quinta-feira, 8 de maio de 2025

A Igreja de Cristo passou pela 'Grande Tribulação' em 70 d.C? Mitos e Realidades!

Escatologia, é realmente, um tema difícil de abordar. Dentre esse conjunto de temas, está o Milênio, sendo interpretado sob as visões do amilenismo, pré-milenismo e pós-milenismo. O livro de Apocalípse, é, em especial, o mais lido e comentando para falar dos eventos escatológicos. O livro é tão difícil de ser interpretado, que nem Calvino, o maior teólogo da Igreja, depois de Paulo e Agostinho, quis comentar. A IPB não tem uma opinião oficial sobre a questão do milênio. A opção para endossar uma posição, é absolutamente livre, indicando que um membro da Igreja pode endossar qualquer uma dessas posições. Dentro dos assuntos de linha escatógica, encontramos a questão do cumprimento da Grande Tribulação sobre a Igreja. Os adeptos do preterismo [completo ou parcial], tem defendido que o evento da grande tribulação, que a igreja sofreria, já ocorreu e se cumpriu literalmente, durante o ano 70 d.C, quando o general Tito, destruiu o templo de Jerusalém e matou milhares de judeus. Apelam para Mt 24:15-21; Lc 21:22-24. Esse tipo de argumento deixa lacunas e perguntas sem respostas. Estudemos essa questão...

(1)Mt 24:15-21; Lc 21:22-24 e Mc 13:14-20 ensinam realmente a grande tribulação em 70 d.C, pela qual a Igreja passaria?

Não. Essa é a resposta, pelos seguintes motivos:

(a)Primeiro, Jesus, pela boca de João, diz que a grande tribulação seria experimentada por toda a Igreja(Ap 7:9-17), enquanto que o evento ocorrido no 70 d.C dizia respeito apenas a judeus crentes no meio de judeus descrentes:

"Então, os que estiverem na Judeia, fujam para os montes; E quem estiver sobre o telhado não desça a tirar alguma coisa de sua casa; E quem estiver no campo não volte atrás a buscar as suas vestes. Mas ai das grávidas e das que amamentarem naqueles dias! E orai para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem no sábado; Porque haverá então grande aflição, como nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem tampouco há de haver"(Mt 24:16-21)

"Mas, quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabei então que é chegada a sua desolação. Então, os que estiverem na Judeia, fujam para os montes; os que estiverem no meio dela, saiam; e os que nos campos não entrem nela. Porque dias de vingança são estes, para que se cumpram todas as coisas que estão escritas. Mas ai das grávidas, e das que criarem naqueles dias! Porque haverá grande aperto na terra, e ira sobre este povo. E cairão ao fio da espada, e para todas as nações serão levados cativos; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem"(Lc 21:20-24)

"Ora, quando vós virdes a abominação do assolamento, que foi predita por Daniel o profeta, estando aonde não deve estar (quem lê, entenda), então os que estiverem na Judeia fujam para os montes. E o que estiver sobre o telhado não desça para casa, nem entre a tomar coisa alguma de sua casa; E o que estiver no campo não volte atrás, para tomar as suas vestes.Mas ai das grávidas, e das que criarem naqueles dias! Orai, pois, para que a vossa fuga não suceda no inverno. Porque naqueles dias haverá uma aflição tal, qual nunca houve desde o princípio da criação, que Deus criou, até agora, nem jamais haverá.E, se o Senhor não abreviasse aqueles dias, nenhuma carne se salvaria; mas, por causa dos eleitos que escolheu, abreviou aqueles dias"(Mc 13:14-20)

Então. veja alguma descrições nesses textos, que tratam o evento de 70 d.C. não como "a Grande Tribulação" de Ap 7:9-17, que diz respeito a Igreja Toda, composta de judeus e gentios crentes:

(a)"os que estiverem na Judeia, fujam para os montes..."(Mt 24:16)

"...então os que estiverem na Judeia fujam para os montes..."(Mc 13:14)

"Então, os que estiverem na Judeia, fujam para os montes..."(Lc 21:21)

A quem o texto se refere? Aos judeus crentes, que precisariam fugir para escapar da perseguição de Tito.

(b)"E orai para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem no sábado"(Mt 24:20)

Quem deveria orar e estar preocupado para não se deparar com a possibilidade de uma fuga no dia de sábado? Judeus crentes, não gentios crentes. Porque os judeus crentes teriam dificuldades nessa fuga, porque no dia de sábado, as portas da cidade de Jersualém estariam fechadas, devido ao fato dos judeus descrentes guardarem o sábado.

(c)"E cairão ao fio da espada, e para todas as nações serão levados cativos; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem"(Lc 21:24)

Precisamos tecer algum comentário? Temos alguma menção de algum gentio crente aqui, envolvido nesse evento? Não. Não temos. Logo é um evento totalmente distinto da verdadeira 'grande tribulação' de Ap: 7:9-17, que menciona que a Igreja Toda, composta de judeus e gentios crentes participariam da grande tribulação.

(d)Logo, podemos entender e falar que não houve a ‘grande tribulação’ nesse evento de 70 d.C, pois a grande tribulação mostra uma grande multidão, inumerável, composta de mártires, que foram assassinados pelos inimigos da Igreja nesse período, que cremos, seguindo a “Bíblia de Estudo de Genebra” da IPB, corresponder todas as eras do século I[lembremos Estevão e Tiago, irmão de João, assassinados bem antes do ano 70 – At 7:59-60; 12:12-2] até o nosso século[correspondendo aos pais da igreja, como Policarpo, Inácio, Orígenes, etc; os valdenses, os pré-reformadores[Huss, Savonarola], os reformadores[Cranmer, Tyndale, Ridley, Latimer), os quatro pastores enviados por Calvino a Guanabara em 1557, mortos no ano seguinte, pelas mãos de Anchieta, e todos os cristãos martirizados pela Inquisição Católica Romana e pelos maometanos e comunistas. São um número incontável. Por isso, note que Almeida corretamente não reza “grande tribulação” em Mt 24:21, mas “grande aflição”, já para não criar uma confusão com Ap 7:9,14. Outros tradutores que usaram o Texto Receptus, rezaram “θλῖψις”(thlipsis) em Mt 24:21 por “dificuldade”(Coverdade Bible, 1535), “grande pressão”(Julia E. Smith Translation, 1876]. “aflição”(Jay P. Green's Literal Translation 1993], “aflição”(Reina/Valera [Reformadores Cassiodoro de Reina e Cipriano de Valera] - Espanhol), “opressão”(Statenvertaling, Bíblia do Sínodo de Dort -1618-1619), “aflição”(Diodatti[Italiana], discípulo de Calvino), “miséria”(Károli Gaspar, Hungára]; “sofrimento”(Phesita Siríaca, George Lamsa], “tribulações”(The Great Bible, 1539], "aflição"(Almeida). Note que no texto correlato [Lc 21:24], Almeida reza “θλῖψις”(thlipsis)por "aperto", não "tribulação". Creio que a razão deles terem usado uma tradução distinta de “tribulação”, seria para não repassar a falsa idéia de que o fato descrito em Mt 24:21 não pode ser confundido com o de Ap 7:9,13, pois são eventos totalmente diferentes e distintos. O primeiro[Mt 24:21], não envolvia martírio dos cristãos; o segundo[Ap 7:9,13] envolvia, São eventos totalmente diferentes.

(2)O evento de 70 d.C não envolveu o martírio de judeus crentes.

Esse é outro motivo, que mostra a distinção entre "a grande aflição" de Mt 24:21 e Lc 21:23 e a grande tribulação" de Ap 7:9-17. O primeiro evento[Mt 24:21; Lc 21:23], segundo o seu contexto[Mt 24:13,21] aponta para a preservação da vida de todos os judeus crentes, em 70 d.C, conforme opinião de vários comentaristas das Escrituras, como se segue.

"E assim foram preservados da calamidade geral; e também com uma salvação eterna, que é o caso de todos o que perseverarem até o fim, como todos os verdadeiros crentes em Cristo”(John Gill[1697-1771], Ministro Batista, Com. de Mt 24:13).

“A palavra ‘fim’, aqui, para alguns significa a destruição de Jerusalém, ou o fim da economia judaica, e o significado supostamente é ‘aquele que persevera em suportar essas perseguições até o fim das guerras deve estar fora de perigo’. Deus irá proteger o seu povo do mal, de modo que nem um só fio de cabelo da cabeça perecerá”(Albert Barnes[1798-1870], Ministro Presbiteriano, Com. de Mt 24:13).

“Mas o contexto nos leva a ver no ‘fim’ ao fim do período de que nosso Senhor fala, ou seja, a destruição de Jerusalém; e assim as palavras ‘será salvo’ pelo menos, inclui a libertação da morte daqueles que se envolveram nesse caso da destruição”(Charles John Ellicott[1819-1905], Ministro Anglicano, Com. de Mt 24:13).

Os judeus cristãos que não desistiram de sua fé, vendo os sinais e fugiram para Pella em Perea, outro lado do Jordão, e salvaram suas vidas”(The Bible Study New Testament, Com. de Mt 24:13).

“Quando a cidade foi destruída, os cristãos foram salvos”(Johann Albrecht Bengel[1693-1752], Ministro Luterano, Com. de Mt 24:13)

“É uma promessa de perseverança, especialmente porque tal perseverança está unida com a firmeza de espírito. Ele que não será tentado à apostasia através das aflições do evangelho, deverá ter paciência e coragem para suportar todos os sofrimentos que se seguem a profissão do evangelho, será salvo; se na incerteza da preservação, e desta maneira será salvo com uma salvação temporal, ainda que ele deva ser eternamente salvo”(Matthew Poole[1624–1679], Ministro Congregacional Puritano, Com. de Mt 24:13)

“É muito notável, e foi certamente um ato mais do sinal da Providência, no qual nenhum dos cristãos pereceram na destruição de Jerusalém”(Joseph Benson[1749–1821], Ministro Metodista, Com. de Mt 24:13)

Os cristãos foram salvos dos horrores que habitaram a destruição de Jerusalém”(Philip Schaff[1819-1893], Ministro da Igreja Presbiteriana, Com. de Mt 24:13)

"E, portanto, Cristo diz que, a menos que Deus ponha um fim a essas calamidades, os judeus perecerão completamente, de modo que nenhum indivíduo restará; mas que Deus se lembrará de sua graciosa aliança e poupará seus eleitos, de acordo com aquela outra predição de Isaías"(João Calvino[1509-1564], Com de Mt 24:22)

"Aqueles que, como crentes em Jesus, eram o 'remanescente' do Israel visível e, portanto, o verdadeiro Israel de Deus. Foi por amor aos cristãos da Judeia, não por amor aos judeus rebeldes, que a guerra não se prolongou, e que Tito, sob as influências externas de Josefo e Berenice, temperou suas conquistas com compaixão]Ant. xii. 3, § 2; Guerras, vi. 9, § 2]"(Charles J. Ellicott[1819-1905], Ministro Anglicano, Com de Mt 24:22)

"Aqueles que foram escolhidos em Cristo, antes da fundação do mundo, para crer nele e ser salvos por ele com uma salvação eterna; tanto aqueles que estavam na cidade, ou, pelo menos, que iriam surgir de alguns que estavam lá, como seus descendentes imediatos, ou em eras futuras, e, portanto, eles e sua posteridade não deveriam ser eliminados; e também aqueles escolhidos e verdadeiros crentes, que estavam em Pela, e nas montanhas, e em outros lugares, por causa destes, e para que pudessem ser libertos destas calamidades prementes"(John Gill[1697-1771], Ministro Batista, Com de Mt 24:22)

"Isto é, nenhum judeu vivo; os soldados romanos haviam sido tão frequentemente espancados por eles, que nada mais desejavam do que livrar o mundo deles. Mas Deus, por amor à sua aliança, preservou um remanescente deles, pois sempre amolece a espada da sua justiça no óleo da sua misericórdia, como Nicéforo afirma"(John Trapp[1601-1669], Ministro Anglicano, Com de Mt 24:22)

"É uma palavra para o remanescente de Israel e não para a igreja"(Ger de Koning, Ministro das Igrejas Reformadas, Com de Mt 24:22)

"Em tempos de calamidade comum, Deus manifesta Seu favor ao remanescente eleito; Suas joias, que Ele então criará; Seu tesouro peculiar, que Ele assegurará quando a madeira for abandonada ao destruidor"(Matthew Henry[1662-1714], Ministro Presbiteriano, Com de Mt 24:22)

"E se o Senhor, em compaixão por aqueles entre este povo que pertenciam à sua eleição da graça, não tivesse abreviado estes dias de calamidade, enviando os exércitos romanos para acalmar suas divisões internas, e então concedendo a esses exércitos uma vitória tão rápida, nenhum dos judeus teria sido deixado vivo, o que, de fato, qualquer um que apenas leia essas histórias julgará"(Matthew Poole[1624-1679], Ministro Congregacional, Com de Mt 24:22)

"É porque Deus está no controle que qualquer carne sobreviverá, e o propósito disso é que os eleitos sobrevivam. Portanto, por mais terríveis que sejam as situações que venham ao mundo, podemos ter certeza de que Deus 'abreviará os dias', caso contrário, não haverá eleitos para serem reunidos quando Ele vier[Mt 24:31]"(Peter Pett, Ministro Batista, Com de Mt 24:22)

"Aqueles que, como crentes em Jesus, eram o 'remanescente' do Israel visível e, portanto, o verdadeiro Israel de Deus. Foi por causa dos cristãos da Judeia, não por causa dos judeus rebeldes, que a guerra não foi prolongada"(The Preacher's Complete Homiletical Commentary, Com de Mt 24:22)

"Os versículos que se seguem descrevem grande miséria. Mas, em meio a essa visão terrível, peço ao leitor que não ignore aquele doce versículo de misericórdia para com os eleitos. A menos que aqueles dias, disse Jesus, sejam abreviados;[isto é, a destruição arrebatadora que ocorrerá naquela visitação] nenhuma carne será salva: mas por causa dos eleitos, disse o Redentor, aqueles dias serão abreviados. Leitor! Não negligencie a misericórdia; e muito menos negligencie o Senhor da misericórdia. Se os dias tivessem sido prolongados, como os selvagens romanos desejavam, até que toda a semente de Israel tivesse sido eliminada: de onde poderia ter havido uma raça preservada para a propagação da semente de Cristo, da qual os eleitos segundo a carne viriam?"(Robert Hawker[1753-1827], Ministro Anglicano, Com de Mt 24:22)

"Ele determinou que eles seriam poucos, para que um remanescente pudesse ser salvo, e entre eles os seus eleitos; ou de quem deveria descender, como ele havia escolhido, que deveria ser salvo com uma salvação eterna: embora o povo em geral tenha sido entregue à cegueira e à descrença, eles são preservados como um povo distinto no mundo; e nos últimos dias serão chamados e convertidos, e todo o Israel será salvo e, portanto, foi a vontade de Deus encurtar aqueles dias de aflição, para que eles não fossem totalmente eliminados, mas que um número pudesse ser deixado, como uma reserva para as eras futuras"(John Gill[1697-1771], Ministro Batista, Com. de Mc 13:20)

"Não fosse por esse 'encurtamento' misericordioso, provocado por uma notável concordância de causas, toda a nação teria perecido, restando ainda um remanescente para ser posteriormente reunido"(Robert Jamieson[1802-1880], Andrew Robert Fausset[1821-1910] e David Brown[1803-1897], Ministros Anglicanos, Com de Mc 13:20)

"São Lucas acrescenta: 'Mas nem um fio de cabelo de vossas cabeças se perderá', pois 'até os cabelos de vossas cabeças estão contados', diz São Mateus"(John Trapp[1601-1669], Ministro Anglicano, Com de Mc 13:13)

"Havia uma promessa de que um remanescente seria salvo[Is 10:22], e que Deus não os destruiria a todos por causa de seus servos[Is 65:8]; e essas promessas devem ser cumpridas. Os próprios eleitos de Deus clamam a ele dia e noite, e suas orações devem ser respondidas[Luc 18:7]"(Matthew Henry[1662-1714], Ministro Presbiteriano, Com de Mc 13:20)

"A ideia dos 'eleitos' é proeminente nesta passagem[Mc 13:20,22,27]. Não ocorre em nenhum outro lugar em Marcos. Mas aqui eles são aqueles que Ele escolheu e, portanto, refere-se claramente àqueles que foram 'dados a Ele" por Seu Pai'[Jo 6:37,39,44]. São aqueles que contemplam o Filho e creem nele[Jo 6:40]. São Sua nova nação[Mt 21:43], Sua nova 'congregação'[Mt 16:18], ramos vivos da verdadeira Videira[Jo 15:1-6]. Para a ideia de Deus 'encurtar os dias' de Seu julgamento, compare 2 Sm 24:16, onde Ele detém a mão do anjo vingador[Is 65:8], onde Ele declara que não destruirá a todos por causa de Seus servos"(Peter Pett, Ministro Batista, Com de Mc 13:20)

A idéia aqui da preservação dos judeus crentes cdurante o ano 70 d.C, é cumprimento da profecia de Dn 12:1

Mas, o que impressiona é ver os preteristas tentando torcer os textos de Mt 24:15-21; Lc 21:22-24 e Mc 13:14-20, dizendo que não estão se referindo a preservação da vida dos crentes judeus em 70 d.C, mas em todas as eras, o que é refutado não só pelas Escrituras(Dn 12:1; Mt 24:15-21], mas também pelos comentaristas das Escrituras

(e)Os eventos de Mt 24; Lc 21 e Mc 13 mostram coisas que já conteceram, acontecem e ainda acontecerão. Apocalípse é muito semelhante. Há várias janelas nele. Quando abrimos uma janela, vemos coisas que já aconteceram; quando abrimos outra, vemos coisas que estão acontecendo; e quando abrimos uma outra, vemos coisas que ainda acontecerão.

(3)Se o evento de 70 d.C não envolveu o martírio dos judeus crentes que presenciaram a 'grande aflição' durante a destruição do templo de Jerusalém, sob Tito, o envento é totalmente distinto da "grande tribulação" de Ap 7:9 (que trata de judeus e gentios crentes, que seriam martirizados durante esse período). então não houve 'a grande tribulação' em 70 d.C, pois Ap 7:9 trata de martírio de judeus e gentios crentes durante esse período:

"Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma grande multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos; E clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro. E todos os anjos estavam ao redor do trono, e dos anciãos, e dos quatro animais; e prostraram-se diante do trono sobre seus rostos, e adoraram a Deus, Dizendo: Amém. Louvor, e glória, e sabedoria, e ação de graças, e honra, e poder, e força ao nosso Deus, para todo o sempre. Amém. E um dos anciãos me falou, dizendo: Estes que estão vestidos de vestes brancas, quem são, e de onde vieram? E eu disse-lhe: Senhor, tu sabes. E ele disse-me: Estes são os que vieram da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro.Por isso estão diante do trono de Deus, e o servem de dia e de noite no seu templo; e aquele que está assentado sobre o trono os cobrirá com a sua sombra.Nunca mais terão fome, nunca mais terão sede; nem sol nem calor algum cairá sobre eles. Porque o Cordeiro que está no meio do trono os apascentará, e lhes servirá de guia para as fontes vivas das águas; e Deus limpará de seus olhos toda a lágrima"(Ap 7:9-17)

Assim, temos aqui, várias provas abundantes da distinção entre o que ocorreu na 'grande aflição' de 70 d.C e da verdadeira "grande tribulação" de Ap 7:9-11:

(a)"Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma grande multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas"(Ap 7:9)

A grande tribulação, que Jesus mostrou para João, contemplou não apenas judeus crentes, mas tanto judeus crentes, quanto gentios crentes. Esse ponto já mata a questão.

(b)"...que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas..."(Ap 7:9)

- Veja... A grande multidão da 'grande tribulação' não estava na Judéia, em 70 d.C, tentando escapar das perseguições de Tito aos judeus incrédulos. Ela estava no céu, diante do trono, e perante o Cordeiro. Ap 19:1 diz que esta 'grande multidão' está no céu.

- A grande multidão da 'grande tribulação', segundo a revelação de Jesus a João, composta de judeus e gentios crentes, foi toda martirizada. Quando João menciona mortos trajando “vestes brancas”, trata de martirizados(Ap 6:9-11). A Igreja Primitiva[Pós-apostólica], assim o entendeu, como no caso de André de Cesareia(+ 637 d.C), que, em seu "Comentário do Apocalípse" em alusão a Ap 7:9, disse:

"Esses são aqueles de quem Davi diz: 'Se eu os contasse, seriam mais numerosos do que a areia', tanto aqueles que anteriormente lutaram como mártires por Cristo quanto aqueles que lutaram recentemente com a maior bravura de todas as tribos e línguas que, derramando seu próprio sangue por Cristo"(Capítulo XX)

Tertuliano(160-230), já bem antes de André de Cesaréia, já emitia o mesmo parecer que ele, dizendo:

"Pois mais uma vez uma multidão incontável é revelada, vestida de branco e distinguida por palmas de vitória, celebrando seu triunfo, sem dúvida, sobre o Anticristo, já que um dos anciãos diz: Estes são os que vêm da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro[A 7:1. Porque a carne é a vestimenta da alma. A impureza, de fato, é lavada pelo batismo, mas as manchas são transformadas em uma brancura deslumbrante pelo martírio"(Escorpião, 12)

Seguindo estes pais da igreja, vários outros comentaristas das Escrituras, repeteriam o seu testemunho, como se segue:

(i)John F. Walvoord[1910-2002], teólogo batista, em seu livro "A Revelação de Jesus Cristo, Um Comentário"(1966), diz, aludindo a Ap 7:9 =

"Sua crucificação é mencionada em 1:7, e alusões constantes seguem-se à medida que Cristo é apresentado como o Cordeiro imolado, como Aquele que redimiu a humanidade com Seu sangue de toda tribo, língua e nação em 5:9, e Aquele cujo sangue pode branquear os vestidos dos mártires em 7:14"(p.32)

(ii)George B. Caird[1917-1984], teólogo congregacional inglês, em seu livro "Um Comentário Sobre a Revelação de São João, o Teólogo"(1966), diz:

"A cena do julgamento termina com outra recapitulação muito importante. João ouve o rugido de uma vasta multidão. Deve ser a mesma vasta multidão que ele viu antes, com vestes com palmas nas mãos[7:9], pois seu cântico de triunfo é quase o mesmo. Então eles cantaram: 'Vitória ao nosso Deus que está assentado no trono e ao Cordeiro!' Agora eles cantam: 'Vitória, glória e poder pertencem ao nosso Deus'. Não há necessidade de João repetir integralmente o que disse no capítulo anterior, mas está implícito. A vitória de Deus é a vitória conquistada pelos mártires, e a vitória deles é a vitória da Cruz"(p.232)

(iii)Thomas S. kepler[1897-1963],teólogo luterano, em seu livro "O Livro do Apocalipse: Um Comentário Para Leigos"(1957), diz:

"Ap 7:9. 'Uma grande multidão que ninguém podia contar' — ou seja, os 144.000; uma referência ao número de cristãos dispostos a sofrer o martírio. 'Diante do trono e diante do Cordeiro' — a cena retratada nos capítulos 4 e 5 continua aqui. 'Com vestes brancas — como em Apocalipse 3:5; 6:11, simbolizando a pureza e a fidelidade absoluta dos mártires ao Cordeiro. 'Ramos de palmeiras em suas mãos' — [ver João 12:13; I Mac 13:51; II Mac 10:7] as palmas simbolizam a vitória; aqui, João vê os mártires cristãos como aqueles que compartilharão a vitória no dia da ressurreição — portanto, as palmas simbolizam a recompensa para os mártires vitoriosos!"(p.97)

(iv)O Dr. Robert H. Charles[1855-1931], teólogo anglicano, em seu livro "Um Comentário Crítico e Exegético sobre o Apocalipse de São João"(1920), diz, aludindo a Ap 7:9:

"Esses bem-aventurados são mártires que vêm da grande tribulação: mártires — não os fiéis comuns — pois a tribulação ainda está em andamento e, no entanto, eles já receberam 'suas vestes brancas' (ver o próximo versículo e o versículo 6, 11), seus corpos espirituais — uma graça concedida apenas aos mártires"(p.213)

"Visão da bem-aventurança futura daqueles que foram selados e sofreram o martírio"(p.405)

(v)John V. McGee[1904-1988], ministro presbiteriano, em seu livro "A Profecia, Apocalípse, Capítulos 6-13"(1995), aludindo a Ap 7:9-17, diz:

"Esta companhia já passou por isso; eles passaram pela Grande Tribulação. Na maioria deles, eu acredito, estavam mártires e entregaram suas vidas por Cristo"(p.77)

(vi)Moses B. Stuart[1780-1852], ministro congregacional, em seu livro "Um Comentário Sobre o Apocalípse"(1851), diz. aludindo a Ap 7:9-17:

"O céu se enche de alegria com isso, e louvores e ações de graças irrompem de todos os lados do trono de Deus. Entre eles, destacam-se os mártires, vestidos com suas vestes resplandecentes. João indaga com profundo interesse a respeito disso e recebe garantias de que todo tipo de bênção e felicidade os aguarda[Ap 7]"(p.182)

(vii)O Rev. Samuel Fuller, ministro anglicano, em seu livro "A Revelação de São João, o Divino, autointerpretada. Um comentário para leitores de inglês"(1885), aludindo a Ap 7:9-17, diz:

"Vestidos com vestes brancas: reaparecimento dos santos mártires[Ap 6:1; 7:13-14]"(p.129).

(viii)Richard John Bauckham, teólogo anglicano, em sua obra "O Climax da Profecia: Estudos sobre o Livro do Apocalipse"(2005), aludindo a Ap 7:9-17, diz:

"Especialmente dignas de nota são a maneira como a imagem do altar (que naturalmente tomamos como o altar do sacrifício, mas para o qual João usa a palavra que em outros lugares usa para o altar do incenso) serve para ligar esta cena com as passagens em que as orações dos mártires por vingança são vistas como cumpridas[8:3-5; 9:13; 14:18; 16:7], e a imagem da túnica branca liga esta cena com aquela em que o número completo de mártires são vistos triunfantes no céu[Ap 7:9-17]. João, portanto, integrou a tradição em sua própria interpretação dos temas de martírio e julgamento ao longo de seu livro"(p.55)

De fato, vários comentaristas reformados [dentre eles, alguns puritanos] das Escrituras entenderam que a grande tribulação incluía a Igreja de Cristo em todas as eras:

O climax incluindo toda a tribulação pela qual os santos de todas as eras passaram”(Robert Jamieson[1802-1880], Andrew Robert Fausset[1821-1910] e David Brown[1803-1897], Ministros Anglicanos, Com de Ap 7:14)

“Não há dúvida sobre a ênfase que o artigo definido (infelizmente, ignorado em nossa versão em inglês) dá: é a grande tribulação; mas embora ainda possa haver provações reservadas para a Igreja de Cristo tão grandes que possam ser chamadas, em comparação com as que vieram antes, de grande tribulação, ainda parece estar em desacordo com o espírito do Apocalipse e a complexidade desta visão limitar a frase a alguma época especial de provação. Não é a grande tribulação a tribulação que devem enfrentar aqueles que estão do lado de Cristo e da justiça, e se recusam a receber a marca da mundanidade e do pecado em seu coração, consciência e vida? em todas as eras, é verdade que devemos, por meio de muitas tribulações, entrar no reino de Deus; e a visão aqui certamente não é daqueles que sairão seguros de algumas provações específicas, mas da grande multidão de todas as eras e de todas as raças que travaram guerra contra o pecado e que, em meio a esse conflito prolongado, suportam a grande tribulação que continuará até o retorno de Cristo”(Charles J. Ellicott[1819-1905], Ministro Anglicano, Com de Ap 7:14)

Visto que esta companhia designa todos os eleitos de Deus, que já existiram, existem ou existirão no mundo; ‘a grande tribulação’, da qual eles saíram, não deve ser restringida a nenhum momento específico de angústia, mas inclui tudo o que existiu, existe ou existirá; como todas as aflições dos santos sob o Antigo Testamento; do justo Abel a Zacarias; e todos os problemas do povo de Deus nos tempos dos Macabeus[Hb 11:35]; todas as perseguições dos cristãos pelos judeus; e as perseguições sob os imperadores romanos, tanto pagãos quanto arianos; e as crueldades e barbaridades do Anticristo Romano, durante todo o tempo da apostasia; e particularmente a última luta da besta, que será a hora da tentação, que virá sobre todo o mundo; e, em, geral, todas as aflições, reprovações, perseguições e muitas tribulações de todos os santos e de todos os membros de Cristo neste mundo, que no novo estado da igreja de Jerusalém, sairão delas; o que supõe que eles estiveram nelas, e ainda assim não foram subjugados por elas, e perdidos nelas; mas, pelo apoio e assistência divinos, passaram por elas, e agora estavam completamente livres delas, e nunca mais seriam incomodados com elas(Ap 21:4]”(John Gill[1697-1771], Ministro Batista, Com de Ap 7:14)

“O bispo de Londres, depois de ter degradado Richard Bayfield, mártir, ajoelhado no degrau mais alto do altar, golpeou-o com tanta força no peito com seu cajado, que o jogou pra trás e quebrou sua cabeça, fazendo-o desmaiar; e quando voltou a si, agradeceu a Deus por ter sido liberto da maligna Igreja do Anticristo e por ter entrado na verdadeira Igreja Militante de Cristo, e espero que esteja logo com ele na Igreja triunfante”(John Trapp[1601-1669], Ministro Anglicano, Com de Ap 7:14)

O relato dado ao apóstolo a respeito daquele nobre exército de mártires que estavam diante do trono de Deus com vestes brancas, com palmas da vitória em suas mãos: e aqui se observa: 1. O estado baixo e desolado em que se encontravam anteriormente; eles passaram pela grande tribulação, foram perseguidos pelos homens, tentados por Satanás, às vezes perturbados em seus próprios espíritos; sofreram a perda de seus bens, a prisão de suas pessoas, sim, a perda da própria vida. O caminho para o céu passa por muitas tribulações; mas a tribulação, por maior que seja, não nos separará do amor de Deus. A tribulação, quando bem superada, tornará o céu mais acolhedor e mais glorioso”(Matthew Henry[1662-1714], Ministro Presbiteriano, Com de Ap 7:14)

“Esta ‘grande tribulação’, portanto, tem um escopo mais amplo do que a tribulação já experimentada pelas igrejas. Mais adiante no livro, veremos de fato a grande tribulação que o mundo deve enfrentar, e enfrentará constantemente ao longo dos séculos. Os cristãos também devem experimentar alguns de seus efeitos. Mas sabemos por este capítulo que eles estão sob a proteção de Deus”(Peter Pett, Ministro Batista, Com de Ap 7:14)

A Bíblia de Estudo de Genebra da IPB, elaborada por 56 teólogos reformados, diz sobre Ap 7:14, definindo a ‘Grande Tribulação’ como um corpo de todas as tribulações ocorridas em todas as eras da Igreja:

“Porém, tribulações para os cristãos tem ocorrido e continuarão a ocorrer ao longo de tod a era da Igreja”(p.1729)

(4)A opinião da Igreja Primitiva[Pais da Igreja], com relação ao evento de Mt 24:13,15-21, dizia respeito a algo restrito aos judeus crentes, ao invés de toda a Igreja Cristã, composta de judeus e gentios crentes, como Crisóstomo(347-407), que diz que naquela ocasião Jesus estava falando que os judeus incrédulos é que pereceriam sob a espada de Tito:

Você vê que o seu discurso é dirigido aos judeus e que ele está falando dos males que os atingiriam, Pois, os apóstolos certamente não deveriam guardar o dia de sábado, nem estar presentes quando Vespasiano fizesse essas coisas. Pois, de fato, a maior parte deles já havia partido desta vida. E se alguém restava, ele estava morando em outras partes do mundo....Mas a quem Ele se refere aqui com os eleitos? Os crentes que estavam encerrados no meio deles. Para que os judeus não dissessem que por causa do evangelho e da adoração a Cristo esses males ocorreram, Ele mostra que, longe de os crentes serem a causa, se não fosse por eles, todos teriam perecido completamente”(Homília 76 sobre Mateus)

(5)E quando a Igreja Primitiva fez referência a Mt 24:4-31, como algo ligado a uma espécie de tribulação, dizia respeito não só a algo cujo cumprimento não se restringiu a 70 d.C, mas a várias eras, bem como também a algo que envolveria martírio de cristãos, como Cipriano(200-258), que disse:

E estas não são coisas novas ou repentinas que estão acontecendo agora aos cristãos; visto que os bons e justos, e aqueles que são devotados a Deus na lei da inocência e no temor da verdadeira religião, avançam sempre através de aflições e injustiças, e das severas e múltiplas penalidades das dificuldades, nas dificuldades de um caminho estreito. Assim, no iníico do mundo. Assim, no início do mundo, o justo Abel foi o primeiro a ser enganado por seu irmão; e Jacó levado ao exílio, e José foi vendido, e o rei Saul perseguiu o misericordioso Davi; e o rei Acabe tentou oprimir Elias, que firme e bravamente afirmou a majestade de Deus. O sacerdote Zacarias foi morto entre o templo e o altar, para que ele próprio pudesse se tornar um sacrifício onde costumava oferecer sacrifícios a Deus. Tantos martírios dos justos foram, de fato, frequentemente celebrados; tantos exemplos de fé e virtude foram apresentados às gerações futuras. Os três jovens, Ananias, Azarias e Misäel, iguais em idade, concordando no amor, firmes na fé, constantes na virtude , mais fortes do que as chamas e penalidades que os incitavam, proclamam que obedecem somente a Deus, que o conhecem somente, que o adoram somente, dizendo: ‘Ó rei Nabucodonosor, não há necessidade de que te respondamos neste assunto. Pois o Deus a quem servimos é capaz de nos livrar da fornalha de fogo ardente; e ele nos livrará das tuas mãos, ó rei. E se não, saibam que não servimos a seus deuses e não adoramos a estátua de ouro que vocês levantaram’[Dn 3:16-18]”(Tratado XI, 11)

(6)Todos os eventos vaticinados por Cristo em Mt 24:1-31 já se cumpriram em 70 d.C ou no 1º século da era cristã?

A resposta sincera é "não". E temos algumas evidências disso. O v.14 diz:

"E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim"(ACF)

O sentido aqui, das palavras de nosso Senhor seria que o evangelho seria pregado a qualquer pessoa, sem distinção de etnia, fosse seu ouvinte um judeu ou um gentio. Mas, o evangelho havia sido pregado a todos os continentes da Terra? Não. Partes da Europa, África e Ásia foram atingidas, mas nenhum habitante da América do Sul, América do Norte, Antártida e Oceania foi atingido. Portanto, esse palavra vaticinada ainda iria se cumprir após a era apóstólica. Lembrando que a primeira pregação do Evangelho na América do Sul, ocorreu em 1557, pelos missionários franceses enviados por Calvino ao Brasil. Os protestantes só chegaram a Antárdia em 1820. E a primeira vez que o Evangelho chegou a América do Norte, foi no século XVII, com Roger Williams e outros calvinistas que ali estabeleceram a primeira Igreja Batista da América do Norte. Portanto, houve um cumprimento parcial, não total ou completo, desse sinal profético de Jesus, antes de 70 d.C.

Outro caso que mostra que todas as profecias de Ap 1-19 não se cumpriram em 70 d.C nem em todo o 1º século da era cristã, é a questão do Anticristo. Em 2 Ts 2:1-12, lemos:

"Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele, Que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto. Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, O qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus. Não vos lembrais de que estas coisas vos dizia quando ainda estava convosco? E agora vós sabeis o que o detém, para que a seu próprio tempo seja manifestado.Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que agora o retém até que do meio seja tirado; E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo Espírito da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda; A esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, E com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; Para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniquidade"(ACF)

Olhando para esse texto, temos elementos contrários ao pensamento preterista:

(a)Cristo não viria visível e fisicamente para se reunir com sua Igreja, sem que antes surgisse o Anticristo:

"Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele, Que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto. Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição"(2 Ts 2:1-3)

Paulo escreveu essa epístola entre 50-52 d.C. Note bem a expressão de Paulo: "como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto"(2 Ts 2:2). Paulo, aludindo a "vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele"(2 Ts 2:1), não está afirmando que ele estivesse em alguma de suas cartas mencionando o aparecimento do Anticristo em seus dias. Pelo contrário, ele condiciona a segunda vinda vísivel e física de Cristo, como sendo precedida pelo aparecimento da apostasia e do Anticristo: "Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição"(2 Ts 2:3). Será que o Anticristo seria o Império Romano, como entendem e defendem os preteristas? Segundo Paulo, não, porque ele afirma que o Anticristo não só espalharia a apostasia, mas que sua "vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder"(2 Ts 2:9). Paulo, em alguma de suas cartas ensinou que o Império Romano surgiria segundo a eficácia de Satanás e manifestando todo o poder dele? Não. Mas tem mais. Paulo diz que o Anticristo viria, como portador de "sinais e prodígios de mentira"(2 Ts 2:9). O substantivo grego neutro "σημεῖον"(sēmeion), aqui traduzido por "sinais", segundo o "Thayer's Greek English Lexicon of the New Testament", tem o sentido de "prodígio, presságio, ou seja, uma ocorrência incomum, transcendendo o curso comum da natureza...o poder do tempo, pelo qual os homens são enganados, é atribuído também a falsos mestres, falsos profetas e demônios"(pp.573,574). O substantivo grego neutro "τέρας"(teras), aqui traduzido por "prodígios", segundo o "Thayer's Greek English Lexicon of the New Testament", tem o sentido de "milagre"(p.620). Temos evidências de narrativas por parte de Lucas, Paulo e outros apóstolos, de que o Império Romano estava operando coisas de ordem sobrenatural, prodígios e milagres? Não, não temos.

(b)Há algo que que o retém, até que seja retirado do meio, para que o Anticristo se manifeste:

"Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que agora o retém até que do meio seja tirado"(2 Ts 2:7)

Veja. O verbo grego "κατέχω"(katechō), aqui traduzido por "retém", segundo o "Thayer's Greek English Lexicon of the New Testament", tem o sentido de "deter"(p.339). Quem é que deteria temporariamente a manifestação do Anticristo, ou seria um empecílio para a sua manifestação? Calvino nos dá a entender que é a Igreja. Gill, Ellicott, a Bíblia de Estudo de Genebra de 1591, Matthew Henry, Matthew Poole e Peter Pett dizem que é 'o Império Romano'. Ger de Koning diz que é o Espírito Santo. Ao meu ver, a posição que se encaixaria melhor nessa interpretação seria a Igreja, pois o Falso Profeta, o precursor do Antcristo é mencionado como fazendo guerra aos santos e os "vencendo"(Ap 13:7), o que infere vencer no sentido físico, retirando a Igreja de circulação, seja aprisionando os santos, ou os matando, e, assim, impedindo que eles, através da livre pregação do evangelho, fossem um empecílio para a manifestação do Anticristo. Mas o que é fato é que dentre esses comentaristas, há uma aversão a interpretação preterista[que diz que o Anticristo já apareceu no século I e era o Império Romano), pois muitos deles entendem que a manifestação do Anticristo não ocorreu no 1º século da era cristã:

"Ele havia predito a destruição do reinado do Anticristo; agora aponta a maneira de sua destruição — que ele será reduzido a nada pela palavra do Senhor. É incerto, no entanto, se ele fala da última aparição de Cristo, quando ele será manifestado do céu como o Juiz. As palavras, de fato, parecem ter esse significado, mas Paulo não quer dizer que Cristo realizaria isso em um momento. Portanto, devemos entender neste sentidoque o Anticristo seria total e em todos os aspectos destruído, quando chegasse o dia final da restauração de todas as coisas"(João Calvino[1509-1564], Com de 2 Ts 2:8)

"'Está assentado no templo de Deus' — isto é, na igreja cristã. Não é necessário entender isso em relação ao templo de Jerusalém"(Albert Barnes[1798-1870], Ministro Presbiteriano, Com de 2 Ts 2:4)

"Parece que esse Anticristo aparecerá, como um anjo de luz, uma pessoa pacífica, negociará um pacto de paz de sete anos entre judeus e gentios, permitirá que o antigo templo seja reconstruído e que o programa de adoração seja instituído e continuado por cerca de 42 meses"(Albert Garner e J. C Howes, Ministros Batistas, Com de 2 Ts 2:4)

"Ele é contido pelo Espírito Santo, e quando chegar o dia determinado por Deus, esse espírito do anticristo dominará totalmente, e o Senhor Jesus acabará com ele e com o seu reino religioso quando voltar!"(Henry Mahan[1947-1998], Ministro Batista, Com de 2 Ts 2:5-8)

"Assim também por isso o anticristo será consumido e está consumido; pois esta frase denota o início de sua destruição, que ocorreu na época da reforma pela pregação do Evangelho por Lutero e outros; pela qual este homem do pecado recebeu sua ferida mortal, e tem estado em consumo desde então, e está sensivelmente desperdiçando seu poder e glória a cada dia, e em breve chegará à destruição total"(John Gill[1697-1771], Ministro Batista, Com de 2 Ts 2:8)

"Aqui, novamente, é o mero fato de o verdadeiro Cristo se manifestar que reduzirá a nada [tal é o significado da palavra grega para 'destruir'] o falso Cristo. Quando eles estiverem face a face, não haverá mais possibilidade de ilusão"(Charles J. Ellicott[1819-1905], Ministro Anglicano, Com de 2 Ts 2:8)

"Sua aparição, portanto, quando Ele vier visível à terra, significa o fim do Iníquo"(Ger de Koning, Ministro das Igrejas Reformadas, Com de 2 Ts 2:5-8)

"A destruição do Anticristo será pelo brilho da vinda de Cristo; na vinda de Cristo para o julgamento, a ruína final e a destruição total do Anticristo serão consumadas; que a igreja não desanime, embora o Anticristo permaneça, depois de todos os esforços usados para sua ruína, é suficiente termos certeza de que o Anticristianismo será finalmente destruído; quanto ao tempo, deixemos isso para Deus; se não for até o dia do julgamento, ou a conquista final de Cristo sobre todos os seus adversários, por que não deveríamos nos contentar em esperar por isso; visto que a sabedoria infinita determina o tempo, bem como a coisa em si"(William Burkitt [1650-1703], Ministro Anglicano, Com de 2 Ts 2:8)

(c)As descrições paulinas sobre o Anticristo não fornecem nenhuma base para interpretação preterista:

"Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, O qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus"(2 Ts 2:3-4)

Paulo diz que o Anticristo se "assentará no templo de Deus". O verbo grego aqui usado é "καθίζω"(kathizō), traduzido por Almeida por "assentará", de acordo com o "Dicionário Teológico do Novo Testamento"(Volume 1) de G. Kittel e G. Friedrich, tem o sentido de "colocar", ligada a uma ideia de que "o Anticristo também pode sentar-se num trono[2 Ts 2:4]"(p.427). A ideia aqui seria que o Anticristo estaria instituído como se fosse um ocupante de um cargo político no meio da Igreja Visível, pois o texto diz que ele se assentará no "templo de Deus", e "templo de Deus", como expressão usada por Paulo, é uma alusão a Igreja:

"Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?"(1 Co 3:16)

"...porque o templo de Deus, que sois vós, é santo"(1 Co 3:17)

"Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo"(2 Co 6:16)

Esse é o entendimento de vários comentaristas das Escrituras[dentre eles, vários reformados], como se segue:

"Por este único termo há uma refutação suficiente do erro, ou melhor, da estupidez daqueles que consideram o Papa como Vigário de Cristo, com base no fato de que ele tem seu assento na Igreja, seja qual for a maneira como se comporte; pois Paulo não coloca o Anticristo em nenhum outro lugar senão no próprio santuário de Deus. Pois este não é um inimigo estrangeiro, mas doméstico, que se opõe a Cristo sob o próprio nome de Cristo. Mas pergunta-se: como a Igreja é representada como o antro de tantas superstições, enquanto estava destinada a ser a coluna da verdade?[1 Tm 3:15]. Respondo que ela é assim representada, não com base em reter todas as qualidades da Igreja, mas porque ainda tem algo dela. Consequentemente, reconheço que esse é o templo de Deus no qual o Papa governa, mas ao mesmo tempo profanado por inúmeros sacrilégios"(João Calvino[1508-1564], Com de 2 Ts 2:4)

"Está assentado no templo de Deusisto é, na igreja cristã. Não é necessário entender isso em relação ao templo de Jerusalém, que existia na época em que esta Epístola foi escrita""(Albert Barnes[1798-1870], Ministro Presbiteriano, Com de 2 Ts 2:4)

"'De modo que ele, como Deus, se assenta no templo de Deus'; não no templo de Jerusalém, que seria destruído e nunca mais seria reconstruído, e foi destruído antes que esse homem do pecado fosse revelado; mas na igreja de Deus, assim chamada[1 Co 3:16]"(John Gill[1697-1771], Ministro Batista, Com de 2 Ts 2:4)

"Ele prediz que o anticristo (isto é, quem quer que ocupe aquele assento que se afasta de Deus) não reinará fora da Igreja, mas no próprio seio da Igreja"(Bíblia de Estudo de Genebra[1591], Com de 2 Ts 2:4)

"Como Deus, ele se assenta no templo de Deus, mostrando-se Deus. Assim como Deus estava no templo da antiguidade e ali era adorado, e está em e com sua igreja agora, assim o anticristo aqui mencionado é algum usurpador da autoridade de Deus na igreja cristã, que reivindica honras divinas"(Matthew Henry[1662-1714], Ministro Presbiteriano, Com de 2 Ts 2:4)

"Assenta-se no templo, a igreja de Deus"(Matthew Poole[1624-1679], Ministro Congregacional, Com de 2 Ts 2:4)

"A venda de indulgências, perdões, concessões e coisas semelhantes estão intimamente ligadas ao homem do pecado; e, onde praticadas, representam de forma muito marcante aquele a quem Paulo descreve como sentado no templo de Deus, mostrando-se Deus. E é opor-se a Cristo em todos os seus ofícios, como Profeta, Sacerdote e Rei de sua Igreja; ao ensinar o culto aos santos; ao estabelecer méritos e unir intercessores a Cristo; e ao assumir o título de supremacia, como cabeça da Igreja"(Robert Hawker[1753-1827], Ministro Anglicano, Com de 2 Ts 2:4)

(d)O Anticristo terá um precursor - o Falso Profeta:

"E eu pus-me sobre a areia do mar, e vi subir do mar uma besta que tinha sete cabeças e dez chifres, e sobre os seus chifres dez diademas, e sobre as suas cabeças um nome de blasfêmia. E a besta que vi era semelhante ao leopardo, e os seus pés como os de urso, e a sua boca como a boca de leão; e o dragão deu-lhe o seu poder, e o seu trono, e grande poderio. E vi uma das suas cabeças como ferida de morte, e a sua chaga mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou após a besta. E adoraram o dragão que deu à besta o seu poder; e adoraram a besta, dizendo: Quem é semelhante à besta? Quem poderá batalhar contra ela? E foi-lhe dada uma boca, para proferir grandes coisas e blasfêmias; e deu-se-lhe poder para agir por quarenta e dois meses. E abriu a sua boca em blasfêmias contra Deus, para blasfemar do seu nome, e do seu tabernáculo, e dos que habitam no céu. E foi-lhe permitido fazer guerra aos santos, e vencê-los; e deu-se-lhe poder sobre toda a tribo, e língua, e nação. E adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo. Se alguém tem ouvidos, ouça. Se alguém leva em cativeiro, em cativeiro irá; se alguém matar à espada, necessário é que à espada seja morto. Aqui está a paciência e a fé dos santos. E vi subir da terra outra besta, e tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro; e falava como o dragão. E exerce todo o poder da primeira besta na sua presença, e faz que a terra e os que nela habitam adorem a primeira besta, cuja chaga mortal fora curada"(Ap 13:1-12)

Se o Império Romano fosse o Anticristo, ao invés de uma pessoa real, como sugerem alguns preteristas, quem então seria o Falso Profeta? Será que vão dizer também que se trata de um outro sistema religioso ou político, ao invés de uma pessoa real?

(e)O Anticristo será derrotado por Cristo durante sua segunda vinda:

"E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo Espírito da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda"(2 Ts 2:8)

A definição desse texto parece ser um cheque-mate na questão. Em primeiro lugar, Paulo diz que o Anticristo é "o íniquo" será derrotado por Cristo "pelo esplendor da sua vinda", isto é, na sua vinda. A primeira coisa a se observar aqui é o adjetivo grego "ἄνομος"(anomos), aqui traduzido por "íniquo", que de acordo com o Léxico Grego do Novo Testamento de Edward Robinson, significa literalmente "ímpio"(p.76).O Léxico do Novo Testamento Grego Português de F. W. Gingrich e F. W. Danker reza o adjetivo grego "ἄνομος"(anomos) por "impio, o Anticristo"(p.25). Walter Bauer[1877-1960], em sua obra "A Greek-English Lexicon of the New Testament, and Other Early Christian Literature", reza o adjetivo grego "ἄνομος"(anomos)por "o íniquo do Anticristo"(p.70) A referência aqui é a um homem em particular, o Anticristo. Note. Ele é chamado de "o homem do pecado"(2 Ts 2:4). João, falando nele, diz: "Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis"(Ap 13:18), acrescentando mais tarde, que ele[o Anticristo] seria lançado vivo no Lago de Fogo, onde seria atormentado para todo o sempre(Ap 19:19,20; 20:10). Ninguém pode atormentar um sistema de pensamento político ou religioso. Só se pode atormentar uma pessoa. A segunda coisa a se observar é que o substantivo grego neutro "παρουσία"(parousia), aqui traduzido por "vinda", de acordo com o Léxico Grego do Novo Testamento de Edward Robinson, se refere aqui em 2 Ts 2:8 como "julgamento para receber os santos à recompensa deles[[1 Co 15:23; 1 Ts 2:19; 2 Ts 2:8; 2 Pd 3:4; 1 Jo 2:28]"(p.702). Já o Léxico do Novo Testamento Grego Português de de F. W. Gingrich e F. W. Danker, se refere a "Cristo e seu Advento Messiânico no fim desta era"(p.160). A referência exegética para a derrota do Anticristo se refere literalmente, não a um evento em 70 d.C, mas a segunda vinda visível de Cristo, "no fim desta era", não após a metade ou no fim daquela era do 1º século da era cristã.

Em segundo lugar, Paulo diz que em sua segunda vinda, Jesus aniquilará" o Anticristo. O verbo grego "καταργέω"(katargeō), aqui traduzido por "desfará", de acordo com a Nova Chave Linguística do Novo Testamento Grego de W. Haubeck e H. V. Siebenthal, tem o sentido de "anular o efeito"(p.1155). A Chave Linguística do Novo Testamento Grego de Fritz Rienecker e Cleon Rogers, reza "καταργέω"(katargeō)por "tornar inoperante, anular, abolir, colocar fora de funcionamento"(p.451). O Léxico do Novo Testamento Grego Português de F. W. Gingrich e F. W. Danker reza "καταργέω"(katargeō)por "tornar ineficaz, sem poder, abolir, colocar de lado, levar ao fim"(p.112).

A Igreja Primitiva[Pós-Apostólica - os Pais da Igreja], entendia a manifestação do Anticristo, não como algo que já tinha ocorrido em 70 d.C, mas como algo que ainda seria futuro, como se segue:

(i)Irineu(130-200), diz:

"E não somente pelos detalhes já mencionados, mas também por meio dos eventos que ocorrerão no tempo do Anticristo é mostrado que ele, sendo um apóstata e um ladrão, está ansioso para ser adorado como Deus ; e que, embora um mero escravo, ele deseja ser proclamado como um rei. Pois ele[o Anticristo], sendo dotado de todo o poder do diabo, virá, não como um rei justo, nem como um rei legítimo, [isto é, alguém] em sujeição a Deus, mas um ímpio, injusto e sem lei; como um apóstata, iníquo e assassino; como um ladrão, concentrando em si mesmo [toda] a apostasia satânica, e deixando de lado os ídolos para persuadir [os homens] de que ele mesmo é Deus, levantando-se como o único ídolo, tendo em si mesmo os múltiplos erros dos outros ídolos. Ele faz isso para que aqueles que agora adoram o diabo por meio de muitas abominações possam servir a si mesmos por meio deste único ídolo, de quem o apóstolo fala na segunda Epístola aos Tessalonicenses"(Contra Heresias, V; 25:1)

(ii)Hipólito(169-215) diz:

"E o abençoado apóstolo Paulo, escrevendo aos tessalonicenses, diz: 'Irmãos, rogamo-vos, quanto à vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa reunião nela, que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, nem por espírito, nem por palavra, nem por epístolas, como se vindas de nós, como se o Dia do Senhor estivesse próximo. Ninguém de maneira alguma vos engane, porque (esse dia não virá) sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus ou é objeto de culto, de sorte que se assentará no templo de Deus, ostentando-se como Deus. Não vos lembrais de que eu vos dizia estas coisas quando ainda estava convosco? E agora sabeis o que o retém, para que a seu tempo seja revelado. Porque o mistério da iniquidade já opera; somente aquele que agora o retém até que do meio seja tirado. E então será revelado o ímpio, a quem o Senhor Jesus desfará pelo sopro da sua boca e destruirá pelo esplendor da sua vinda; a ele, cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam na mentira, para que sejam condenados todos os que não creram na verdade, antes tiveram prazer na injustiça'. E Isaías diz: 'Seja exterminado o ímpio, para que não veja a glória do Senhor'

Estas coisas, então, estando para acontecer, amados, e a semana sendo dividida em duas partes, e a abominação da desolação sendo então manifestada, e os dois profetas e precursores do Senhor tendo terminado sua carreira, e o mundo inteiro finalmente se aproximando da consumação, o que resta senão a vinda de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo do céu, por quem aguardamos com esperança? Quem trará a conflagração e o justo julgamento sobre todos os que se recusaram a crer nEle? Pois o Senhor diz: 'Quando estas coisas começarem a acontecer, então, olhai para cima e levantai as vossas cabeças, porque a vossa redenção se aproxima. E não se perderá um fio de cabelo da vossa cabeça. Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e brilha até o ocidente, assim será também a vinda do Filho do Homem. Pois onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão as águias. Ora, a queda ocorreu no paraíso; pois Adão caiu ali. E Ele diz novamente: Então o Filho do Homem enviará os seus anjos, e eles reunirão os seus eleitos desde os quatro ventos do céu'. E Davi também, ao anunciar profeticamente o julgamento e a vinda do Senhor, diz: 'A sua saída é desde uma extremidade dos céus, e o seu curso até a outra extremidade dos céus; e ninguém se esconde do seu calor. Por calor ele se refere à conflagração'. E Isaías fala assim: 'Vem, povo meu, entra no teu quarto, fecha a tua porta; esconde-te, por assim dizer, por um breve momento, até que passe a ira do Senhor'. E Paulo, da mesma forma: 'Porque a ira de Deus se revela do céu contra toda a impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade de Deus em injustiça'"(Sobre Cristo e o Anticristo, 62-63)

(iii)Tertuliano(160-230), diz:

"Quem já viu Jesus descendo do céu da mesma forma que os apóstolos O viram ascender, conforme a determinação dos dois anjos[At 1:11] Até o presente momento, tribo por tribo, não bateram no peito, olhando para Aquele a quem traspassaram. Ninguém ainda se juntou a Elias[Ml 4:5]; ninguém ainda escapou do Anticristo[1 Jo 4:3]; ninguém ainda teve que lamentar a queda da Babilônia[Ap 18:2]. E há agora alguém que tenha ressuscitado, exceto o herege? Ele, é claro, já deixou a sepultura de seu próprio cadáver — embora esteja agora sujeito a febres e úlceras; ele também já pisoteou seus inimigos — embora tenha agora que lutar com os poderes do mundo. E, naturalmente, ele já é um rei — embora agora mesmo deva a César as coisas que são de César[Mt 22:21]"(Sobre a Ressurreição da Carne, 22)

"Pois mais uma vez uma multidão incontável é revelada, vestida de branco e distinguida por palmas de vitória, celebrando seu triunfo, sem dúvida, sobre o Anticristo, já que um dos anciãos diz: 'Estes são os que vêm da grande tribulação, e lavaram as suas vestes e as branquearam no sangue do Cordeiro'[Ap 7:14]"(Escorpião, 12)

(iv)Orígenes(184-255), diz:

"Pois, assim como ouvimos que o Anticristo vem, e ainda aprendemos que há muitos anticristos no mundo, da mesma forma, sabendo que Cristo veio, vemos que, graças a Ele, há muitos cristos no mundo que, como Ele, amaram a justiça e odiaram a iniquidade, e, portanto, Deus, o Deus de Cristo, os ungiu também com o óleo da alegria"(Contra Celso, 6:79)

(v)Cipriano(200-258), diz:

"Também sobre o Anticristo, que ele virá como um homem. Em Isaías: 'Este é o homem que agita a terra, que perturba os reis, que torna toda a terra um deserto'"(Tratadi XII, 3º Livro).

(vi)Alexandre de Alexandria(+ 328), diz:

"Em nossa diocese, portanto, não faz muito tempo, surgiram homens sem lei e adversários de Cristo, ensinando os homens a apostatar; o que, com razão, se poderia suspeitar e chamar de precursor do Anticristo"(Epístola sobre o Aranismo e a Deposição de Ário, 1)

(vii)Vitorino(281-365 d.C), diz:

"O curto período significa três anos e seis meses, nos quais, com todo o seu poder, o diabo se vingará sob o Anticristo contra a Igreja. Finalmente, ele diz, depois disso, o diabo será solto e seduzirá as nações em todo o mundo e provocará a guerra contra a Igreja, cujo número de inimigos será como a areia do mar"(Comentário do Apocalípse, XX)

(viii)Atanásio(296-373), diz:

"E uma vez também os arianos , tendo afirmado mentindo que as opiniões de Antônio eram as mesmas que as deles, ele ficou descontente e irado contra eles. Então, sendo convocado pelos bispos e todos os irmãos, desceu da montanha e, tendo entrado em Alexandria, denunciou os arianos , dizendo que sua heresia era a última de todas e uma precursora do Anticristo"(Vida de Santo Antonio, 69)

(ix)Cirilo de Jerusalém[332-386], diz:

"A Igreja agora o incumbe diante do Deus Vivo; ela declara a você as coisas referentes ao Anticristo antes que elas cheguem. Não sabemos se elas acontecerão em seu tempo, ou se acontecerão depois de você, não sabemos; mas é bom que, sabendo dessas coisas, você se prepare com antecedência"(Leitura Catequética, 15:3)

(x)Crisóstomo(347-407), diz:

"Pois alguns, nos dias dos apóstolos, enganaram a multidão; 'porque virão', diz Ele, 'e enganarão a muitos'[Mt 24:11] e outros o farão antes da Sua segunda vinda, os quais serão também mais graves do que os primeiros. 'Pois farão', diz Ele, 'sinais e prodígios, para enganar, se possível, até os escolhidos'[Mt 24:24], aqui Ele está falando do Anticristo e indica que alguns também o servirão. Dele, Paulo também fala desta maneira. Tendo-o chamado homem do pecado e filho da perdição"(Homília 76 sobre Mateus)

(xi)Jerônimo(347-420), diz:

"E com razão; pois, visto que o bispo é constituído na Igreja para evitar que o povo se engane, quão grande será o erro do povo quando aquele que ensina errar! Como pode ele remir pecados, sendo ele próprio um pecador? Como pode um homem ímpio santificar um homem? Como entrará a luz em mim, se meus olhos estão cegos? Ó miséria! O discípulo do Anticristo governa a Igreja de Cristo"(O Diálogo contra os Luciferianos, 5)

"Quando Teofrasto assim discorre, há algum de nós, cristãos, cuja conversação está no céu e que diariamente diz Fl 1:23: 'Anseio por ser dissolvido e estar com Cristo, a quem ele não envergonha?'. Um co-herdeiro de Cristo realmente desejará herdeiros humanos? E desejará filhos e se deleitará em uma longa linhagem de descendentes, que talvez caiam nas garras do Anticristo, quando lemos que Moisés e Samuel preferiram outros homens aos seus próprios filhos e não consideraram como seus filhos aqueles que consideravam desagradáveis a Deus?"(Contra Joviniano, I:48)

(xii)Sulpício Severo(363-425), diz:

"Descobriu-se, ainda, que, mais ou menos na mesma época, havia um jovem na Espanha que, tendo obtido autoridade entre o povo por meio de muitos sinais, envaideceu-se a tal ponto que se fez passar por Elias. E quando as multidões creram nisso com muita facilidade, ele passou a dizer que era de fato Cristo; e teve tanto sucesso nessa ilusão que um certo bispo chamado Rufo o adorou como se fosse o Senhor. Por isso, vimos esse bispo ser posteriormente destituído de seu ofício. Muitos irmãos também me informaram que, ao mesmo tempo, surgiu no Oriente alguém que se gabava de ser João. Podemos inferir disso, visto que falsos profetas desse tipo têm surgido, que a vinda do Anticristo está próxima; pois ele já está praticando nessas pessoas o mistério da iniquidade. E, sinceramente, penso que este ponto não deve ser ignorado, com as artes com que o diabo tentou Martinho, precisamente neste tempo"(Da Vida de São Martinho, 24)

(xiii)Agostinho(354-430), diz:

"Eu não penso, de fato, que o que alguns pensaram ou podem pensar seja precipitadamente dito ou acreditado, que até o tempo do Anticristo a Igreja de Cristo não sofrerá nenhuma perseguição além daquelas que ela já sofreu — isto é, dez — e que a décima primeira e última será infligida pelo Anticristo"(A Cidade de Deus, 18:52)

"Pois, assim como a aflição da cidade de Deus, como nunca houve antes, que se espera que ocorra sob o Anticristo, foi simbolizada pelo horror de Abraão diante de grandes trevas ao pôr do sol, isto é, quando o fim do mundo se aproxima — assim, ao pôr do sol, isto é, no próprio fim do mundo, é simbolizado por aquele fogo o dia do julgamento, que separa os carnais que serão salvos pelo fogo daqueles que serão condenados no fogo"(A Cidade de Deus, 16:24)

(xiv)Sócrates(380-439), diz:

"Saibam, portanto, que recentemente surgiram em nossa diocese homens sem lei e anticristãos, ensinando apostasia, a qual se pode justamente considerar e denominar precursora do Anticristo"(História Eclesiástica, I:6)

(xv)Gregório I(590-604), declarou:

“Quem quer que se chame bispo universal, ou tal título cobice, é, por seu orgulho, precursor do Anticristo; porque isto é pretender levantar-se acima dos outros. Quando um patriarca se intitula ‘Bispo Universal’, o título de patriarca sofre incontestável descrédito. Quantas desgraças não devemos esperar entre os sacerdotes se suscitarem tais ambições. Esse ‘bispo’ será o rei dos orgulhosos”(Epístola a Ciríaco)

(xvi)João Damasceno(676-749), diz:

"Primeiro, portanto, é necessário que o Evangelho seja pregado entre todas as nações[Mat 25:14]: 'E então será revelado o maligno, cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem; aos quais o Senhor desfará pela palavra da sua boca, e destruirá pela manifestação da sua vinda'. O próprio diabo, portanto, não se torna homem da maneira como o Senhor se fez homem. Deus nos livre! Mas ele se torna homem como filho da fornicação e recebe toda a energia de Satanás. Pois Deus, prevendo a estranheza da escolha que faria, permite que o diabo habite nele.

Ele é, portanto, como dissemos, filho da fornicação e é criado em segredo, e de repente se levanta, se rebela e assume o governo. E no início de seu governo, ou melhor, de sua tirania, ele assume o papel de santidade. Mas, quando se torna senhor, persegue a Igreja de Deus e manifesta toda a sua maldade"(Uma Exposição da Fé Ortodoxa, 4:26)

Anteriormente, Paulo havia dito que em sua segunda vinda vísivel e física, Jesus "desfará" o Anticristo. O verbo grego "ἀναλίσκω"(analiskō), que segundo o Léxico Analítico do Novo Testamento Grego de William D. Mounce, tem o sentido de "esgotar"(p.82)

Então, veja. Se o Anticristo é o Império Romano, como insinuam os preteristas, então quer dizer que no ano 70 d.C ou no 1º século da era cristã, o Império Romano ficou sem efeito, anulado, inoperante, abolido, sem nenhum funcionamento e esgotado? Mas, onde estão as evidências históricas de que o Império Romano deixou de perseguir os cristãos no 1º século da era cristã? Não temos nenhuma evidência disso. Que saibamos, as perseguições ao Cristianismo só terminaram quando Constantino subiu ao poder no século IV, proibindo as perseguições aos cristãos, por achar que o favorecimento ao Cristinismo seria benéfico ao seu reino. Paulo está literalmente afirmando que o Senhor Jesus, na sua segunda vinda visível e física, derrotaria o Anticristo. O entendimento de Paulo sobre esse assunto fica ainda mais claro em 1 Co 15:23-26 =

"Mas cada um por sua ordem: Cristo as primícias, depois os que são de Cristo, na sua vinda. Depois virá o fim, quando tiver entregado o reino a Deus, ao Pai, e quando houver aniquilado todo o império, e toda a potestade e força. Porque convém que reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de seus pés. Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte"(ACF)

O entendimento de Paulo sobre esse assunto, literalmente significa que:

(i)Cristo ressurreto e glorioso volta

(ii)Ele volta pra entregar o Reino [a Igreja - Ef 2:5-6; Ap 1:6]ao Pai, não para estabelecer um reino milenar

(iii)Cristo vem para reinar para sempre, não por mil anos literais.

(iv)Todos os seus inimigos serão derrotados e submissos a Ele na sua vinda.

(v)Se o último inimigo a ser derrotado é a morte, então homens ímpios [dentre eles o Anticristo] e demônios já seriam derrotados e trancafiados no Lago de fogo(Ap 19:11-21) antes da morte ser destruída, logo o Anticristo não pode ter sido derrotado por Cristo e lançado vivo no Lago de Fogo em 70 d.C ou em qualquer parte do 1º século da era cristã.

(vi)Note, que as Escrituras, segundo João, mostram que o Falso Profeta e o Anticristo serão lançados vivos no Lago de Fogo, na volta de Cristo (Ap 19:11-21). Portanto, se trata de uma pessoa real, como o diabo e o falso profeta, que será atormentada para todo o sempre no Lago de Fogo(Ap 20:10). Preteristas precisam achar um único texto bíblico dizendo que o Anticristo foi lançado vivo no Lago de Fogo em 70 d.C ou em qualquer outra parte do 1º século da era cristã, porque o juízo final não foi marcado para 70 d.C. A ideia de alguém ser lançado no Lago de Fogo, aponta para a segunda vinda visível de Cristo, onde ele lançará os ímpios no fogo eterno(Mt 25:31-34,41,46; 2 Ts 1:7-10; 2 Pe 3:7-12), não para o evento de 70 d.C!. Lembrando que enquanto a Bíblia diz que o Anticristo será lançado vivo [junto com o Falso Profeta] no Lago de Fogo[Ap 19:20], ela diz que todos os demais inimigos de Cristo e da Igreja serão mortos, após o Anticristo ser lançado vivo no Lago de Fogo[Ap 19:20-21]. A pergunta sem resposta para os preteristas é: "O Anticristo foi, junto com o Falso Profeta, lançado vivo no Lago de Fogo em 70 d.C; e todos os inimigos de Cristo e da Igreja foram todos mortos em 70 d.C ou depois de 70 d.C até o século XXI?". Fica patente que esse dogma é a mula sem cabeça do preterismo. Sua irracionalidade beira o nível 'hard'!

(vii)A Igreja Militante, ainda antes de ser glorificada, está ao lado de Cristo, vendo os poderes políticos ímpios, chefiados pelo Anticristo serem derrotados por Cristo(Ap 17:8-14)

(viii)A Igreja Militante e a Igreja Triunfante serão reunidas, para receberem um corpo imortal e glorificado durante a segunda vinda visível de Cristo(1 Ts 4:13-18; 1 Co 15:50-55; Fl 3:20-21)

(7)A interpretação preterista de que a 'Grande Tribulação' já se cumpriu completa e literalmente em 70 d.C é uma heresia?

Não. É só um erro teológico. Mas quando comparamos os eventos de Mt 24:15-22;Lc 21:20-24 exatamente com o evento próprio da verdadeira 'Grande Tribulação', levando até às ultimas consequências as implicações da interpretação preterista, descambaremos em blasfêmia contra a pessoa do Senhor Jesus Cristo. Considere conosco:

(a)Os eventos da 'grande aflição'[não 'grande tribulação'] de Mt 24:15-22;Lc 21:20-24, dizem respeito apenas a um povo só - Israel, enquanto que o evento da verdadeira grande tribulação envolve judeus e gentios crentes(Ap 7:9-17)

(b)Se você diz que Jesus está falando da mesma 'grande tribulação' em Mt 24:15-22;Lc 21:20-24 e Ap 7:9-17, você vai colocar Jesus contradizendo Jesus, pois enquanto ele afirma em Ap 7:9-17, que a 'grande tribulação' envolveria judeus e gentios crentes, já em em Mt 24:15-22;Lc 21:20-24, ele fala de um evento que envolveria apenas o povo judeu.

(c)Se você diz que João em Ap 7:9-17, e os evangelistas Mateus e Lucas, em Mt 24:15-22;Lc 21:20-24 estão falando do mesmo evento da 'grande tribulação', você coloca João contradizendo os evangelistas, pois enquanto João diz que a grande tribulação envolveria judeus e gentios crentes, os evangelistas fazem alusão a um evento que envolveria apenas os judeus.

Poderia Jesus se contradizer, ou o Espírito Santo fazer João entrar em contradição com Mateus e Lucas? Não.

(d)Se você admite que João, Mateus e Lucas estão falando do mesmo evento da 'grande tribulação' [quando, na verdade, eles não estão], você, inconscientemente e indiretamente, acaba negando atributos incomunicáveis da segunda pessoa da Santíssima Trindade - a onisciência e a imutabilidade.

(e)Esse tipo de interpretação leva inconscientemente e indiretamente a negação da onisciência de Jesus, porque em Ap 7:9-17, ele diz que a grande tribulação se destinaria a judeus e gentios crentes martirizados, enquanto que em Mt 24:15-22, ele afirma que a grande aflição de 70 d.C, se aplicaria apenas a judeus crentes, que não passariam pelo martírio sob as mãos de Tito(Mt 24:13,22). Afinal, Jesus sabia ou não quem eram os que passariam pela grande tribulação? E, afinal, Jesus sabia ou não, o que aconteceria aos que passariam pela grande tribulação? Isso poderia até abrir espaço para o teísmo aberto.

(f)Esse tipo de interpretação leva inconscientemente e indiretamente a negação da imutabilidade de Jesus(Hb 13:8), pois enquanto ele diz em Ap 7:9, que os que passariam pela grande tribulação seriam judeus e gentios crentes que seriam martirizados; ele, em contrapartida, levando em consideração a interpretação preterista, negaria isso em Mt 24:15-22;Lc 21:20-24, afirmando que o evento de 70 d.C envolveria apenas judeus crentes [que não seriam martirizados] e descrentes. Ao nosso ver, fica claro, que se levarmos até às ultimas consequências as implicações da interpretação preterista de Mt 24:15-22;Lc 21:20-24 e Ap 7:9-17, incorremos em grande blasfêmia contra a segunda pessoa da Santíssima Trindade.

Esse tipo de interpretação preterista, além de sugerir uma idéia de blasfêmia contra o Senhor Jesus, também sugere que ele, ao supostamente derramar a 'grande tribulação' apenas sobre judeus crentes em Mt 24:15-22;Lc 21:20-24, volta atrás de suas decisões[que consistiam em ter feito judeus e gentios um povo só, como sua Igreja - Jo 10:16; 1 Co 12:13; Gl 3:27-29; Ef 2:11-19], dividindo o seu povo, ao derramar um evento escatológico apenas sobre uma parte de seu povo [os judeus crentes - Mt 24:15-20], o que negaria a catolicidade de sua igreja, como se alguém estivesse restringindo seu povo apenas à uma nação, algo que não só a Bíblia nega, mas os próprios símbolos confessionais reformados[que entendem a grande tribulação de Ap 7:9-17, como uma referência a judeus e gentios crentes], como se segue:

(i)A Confissão de Fé da Bohemia(1535, VIII), diz:

"Eles ensinam, em primeiro lugar, que Cristo, o Senhor, por Seu mérito, graça e verdade, é a Cabeça e o Fundamento da Igreja, sobre a qual ela é edificada pelo Espírito Santo, pela palavra e pelos sacramentos, como Cristo disse a Pedro: 'E sobre esta pedra (isto é, eu mesmo) edificarei a minha Igreja'[Mt 16,18]. E Paulo, em 1 Coríntios, diz: 'Ninguém pode lançar outro fundamento, a não ser o que já foi posto, o qual é Jesus Cristo'[3,11]. E em outro lugar, ele escreve o mesmo: 'Ele mesmo é a Cabeça do seu corpo, a Igreja, que cumpre tudo em todos'[Ef 1,22-23].

Eles ensinam ainda que se deve crer e confessar a santa Igreja Católica, que em seu estado atual é composta por todos os cristãos do mundo, onde quer que vivam na Terra e em quaisquer lugares onde estejam dispersos, todos os quais foram reunidos em uma só fé em Cristo e na Santíssima Trindade pela palavra do santo Evangelho, de todas as nações, povos, tribos e línguas, de todas as classes, idades e condições. Como está escrito por João no Apocalipse: 'Depois disso, olhei, e eis uma grande multidão, que ninguém podia contar, etc'[Ap 7:9]. E o Senhor disse: 'Onde dois ou três (em qualquer nação ou povo) estiverem reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles'[Mt 18:20]. Pois onde quer que Cristo seja pregado e aceito, onde quer que sua palavra e seus sacramentos estejam presentes, e sejam administrados e recebidos de acordo com sua ordem e vontade, ali está a santa Igreja, a sociedade cristã e o povo de Deus, qualquer que seja seu número. Mas onde Cristo está ausente e Sua palavra é rejeitada, não pode existir nem a verdadeira Igreja nem um povo agradável a Deus"(Reformed Confessions of The 16º and 17º Centuries In English Translation, Volume 1, p.312)

(ii)A Confissão de Fé de Teodoro de Beza(1560, 'Da Igreja', O 5º Ponto), diz:

"Por esta razão deve-se confessar uma só igreja católica (isto é, uma igreja universal), não porque ela abranja todos os homens em geral (pois a maior parte não faz parte dela), mas porque os crentes estão dispersos por toda a terra[Mt 20:16; Lc 13:23-24], assim como o Senhor os escolheu, não estando restritos a nenhum lugar, tempo ou nação específica]At 10:27-28; Ap 7:9; Mt 11:27]"(Reformed Confessions of The 16º and 17º Centuries In English Translation, Volume 2[1552-1566], p.299)

(iii)A Confissão de Fé da Bohemia[1575, VII], diz:

"A partir destas coisas se ensina o que deve ser crido, mantido e publicamente confessado, que a santa Igreja Católica, presente em todos os tempos e militante na Terra, é a comunhão de todos os cristãos, que estão dispersos por todo o mundo e reunidos pelo santo evangelho de todas as nações, famílias, línguas, graus e idades, em uma só fé em Cristo Senhor ou na Santíssima Trindade, de acordo com aquela palavra de São João que fala assim: 'E vi uma grande multidão, que ninguém pode contar, de todas as nações, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro'[Ap 7:9]. Esta verdadeira Igreja, enquanto jaz aqui na eira do Senhor [o vasto mundo], e, por assim dizer, reunida promiscuamente em um monte, contém em si o trigo puro, bem como a palha, os filhos piedosos de Deus e os filhos ímpios do mundo, os membros vivos e mortos, dos ministros e do povo; mas onde for menos contaminado ou mais puro, também pode ser conhecido pelos seguintes sinais: ou seja, onde quer que Cristo seja ensinado em assembleias sagradas, a doutrina do santo evangelho seja pregada pura e completamente, os sacramentos sejam administrados de acordo com a instituição, mandamento, significado e vontade de Cristo, e também o povo fiel de Cristo os recebe e usa, e por estes se reúne na unidade da fé e do amor e no vínculo da paz, se une na unidade e se edifica em Cristo. Ali está, portanto, a santa igreja, a casa de Deus, os templos do Espírito Santo, membros vivos, participantes da Jerusalém celestial, o corpo espiritual de Cristo e juntas unidas, que são unidos e acoplados cada um ao outro por uma cabeça Cristo, um Espírito de regeneração, uma Palavra de Deus, os mesmos sacramentos genuínos, uma fé, um amor e santa comunhão, um vínculo de paz, ordem, disciplina e obediência, seja o número deste povo grande ou pequeno, como o Senhor testifica: 'Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome (em qualquer país ou nação e em qualquer lugar que ele faça isso), aí estou eu no meio deles'[Mt 18:20]. E, ao contrário, onde Cristo e o Espírito de Cristo não habitam, o santo Evangelho também não encontra lugar que lhe seja concedido, mas, ao contrário, erros manifestos e uma vida pagã têm pleno curso e, superando-os, eles os atacam; mesmo ali, necessariamente, existe uma igreja tão contaminada que Cristo não a reconhecerá como Sua amada noiva, visto que ninguém pertence a Cristo se não tiver o Espírito de Cristo[Rm 8:9]"(Reformed Confessions of The 16º and 17º Centuries In English Translation, Volume 3[1567-1599], p.349)

(iv)A Confissão de Fé de Westminster[1643-1649], diz:

"A Igreja Visível, que também é católica ou universal sob o Evangelho (não sendo restrita a uma nação, como antes sob a Lei) consta de todos aqueles que pelo mundo inteiro professam a verdadeira religião[1 Co 1:2; 12:12-13; Sl 2:8; Ap 7:9; Rm 15:9-12], juntamente com seus filhos[1 Co 7:14; At 2:39; Ez 16:20-21; Rm 11:16; Gn 3:15; 17:7]; é o Reino do Senhor Jesus[Mt 13:47; Is 9:7], a casa e família de Deus[Ef 2:19; 3:15, fora da qual não há possibilidade ordinária de salvação[At 2:47]"(XXV)(Reformed Confessions of The 16º and 17º Centuries In English Translation, Volume 4[1600-1693], p.264)

(v)O Catecismo Maior de Westminster[1647], diz:

"P. 62. Que é a Igreja visível? R. A Igreja visível é uma sociedade composta de todos quantos, em todos os tempos e lugares do mundo, professam a verdadeira religião[1 Co 1:2; 12:13; Rm 15:9-12; Ap 7:9; Sl 2:8; 22:27-31; 45:17; Mt 28:19-20; Is 59:21], juntamente com seus filhos[1 Co 7:14; At 2:39; Rm 11:16; Gn 17:7]"(Reformed Confessions of The 16º and 17º Centuries In English Translation, Volume 4[1600-1693], p.311)

(8)A interpretação preterista de Mt 24:15-22;Lc 21:20-24 e Ap 7:9-17 tem algumas semelhanças com crenças de seitas falsas

Quando os preteristas, em uma interpretação totalmente contraditória, bizarra e inconsistente, tentam, sem nenhuma biblicidade, dizer que o evento de Ap 7:9-17 é o mesmo de Mt 24:15-22;Lc 21:20-24, acabam caindo em uma situação constrangedora. E por que? Simples. Ap 7:9-17 afirma que judeus e gentios crentes participariam da grande tribulação; enquanto que os preteristas, ao dizerem que Mt 24:15-22;Lc 21:20-24 [que é um evento biblicamente relacionado a judeus crentes] é o mesmo evento de Ap 7:9-17, não só violam o 9º mandamento, e blasfemam contra nosso Senhor Jesus Cristo, fazendo-o se contradizer, mas também agem de forma semelhante [não igual] aos membros de seitas falsas. Considere comigo alguns exemplos:

(a)Os testemunhas de jeová

Essa seita falsa divide a classe de 'crentes' em duas - os 144.000[o pequeno rebanho] e a 'grande multidão'. O primeiro grupo, é composto de 144.000 ungidos, que tem direito exclusivo a participarem na ceia, são nascidos de novo e vão para o céu, e tem o poder de purificar as pessoas do pecado e da imperfeição. Segundo os russelitas apenas os 144.000 tem Jesus como Mediador.

- Com relação ao grupo da grande multidão, não precisam de justificação pela fé e da imputação da justiça

(b)Os Israelitas Britânicos

Ligados ao precursor do pentecostalismo, Charles Fox Parham, eles criam que as bençãos do milênio estavam asseguradas aos que possuíam sangue britânico nas veias.

A pergunta a se fazer é: Se João disse que a Grande Tribulação foi direcionada a judeus e gentios crentes, de onde tiraram os preteristas a idéia de que ela foi direcionada apenas a uma parte da Igreja - os judeus, como no caso de Mt 24:15-22;Lc 21:20-24? Não faz nenhum sentido. Logo, entendemos que Mt 24:15-22;Lc 21:20-24 não tratam da mesma 'grande tribulação' de Ap 7:9-17, mas de um evento totalmente distinto dela. Oremos para que nossos irmãos que adotam a visão preterista, a abandonem!