de Deus; e que, por sua própria vontade e vontade, ele se entregou ao serviço do pecado e de Satanás, e assim se precipitou na destruição eterna"(Consenso de Genebra[1552] Calvino 'Sobre a Eterna Predestinação')

"Tenho afirmado em todos os lugares que o homem foi criado no início perfeitamente reto"(Ibidem)

"Eu tenho já observado que a Queda de Adão é uma lição permanente de humildade para todos da sua posteridade; uma lição da qual eles podem aprender que eles não são nada em si mesmos, e nada podem fazer para recuperar a vida eterna; que Adão era perfeito, e podia agir perfeitamente, e mesmo assim ele caiu!"(Ibidem).

"Mestre. Que imagem é essa, à semelhança da qual dizes que o homem foi feito? T. Aluno. Essa é a justiça mais absoluta e a santidade perfeita que mais pertence à própria natureza de Deus e apareceu mais claramente em Cristo, nosso novo Adão. Dos quais, em nós, dificilmente se vêem brilhos"(Catecismo Anglicano[1553]).

"Tendo criado todas as outras coisas para o benefício e serviço do homem (Gn 9:2-3; Hb 1:10), Deus finalmente criou o homem para Seu próprio serviço, isto é, para ser conhecido, amado, servido, honrado. e glorificado por Ele - que é o fim principal de nossa vida, nosso bem supremo e nossa verdadeira felicidade [Is 43:7; Os 13:4; Dt 6:2-3,18,24; 10:20-21; Mt 4:10; 22:37; Jo 17:3]; Ele o criou à Sua imagem e semelhança, ou seja, participante de Suas virtudes e perfeições divinas[Gn 1:26-27; 5:1; Cl 3:10], tornando-o sábio, bom, justo, veraz , piedoso, inocente, santo (Ecl. 7:29; Ef. 4:24), e senhor e superior a todas as outras criaturas terrenas[Gn1:28; Sl 8:6](Formulario de Lattanzio Ragnoni[1559])

"Cremos que o homem foi criado puro e perfeito e conforme a imagem de Deus, mas por sua própria culpa caiu da graça que havia recebido, alienando assim Deus de si mesmo, que é a fonte de toda justiça e bem, que toda a sua natureza foi corrompida; e sendo assim cego no intelecto e depravado no coração, ele perdeu toda a integridade, permanecendo completamente sem ela"(A Confissão Valdense[1560], 'Da Queda do Homem').

"O homem era bom e em tudo perfeitamente virtuoso porque foi criado por Deus no princípio, à Sua imagem em justiça e verdadeira piedade"(O Consenso de Sandomir[1570], VIII).

"Primeiro, deve-se considerar como era o ser humano antes da queda, isto é, perfeito, justo..."(Ibidem, X)

"Pois o homem, tendo submetido sua vontade a Deus, abusado dela pela liberdade de escolha, não cumpriu a lei e sua justiça, mas se revoltou contra ela e transgrediu o mandamento de Deus [Jo 8] porque ele submeteu-se ao diabo e suas palavras mentirosas e confiou nelas e serviu ao diabo com a fé e obediência que ele devia somente a Deus, pelas quais ele e sua posteridade foram despojados e privados de um estado de perfeição e bondade natural e da graça de Deus e os dons da imagem justa de Deus dada em Sua criação; em parte ele perdeu, em parte ele corrompeu e contaminou assim como o vinho puro é por veneno horrível, e assim também o próprio homem e sua raça foi lançada no pecado e na morte e em todos os tipos de misérias desta vida, sim, também no castigo eterno"(A Confissão Boêmia[1573], 4).

"Cremos e confessamos que o primeiro humano, Adão, que foi criado e formado em perfeita santidade e inocência, por sugestão do Diabo, por sua própria vontade e sem coação, afastou-se de Deus pela violação do mandamento divino(A Confissão Boêmia[1575/1609], 4)

"No princípio Deus fez todas as coisas muito boas; criou o homem segundo sua própria imagem, cheio com todas as perfeições de seu caráter, e livre de todo pecado; mas o homem não durou muito nesta honra"(Confissão de Fé Batista de 1644, 4).

"Depois de haver feito as outras criaturas, Deus criou o homem, macho e fêmea, com almas racionais e imortais, e dotou-as de inteligência, retidão e perfeita santidade, segundo a sua própria imagem, tendo a lei de Deus escrita em seus corações, e o poder de cumpri-la, mas com a possibilidade de transgredi-la, sendo deixados à liberdade da sua própria vontade, que era mutável"(Confissão de Fé de Westminster[1643-1649], 4:2)

"Que Deus fez o homem à Sua própria imagem (Gn 1:27), em um estado de retidão e perfeição humana[Ec 7:29]"(A Confissão de Somerset[1656], III).

"Embora Deus tenha criado o homem reto e perfeito, e lhe dado uma lei justa, que vale para a vida se ele a guardasse, e ameaçasse a morte se a violasse[Gn 2:16-17], ele não permaneceu por muito tempo nesta honra; Satanás, usando a sutileza da serpente para seduzir Eva, então por ela seduzindo Adão, que, sem qualquer compulsão, voluntariamente transgrediu a lei de sua criação, e a ordem dada a eles, ao comer o fruto proibido"(Confissão de Fé Batista de 1677, VI:1).

"P.36. Quem é o Mediador do pacto da graça? R. O único Mediador do pacto da graça é o Senhor Jesus Cristo, que, sendo o eterno Filho de Deus, da mesma substância e igual ao Pai, no cumprimento do tempo fêz-se homem, e assim foi e continua a ser Deus e homem em duas naturezas perfeitas e distintas e uma só pessoa para sempre"(Catecismo Maior de Westminster[1647]).

"O Filho de Deus, a Segunda Pessoa da Trindade, sendo verdadeiro e eterno Deus, da mesma substância do Pai e igual a ele, quando chegou o cumprimento do tempo, tomou sobre si a natureza humana com todas as suas propriedades essenciais e enfermidades comuns, contudo sem pecado, sendo concebido pelo poder do Espírito Santo no ventre da Virgem Maria e da substância dela. As duas naturezas, inteiras, perfeitas e distintas - a Divindade e a humanidade - foram inseparavelmente unidas em uma só pessoa, sem conversão composição ou confusão; essa pessoa é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, porém, um só Cristo, o único Mediador entre Deus e o homem"(Confissão de Fé de Westminster[1643-1649], 8:2)

" O Filho de Deus, Segunda pessoa da Trindade Santa – sendo o próprio Deus eterno, o resplendor da glória do Pai, da mesma essência e igual ao Pai - ,Ele fez o mundo, sustém e governa todas as coisas que criou. Quando veio a plenitude do tempo, Ele tomou sobre si a natureza humana, com todas as suas propriedades essenciais e fraquezas comuns – porém, sem pecado. E foi concebido pelo Espírito Santo, no ventre da Virgem Maria (pois o Espírito Santo desceu sobre ela, e o poder do Altíssimo a envolveu). Foi nascido de mulher, da tribo de Judá, da descendência de Abraão e de Davi, segundo previam as Escrituras. Desse modo, duas naturezas completas, perfeitas e distintas foram inseparavelmente unidas, em uma única pessoa, sem conversão, composição ou confusão. E essa pessoa é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem; no entanto, um só Cristo, o único mediador entre Deus e os homens"(Confissão de Fé Batista de 1689, 8:2)

"O Filho de Deus, a Segunda Pessoa da Trindade, sendo vero e eterno Deus, da uma só substância com o Pai e igual a ele, chegada a plenitude do tempo, assumiu a natureza humana, com todas as suas propriedades essenciais e fraquezas comuns a ela, contudo sem pecado, sendo concebido pelo poder do Espírito Santo no ventre da Virgem Maria e da substância dela; de modo que duas naturezas inteiras, perfeitas e distintas, a Deidade e a humanidade, foram inseparavelmente unidas em uma só pessoa, sem conversão composição ou confusão; pessoa esta verdadeiro Deus e verdadeiro homem, porém, um só Cristo, o único Mediador entre Deus e o homem"(Declaração de Fé e Ordem de Savoy[1658], 8:2)

"O Filho de Deus, a segunda Pessoa da Trindade, sendo verdadeiro e eterno Deus, de uma só substância com o Pai e igual a Ele, chegada a plenitude do tempo, assumiu a natureza humana, com todas as propriedades essenciais e fraquezas comuns a ela, contudo sem pecado; sendo concebido pelo poder do Espírito Santo, no ventre da Virgem Maria, e da substância dela, de modo que duas naturezas inteiras, perfeitas e distintas, a Deidade e a humanidade, foram inseparavelmente unidas em uma só pessoa, sem conversão, composição ou confusão. Essa pessoa é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, contudo, um só Cristo, o único Mediador entre Deus e o homem"(Confissão de Fé Congregacional [Declaração de Fé da Aliança das Igrejas Evangélivas Congregacionais do Brasil][2014], IX:2)

Jesus como homem, não era completamente, nem totalmente perfeito?[Segundo o escritor aos Hebreus, Jesus como homem, era "perfeito para sempre" - Hb 7:28] Essa posição do autor, no que concerne a Adão, não dista da posição espírita:

“Mas resta saber o porque Deus não criou os espíritos perfeitos... Criados simples e ignorantes, por isso imperfeitos..."(Allan Kardec, Revue Spirite[Revista Espírita], Ano 7, Março de 1864, nº 3).

(d)"Não temos o poder de fazer diferente, nós seríamos robôs e Deus um ditador. Ledo engano, pois se assim fosse, no céu Deus seria um ditador, já que a Escritura é clara de que não haverá mais mal algum, nem mesmo pecado, ou seja, não pecaremos mais de forma alguma, não vai haver essa opção, mas isso torna Deus um ditador e o homem um robô? A resposta é não. No céu estaremos todos em um estado de regeneração total, que se chama glorificação, é o extremo oposto do homem natural, assim como o homem natural sequer consegue entender o evangelho e sem a regeneração divina jamais entenderá e desejará a Deus, assim também o homem no céu jamais sentirá vontade de pecar, porque sua natureza glorificada, totalmente divina, o constrangerá a fazer sempre a vontade de Deus, quando for movido por este"(O Calvinismo Explicado, p.81).

Note a expressão "no céu estaremos todos...". Ele está falando para os cristãos e dos cristãos. Ele está afirmando que a regeneração só será total, quando atingir o corpo do homem. Encontramos algum tipo desse ensino [regeneração parcial] nas Escrituras? Jesus deixa claro, que quando a fé é infundida no cristão, ele "tem a vida eterna"(Jo 5:24), "passou da morte para a vida"(Jo 5:24), e "não entrará em condenação"(Jo 5:24). Uma vez regenerados pelo Espírito, ele nos concede a fé e a obediência(Gl 5:22; Ez 36:26-27). Em 1 Jo 5:1, lemos:

"Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, é nascido de Deus; e todo aquele que ama ao que o gerou também ama ao que dele é nascido"(ACF)

O verbo grego "γεννάω"(gennaō), aqui traduzido por "nascido", aludindo ao homem que se tornou regenerado, de acordo com o "Thayer's Greek-English Lexicon of the New Testament", é aplicado para indicar a ideia "de Deus conferindo aos homens a natureza e disposição de seus filhos, transmitindo-lhes vida espiritual, isto é, por seu próprio poder santo, levando e persuadindo as almas a ter fé em Cristo e a viver uma nova vida consagrada a si mesmo; absolutamente"(p.113).

Em outras palavras, a 'natureza', 'a disposição', a '', a 'nova vida consagrada' são outorgadas ao homem "absolutamente"('completamente, totalmente' [Michaelis Online]). Assim, o homem que antes estava morto em delitos e pecados, em seu espírito humano('o que é nascido do Espírito é espírito' - Jo 3:6), regenerado [nascido de novo], é completa e totalmente regenerado, de uma maneira tal, que aguarda como certa e infalível a glorificação de seu corpo:

"E, se o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita"(Rm 8:11)

Outra coisa, onde Cristo ensinou que o novo nascimento era destinado ao corpo do homem? Pelo contrário, ele disse que isso nada tinha a ver com a natureza humana do homem(Jo 1:13). Novo nascimento não deve ser confundido com glorificação dos corpos. Na glorificação dos corpos dos cristãos, como criaturas imortais, "são iguais aos anjos"(Lc 20:35), não receptores de uma 'natureza totalmente divina'. Cristo recebeu um corpo glorificado, mas não nasceu de novo(Fl 3:20-21). Nesse sentido, entendemos que Ele mesmo disse que a regeneração nada tinha a ver com o corpo, afirmando: "o que é nascido do Espírito é espírito"(Jo 3:6).Se receber corpo glorificado importasse em receber uma natureza totalmente divina, então, nesse caso, quando Cristo recebeu um corpo glorificado, ele passaria a receber mais partes de "uma natureza totalmente divina". Se antes de sua morte e ressurreição ele já era "igual a Deus"(Jo 5:18; Fl 2:7), recebendo um corpo glorificado - isto é, mais 'natureza totalmente divina", o deixaria não mais 'igual a Deus', mais superior a Deus, tendo mais natureza divina do que Deus Pai. Esse é um conceito estranho às Escrituras. É algo bizarro. Ademais, a recepção do corpo glorificado não vai nos transformar em deuses. Aliás, esse tipo de ensino[a de que o homem terá uma natureza divina], é encontrado nos arraiais do mormonismo e do espiritismo:

"...E que o homem, obedecendo aos mandamentos de Deus e guardando toda a lei, eventualmente alcançará o poder e exaltação pelos quais também se tornará um Deus”(‘Profeta’ Mórmon Joseph Fielding Smith., Doutrinas de Salvação, Volume I, p.107).

"Ao termo de nossa evolução, cada qual se tornará um ‘Cristo’, será um com o Pai e terá alcançado a condição divina”(Leon Denis, FEB, Cristianismo e Espiritismo, p.72)

E se, por "glorificação"[imortalidade/incorrupção], o autor entende "natureza divina", então os anjos eleitos, possuidores de imortalidade e incorrupção[Jd 9; Ap 12:7-10], tinham ou têm uma "natureza completamente divina"? O autor faz declarações estranhas e esquisitas.

(e)"A dupla predestinação simétrica, posicionamento em que Deus elege ativamente e reprova ativamente, sem previsão alguma de mérito, foi condenada no Sínodo de Dort, portanto, o calvinismo oficial defende que Deus elege ativamente, e aos outros por conta própria. Caí aqui um mito, a de que Deus criou pessoas para o inferno, senão que as pessoas caíram por sua própria vontade, se lançando ao inferno, e Deus agora, usa de sua misericórdia, salvando muitos com sua graça"(O Calvinismo Explicado, p.32)

Isso pode ser qualquer coisa, menos a posição de Calvino, que diz:

"Questão assaz intrincada, como parece a muitos, porquanto pensam não ser de modo algum coerente que da multidão comum dos homens uns sejam predestinados à salvação, outros à perdição"(Institutas, III, 21:1)

"Chamamos predestinação o eterno decreto de Deus pelo qual houve por bem determinar o que acerca de cada homem quis que acontecesse. Pois ele não quis criar a todos em igual condição; ao contrário, preordenou a uns a vida eterna; a outros, a condenação eterna. Portanto, como cada um foi criado para um ou outro desses dois destinos, assim dizemos que um foi predestinado ou para a vida, ou para a morte"(Institutas, III; 21:5)

Os Cânones de Dort[1618-1619], declaram:

“Esta eleição é o imutável propósito de Deus, pelo qual Ele, antes da fundação do mundo, escolheu um número grande e definido de pessoas para a salvação, por graça pura. Estas são escolhidas de acordo com o soberano e bom propósito de sua vontade, dentre todo o gênero humano, decaído pela sua própria culpa de sua integridade original para o pecado e a perdição. Os eleitos não são melhores ou mais dignos que os outros, porém envolvidos na mesma miséria dos demais. São escolhidos em Cristo, quem Deus constituiu, desde a eternidade, como Mediador e Cabeça de todos os eleitos e fundamento da salvação. E, para salvá-los por Cristo, Deus decidiu dá-los a Ele e efetivamente chamá-los e atraí-los à sua comunhão por meio da sua Palavra e seu Espírito. Em outras palavras, Ele decidiu dar-lhes verdadeira fé em Cristo, justificá-los, santificá-los, e depois, tendo-os guardado poderosamente na comunhão de seu Filho, glorificá-los finalmente. Deus fez isto para a demonstração de sua misericórdia e para o louvor da riqueza de sua gloriosa graça”(I:7)

- Assim, Dort diz que a eleição "é o imutável propósito de Deus";

- Que esta eleição é 'por pura graça', isto é, baseada primariamente sobre a graça divina;

- Que as pessoas são eleitas "de acordo com o soberano e bom propósito de sua vontade";

- Que Deus constitui Cristo como cabeça de todos os eleitos, dando-lhes fé, justificação, santificação e glorificação "para a demonstração de sua misericórdia e para o louvor da riqueza de sua gloriosa graça".

Estas coisas mostram que Dort baseia todo processo eletivo-soteriológico monergística e exlusivamente sobre a vontade de Deus. Nem Dort, tampouco nenhum reformado nega que os não eleitos, em Adão decaíram pela sua própria culpa de sua integridade original para o pecado e a perdição. Contudo, também nem Dort, tampouco nenhum reformado nega que os réprobos, pelo fato de não terem sido escolhidos como parte daquele grupo cujo eterno, soberano e bom propósito divino não poderiam ter Cristo como Mediador Cabeça, e estariam de antemão predestinados para a morte eterna. De formas, que não tendo sido escolhidos na eternidade para fazer parte daquele grupo que teria Cristo como seu Mediador, Cabeça e distribuidor da fé, justificação, santificação e glorificação, estavam desde a eternidade predestinados para a morte eterna, vindo a este mundo como criaturas de antemão destinadas e criadas para a morte eterna. Aliás, a própria Escritura já condena este tipo de argumento do autor do livro, quando em Rm 9:20-24, lemos:

"Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição; Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou, Os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?"(ACF)

O substantivo grego "φύραμα"(phyrama), aqui traduzido por "massa", de acordo com Thayer, significa literalmente "barro". (ii)Paulo está dizendo que Deus tem autoridade sobre o 'barro', para dele 'fazer um vaso para honra e outro para desonra'. O verbo grego "ποιέω"(poieō), de acordo com o "Thayer's Greek-English Lexicon of the New Testament" aqui traduzido por 'fazer"(p.508), de acordo com Thayer, tem em Rm 9:21 o sentido de "fazer uma coisa de algo"(Ibidem). A referência aqui é ao fato de Deus trazer a existência física todos os eleitos e réprobos, e aponta para Ele como Aquele que trouxe a existência 'um vaso para honra'[o eleito] e 'outro para desonra'[o réprobo]. Na ordem dos decretos, temos aqui a Criação. O eleito e o réprobo já são criados, isto é, já são concebidos, nascem e vêem a este mundo como 'um vaso para honra e outro para desonra'[v.21]. Mas, a Criação, não aparece aqui como o primeiro dos decretos, mas como um dos decretos subsequentes ao decreto anterior, que é o da eleição. Porque se os eleitos e réprobos são respectivamente criados 'um vaso para honra e outro para desonra', seus destinos antecedem a sua criação. E é isso que Paulo deixa bem claro, quando menciona as duas expressões: "os vasos da ira, preparados para a perdição"[v.22] e "nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou"[v.23]. No v.22, o verbo grego "καταρτίζω"(katartizō), aqui traduzido por "preparados", de acordo com F. Rienecker e C. Rogers, significa literalmente "deixar pronto"(Chave Linguística do Novo Testamento Grego, p.272). Robinson reza-o por "formar"(Léxico Grego do Novo Testamento, p.486). F. W. Gingrich e F. W. Danker, reza-o por "fazer, criar"(Léxico do Novo Testamento Grego, p.112). William Mounce reza-o por pronto"(Léxico Analítico do Novo Testamento Grego, p.348), e W. Haubeck e H. V. Siebenthal rezam o verbo grego "καταρτίζω"(katartizō), por confeccionar, criar"(Nova Chave Linguística do Novo Testamento Grego, p.975). Assim, uma tradução igualmente literal dessa expressão, seria "nos vasos da ira, deixados prontos para a perdição", ou "nos vasos da ira, formados para a perdição", ou "nos vasos da ira, feitos para a perdição", ou "nos vasos da ira, criados para a perdição", ou ainda "nos vasos de ira, confeccionados para a perdição". Assim, o réprobo, o não eleito, já foi criado ou deixado, de antemão, pronto para a perdição. Assim, mito é a doutrina de que Deus não criou ou predestinou pessoas para a perdição, condenação ou inferno. Querer maquear o texto bíblico e a doutrina confessional da dupla predestinação é grave violação do 9º mandamento[Ex 20:16] e negar o claro pensamento confessional reformado:

"Quando testemunhamos que os homens são predestinados para a salvação ou para a destruição pelo conselho eterno de Deus, Georgius considera que alucinamos e somos enganados nesse assunto em três coisas em particular"(Consenso de Genebra[1552])

“Esses e outros testemunhos semelhantes ensinam claramente que nem todos os homens são eleitos para a vida, mas alguns não são eleitos, isto é, são rejeitados, e que Deus não apenas previu sua perdição eterna, mas a ordenou a eles como vasos de ira”(O Consenso de Bremen[1595],‘Reprovação e Rejeição Divinas’).

"1.Deus desde a eternidade predestinou algumas pessoas para a vida; algumas pessoas Ele tem reprovado até a morte. 2. A causa comovente ou eficiente da predestinação à vida não é a previsão da fé, ou perseverança, ou boas obras, ou qualquer coisa que esteja nas pessoas predestinadas, mas unicamente o desejo do beneplácito de Deus. 3. O número dos predestinados é predeterminado e certo, o que não pode ser aumentado nem diminuído.4. Aqueles que não foram predestinados para a salvação serão necessariamente condenados conta de seus pecados”(Os Artigos de Lambert[1595]).

"A partir disso, é mais do que claro que não podemos estabelecer nenhuma outra fonte ou origem de nossa eleição senão a vontade e favor simples, livre e justo de Deus e Sua misericórdia. De acordo com isso, no poder e em submissão ao testemunho irrefutável das Escrituras e ao conhecido ensinamento da igreja cristã, todos aqueles que ensinam e crêem contrários a esta doutrina são condenados"(O Livro de Stafforts[1599], 'Da Predestinação. Sobre a Eterna Eleição de Deus')

"Pelo mesmo conselho eterno, Deus predestinou alguns para a vida e reprovou alguns para a morte; de ambos há um certo número, conhecido apenas por Deus, que não pode ser aumentado nem diminuído”(Os Artigos Irlandeses de Religião[1615], XII)

Mas os que não estão predestinados à salvação serão finalmente condenados por seus pecados”(Ibidem, XV)

"Este Deus glorioso, desde toda a eternidade, por Sua sabedoria infinita e conhecimento, que conhecia e decretou todas as coisas que estavam para serem feitas depois; este Deus, antes que a fundação do mundo fossem lançada, de acordo com o bom prazer de Sua vontade, para o louvor da glória de Sua graça, predestinou e elegeu em Cristo alguns homens e anjos para a felicidade eterna, e outros, Ele fez designar para a eterna condenação, de acordo com o livre conselho de Sua vontade, mais justa e santa, e isso para o louvor e a glória de Sua justiça”(Confissão de Fé Escocesa[1616])

"Cremos que o bom Deus, antes da fundação do mundo, predestinou para a glória aqueles a quem Ele escolheu, sem considerar de modo algum as suas obras, e não tendo nenhuma causa ativa para esta eleição, exceto o Seu beneplácito, a Misericórdia Divina. Da mesma maneira ter, antes que o mundo existisse, rejeitado aqueles a quem Ele rejeitou; e dessa rejeição, se alguém olhar para o poder e autoridade absolutos de Deus, descobrirá que a causa indubitável é a vontade divina; e, se alguém se voltar novamente para as leis e regras de boa ordem que a providência acima usada no governo do mundo, ele perceberá que a causa é Sua justiça. Pois Deus é misericordioso e justo”(A Confissão de Fé de Cyril Lukaris[1629/1631], III).

Pelo decreto de Deus e para manifestação da sua glória, alguns homens e alguns anjos são predestinados para a vida eterna e outros preordenados para a morte eterna... Segundo o inescrutável conselho da sua própria vontade, pela qual ele concede ou recusa misericórdia, como lhe apraz, para a glória do seu soberano poder sobre as suas criaturas, o resto dos homens, para louvor da sua gloriosa justiça, foi Deus servido não contemplá-los e ordená-los para a desonra e ira por causa dos seus pecados”(Confissão de Fé de Westminster[1643-1649], III:3,7)

“Pelo decreto de Deus para a manifestação de Sua glória, alguns homens e anjos são predestinados para a vida eterna, e outros predestinados para a morte eterna... O resto da humanidade Deus se agradou, de acordo com o conselho insondável de Seu própria vontade, pela qual Ele estende ou retém misericórdia, como Lhe apraz, para a glória de Seu poder soberano sobre Suas criaturas, para passar por cima e ordená-los a desonra e ira pelos seus pecados, para louvor da sua gloriosa justiça”(Declaração de Fé e Ordem de Savoy[1658], III: 3,7)

“Pelo decreto, e para manifestação da glória de Deus, alguns homens e alguns anjos são predestinados (ou preordenados) para a vida eterna através de Jesus Cristo, para louvor da sua graça gloriosa. Os demais são deixados em seu pecado, agindo para sua própria e justa condenação; e isto para louvor da justiça gloriosa de Deus”(Confissão de Fé Batista de 1689, III:3)

(f)"Embora Armínio tenha defendido uma graça do começo ao fim"(O Calvinismo Explicado, p.l74)

Armínio era dúbio e bipolar, de formas que negou isso em outros locais, dizendo:

"Deus, portanto, não atribui a vida eterna a qualquer ser humano a partir de seu próprio decreto absoluto, sem considerar a fé e a obediência”(As Obras de Armínio, Volume 1, p.208)

(g)"Se a tentação de Cristo não foi um teatro, então podemos nesse exemplo prático dizer que não é absurdo um ser sem pecado original estar em potência de pecado, quer dizer, a natureza humana, em sua perfeição, inclui essa potência de queda"(O Calvinismo Explicado, p.244)

Esse tipo de argumento é muito semelhante ao usado pelos testemunhas de jeová:

"Mas, que teste de lealdade seria esse se Jesus fosse Deus? Poderia Deus rebelar-se contra si mesmo? Não, mas os anjos e os humanos poderiam rebelar-se contra Deus. A tentação de Jesus faria sentido apenas se ele fosse, não Deus, mas uma pessoa à parte que tivesse o seu próprio arbítrio, alguém que pudesse ser desleal se assim o desejasse, como no caso de um anjo ou de um humano"(Deve-se Crer na Trindade? pp.14-15)

Eu quero estar errado, em sequer imaginar que o autor do livro esteja cogitando de que tivesse havido uma possibilidade de Jesus pecar. Porque se for esse mesmo o caso, nesse caso, segundo alguns de meus amigos, ele estaria atribuindo uma natureza humana de Jesus inclinada ao pecado, contrariando o pensamento de Pedro, que menciona que Jesus Cristo, desde a eternidade foi conhecido "ainda antes da fundação do mundo"(1 Pe 1:20) como "um cordeiro imaculado e incontaminado"(1 Pe 1:19), e contraria as profecias do AT, que negam tal possibilidade de queda no pecado:

"Porque brotará um rebento do tronco de Jessé, e das suas raízes um renovo frutificará. E repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o espírito de sabedoria e de entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor do Senhor. E deleitar-se-á no temor do Senhor; e não julgará segundo a vista dos seus olhos, nem repreenderá segundo o ouvir dos seus ouvidos. Mas julgará com justiça aos pobres, e repreenderá com eqüidade aos mansos da terra; e ferirá a terra com a vara de sua boca, e com o sopro dos seus lábios matará ao ímpio. E a justiça será o cinto dos seus lombos, e a fidelidade o cinto dos seus rins"(Is 11:1-5)

"...nunca cometeu injustiça,nem houve engano na sua boca"(Is 53:9)

As próprias palavras de Jesus atestam para sua total impecabilidade, quando ele, desafiando os seus inimigos, pergunta: "Quem dentre vós me convence de pecado?"(Jo 8:46). O verbo grego "ἐλέγχω"(elegchō), aqui traduzido por "convence", de acordo com o "Thayer's Greek English Lexicon of the New Testament", tem também o sentido de "encontrar falhas"(p.203), e "falha", de acordo com o Aurélio Online signfica "Defeito, ausência de perfeição; em que há erro, imperfeição moral". E o entendimento dos comentaristas é justamente esse - o de que, aqui, Jesus estava afirmando a sua total e abolsuta perfeição humana, bem como a sua total incapacidade de pecar, como se segue:

"A total impecabilidade e perfeição da vida do Salvador provaram sua Divindade; e todos os que conheceram a Cristo concordaram plenamente neste julgamento de absoluta santidade que lhe pertence, um fato que seus inimigos mais amargos deixaram sem contestação”(James B. Coffman[1906-2006], Ministro da Central Church of Christ in Houston, Texas, Com. de Jo 8:46)

É um apelo que somente a pureza imaculada poderia fazer, e é Seu próprio testemunho proferido na dignidade de um conhecimento certo”(Charles J. Ellicott[1819-1905], Ministro Anglicano, Com de Jo 8:46)

“A pergunta retórica que não recebe resposta envolve impecabilidade[Hb 4:15 ]sem dizer isso especificamente”(Archibald T. Robertson[1863-1934], Ministro Batista, Com. de Jo 8:46)

“I. O que Jesus testifica. 1. Quanto à Sua impecabilidade. 2. Quanto ao poder vivo de Sua palavra. 3. Com relação à eternidade de Sua existência”(Joseph Exell, Ministro Anglicano; William Jones; George Barlow, Ministro Anglicano; Frank Scott, Com de Jo 8:46)

Essas palavras são implicitamente uma afirmação de Sua perfeita impecabilidade; e Seus inimigos estão em silêncio”(Philip Schaff [1819-1893], Ministro Presbiteriano, Com. de Jo 8:46)

Observemos aqui a perfeita pureza e inocência do caráter de nosso Senhor. Ninguém, a não ser Ele, jamais poderia dizer: ‘Não tenho pecado. Desafio qualquer um a encontrar qualquer imperfeição ou falha em Mim’. Um Sacrifício e Mediador tão completo e perfeito é exatamente o que o homem pecador precisa”(J. C. Ryle[1816-1900], Ministro Anglicano, Com. de Jo 8:46)

A absoluta impecabilidade de Jesus não está diretamente contida na sentença que agora consideramos – pois pode haver pecado que não pode ser provado contra aquele que o comete; mas é tão indiretamente - pois Jesus não poderia ter feito tal pergunta se não estivesse consciente da absoluta liberdade do pecado”(Ernst W. T. H. Hengsten[1802-1869], Ministro Luterano, Com de Jo 8:46)

Os textos de Mt 4:1-11 e Lc 4:1-13, que, pelo contexto, apresentam Jesus sendo tentado, contudo, como estando "cheio do Espírito Santo"(Lc 4:1), em nenhum lugar cogitam qualquer idéia de que Jesus poderia cair em pecado.[, como pensamento dos comentaristas das Escrituras, como se segue:

"Isso é claramente visto em Sua resposta. Ele detecta a velha serpente imediatamente. Não há negociação de Seu lado como foi com Eva. Ele resiste ao diabo imediatamente. O Perfeito, sem pecado e sem mancha tem Seu ‘Está escrito’ à mão e esta Palavra, trazendo a vontade do Pai que Ele está aqui para fazer, encerra esta primeira tentação. ‘Está escrito que nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus’[Dt 8:3]”(Arno C. Gaebelein [1861-1945], Ministro Metodista, Com de Mt 4:1-25)

"Jesus é levado ao deserto para ser tentado pelo Diabo, a fim de testificar de Seu caráter sem pecado[Mt 4:1-11]"(Gary Everett, Ministro Batista, Com de Mt 4:1-12)

"Como o Homem perfeito, Jesus sempre esteve sujeito ao controle do Espírito... Mas em nenhum lugar a perfeição de Jesus foi demonstrada mais claramente do que quando Satanás fez todos os esforços para encontrar algum defeito em Seu caráter, alguma forma de egoísmo em Seu coração”(Henry A. Ironside[1876-1951], Com de Mt 4:1-11)

"Nem precisamos procurar imitá-lo em suas fraquezas, que (embora não fossem pecaminosas, mas apenas naturais e, portanto, inculpáveis) ainda importam uma fraqueza (como que ele estava com fome, cansado, sonolento etc), e assim, embora elas estão em nós, mas não precisamos nos esforçar para alcançá-las”(John Trapp[1601-1669], Ministro Anglicano, Com de Mt 4:2)

"A teologia moderna [evangélica alemã] começou com uma apreciação mais completa da natureza humana [e perfeição sem pecado] de Jesus, e primeiro falou de Seu plano ou desígnio”(Johann P. Lange[1802-1884], Teólogo Calvinista, Com de Mt 4:1-11)

"Nosso Senhor foi tentado assim, para que sua perfeita santidade pudesse ser provada e aprovada”(Joseph Benson[1749-1821], Ministro Metodista, Com de Mt 4:1)

"A fé perfeita de Jesus excluía toda desconfiança e, portanto, não admitia nenhum ato de sua parte para pôr à prova a bondade divina, pois já tinha a mais plena certeza disso”(Thomas Coke[1747-1814], Ministro Metodista, Com de Mt 4:7)

"Todas essas tentações têm o efeito sobre o Senhor de que Sua perfeição brilha ainda mais. Ele pode dizer que o diabo Nele não encontra nenhum ponto de conexão para o pecado[João 14:30]”(Ger de Koning, Com de Lc 4:1-2)

“A resposta de Jesus foi a do homem perfeito, o último Adão[Rm 5:19]”(Thomas Constable, Com de Lc 4:5-8)

"Ele levou para o deserto uma humanidade perfeita de carne e sangue, feita em todos os pontos como Seus irmãos, embora sem pecado”(Frederick B. Meyer[1847-1929], Ministro Batista, Com de Lc 4:1-13)

“Ele não pecou, nem poderia pecar”(Arno C. Gaebelein [1861-1945], Ministro Metodista, Com de Lc 4:1-13)

"O Homem perfeito e vitorioso agora encontrou seu caminho de volta a Nazaré, e lá, lendo a profecia de Isaías, reivindicou definitivamente o messianismo”(George C. Morgan[1863-1945], Com de Lc 4:1-44)

"E Ele tinha os mesmos sentimentos e desejos físicos, embora em Seu caso não misturado com pecaminosidade. Eles estavam imaculados. Mas Ele ainda conhecia a fome. Ele estava em essência, como Homem, na mesma posição que Adão antes da Queda”(Peter Pett, Ministro Batista, Com de Lc 4:1-2)

"Como verdadeiro homem, Ele poderia ser verdadeiramente tentado; como homem perfeito, sugestões do mal não poderiam surgir internamente, mas deveriam ser apresentadas externamente”(Alexander Maclaren[1826-1910], Ministro Batista, Com de Lc 4:1)

“Roubamos a narrativa da Tentação de todo o seu significado espiritual, a menos que ao lê-la estejamos em guarda contra a heresia apolinarista que negava a perfeita Humanidade de Cristo”(Cambridge Greek Testament Commentary for Schools and Colleges, Com de Lc 4:1-2)

"Mas que Sua natureza pura e imaculada sofreu intensamente, podemos ter certeza”(J. C. Ryle[1816-1900], Ministro Anglicano, Com de Lc 4:1-13)

Outro texto, que, em referência a Jesus, o descreve como absolutamente incapaz de pecar, é Jo 14:30, onde lemos: "Já não falarei muito convosco, porque se aproxima o príncipe deste mundo, e nada tem em mim"(ACF), conforme admitem os comentaristas das Escrituras, como se segue:

“Não havia corrupção em Cristo, para dar vantagem ao príncipe deste mundoem suas tentações. Ele não poderia esmagar seu empreendimento atraindo-o para o pecado, porque não havia nada pecaminoso nele, nada irregular para suas tentações se agarrarem, nenhuma isca para ele incendiar; tal era a pureza imaculada de sua natureza que ele estava acima da possibilidade de pecar. Quanto mais o interesse de Satanás por nós for esmagado e decair, mais confortavelmente podemos esperar sofrimentos e morte”( Matthew Henry[1662-1714], Ministro Presbiteriano, Com de Jo 14:30)

“Não há em mim nenhum princípio ou sentimento que esteja de acordo com o dele, e nada, portanto, pelo qual ele possa prevalecer. A tentação só tem poder porque existem alguns princípios em nós que estão de acordo com os desígnios do tentador, e que podem ser excitados apresentando objetos correspondentes até que nossa virtude seja vencida. Onde não há tal propensão, a tentação não tem poder”(Albert Barnes[1798-1870], Ministro Presbiteriano, Com de Jo 14:30)

“Não tem nada em mim, isto é, não tem poder sobre o Impecável”(John R. Dummelow, Com de Jo 14:30)

“Nele ele nunca por um momento governou. Para este apelo à perfeita impecabilidade, comp. Nota sobre João 8:29“(Charles J. Ellicott[1819-1905], Ministro Anglicano, Com de Jo 14:30)

“Tudo o que Satanás, o príncipe deste mundo, pôde fazer foi confirmar o fato da perfeição e pureza do Senhor Jesus: ele foi derrotado por um Mais Forte que ele”(Leslie M. Grant[1917-2011], Com de Jo 14:30)

“Assim, em Sua calma antecipação, Jesus espera o ataque do inimigo, sabendo que todas as suas forças serão quebradas contra as fileiras cerradas de Sua imaculada pureza, e que Ele virá do terrível cerco ileso e triunfante para sempre”(Alexander MacLaren[1826-1910], Ministro Batista, Com de Jo 14:30)

“Não havia corrupção em Cristo, para dar vantagem ao príncipe deste mundoem suas tentações. Ele não poderia esmagar seu empreendimento atraindo-o para o pecado, porque não havia nada pecaminoso nele, nada irregular para suas tentações se agarrarem, nenhuma isca para ele incendiar; tal era a pureza imaculada de sua natureza que ele estava acima da possibilidade de pecar”(Matthew Henry[1662-1714], Ministro Presbiteriano, Com de Jo 14:30)

Uma afirmação notável de impecabilidade”(Henry Alford[1810-1871], Ministro Anglicano, Com de Jo 14:30)

Essa é uma prova positiva da humanidade perfeitamente pura de nosso Senhor, pois Satanás realmente não tinha nada Nele”(William B. Godbey[1880-1920], Ministro Metodista, Com de Jo 14:30)

“Mas ele quer dizer que não haverá muito tempo para ensinar e conversar antes de sua morte; pois Satanás, o príncipe deste mundo, já havia inspirado Judas, os soldados e o Sinédrio a prendê-lo; e eles estavam a caminho. Satanás vem: mas ele não encontraria culpa em Cristo, nada de acordo com seus desígnios malignos, nada em nosso Representante e ungido de Deus, senão completa santidade e submissão à vontade do Pai[Jo 18:38]”(Henry Mahan[1947-1998], Ministro Batista, Com de Jo 14:30)

A justiça de Cristo era perfeita”(Johann A. Bengel[1687-1752], Ministro Luterano, Com de Jo 14:30)

“Isto é, ‘Ele não encontrará pecado ou corrupção nos homens para se juntar à sua tentação, ou nenhuma culpa sobre mim para dar-lhe alguma vantagem contra mim, pois morrerei como uma pessoa perfeitamente inocente’”(William Burkitt [1650-1703], Ministro Anglicano, Com de Jo 14:30)

“Não havia nenhum ponto fraco Nele para Satanás encontrar; portanto, Ele sairia mais do que Conquistador. Satanás poderia encontrar algo em Noé, Abraão, Davi, Pedro, mas Cristo era o Cordeirosem defeito’”(Arthur W. Pink[1886-1952], Ministro Batista, Com de Jo 14:30)

“’Não tem nada’, absolutamente nada, aponta primariamente e obviamente para a perfeita imunidade do Senhor em referência ao pecado”(Ernst W. T. H. Hengstenberg[1802-1869], Ministro Luterano, Com de Jo 14:30)

Ele sempre foi o Filho de Deus sem pecado, sem mancha e sem mácula”( Henry A. Ironside[1876-1951], Com de Jo 14:30)

E até os teólogos escolásticos nutriram fortes convicções contra a ideia da possibilidade de Jesus ter pecado, como se segue:

"Concebeu não só a carne, mas a carne animada e unida ao Verbo, não sujeita ao pecado, mas de todo santa e imaculada, motivo pelo qual é chamada de mãe de Deus e de dulcíssima Virgem Maria”(Boaventura[1217-1274], ‘Brevilóquio’, IV:3)

“Por isso, assim como Cristo devia ser imune de toda a culpa, assim também devia permanecer distante de toda a ignorância e, deste modo, ser totalmente repleto da luz e do fulgor da ciência suprema”(Ibidem, IV; 6:2)

“Logo, como em Cristo existiu a virtude em um grau perfeitíssimo, segue-se que nele não houve inclinação ao pecado, também porque essa deficiência não se ordena à satisfação, mas, antes, inclina ao contrário da satisfação... Daqui não se segue que em Cristo tenha havido inclinação ao pecado, que implica a concupiscência das coisas deleitáveis fora da ordem da razão”(Tomás de Aquino]1224-1275], Suma Teológica, VIII; Quest.15, Art.2)

E os símbolos confessionais acompanham as Escrituras, os Pais da Igreja, os teólogos escolásticos, defendendo a total impecabilidade de Cristo, como se segue:

"O Senhor Jesus, em sua natureza humana unida à divina, foi santificado e sem medida ungido com o Espírito Santo tendo em si todos os tesouros de sabedoria e ciência. Aprouve ao Pai que nele habitasse toda a plenitude, a fim de que, sendo santo, inocente, incontaminado e cheio de graça e verdade, estivesse perfeitamente preparado para exercer o ofício de Mediador e Fiador. Este ofício ele não tomou para si, mas para ele foi chamado pelo Pai, que lhe pôs nas mãos todo o poder e todo o juízo e lhe ordenou que os exercesse"(Confissão de Fé de Westminster[1643-1649], 8:3)

"O Senhor Jesus, em Sua natureza humana assim unida à divina, foi santificado e ungido com o Espírito Santo sem medida, possuindo em Si mesmo todos os tesouros de sabedoria e conhecimento e em quem aprouve ao Pai habitasse toda a plenitude, a fim de que, sendo santo, inculpável, imaculado e cheio de graça e verdade, fosse perfeitamente habilitado para exercer o ofício de Mediador e Fiador. Ele não tomou para Si esse ofício, mas para ele foi chamado por Seu Pai, o qual pôs em Suas mãos todo o poder e o juízo e deu-Lhe ordem para que os exercesse"(Declaração de Fé e Ordem de Savoy[1658], 8:3)

"Em sua natureza humana assim unida à divina, na pessoa do Filho, o Senhor Jesus foi santificado e ungido com o Espírito Santo, sobremaneira. Nele se encontram todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento, porque aprouve ao Pai que nEle habitasse toda plenitude, a fim de que, sendo santo, inculpável e sem mácula, cheio de graça e de verdade, Ele fosse plenamente qualificado para exercer o oficio de mediador e fiador, ofício que Ele mesmo não tomou para si, mas para o qual foi chamado por seu Pai. E o Pai lhe conferiu às mãos toda autoridade e julgamento, e ordenou que executasse essa autoridade"(Confissão de Fé Batista de 1689, 8:3)

"O Senhor Jesus, em Sua natureza humana assim unida à divina, foi santificado e ungido com o Espírito Santo sem medida, possuindo em Si mesmo todos os tesouros de sabedoria e conhecimento e em quem aprouve ao Pai habitasse toda a plenitude, a fim de que, sendo santo, inculpável, imaculado e cheio de graça e verdade, fosse perfeitamente habilitado para exercer o ofício de Mediador e Fiador. Ele não tomou para Si esse ofício, mas para ele foi chamado por Seu Pai, o qual pôs em Suas mãos todo o poder e o juízo e deu-Lhe ordem para que os exercesse"(Confissão de Fé Congregacional[Declaração de Fé da Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil], 2014, IX:3)

(h)"O decreto estava de acordo com a natureza de Adão, então, por necessidade, o decreto não anula a natureza livre adâmica, mas a estabelece. Logo, Adão tinha a possibilidade de fazer diferente, mas ela não queria fazer diferente, ele queria mesmo era pecar"(O Calvinismo Explicado, p.252)

O autor erra gravemente. Ele afirma explicitamente que Adão poderia ter escolhido não pecar, mas queria mesmo era pecar. Se Adão tinha a possibilidade de não pecar, então o decreto da eleição, que fora emitido para alcançar os eleitos que seriam criados para serem salvos('Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos...' - Ef 1:4), também poderia ser anulado, bem como também poderia ser anulado o decreto da queda, bem como o decreto eterno da morte de Cristo também poderia ser anulado. Nesse caso, Cristo, também não poderia, antes da fundação do mundo, ser reconhecido como "um Cordeiro Imaculado e Incontaminado"(1 Pe 1:19-20), e como "o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo"(Ap 13:8), e nesse caso, também seria verdade que o decreto ou plano de Deus, escolhendo de antemão a Cristo para morrer pelos eleitos que, em Adão, cairiam em pecado, falharia e seria frustrado. Aqui, Tourinho está defendendo um tipo de teísmo aberto, porque como é que Deus contemplou na sua mente eterna Cristo como "um Cordeiro Imaculado e Incontaminado"(1 Pe 1:19-20), e como "o Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo"(Ap 13:8)[pressupondo e indicando que o homem pecaria e que Cristo viria expiar o pecado do homem], e ainda assim, Adão poderia, dentro do tempo, ter escolhido não pecar? Tourinho nega a imutabilidade dos decretos e defende que estes poderiam ser frustrados pela vontade da própria criatura. Se é verdade que os decretos eternos de Deus não anulam o livre arbítrio da criatura, então o futuro é incerto, e, logo, abrimos um precedente para o teísmo aberto.

(i)"No entanto, embora Deus seja uno e simples, Deus pode ser distinto em três pessoas - Pai, Filho e Espírito Santo, e ainda assim não ser composto, é o que chamaremos nesse trabalho de unidade na pluralidadem e como Deus é uno e trino, isto é, uno e plural, quando usamos a palavra Deus, podemos nos referir aos três, misto é, ao Deus Triuno, ou podemos nos referir a cada um indefinidamente"(O Calvinismo Explicado, p.270)

"Então, quando tratamos de Trindade, estamos tratando de um Deus único, mas que essencialmente pode ser distinto em três pessoas, mas não é composto por três pessoas, pois não é soma de três"(Ibidem, p.348)

"Desse modo, deve-se evitar cometer o erro de afirmar que Deus é compósto por três pessoas, mas antes, deve-se afirmar que há três distinções na substância ou essência de Deus"(Ibidem, p.349)

Não faz nenhum sentido esse tipo de interpretação, a não ser que se defenda a rejeição da idéia de unidade composta dentro da Divindade, ensinada desde o texto original do VT em Dt 6:4, através da palavra hebraica "אֶחָד"(echad). Tome-se por exemplo Gn 1:5, onde Moisés escreve "Chamou Deus à luz dia, e às trevas noite. Houve tarde e manhã o primeiro dia". A palavra aí traduzida por 'primeiro' é echad. Aquele primeiro dia era composto de luz e trevas - manhã e tarde. O fato de aquele "dia" ser composto de quatro elementos -'luz', 'trevas', 'tarde' e 'manha'. O fato daquele dia ser composto de quatro elementos, divide o dia em 'quatro dias'? Da mesma forma em Gn 2:24, Deus revelou que marido e mulher se tornariam os dois 'uma só carne', usando a palavra 'echad', indicando uma unidade em sentido composto. O fato de que o casamento no Éden ser composto de dois indivíduos - 'homem' e 'mulher', cria 'dois casamentos'? E Ed 2:64, lemos 'Toda esta congregação junta foi de 42.360'. A palavra hebraica aqui traduzida por 'toda', na expressão 'toda esta congregação' é a palavra 'echad'. É evidente que aquela congregação, embora fosse uma só, era composta por muitos indivíduos. De fato, nada menos que 42.360 judeus compunha aquele congregação. Assim, muitos coletivamente falando, são considerados como somente um. Então. Qual é o problema em defender que a unidade da Divindade é uma unidade composta, e composta por três pessoas? Outra coisa. Não existe, "distinções" na "substância" ou "essência" na unidade da Divindade, uma vez que "na unidade da Divindade há três pessoas de uma mesma substância, poder e eternidade - Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo"(Confissão de Fé de Westminster[1643-1649], II:3), "estas três pessoas são um só Deus verdadeiro e eterno, da mesma substância, iguais em poder e glória, embora distintas pelas suas propriedades pessoais"(Catecismo Maior de Westminster[1643-1649], Resp. Perg. nº 9), uma vez que "eles são um Deus, de uma mesma essência, poder e sabedoria, e de toda virtude e eternidade”(Confissão de de Fé da Congregação de Glastonbury[1551], 1ª Parte, ‘A Trindade’).De formas que a explicação do Tourinho não satisfaz o pensamento confessional reformado, pois ele divide e separa a 'substância' e a 'essência' das pessoas da Trindade.

Me diga... Qual é a diferença entre dizer que "Na unidade da Divindade há três pessoas"(Confissão de Fé de Westminster, 2:3) e dizer que "Deus é composto por três pessoas"? Por exemplo, o Rev. Donald W. Ekstrand, pastor da Grace community Church in Tempe Arizona[uma Igreja Presbiteriana localizada em Sun City Grand, Arizona], em seu livro "Cristianismo: A Busca da Verdade Divina", diz:

"Trindade - A crença cristã de que Deus é uma unidade composta de três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo"(p.306)

(j)"...visto que o pecado original não foi cometido por nós, mas por Adão"(O Calvinismo Explicado, p.341).

Esta declaração, feita pelo autor como uma manobra para se desvencilhar da irrefutável evidência do supralapsarianismo de Rm 9:11, foi um ato de desespero, porque ela só aparece na segunda edição de seu livro. É 'o colar, colou'. Mas, fica claro, que esta afirmação nega Escrituras como Gn 3:17; Jó 31:33; Is 43:27; Rm 5:12,15-19; 1 Co 15:22, que mostram que todos os homens caíram, em Adão, no Éden. De formas que a própria posição de Calvino refuta o argumento pelagiano do autor, como se segue:

"Em primeiro lugar, é preciso observar que não se infligiu aos pais da raça humana uma punição que recaísse apenas sobre aquele casal, mas uma punição tal que se estendeu a toda sua posteridade em geral, para que saibamos que a raça humana foi amaldiçoada na pessoa deles..."(Com. de Gn 3:17)

"Se o propósito da vinda de Cristo era redimir-nos da calamidade em que Adão caiu, e levou toda sua progênie com ele na hecatombe, uma concepção mais clara do que possuímos em Cristo, só pode vir quando nos é mostrado o que perdemos em Adão"!(Com. de Rm 5:12)

"Paulo, porém, atribui nossa ruína a Adão, visto que seu pecado é a causa de nosso pecado"(Com. de Rm 5:15)

"A primeira diferença consiste em que somos condenados pelo pecado de Adão, não só por imputação, como se estivéssemos sendo punidos pelo pecado de outrem; sofremos, porém, seu castigo em razão de sermos também culpados, visto que Deus julga nossa natureza culpada de iniquidade, a qual foi corrompida em Adão"(Com de Rm 5:17)

"...na pessoa do primeiro homem, decaímos da condição original, sendo este um triste espetáculo de nossa sordidez e ignomínia"(Institutas, II; 1:1)

O Catecismo Maior de Westminster[1647] diz que "todo o gênero humano, descendendo dele [Adão] por geração ordinária, pecou nele e caiu com ele na primeira transgressão"(Resp. Perg. Nº 22); e o Catecismo Batista[1693], diz que "toda a humanidade, descendendo dele [Adão] por geração comum, pecou nele e caiu com ele em sua primeira transgressão"(Resp. Perg. Nº 19).

Até os Pais da Igreja refutam o Tourinho, como Ambrósio de Milão(337397], que disse:

Eu estou caído em Adão, fui expulso do paraíso, em Adão, estou morto em Adão; como ele poderia me chamar de volta, a menos que ele tivesse me encontrado em Adão, culpado quando eu estava nele. Estou agora justificado em Cristo”(Da Morte de Sátiro, 6)

Agostinho]354-430], diz que "assim é dito porque quando ele [Adão] pecou todos estavam nele"(Contra as Duas Cartas dos Pelagianos, IV:7). Em outros lugares, ele diz:

"Em que base a posse do Paraíso nos é restaurada? Como somos restaurados ao Paraíso se nunca estivemos lá? Ou como estivemos lá, exceto porque estávamos lá em Adão? E como pertencemos ao julgamento que foi proferido contra o transgressor, se não herdamos o dano do transgressor?"(IV:24)

"Minha felicidade no paraíso teria sido maior se o pecado não tivesse sido cometido. Pois a mim pertence aquela bênção do Deus Todo-Poderoso: 'Sede fecundos e multiplicai-vos'[Gn 1:29] Para realizar esta boa obra, foram criados vários membros adequados a cada sexo; esses membros existiam, é claro, antes do pecado, mas não eram objetos de vergonha. Esta será a resposta do segundo bem – a fidelidade da castidade: se o pecado não tivesse sido cometido, o que no paraíso poderia ter sido mais seguro do que eu, quando não havia desejo próprio para me estimular, nenhum outro para tentar? Eu? E então esta será a resposta do vínculo sacramental do casamento, – o terceiro bem: De mim foi dito no paraíso aquela palavra antes da entrada do pecado: ‘Um homem deixará seu pai e sua mãe, e se unirá à sua esposa. ; e os dois se tornarão uma só carne'"(Sobre o Casamento e a Concupiscencia, I; 32:21)

"Considere de que maneira ele nos abateu! Que nascemos mortais, vem disso, que ele em primeiro lugar nos derrubou de nosso primitivo paraíso"(Homília 4 sobre 1 João, 3)

Outros pais da igreja acompanham Agostinho, dizendo:

"Fomos criados para sermos felizes. Ficamos felizes quando fomos criados. Foi-nos confiado o Paraíso para que pudéssemos desfrutar a vida... Fomos enganados porque éramos objetos de inveja. Fomos expulsos porque transgredimos"(Gregório Nazianzo[330-390], Oração, 45:28)

"Agora, a ressurreição não nos promete nada mais do que a restauração dos caídos ao seu estado antigo; pois a graça que buscamos é um certo retorno à primeira vida, trazendo de volta ao Paraíso aquele que foi expulso dele"(Gregório de Nissa[335-394], Sobre a Criação do Homem, 17:2)

A posição do Tourinho, de que nenhum de nós, mas apenas Adão pecou no Éden, vai nos lembrar os "apóstolos" mórmons Orson Pratt e James Talmage:

"Nenhum de vocês é culpado porque Adão e Eva pecaram. Você comeu o fruto proibido? Você estava lá, naquela ocasião, para estender a mão, pegar daquele fruto e comer dele? A resposta unificada de todo o mundo nesta e em todas as gerações do homem seria: 'Nós não estávamos lá '. Você não está condenado por um pecado que não cometeu"('Apóstolo' Mórmon Orson Pratt, Journal of Discursos, Volume 7, p.257)

"Porém, pela transgressão de Adão, segundo toda justiça, somente o próprio Adão terá que responder"('Apóstolo' Mórmon James Talmage, Regras de Fé, p.433)

(l)"Um não ente não pode ser alvo de predestinação. Deus não pode eleger um objeto que não é passível de eleição. Quando se elege, elege alguém, mas se não tem ainda o alguém, o que se elegeu?"(O Calvinismo Explicado, p.336).

O argumento racionalista, do autor, é inconsistente. Se é irracional e ilógico Deus eleger alguém que ainda não existe como alguém, seria racional e lógico Deus amar com um amor vivo e espiritual a pessoas que não existiam como espiritualmente vivas, como no caso dos eleitos que estavam dentro do tempo espiritualmente mortos em Adão?('pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas' = Ef 2:4-5). Qual é o sentido você amar uma pessoa que não é passível de seu amor? Então, qual é o sentido lógico e racional em Deus amar alguém que não é passível de seu amor? Portanto, o argumento do Tourinho, se auto-anula, quando usado da mesma forma, contra seu próprio pensamento.

A definição de "ente" é "O que é, existe, a realidade da existência; coisa, objeto, ser, substância"(Michaelis Online). O argumento do autor não tem consistência nem sentido, justamente porque Paulo diz que "Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo"(EF 1:?4). Não existíamos como "entes"(coisas) dentro do tempo, mas existimos na eternidade como "coisas" dentro da mente do Pai e do Verbo, porque fomos eleitos "nEle"[no Verbo]. Deus não precisa contemplar uma coisa como já existente dentro do tempo, para elegê-la para algum propósito. Paulo diz que Deus chama as coisas que não são como se já fossem"(Rm 4:17). A expresão grega "τὰ μὴ ὄντα"['as coisas que não são'] que aparece no texto, segundo Wilfrid Haubeck e Heinrich Von Siebenthal significam "o não existente ou aquilo que não existe"(Nova Chave Linguística do Novo Testamento Grego, p.958). É preciso não estuprar o texto bíblico, tampouco tentar alegorizá-lo ou dar uma interpretação que ele não sustenta. A eleição foi feita antes da fundação do mundo, quando não existia nenhuma criatura humana criada ou viva. Agora, os eleitos, embora ainda não tendo sido criados dentro do tempo, já existiam na mente eterna e pré-criadora de Deus. Eles, pelo desígnio eterno do Pai, já haviam sido eleitos na pessoa eterna do Filho de Deus('Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo' - Ef 1:4). Portanto, eram entes na eterna e eletiva mente de Deus e de Jesus Cristo. Por isso, Paulo vai dizer que Ele[Deus Pai] "nos chamou...antes dos tempos dos séculos"(2 Tm 1:19). O argumento infra, que diz que Deus precisa, primeiro contemplar [na eternidade]o objeto da eleição como existente, para ele ser passível de eleição, coloca o carro na frente dos bois, contemplando primeiro o tempo e a criatura antes da emissão ou da execução do decreto, vai depor contra o ensino de Paulo, que ensina "a eleição da graça"(Rm 11:5) e a eleição "antes da fundação do mundo"(Ef 1:4). Sim, de fato, o argumenta infra diz que Deus precisa primeiro contemplar [na eternidade] o objeto da eleição como existente, para ele ser passível de eleição:

"O infralapsariano não diz que Deus elegeu os homens depois do acontecimento da queda no tempo, mas que Deus, ao eleger, contemplou esses homens já caídos, isso significa que na eternidade, ele primeiro decretou permitir a queda, e somente no moutro momento lógico ele emitiu o decreto da eleição"(O Calvinismo Explicado, p.328)

Se Deus precisa primeiro, na eternidade, contemplar a emissão ou execução do decreto com base no objeto da eleição já existente, então, a emissão ou execução do decreto da eleição não é contemplada dentro da eternidade. E se Deus precisa primeiro, na eternidade, contemplar a emissão ou execução do decreto com base no objeto da eleição já existente, caindo no pecado no Éden, então, a emissão ou execução do decreto não são feitas com base na graça, nem na vontade, propósito ou beneplácito divino, mas a partir da eterna e prévia contemplação do ato da criatura que cairia no Éden, pois é a partir da prévia e eterna contemplação do ato da criatura caída no Éden [nesse caso, o autor condiciona ou a emissão ou a execução do decreto da eleição baseadas à presciência do ato pecaminoso do homem no Éden: "uma eleição sem previsão de queda, é uma eleição sem misericórdia e sem amor e também sem justiça" - O Calvinismo Explicado, p.328), que Deus tomou a decisão de emitir ou executar o decreto da eleição, fazendo um ou ambos os atos, dependerem do ato humano prévia e eternamente contemplado no Éden, e isso é arminianismo na visão da ordem dos decretos. Nesse caso, nega-se "a eleição da graça"(Rm 11:6), pois "se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Se, porém, é pelas obras, já não é mais graça; de outra maneira a obra já não é obra"(Rm 11:6)

(m)"Logo, tudo que não é Deus, carrega algum defeito"(O Calvinismo Explicado, p.216).

Os anjos eleitos[1 Tm 5:21], que permaneceram fiéis a Deus[Jd 9; Ap 12:7-9), uma vez que sendo eleitos para a vida eterna, não poderiam cair no pecado da tentação de Lucífer, eram Deus, por não terem carregado em si a queda de Lúcifer?

(n)"...visto que toda imperfeição é ausencia de perfeição"(Ibidem, p.246).

Isso justifica o ensino do autor de que "ele [Adão] era impeifeito"(Ibidem.242), contrariando as Escrituras(Gn 1:31; Ec 7:29; Ez 28:15) e os símbolos de Westiminster, que dizem que Adão era portador de "retidão e perfeita santidade"(Confissão de Fé de Westminster, IV:2). As Escrituras e os símbolos confessionais reformados erem todos mentirosos?

(o)"O versículo prova mais usado pelos supralapsarianos para provar sua doutrina é o de Romanos 9.11-13, que diz: 'Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), foi-lhe dito a ela: O maior servirá ao menor. Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú' Daqui é deduzido que se Deus amou a um e odiou ao outro antes deles nascerem, isso implica que ele não levou em consideração a queda ou o pecado original dos dois, mas essa conclusão não segue das premissas (non sequitur). Deus já está trabalhando com uma massa caída, pois Jacó e Esaú são pessoas caídas, e Deus não via neles o pecado atual, não o pecado original"(O Calvinismo Explicado, pp.340-341).

O texto do autor está afirmando que Rm 9:11 não menciona nem o pecado atual, nem o pecado original. No caso, ele está afirmando que ambos não tinham nenhum pecado. Mas, já imaginamos a desculpa que o mesmo vai dar. Ele vai dizer que houve um erro gráfico aqui [o que também acreditamos]; e vai dizer que estava querendo, na verdade, dizer: "e Deus não via neles o pecado atual, mas o original".Isso se reforça na p.342, onde ele diz:

"Observem, claro como água limpa, que Paulo não está se referindo ao pecado herdado da queda, mas às boas ou às más obras que são praticadas, portanto, Paulo fala de um pecado atual, não de um pecado original(O Calvinismo Explicado, p.342)

A interpretação de Rm 9:11, feita pela TourinhoI(afirmando que Rm 9:11 diz que 'Deus não via neles o pecado atual'[p.341], e que em Rm 9:11 'Paulo fala de um pecado atual, não de um pecado original"[p.342]), é de uma incomensurável violentação do texto. Primeiro, porque o contexto não estabelece que Paulo estava falando de um pecado atual, como se estivesse fazendo distinção entre pecado de Adão e pecado atual. Veja que Paulo vai fundir "bem" e 'mal'('nem tendo feito bem ou mal..' - Rm 9:11] com 'obras'('não por causa das obras' - Rm 9:11]. Aqui Paulo engloba todas as obras boas ou más como uma só coisa, um só conjunto de coisas, se referindo a qualquer tipo de obra, sem referência a tempo, e isso engloba o ato de pecar no Éden e fora do Éden. Veja que o substantivo grego "ἔργον"(ergon), aqui traduzido por 'obras', de acordo com o "Thayer's Greek-English Lexicon of the New Testament", vai se referir literalmente a "qualquer coisa realizada à mão... um agregado de ações... toda boa obra que brota da piedade; as obras exigidas e aprovadas por Deus... as obras desprovidas daquela vida que tem sua fonte em Deus, obras, por assim dizer, não trabalhadas, que no juízo final falharão com relação a aprovação de Deus e de toda recompensa"(p.248). É interessante que Paulo não está dizendo: "não por causa de algumas obras", como imagina o Tourinho, se referindo a 'obras atuais[presentes]', como se Paulo estivesse fazendo qualquer distinção de obras, se referindo especificamente às 'obras presentes'. Não é isso que o texto diz. Veja que o substantivo grego é usado para se referir a todo conjunto de 'boas' ou 'más' obras; de formas que dizer que Paulo está fazendo distinção entre pecado cometido no Édén, e fora do Éden, é falácia e pelagianismo, de formas que leva Paulo a dizer: 'Portanto, como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram"(Rm 5:12 ACF).

A intepretação do Tourinho e todos os infralapsarianos sobre Rm 9:11, é malabarística. O texto favorece 100% o supralapsarianismo. Estudemos o texto:

"Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama)"(ACF)

O conceito de Paulo aqui nesse expressão['não tendo eles ainda nascido'] não é diferente de seu conceito em At 17:28. Paulo está se referindo ao nascimento como sermos criados em Adão em estado de consumação da criação('E de um só sangue fez toda a geração dos homens' -At 17:26). O verbo grego "ποιέω"[poieō], aqui traduzido por fez", de acordo com o "Thayer's Greek English Lexicon of th New Testament", significa criar"(p.524), e especificamente com relação a At 17:26, tem o sentido literal de "fazer alguém de alguma coisa"(p.525). A mesma coisa é com relação ao verbom grego "γεννάω[gennaō]traduzido aqui em Rm 9:11 como "nascido", de acordo com o Léxico Grego do Novo Testamento de Edward Robinson, tem o sentido de "procriar, como um pai"(p.175), e "procriar", segundo o Aurélio Online, tem entre vários sentidos, o de "criar". Assim, o sentido literal de "não tendo eles ainda nascido" é "não tendo eles sido criados em Adão", de formas que, somente não tendo eles sido criados em Adão, vai trazer sentido a frase seguinte "nem tendo feito bem ou mal". Somente antes de serem criados em Adão, é que eles não poderiam ter feito bem ou mal, já que criados já em Adão, como cabeça federal da raça humana, eles já teriam feito o mal no Éden, como dizem as Escrituras:

"Porque, como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores"(Rm 5:19)

"Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram"(Rm 5:12)

"Porque, se pela ofensa de um morreram muitos..."(Rm 5:15)

Assim, não fez nenhum sentido a intepretação marabalística do Tourinho, que fazer distinção de obras pecaminosas, afirmando que ali Paulo estava falando de 'pecado atual', enquanto ele não está mencionando 'algumas obras'['pecados atuais']como quer o Tourinho], mas "obras", num sentido escriturístico, sem nenhuma distinção de qualquer obra boa ou má, cometida no Édén ou fora dele.

Mas quando o Tourinho afirma que em Rm 9:11, Paulo está falando do pecado atual dos fetos Jacó e Esaú, dizendo que Deus não via o pecado atual deles, está ensinando que um pecador, pode ficar um só dia [OU NOVE MESES] sem pecar, o que vai negar Escrituras como “pois não há homem que não peque"(2 Cr 6:36); "na verdade não há homem justo sobre a Terra, que faça o bem, e nunca peque”(Ec 7:20); “alienam-se os ímpios desde a madre; andam errados desde que nasceram, falando mentiras”(Sl 58:3); “e que eras chamado transgressor desde o ventre"; “Como está escrito: não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntament se fizeram inutéis.Não há quem faça o bem, não há sequer um só”(Rm 3:10-12).

Portanto, diante dessas evidências escriturísticas, a interpretação do autor do livro, não tem nenhum sentido. Se Deus não está se referindo a nenhuma obra atual deles, a que se refere quando diz "não por causa das obras, mas por aquele que chama)"?(Rm 9:11). O argumento do Tourinho é um estupro do texto e uma negativa de sua propria opinião do livro. Se é verdade que Paulo não está falando do pecado original, e se ambos não tinham cometido obra pecaminosa[pecado atual, segundo o Tourinho] no ventre de sua mãe, resta explicar qual foi o motivo da rejeição de Esaú, se o próprio Tourinho diz em seu livro:

"A reprovação é baseada no pecado original, não no pecado atual, pois, pecados atuais todos temos, mesmo depois de salvos. Portanto, não podem ser eles a causa principal de nossa condenação, mas o pecado original sim, pois uma pessoa não convertida (não livre do pecado original) pode ser muito boa, mas jamais será salva, mesmo que ela conseguisse, se isso fosse possível, atingir um padrão moral de modo a não transgredir a lei. Por isso, devemos nos atentar que os pecados atuais não são levados em consideração no decreto de reprovação, mas sim o pecado original. Quando São Paulo diz que Deus não levou em conta os atos deles, bons ou ruins, ele estava falando dos pecados atuais, dos atos maus ou bons que fazemos no dia a dia, não está falando de forma alguma da natureza herdada da queda. O que se tem ali são dois homens caídos, e Deus agora diz: vou eleger um e reprovar o outro sem levar em conta o que eles fizeram..."(O Calvinismo Explicado, p.341)

Olha só a contradição do Tourinho. Se é verdade que Rm 9:11, não se refere ao pecado cometido no Éden, e que o mesmo texto ensina que Deus não via nenhum pecado atual dos fetos Jacó e Esaú, como então Esaú, segundo o próprio Tourinho, foi reprovado com base no pecado original? Assim, cai por terra o argumento em prol da visão infra do Tourinho, e é tornado falso, nulo e contraditório seu argumento de que Rm 9:11 não pode ser usado pelos supralapsorianos, para afirmar que Deus não decretou a reprovação por alguma previsão do ato de pecar no Eden, se o próprio Tourinho, negando seu próprio argumento ['Deus não via neles o pecado atual'/'Paulo não está se referindo ao pecado herdado da queda'], afirma que Esaú foi reprovado com base no pecado original e isso contraria seu argumento de que 'Deus não via neles o pecado atual'/'Paulo não está se referindo ao pecado herdado da queda', provando que as "obras" de Rm 9:11, se referem a todo conjunto de obras praticadas por ambos, passadas, presentes e futuras, praticadas no Éden ou fora dele, e que, portanto engloba o próprio pecado original no Éden

Com base nas próprias afirmações do autor[Tourinho], deduz-e que, segundo o autor

- Em Rm 9:11 Paulo não está se referindo ao pecado original de Adão, recaindo sobre Jacó e Esaú;

- O que se tem ali[em Rm 9:11] são dois homens caídos, e Deus agora diz: vou eleger um e reprovar o outro sem levar em conta o que eles fizeram;
- A reprovação é baseada no pecado original.

Vejam que há inconsistências e afirmações temerárias no argumento do autor:

- Ele tenta negar que Rm 9:11 favoreçe totalmente o supralapsarianismo, afirmando que o texto não está se referindo ao pecado original que eles herdaram de Adão, mas dos pecados atuais, que segundo ele, eles sequer cometeram, uma vez, que, segundo ele, "Deus não via neles o pecado atual". Em outras palavras, segundo ele, fetos, não cometem nenhum pecado durante os 365 dias de gestação de suas mães. É uma afirmação temerária, diante da complexidade que é o assunto dos resultados da queda de Adão sobre todos os seus descendentes, principalmente diante da opinião de alguns mestres da igreja diante de textos como Sl 58:3; Is 48:8 e Jo 9:2? E quem pode provar que isso nunca foi negado pela igreja pós-apostólica, principalmente quando Jerônimo[347-420], o primeiro tradutor da Bíblia, disse que "nem tampouco o estado humano existe, sem pecar, um dia, desde o início do seu nascimento"?(Comentário de Ezequiel), ou como diz o comentarista batista calvinista Archibald T. Robertson[1863-1964]: "Desde o nascimento, eles têm sido continuamente praticantes do mal"?(Com de Sl 58:3). Posso até estar errado em minha interpretação, mas sinceramente, não consigo pisar firme no mesmo terreno que o Tourinho pisa, com essas extravagantes afirmações. Suas afirmações são muito temerárias. Eu fico com o pé atrás.

- Depois ele afirma que Rm 9:11 trata de dois homens caídos. Mas eles foram 'caídos' quando? No pecado original de Adão, ou nos futuros pecados previstos? Vejam que o autor dá um tiro no próprio pé. Ele defende que a reprovação é condicional, isto é, baseada na eterna ou prévia contemplação do ato de pecar de Adão no Éden. Só que Paulo nega que reprovação e eleição sejam feitas com base em obras más ou boas do homem, mas por causa "do propósito" de Deus, não por causa das obras, mas por aquele que chama"(Rm 9:11). Isto é, Deus não decide eleger ou reprovar o homem, após contemplar eterna ou previamente o homem cometendo seus pecados no Éden, mas com base em seu "propósito", "por causa daquele que chama". E isso contrapõe "não por causa das obras".

- Se Deus, segundo o autor, vê no ventre de Rebeca Jacó e Esaú, e os vê como "dois homens caídos", e se ele vai "eleger um e reprovar o outro sem levar em conta o que eles fizeram", e se "a reprovação é baseada no pecado original"(O Calvinismo Explicado, p.341), e se ele os vê como "homens caídos", logo, Esaú, foi reprovado com base na imputação das obras de Adão recaindo sobre ele, das quais ele não foi eleito para a salvação; enquanto que seu irmão Jacó o foi. Logo, as expressões "não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal"(Rm 9:11) e "não por causa das obras, mas por aquele que chama"(Rm 9:11), se o autor estiver certo [no sentido de que não se referem aos pecados atuais ou futuros de Jacó e Esaú], se referem a eles como tendo sobre si a imputação dos pecados de Adão, sendo a um [Jacó] concedido a eleição para a salvação; enquanto ao outro[Esaú], é concedido a reprovação para a morte eterna. As obras pecaminosas de Jacó e Esaú, vistas neles como "dois homens caídos"[segundo o autor], decorre da imputação do pecado original de Adão recaindo sobre eles, e a concessão do perdão dos pecados a um[Jacó] e a negação do mesmo a outro[Esaú], depende da vontade graciosa de Deus, e são resultados da eterna eleição de Jacó, e eterna reprovação de Esaú. Assim, Rm 9:11 impõe flagrante derrota sobre o infralapsarianismo, por mais que eles criem manobras espúrias e extra-bíblicas, que não passam de inutilidades. E assim, cai por terra o argumento do autor de que Rm 9:11 não pode ser usado pelos supralapsarianos em favor do supralapsarianismo. E igualmente cai por terra o argumento de que Deus não levou em consideração o ato de Adão pecar no Éden, quando eternamente elegeu o homem, como deseja e ensina o Tourinho, já que segundo ele, foi o pecado de Adão a causa da reprovação de Esaú, lembrando que não podia existir eleição que não gerasse automoticamente a reprovação. Assim, permanece intocável e irrefutável o argumento supralapsariano de que em Rm 9:11 Deus não levou em consideração o futuro pecado do homem no Éden, para elegê-lo posteriormente. A própria afirmação do Tourinho nos favorece.

As afirmações do Tourinho, na tentativa de se desvencilhar do forte supralapsarianismo de Rm 9:11, é arminianizar o texto, pois ele afirma que as expressões paulinas "não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal" e "não por causa das obras" significam "Deus não via neles o pecado atual" e "Paulo não está se referindo ao pecado herdado da queda". Mas essas explicações arminianizam o texto. Se é verdade que a eleição de Jacó e a reprovação de Esaú foram feitas na eternidade, e o Tourinho diz que Rm 9:11 está afirmando que "Deus não via neles o pecado atual", equivale a dizer "Jacó foi eleito quando não tinha cometido pecado atual" e "Esaú foi reprovado quando não tinha cometido pecado atual", e isso remonta a "eleição" de Jacó e a "reprovação" de Esaú ao tempo de sua gestação, situando eleição e reprovação dentro do tempo, negando, portanto sua atemporabilidade[eternidade]. Outra coisa, não há como fazer dicotomia sobre o "mal" em Rm 9:11, pois o mal[o pecado]é o pecado herdado de Adão. Então, quando o Tourinho diz: "Paulo não está se referindo ao pecado herdado da queda"(O Calvinismo Explicado, p.342), ele contradiz sua outra declaração: "A reprovação é baseada no pecado original, não no pecado atual, pois, pecados atuais todos temos, mesmo depois de salvos"(O Calvinismo Explicado, p.341). Como Paulo não está se referindo ao pecado original, se o próprio Tourinho disse que "A reprovação é baseada no pecado original, não no pecado atual"?(O Calvinismo Explicado, p.341). Rm 9:11 não está se referindo a reprovação de Esaú, Tourinho? Está sim. E a reprovação[de Esaú]foi feita na eternidade, bem como a eleição de Jacó. Nesse caso, Rm 9:11, na sua expressão "não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal", está dizendo 'não tendo eles sido criados em estado de consumação em Adão, nem tendo feito bem ou mal', mostrando sim, que Deus não levou em consideração o futuro pecado do homem no Éden, para elegê-lo, até porque isso faria a emissão ou excecução do decreto da eleição depender do tempo [negando sua atemporalidade] e da criatura[negando o monergismo divino]. Isso é inconteste.

De fato, não há como você conciliar a expressão "não por causa das obras" com a visão infra, que coloca ou Deus emitindo ou executando o decreto da eleição após contemplar o ato do homem pecar no Éden, pois isso tornaria o decreto da eleição condicionado à tomada de atitude de decisão divina mediante a divina contemplação do ato de pecar do homem no Éden. No caso, Deus só decide emitir ou executar o decreto da eleição, depois de primeiro contemplar o ato do homem caindo no Éden. - Puro arminianismo! - Nessa visão, Deus se torna mero carimbo para as decisões humanas! Assim, a eleição ou reprovação eternas de Deus, não foram baseadas em sua eterna ou prevía contemplação do ato do homem pecando no Éden, mas apenas baseada no "propósito de Deus"(Rm 9:11), e sobre "aquele que chama"(Rm 9:11). Nenhuma obra, cometida dentro ou fora do Éden, foi levada em consideração por Deus, na emissão ou execução do decreto da eleição. Isso contraria Paulo, que diz:"...a eleição da graça. Mas se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça. Se, porém, é pelas obras, já não é mais graça; de outra maneira a obra já não é obra"(Rm 11:5-6). Fazemos nossas as palavras do grande batista e puritano John Gill[1697-1771]:

"De modo que Jacó não foi amado por suas boas obras, nem Esaú odiado por suas más; o que confirma a verdade desta doutrina, que os objetos da predestinação, seja para a vida ou para a morte, são semelhantes, estão na mesma situação e condição: sejam eles considerados na massa corrupta, ou caídos, todos são igualmente tais, para que não pudesse haver nenhuma razão neles, por que alguns devem ser escolhidos e outros deixados; ou se na massa pura, antecedente à queda, e sem qualquer consideração dela, que é claramente significada nesta passagem, não poderia haver nada em uma, que não estivesse na outra, que pudesse ser a causa de tal diferença feita: de modo que se segue, que nem o bem nem o mal são as causas que movem Deus a predestinar, seja para a vida ou para a morte"(Com de Rm 9:11)

(p)"...afirmamos que, sim, o supralapsarianismo foi condenado pelas confissões e Sínodo de Dort, não podendo ser um posicionamento calvinista confessional"(O Calvinismo Explicado, p.323).

Em primeiro lugar, se existe um conceito de ordem dos decretos que não pode ser um posicionamento calvinista confessional, esse é o do infralapsarianismo, uma vez que o próprio James Armínio o endossou e ensinou em sua obra 'Um Exame do Tratado de William Perkins’, 1a Parte), afirmando:

Eu realmente penso que tanto a criaçao e a queda precederam todo ato externo da predestinação, assim como o decreto da criação do homem, e a criação dessa queda precederam, na mente divina, o decreto da predestinação. Penso, ainda, que provei isso, particularmente, com minhas observações anteriores"(As Obras de Armínio, Volume 3, p.289).

Roger Olson, maioral moderno do arminianismo, nesse ínterim, reconhece que o supralapsarianismo, não o infralapsarianismo, era "o maior adversário de Armínio"(Teologia Arminiana, Mitos e Realidades, p.134)

O autor [Tourinho], bem logo acima, faz uma afirmação sem sequer 1% de prova documental, sobre o que diz Dort. Os Cânones de Dort[1618-1619], declaram:

“Esta eleição é o imutável propósito de Deus, pelo qual Ele, antes da fundação do mundo, escolheu um número grande e definido de pessoas para a salvação, por graça pura. Estas são escolhidas de acordo com o soberano e bom propósito de sua vontade, dentre todo o gênero humano, decaído pela sua própria culpa de sua integridade original para o pecado e a perdição. Os eleitos não são melhores ou mais dignos que os outros, porém envolvidos na mesma miséria dos demais. São escolhidos em Cristo, quem Deus constituiu, desde a eternidade, como Mediador e Cabeça de todos os eleitos e fundamento da salvação. E, para salvá-los por Cristo, Deus decidiu dá-los a Ele e efetivamente chamá-los e atraí-los à sua comunhão por meio da sua Palavra e seu Espírito. Em outras palavras, Ele decidiu dar-lhes verdadeira fé em Cristo, justificá-los, santificá-los, e depois, tendo-os guardado poderosamente na comunhão de seu Filho, glorificá-los finalmente. Deus fez isto para a demonstração de sua misericórdia e para o louvor da riqueza de sua gloriosa graça”(I:7)

Eleição, portanto, é a fonte de todos os bens da salvação, de onde procedem a fé, a santidade e os outros dons da salvação, e finalmente a própria vida eterna como seus frutos. É conforme o testemunho do apóstolo: Ele ‘...nos escolheu...’(não por sermos mas) ‘...para sermos santos e irrepreensíveis perante ele...’(Ef 1:4).”(Ibidem, I:9).

Essa confissão de fé apresenta a ordem dos decretos como (a)Eleição(‘Esta eleição é o imutável propósito de Deus, pelo qual Ele, antes da fundação do mundo, escolheu um número grande e definido de pessoas para a salvação’; Eleição, portanto, é a fonte de todos os bens da salvação); (b)Criação(‘Esta eleição é o imutável propósito de Deus, pelo qual Ele, antes da fundação do mundo, escolheu um número grande e definido de pessoas para a salvação’) e (c)Queda(‘Esta eleição é o imutável propósito de Deus, pelo qual Ele, antes da fundação do mundo, escolheu um número grande e definido de pessoas para a salvação’)

(q)"A Confissão de Fé de Westminster, na sua Seção 3.6, endossa o infralapsarianiasmo, quando diz que os eleitos se achavam caídos em Adão"(O Calvinismo Explicado, p.324)

A CFW diz: "os que, portanto, são eleitos, achando-se caídos em Adão, são remidos por Cristo, são eficazmente chamados para a fé em Cristo pelo seu Espírito, que opera no tempo devido". Ela não diz "os que, portanto, achando-se caídos em Adão, são eleitos, são remidos eficazmente para a fé em Cristo pelo seu Espírito, que opera no tempo devido...". Isso provaria o infralapsarianismo. Mas, não é isso que o texto diz, pois o texto da CFW não coloca a Queda('achados caídos em Adão') antes da eleição('os que, portanto, são eleitos')

O autor também cita a Confissão de Fé Francesa[1559], mas curiosamente ele esquece que o texto por ele citado, diz:

"...Deus retira aqueles que, em seu conselho eterno e imutável, elegeu por pura bondade e misericórida..."(XII)

E curiosamente omite na citação seguinte:

"Isto, não porque uns sejam melhores que os outros, pois Deus os discerne segundo seu conselho imutável, que determinou em Jesus Cristo antes da fundação do mundo..."(A Tragédia da Guanabara, p.87)

De formas que, a Confissão Francesa, situa o decreto da eleição antes dos decretos da criação e da queda, e isso atinge o coração do infralapsarianismo. Oh, como eles anspiram desesperadamente por uma só linha confessional que coloque criação e queda antes da eleição, coisa que nem as Escrituras fazem(Ef 1:4)

Da mesma forma, cita a Confissão de Fé Batista de 1688(3:6). A explicação aqui, é a mesma da CFW. Contudo, o texto bíblico que os batistas usaram aqui para alicerçar a expressão "Por isso os eleitos, achando-se caídos em Adão, são redimidos em Cristo", é 1 Ts 5:9-10, onde o tempo em que os eleitos são encontrados, não se situa antes da fundação do mundo, mas depois da fundação do mesmo, particularmente no tempo da "a aquisição da salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo, Que morreu por nós..."(ACF) - 33 d.C. Depois, ele cita o Consenso de Genebra[1552](Um Tratado da Eterna Predestinação de Deus)(O Calvinismo Explicado, pp.325-326), mas não apresenta nenhuma única citação de Calvino, defendendo a visão infra, tampouco colocando Criação e Queda antes da eleição. Na realidade, nesta mesma obra, Calvino nega essa visão, afirmando:

"Eu respondo que três coisas estão aqui para serem consideradas: 1. Que a eterna predestinação de Deus, pela qual Ele decretou, antes da Queda de Adão, o que deveria ocorrer em toda a raça humana e em cada indivíduo dela, foi inalteravelmente fixa e determinada. 2. O próprio Adão, devido ao seu afastamento de Deus, foi merecidamente designado para a morte eterna. 3. E, finalmente, que na pessoa de Adão, assim caída e perdida, toda a sua prole também foi eternamente condenada; mas tão eternamente condenada que Deus considera digno a honroso a Sua adoção de todos aqueles a quem Ele livremente escolheu”.

“Observarei apenas que quando Paulo testifica que somos feitos participantes da adoção divina, porque fomos escolhidos antes da fundação do mundo. Ora, o que há inexplicável ou perplexo nesta doutrina e em sua conexão? Pois quando o apóstolo ensina, no mesmo contexto, primeiro que aqueles que foram escolhidos por Deus, depois foram chamados de acordo com Seu propósito, ele harmoniza lindamente, se não me engano, a certeza da nossa fé com o decreto imutável da eleição de Deus”(Ibidem).

Esta confissão apresenta a ordem dos decretos como: (a)Eleição(‘Que a eterna predestinação de Deus, pela qual Ele decretou, antes da Queda de Adão/porque fomos escolhidos antes da fundação do mundo’/ Pois quando o apóstolo ensina, no mesmo contexto, primeiro que aqueles que foram escolhidos por Deus...’); (b)Criação, e Queda(Que a eterna predestinação de Deus, pela qual Ele decretou, antes da Queda de Adão’; ‘porque fomos escolhidos antes da fundação do mundo’)

(r)"...portanto, uma eleição sem previsão de queda, é uma eleição sem misericórdia e sem amor e também sem justiça, visto que, os reprovados, nesse caso, são reprovados sem pecado, eles simplesmente seriam criados para serem destruídos"(O Calvinismo Explicado, p.328).

Se a eleição faz parte dos eternos decretos de Deus [o Tourinho crê que faz], não pode, como decreto, ser baseado em nenhuma previsão de qualquer ato futuro praticado pelo homem, conforme ensina a Confissão de Fé de Westminster:

"Ainda que Deus sabe tudo quanto pode ou há de acontecer em todas as circunstâncias imagináveis, ele não decreta coisa alguma por havê-la previsto como futura, ou como coisa que havia de acontecer em tais e tais condições"(III:2).

Embora os reprovados, tenham sido preteridos na eternidade, antes da fundação do mundo, quando não tinham cometido nenhuma obra má, também os eleitos, antes da fundação do mundo, sem terem cometido nenhuma obra má ou boa, foram escolhidos para a vida eterna(Ef 1:4; Rm 9:11). Sua eleição para a salvação foi feita sem nenhum critério de justiça e de misericórdia?. Não foram eles eleitos "nEle"[Cristo][Ef 1:4]? Ademais, Paulo, quando menciona a eleição de Jacó e a reprovação eterna de Esaú, salientando que ambas, não foram decretadas com base em qualquer uma de suas obras, mas que foram decretadas, não na previsão das obras deles enquanto filhos caídos de Adão no Éden, mas unicamente segundo o propósito e vocação divina, sendo Deus livre para conceder misericórida a quem lhe aprouvesse ter misericórdia:

"Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), Foi-lhe dito a ela: O maior servirá ao menor. Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú. Que diremos pois? que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma. Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece"(Rm 9:11-16).

Não endossamos uma teologia baseada em um sentimentalismo barato. Nos contentamos com a pureza, a simplicidade e a majestade das Escrituras

O autor do livro defende decretos condicionais, algo não encontrado nas Escrituras, tampouco nos símbolos de fé reformados. Se o Ser Divino dependesse da prévia ou eterna contemplação dos atos do homem no Éden ou fora dele, para emitir seu decreto da eleição, seu decreto seria condicional, algo que o próprio autor nega:

"...não podem existir decretos condicionais, nem eleição condicional, pois Deus é a causa de tudo que acontece. Deus é a causa do tempo. Ele não pode consultar aquilo que causou, pois de outra forma, o tempo deverá ter outra fonte que não é Deus, e Deus receberá uma informação que ele não causou e que, portanto, não veio dele; e como Deus só concede e nunca recebe, por não lhe faltar nada, esse tipo de decreto é impossível"(O Calvinismo Explicado, pp.369-370)

Portanto, seja Deus verdadeiro, e todo homem mentiroso!!!

4. Aspectos positivos no livro?

Sim. Claro. Em alguns lugares há sim, defesas da TULIP:

i. TotaL Depravação:

"Segundo a doutrina do pecado original ou depravação total, o homem é incapaz de sequer entender o evangelho e, portanto, também é incapaz de tomar uma atitude diferente da rejeição a Deus, já que o mesmo sequer entende"(O Calvinismo Explicado, p.111)

ii - Eleição Incondicional:

"No entanto, entendemos a salvação em três modos: destinação, aquisição e aplicação. Então há três decretos em relação a ela: eleição, redenção e vocação. Assim, Deus, por sua eterna bondade, mostra sua misericórdia à raça humana, pois dado que todos caíram, a humanidade inteira estaria destinada ao inferno. Deus, então, elege incondicionalmente a muitos..."(Ibidem, p.319)

III - Irresistibilidade da Graça Divina:

"... Ele então decreta os meios para que isso se execute e por isso, com uma vontade consequente ele decreta uma graça irresistível sobre os eleitos, assim infalivelmente se alcança o fim"(Ibidem, p.308)

"Após a criação, queda, eleição e reprovação, morte de Cristo, temos o chamado eficaz, no qual Deus concede a graça eficaz para todos os eleitos, por ocasião da pregação da Palavra de Deus. Através da graça, ao homem é dada fé, arrependimento e justificação, tudo pelo mérito de Cristo, que salva o eleito incondicionalmente"(Ibidem, p.319)

IV- Expiação Particular:

"Mas, visto que ele não poderia exercer misericórdia sem livrá-los da ira divina, então decreta a morte do Cordeiro, que será o expiador dos pecados dos eleitos, adquirindo para eles salvação, fé e santificação"(Ibidem, p.319)

Apesar de dicordar dele em alguns pontos, reconheço o uso de bons argumentos em algumas refutações ao pensamento arminiano. Por exemplo, essa declaração da p.111, é correta.

Mas nenhuma dessas coisas servem para passar a mão na cabeça do autor, pelas afirmações dele, feitas sem o resplado das Escrituras, Patrística, Simbolos Confessionais e a História. O livro deixa a desejar, e não trata de fato do Calvinismo, mas do Escolasticismo, e, portanto, não presta um serviço a Reforma

Que Deus abençoe tua leitura. Amém.

Jailson Serafim