Temos visto algumas pessoas, se dizendo adversárias do arminianismo, ao mesmo tempo, em que se declaram adeptas da negação da Suficiência das Escrituras, ao afirmarem que os dons miraculosos do Espírito Santo[línguas, profecias, ciência, sonhos, visões e revelações, curas, etc], não estariam restritos a era apostólica, como credencial do ministério e ensino dos apóstolos. Jesus e Paulo deixaram isso bem claro em Mc 16:17-20; 1 Co 13:8-13; 2 Co 12:12; Hb 2:4.
(1)Mc 16:17-20 destrói qualquer forma de continuísmo, por vários motivos:
(a)O contexto de Mc 16:17-18 mostra que Jesus estava prometendo o uso dos dons miraculosos do Espírito Santo aos onze apóstolos[Mc 16:14,19-20], fossem esses dons operados por eles, ou por aqueles que estivessem sob sua supervisão, como no caso de Estevão, Felipe, Cornélio e Paulo(At 6:12-8; 7:55,59-60; 8:5-7; 10:45-48; 13:1-12; 14:9-10; At 16:8-10,16-18; 19:1-7; 11-12; 20:23,25, 29-30; 21:8-15; 23:11; 27:22-24; 28:3-6, 8-9).
(b)O contexto de Mc 16:17-18, restringe aquela promessa do uso dos dons miraculosos do Espírito, como credencial do ministério dos apóstolos, que ocorreria durante a sua pregação em várias partes da Terra(Mc 16:20). Em nenhum momento, o Senhor diz ali, que aquela promessa era para todos os crentes, após a morte dos apóstolos(Mc 16:20). Por isso, Paulo entendia que os dons miraculosos do Espírito Santo, que ele possuía, eram credenciais de seu apostolado(2 Co 12:12), ao mesmo tempo em que ele se apresenta como o último dos apóstolos(1 Co 15:8). E sem contar, que sendo os dons miraculosos do Espírito credenciais do ministério dos apóstolos(Mc 16:17-20; 2 Co 12:12; Hb 12:12), e sendo Paulo o ultimo dos apóstolos(1 Co 15:8), o que é referendado em Ap 21:14, que menciona "os nomes dos doze apóstolos", e ainda levando em consideração que ninguém pode alegar possuir essas credenciais do ministério dos apóstolos, sem cumprir os requisitos de ser um apóstolo, que seria ter convivido pessoalmente com Jesus durante os seus três anos de ministério terreno, e ter sido testemunha ocular de sua ressurreição e ascensão aos céus(At 1:21-22), entende-se que, cessando o dom do apostolado, cessou também a existência de suas credenciais, para serem usadas por quem quer que seja. Portanto, qualquer um que após a morte dos apóstolos, alegou ter algum desses dons miraculosos do Espírito, não passa de um embusteiro.
Nesse sentido, nós entendemos que estes dons miraculosos do Espírito, foram dados para identificar a infância espiritual [a fundação] da Igreja em Jerusalém(At 2:33; Ef 2:20].
(2)Paulo tem o mesmo entendimento de Jesus e Marcos sobre a temporalidade dos dons miraculosos do Espírito, como restritos à era apostólica.
Paulo menciona os dons, de uma maneira, a indicar sua temporalidade na era apostólica:
(i)"O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havenco ciência, desaparecerá"(1 Co 13:8)
É interessante observarmos essa linguagem de Paulo. Note. Primeiro, ele diz que as profecias serão "aniquiladas". O verbo grego "καταργέω"(katargeō), segundo Thayer, está na voz passiva, e tem o sentido de "cessar, passar, ser destruído", o que indica que o dom cessaria e passaria, por si mesmo. Isso posto, se entende que este dom, quando operado em alguém, não voltaria a ser novamente operado por aquela mesma pessoa. Por exemplo, você não vê Ágabo profetizando sem parar, na Igreja. Só temos menção de duas profecias feitas por ele, em intervalos de tempo, uma sobre uma fome e outra sobre a prisão de Paulo(At 11:28; 21:10-11). Depois disso, não há mais profecias feitas por ele. O dom era temporário, quando dado a uma pessoa.
Segundo, quando ele diz "havendo línguas, cessarão", usa o verbo grego "παύω"(pauō), que segundo Thayer, tem o sentido de "cessar, parar". Basicamente é a mesma conjectura do dom de profecia. Seria algo temporário, não perpétuo, quando dado a uma pessoa. Por exemplo, os apóstolos falaram em linguas em At 2:1-4. Mas, note, depois disso, não há mais evidência do mesmo dom se repetindo com eles. No máximo, o que se pode ver, é pessoas que estavam sob sua supervisão, falando em línguas ou profetizando(At 10:44-47; 19:6-7), Mas, note. Mesmo essas pessoas que estavam sob sua supervisão, não voltaram mais a falarem em línguas e a profetizarem, porque o dom era temporário.
Da mesma forma, quando lemos "havendo ciência, desaparecerá", Paulo usa o mesmo verbo grego "καταργέω"(katargeō), usado para falar do dom de "profecia", que segundo Thayer, está na voz passiva, e tem o sentido de "cessar, passar, ser destruído", o que indica que o dom cessaria e passaria, por si mesmo.
Mas, qual é o sentido dessa ênfase que Paulo dá para a aniquilação das profecias, cessação das línguas e desaparecimento da ciência? Note, que Paulo faz primeiro uma comparação entre estes os dons e o amor. Paulo diz que o amor nunca deixará de existir, enquanto que estes dons seriam retirados de cena. Qual seria a razão para isso? Paulo vai explicar, dizendo duas coisas interessantes:
(I)Estes dons eram revelação parcial do conhecimento de Deus:
"Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos"(1 Co 13:9)
Aqui, ele usa o substantivo grego neutro - "μέρος"(meros), que segundo Thayer, tem o sentido literal de "parcialmente, isto é, imperfeitamente". A revelação do conhecimento de Deus, dada através desses dons era "parcial" e "imperfeita". Não era, portanto, algo completo e perfeito. Esse é o primeiro ponto para justificar a aniquilação das profecias, cessação das línguas e desaparecimento da ciência.
(II)Esses dons que traziam revelação incompleta e imperfeita do conhecimento de Deus, seriam substituídos por aquilo que traria revelação completa e perfeita do conhecimento de Deus:
"Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado"(1 Co 13:10)
Paulo diz que todos estes dons que traziam revelação incompleta e imperfeita sobre o conhecimento de Deus, seriam retirados quando viesse "o que é perfeito", e usa o adjetivo grego "τέλειος"(teleios), que é o mesmo adjetivo usado em Tg 1:25, que segundo Strong, é "um título alternativo para as Escrituras"(The New Strong’s Expanded Dictionary of Bible Words, p.1255).
(iii)Lembrando que Paulo deu uma outra causa para a aniquilação das profecias, cessação das línguas e desaparecimento da ciência. Ele vai dizer, como já dissemos logo acima, que isso fazia parte da infância espiritual da Igreja e que seria substituído quando a Igreja deixasse de ser espiritualmente criança:
"Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino"(1 Co 13:11)
Quando a Igreja era criança? No seu estabelecimento em Pentecoste, onde ela foi fundada sob a influência dos dons miraculosos do Espírito - o apostolado, línguas, profecias(At 2:33; Ef 2:20). Quando seria que a Igreja deixaria de ser espiritualmente criança, para se tornar espiritualmente adulta? Seria na segunda vinda de Cristo? Não. Seria com a completude das Escrituras, como Paulo disse:
"E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruídopara toda a boa obra"(2 Tm 3:15-17)
A Igreja se torna espiritualmente adulta, não na vinda de Cristo, mas na totalidade das Escrituras, com o fechamento do Canon, com o Apocalípse, onde se proíbe novas revelações, sob pena de punição com as pragas do livro(Ap 22:18-19). Dizer que a Igreja se tornaria adulta na volta de Cristo, seria afirmar que a Igreja seria espiritualmente criança até a volta de Cristo, bem como também seria afirmar que ela não teria a revelação completa do conhecimento de Deus até que Cristo voltasse visivelmente nas nuvens, o que é negado por Cristo e pelos apóstolos:
"Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito"(Jo 14:26)
"Mas, quando vier aquele, o Espírito de verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar. Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso vos disse que há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar"(Jo 16:13-15)
"E vós tendes a unção do Santo, e sabeis todas as coisas.... E a unção que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis"(1 Jo 2:20-27)
Mas, continuando sobre 1 Co 13:8-13. Assim, se você, caro irmão, interpretou que o “τέλειος”(teleios) de 1 Co 13:10 e Tg 1:25 é a própria Palavra de Deus, você acertou. Parabéns pra você!
Da mesma forma, a leitura de 1 Co 13:12 também favorece o cessacionismo (Sola Scriptura), visto que sendo um comentário posterior do apóstolo sobre a sua afirmação nos vv,8-10, mostra que esses dons constituíam uma visão implícita da revelação divina:
"Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face...".
Interessante, que a palavra grega que aqui aparece como sendo traduzida por "enigma" é a palavra αἰνίγματι(ainigmati), que segundo o Léxico Grego Inglês do Novo Testamento de J. H. Thayer significa literalmente "uma coisa obscura", mostrando que tais dons não representavam uma visão clara, completa e perfeita da revelação divina, e justamente por isso, seriam abolidos por algo que representaria uma visão explicita, completa e perfeita desta revelação('mas então veremos face a face'), que seria as Escrituras(2 Tm 3:15-17; Ap 22:18-19)
Quando então teremos uma visão totalmente perfeita da revelação de Deus? Na vinda de nosso Senhor? Positivamente não. Observe que Paulo continua, afirmando que essa visão parcial ou obscura da revelação de Deus seria abolida:
“Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face..."
Evidentemente, essa visão completa e perfeita da revelação de Deus, só viria mediante a totalidade das Escrituras(2 Tm 3:15-17), pois se ‘toda a Escritura’ consegue “ensinar”, “redarguir”, “corrigir”, “instruir”, e se o homem munido e alicerçado sobre ‘toda a Escritura’ se torna “perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra”(2 Tm 3:17), qual é a necessidade que temos da existência e manutenção das antigas revelações parciais de Deus no passado(‘línguas', ‘profecias’, ‘sonhos’, ‘visões’, ‘ciência’)?
Segundo, se os dons miraculosos do Espírito eram revelações incompletas e parciais do conhecimento de Deus(1 Co 13:9), fica claro, que estas revelações incompletas seriam substituídas por uma revelação completa do conhecimento de Deus, através das Escrituras(1 Co 13:11 comp. com 2 Tm 3:15-17; Ap 22:18-19).
Ao mesmo tempo que Paulo menciona que a revelação parcial de Deus(línguas; profecias, ciência) seriam retirados da esfera espiritual da Igreja, ele mostra que três coisas permaneceriam após essa retirada - fé; esperança e amor(1 Co 13:13). Se "o que é perfeito"(1 Co 13:10) for 'a volta de Cristo", então após vinda de Cristo, haverá necessidade de fé e esperança? Não, pois o objeto de nossa fê e esperança estará conosco, que é Cristo(Tt 2:13).
Nesse caso, só uma coisa permanecera depois da vinda de Cristo - o amor; porque nós vamos amá-lo por toda a eternidade. Logo, não faz nenhum sentido, dizer que "o que é perfeito" de 1 Co 13:10 é a volta de Cristo.
(2)Continuísmo, em todas as suas matizes, não é uma herança da Reforma Protestante, nem do Calvinismo, mas do Concílio de Trento e dos Anabatistas!
A Quarta Sessão do Concílio de Trento(08-04-1546), diz:
"O sacrossanto Concílio Ecumênico e Geral de Trento, reunido legitimamente no Espírito Santo, e com a presidência dos mesmo três legados da Sé Apostólica, tendo sempre isto diante dos olhos que, rejeitados os erros, seja na Igreja conservada a pureza do Evangelho, prometido antes nas Escrituras Santas pelos profetas, o qual Nosso Senhor Jesus Cristo Filho de Deus, primeiramente com sua própria palavra o promulgou e depois, por meio de seus Apóstolos, mandou pregá-lo a toda criatura[Mt 18:19; Mc 16:15], como fonte de toda a verdade salutar e disciplina dos costumes. vendo que esta verdade e disciplina estão contidos nos livros escritos e nas tradições orais, que – recebidas ou pelos Apóstolos dos lábios do próprio Cristo, ou dos próprios Apóstolos sob a inspiração do Espírito Santo – chegaram até nós como que entregues de mão em mão, fiéis aos exemplos dos padres orotodoxos, com igual sentimento de piedade e reverência aceita e venera todos os livros, tanto os do Antigo, como os do Novo Testamento, visto terem ambos o mesmo Deus por autor, bem como as mesmas tradições que se referem tanto a fé como aos costumes, quer sejam só oralmente recebidas de Cristo, quer sejam ditadas pelo Espírito Santo e conservadas por sucessão contínua na Igreja Católica"
"Pois, sem uma revelação especial de Deus, não se pode saber quais os que Deus escolheu para si"[Sessão VI, cân. 16].
Cânones sobre a Justificação:
"826. Cân. 16. Se alguém disser que com absoluta e infalível certeza há de ter aquele grande dom da perseverança final, sem ter sabido por especial revelação - seja exomungado[cfr. n° 805 s].
O próprio Catecismo da Igreja Católica, diz, usando uma linguagem que favorece ao continuísmo:
"Daí resulta que a Igreja, a quem está confiada a transmissão e interpretação da Revelação, não tira só da Escritura Sagrada a sua certeza de todas as coisas reveladas. Por isso, ambas devem ser recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e reverência"(Edição Típica Vaticana, p.35)
Mórmons acompanham católicos e demais continuístas, dizendo:
"Cremos que a Bíblia não contem todas as revelações dadas por manifestações divinas"(Joseph F. Smith, Doutrinas de Salvação, Volume 1, p.294)
"Doutrinas apóstatas: Que o Cânon das Escrituras está completo e terminado, e que depois do pensamento dos apóstolos, não devia haver mais revelação, nem abrir dos céus e comunicação com anjos, ficando o povo dependente do que estava escrito na Bíblia"(Joseph F. Smith, Doutrinas de Salvação, Volume 3, p.288).
Os Anabatistas também negavam a Suficiência das Escrituras, ensinando que os dons miraculosos do Espírito Santo, dados aos apóstolos, permaneceram após a morte dos mesmos, dentro da Igreja. Temos alguns exemplos disso. O 3º Volume de “As Grandes Religiões”, alude ao continuísmo do primeiro líder anabatista - Thomas Munzer[1489-1525]:
"Munzer iniciou suas exegeses afirmando que Deus se revela a seus eleitos através de visões"(p.500)
Thomas Helwys[1550-1616], outro líder anabatista, em sua "Declaração de Fé do Povo Inglês que Permanece em Amsterdã"(1611), diz que "as congregações da Igreja de Cristo podem profetizar"(XI).
O erudito batista Timothy George, mencionando o anabatista Hans Hut(1490-1527), como alguém que se julgava portador do dom de profecia, profetizando a volta de Cristo para os seus dias
“Hans Hut, ex-discípulo de Thomas Munzer, previu que Cristo haveria de retornar à Terra no domingo de Pentecostes de 1528. Ele começou a reunir os 144.000 eleitos, os quais ele ‘selou’, batizando-os na testa com o sinal da cruz”(Teologia dos Reformadores, p.255).
O historiador Edward C. Pike[1840-1911], aludindo ao líder anabatista Melchior Hofmann[1495-1543], como outro líder anabatista continuísta, que se declarava portador do dom de profecia:
"Ele era um entusiasta defensor da profecia, que se certificou de poder interpretá-la aos acontecimentos futuros. Em sete anos, os assuntos do mundo seriam resolvidos. Provações terríveis estavam por vir, e depois o Filho do homem viria nas nuvens do céu. Estrasburgo seria a Nova Jerusalém, e lá o reino seria estabelecidio. Enquanto essas visões passavam pela mente de Hoffmman, e ele expunha o mistério dos últimos dias, houve um claro afastamento das visões dos primeiros anabatistas sobre o uso da espada e a prestação de juramentos"(A Historia dos Anabatistas, 1904, Londres, p.28)
O historiador Ernest B. Bax[1854-1926], aludindo ao mesmo Hofmman, diz de seu 'continuismo', aludindo a ele como alguém que se considerava portador do dom de profecia:
"Foi previsto, afirmava ele, que uma espada de dois gumes seria entregue nas mãos ds santos, para destruir o mistério da iniquidade, os principados e potestades existentes, e o tempo estava agora próximo para que essa profecia acontecesse e se cumprisse"(Ascensão e Queda dos Anabatistas, p.104)
James M. Stayer[1935-2025], historiador cristão, especializado em Reforma Alemã, em seu livro "Os Anabatistas e a Espada", também alude a Hofmman, como alguém que se declarou profeta:
"Além disso, qualquer um que se declarasse profeta parecia propenso a receber a bênção de Hoffman. Assim, ele fez a declaração mais prejudicial de sua carreira, em apoio a Jan Matthys. Certo dia, no final de 1534, ele discursou para seus carcereiros em Estrasburgo sobre a importância da profecia. No último período do mundo: 'O ofício profético está agora em vigor, como Leinhart Jost anunciou juntamente com outros’. Em Munster, eles tinham um profeta chamado Jan Matthys que diz ser uma das testemunhas divinas"(p.225)
O autor ainda diz, aludindo a Jan Matthys:
"O elemento mais distorcido em seu papel com o líder da seita, no entanto, era sua confiança nas visões e profecias de alguns de seus seguidores. Em 1530, ele estava editando as visões proféticas e revelações de Leinhart Jost, um melquiorita considerado insano por seus vizinhos de Estrasburgo, e da esposa de Jost, Ursula. Ele atribui as 'revelações' dos Jost ao Espírito Santo e lhes conferiu tanta autoridade quanto Isaías ou Jeremias. Como essas profecias confirmavam seu próprio senso de missão, proclamando-o o Elias espiritual escolhido, seus ensinamentos apocalípticos, e até mesmo seu comportamento cotidiano, ficaram cada vez mais presos a elas"(p.223)
Henry S. Burrage[1837-1926], historiador batista, aludindo a outro líder anabatista - Felix Manz[1498-1527] - se refere a ele como outra pessoa que se julgava portador do dom de profecia, segundo seus seguidores:
"A oposição que os radicais encontraram apenas inflamou seu zelo. De repente, uma multidão de homens, como se estivesse preparada para uma jornada, apareceu em Zurique. Parando na praça do mercado, pregaram a necessidade da conversão, de uma nova vida de santidade e amor fraternal. Ao velho dragão e suas cabeças, referindo-se a Zuínglio e seus associados, dirigiram-se a eles na linguagem de profecia, prevendo a destruição da cidade caso o povo continuasse a recusar-se ouvir a voz do Senhor: 'Ai, ai de Zurique!' e clamavam; e o lamento que se elevava da praça do mercado ecoava por todas as ruas da cidade"(Uma História dos Anabatistas da Suiça, p.108)
O Rev. Henry E. Dosker[1855-1926], historiador cristão, em seu livro "Os Anabatistas Holandeses", aludindo a Hofmman, como auto intitulado 'profeta' entre os anabatistas, registra:
"Assim, o ano de 1533 chegou ao fim. Será que a profecia de Hoffmman se cumpriria e o prometido 'Enoque' apareceria?"(p.87)
Assim, continuísmo, isto é, a rejeição da Suficiência das Escrituras, como a única fonte de revelação divina, fazia parte dos grupos anabatistas do século XVI, que faziam oposição aos Reformadores.
Sabemos que Católicos Romanos Trentistas e Anabatistas tianham a mesma opinião - eram continuístas. Mas, qual é a diferença entre Católicos Romanos Trentistas e Anabatistas [que sendo continuistas], no que tange a questão soteriológica? Nenhuma. Ambos os grupos eram arminianos nessa área. A "The Catholic Encyclopedia"(Volume III), diz:
"Nessas e outras particularidades, encontramos os arminianos se aproximando das fórtmulas tridentinas"(p.203)
W. Osbourn, afirma que "os emissários do papa se ocuparam por anos da preparação do solo e plantio na igreja, da 'droga soberana, arminianismo'"(Obras Ocultas das Trevas; Ou, As Ações dos Jesuítas, p.99). Lembrando que a Companhia de Jesus - os Jesúitas - , combateu o monergismo-agostiniano da Reforma, e segundo os eruditos arminianos John McClintock[1814-1870] e James Strong[1822-1894], "os jesuítas eram arminianos"(Enciclopédia de Literatura Bíblica, Teológica e Eclesiástica, Volume 1, p.413).
De acordo com o historiador William Walker, quando as doutrinas reformadas [ou calvinistas] ecoaram por toda a Europa, acabaram provocando uma reação por parte de alguns eruditos da Holanda, "onde as tradições humanistas não haviam morrido e o anabatismo estava bastante difundido"(História da Igreja Cristã, p.140)
Justamente devido a isso, quanto aos anabatistas, o historiador batista Henry C, Vedder(1835-1935), em sua obra "A Breve História dos Batistas"(1907), diz:
"Nossa preocupação é, no entanto, com a segunda igreja em Amsterdã. O pastor John Smith se familiarizou, possivelmente pela primeira vez, com a teologia de Armínio, e aqui, também é razoável supor que ele aprendeu a teoria menonita da natureza da igreja"(Ibidem, p.503).
Posteriormente, falando de um dos discípulos batizados por John Smith - Thomas Helwys(se referindo a este como um fundador de uma igreja anabatista, não batista), diz Vedder:
"Helwys, John Murton e outros retornaram a Londres, provavelmente algum tempo em 1611, e fundou a primeira igreja anabatista composta por ingleses conhecidos em solo Inglês. Esta igreja também era arminiana em teologia… porque eles sustentavam uma expiação geral por todos os homens, enquanto os calvinistas ortodoxos sustentavam uma expiação 'particular', apenas para os eleitos"(Ibidem, p.205)
O historiador Justo Anderson, afirma que a igreja fundada por Helwys, mais tarde, tentou se fundir aos menonitas:
"A antiga igreja de Helwys e Murton, juntamente com mais quatro, propuseram uma união com os menonitas… As cinco congregações existentes em 1626 se multiplicaram e em 1644 havia quarenta e sete delas. Lutavam pela liberdade religiosa, e contra um crescente 'socinianismo' em suas fileiras. Eram arminianos em sua teologia"(História dos Batistas, Volume 1, pp.72-73).
O historiador batista Champlin Burrage(1874-1951), aludindo a John Smith e Thomas Helwys, se referindo a eles, não como 'batistas', escreve:
"Os gerais ingleses, ou arminianos anabatistas entre 1632 a 1641”(The Early English Dissenters In the Light of Recent Research [1550-1641] Volume 1, Capítulo XI).
Ele ainda diz:
“Helwis, como Smith, como arminiano, ou geral, anabatista, cria na redenção universal, ou seja, que Cristo morreu para salvar a todo o homem e não apenas certas pessoas eleitas, mas, em uma terceira publicação, procura mostrar que, embora ele detém essa doutrina, ele não sustenta a 'grande condenável heresia' do ´livre arbítrio, que normalmente deveria ser naturalmente concomitante com a doutrina anterior”(p.254)
Cornelius Krahn(1902-1990), historiador anabatista [menonita] afirma:
“Como representante arminiano relacionado da tradição holandesa, o anabatista manteve uma herança significativa nos países baixos”(Anabatismo Holandês: Origem, Disseminação, Vida e Pensamento[1450–1600], p.261)
Temos ouvido falar de Hubmaier, por parte de Roger Olson(arminiano), como o ‘arminiano antes de Arminio’ em uma de suas postagens. Ele expande isso em “Uma História da Teologia Cristã”(1999), onde ele dedica o capítulo 26 a discutir sobre os anabatistas; e lá, comentando sobre Hubmaier, Olson escreve:
“O que o Hubmaier estava proclamando como base do livre arbítrio é o que outros teólogos chamam de graça preventiva - a graça resistida de Deus que chama, condena e habilita. Hubmaier tambem afirmou que a eleição e a predestinação de Deus se baseavam na sua presciência de que indivíduos responderão à sua graça. Ele se opôs firmemente à predestinação incondicional - o monergismo de Agostinho, Lutero, Zuínglio e Calvino: ‘Seria um Deus pérfido que convidaria todas as pessoas para uma ceia, oferecesse sua piedade a todos com exaltado fervor e ainda não quer que eles venha[Lc 14:16; Mt 22:2]. Isso seria um falso Deus que diria com a boca: ‘Venha aqui’, mas pensaria secretamente no coração: ‘Fique lá’”(p 422).
Olson acrescenta:
"Esta é basicamente a mesma teologia da salvação que os seguidores holandeses - seguidores de James Armínio - mais tarde desenvolveram no início do século".
O Pr. José Gonçalves, ministro arminiano das Assembléias de Deus, declara:
"Armínio, portanto não questionou a soteriologia dos anabatistas, visto ser esta muito semelhante a que ele defendia, especialmente Hubmaier... Armínio defendia a soteriologia anabatista..."(A Glossolalia e a Formação das Assembléias de Deus, Um Resgate Histórico da Soteriologia e Pneumatologia do Início do Movimento Pentecostal, pp.270-271)
Francis N. Lee(1934-2911), ministro presbiteriano em seu artigo “Os Anabatistas e Seus Herdeiros”, afirma:
“Após a morte de Smith enquanto um menonita, seu colega e sucessor Thomas Helwys, em 1611… sempre manteve uma soteriologia arminiana".
Carl Bangs(arminiano), Professor Associado de Filosofia e Religião na Olivet Nazarene College, Bourbonais, Illinois de 1953-1961, e Professor Associado, e Professor de Teologia Histórica da St. Paul's School of Theology, Kansas City, Missouri entre 1961-1988, aludindo aos anabatistas do século XVi, principalmente de Hans de Ries, diz:
"Tudo isso para dizer: os anabatistas rejeitaram o tipo de teoria da predestinação que estava sendo promovida pelos mais rígidos calvinistas entre os reformados"(Arminio - Um Estudo da Reforma Holandesa, p.170).
Preste atenção, caro amigo. Se você se diz reformado, calvinista, mas também se declara continuísta, você acabou de dar um tiro no próprio pé, não só negando o pilar da Reforma [o Sola Scriptura], mas se esquecendo que os proponentes na crença de que havia outras fontes de revelação divina, foram os grupos que criaram as condições para a implantação do arminianismo - a Contra Reforma da Igreja Romana e os Anabatistas. Recomendo que você reveja sua posição!
